terça-feira, 5 de agosto de 2008

Solitário na Vila de Phelps, Nadal e Isinbayeva, o guerreiro Wellinsson. Um brasileiro.

(Bob Fernandes_




Hordas de repórter, cinegrafistas e fotógrafos zunem pela Vila Olímpica. Esbaforidos, carregados de mochilas, computadores e câmeras, sob inclementes 33 graus. Faltam dois dias para o início das Olimpíadas de Pequim e todos buscam e falam, se movem pelos mesmos alvos:
- …o Nadal está na Vila …o Michael Phelps está na piscina, nadou com brasileiros… a Isinbayeva chegou à Vila …o Bernardinho já chegou …o Federer…
O filho de Adão e Maria também está na Vila Olímpica.
Bermuda azul, camiseta verde cavada, sandálias, o andar gingado de quem já tentou a lateral direita, Wellisson da Silva passa pelo pelotão da mídia que fareja, com sofreguidão, o Nadal, o Phelps, a Isinbayeva…
Quem Wellisson mais admirou e admira é Adão. Porque Adão foi alcoólatra, bebia muito, muito, mas deixou de beber porque tinha 5 filhos para criar. E criou como auxiliar de serviços na Universidade federal, em Viçosa, Minas.
Não fossem o pai, Adão, e a mãe, Maria, e Wellisson não teria chegado a Pequim. Hoje, aos 26 anos, ele tem 1 metro e 60. Aos 9 anos… e a mãe Maria o levou para a ginástica olímpica da universidade em Viçosa. A mãe tentou, mas a de Wellisson era o futebol.
O Viçosa Atlético Clube tinha um convênio com o Atlético Mineiro e o filho de Adão e Maria sonhava ser um ala pela direita. Não rolou. Aos 17 anos, a convite de Bete, a treinadora da universidade, levantou peso pela primeira vez. E desistiu:
- O corpo doeu por uma semana, muito ácido lático…
Um ano depois, novo convite e ele voltou ao tablado que o levaria a Pequim. Tetracampeão brasileiro na categoria menos de 64 quilos, 6º lugar no Pan-americano do Rio, Wellisson é o único representante do Brasil no levantamento de peso.
Nessa modalidade o técnico escolhe entre as várias categorias quem representa o país, a depender do número de vagas alcançadas nos torneios classificatórios. Com uma vaga para Pequim, Wellisson foi o indicado pelo treinador Edmilson Santos, por ter o melhor índice técnico entre todas as categorias.
Wellisson mora em Viçosa e sua técnica é Maria Elizabeth Jorge, mas na seleção o treinador é Edmilson, ex-atleta de até 105 quilos nas olimpíadas de Seul, Barcelona e Atlanta, medalhista em jogos em Havana e Mar Del Plata.
Edmilson treina o Pinheiros, em São Paulo, e por suas mãos passa quem já entendeu estar o peso na base dos esportes de alto impacto; Sharapova faz peso, como fazem Nadal e o bicampeão olímpico japonês, Kosuke Kitajima.
A seleção brasileira feminina de pólo aquático treina com Edmilson, como já treinaram a Carol do vôlei, o Minas Tênis campeão brasileiro em 2005… José Elias, chefe da equipe de vôlei feminino sabe disso. Passa por Edmilson e agradece:
-…a equipe tem um dedinho seu…
O que sentem Wellisson e o treinador Edmilson diante da distância entre a atenção dada ao futebol, aos vôleis, ao basquete, a Jadel, Maurren, à ginástica, e a imensa solidão imposta ao único representante da categoria peso numa olimpíada? A resposta é de quem já passou por isso, Edmilson:
-…já foi muito pior, hoje tem as leis de incentivo…
Se a grande admiração de Wellisson é dirigida ao pai, o ex-alcóolatra Adão, seu ídolo na profissão é o turco Naim Suleymanoglu, tricampeão olímpico na categoria até 64 quilos. Mas acima dele, acima de todos, lá no alto do pedestal, está Romário.
Estudante de educação física em Viçosa, casado com Ana Carolina e pai de Andrei Gabriel, 3 anos, para Wellisson o tempo é escasso. Quando sobra, cinema. Preferências:
- Duelo de Titãs e Em Busca da Felicidade.
No departamento das letras, a preferência de Wellisson é bastante específica. Ele é o Rei das palavras cruzadas. Em Pequim, como lá em Viçosa, ele adormece com a caneta, caçando palavras e charadas. E pensa, sempre, no que sentiu quando chegou à capital olímpica.
Acostumado à solidão midiática, a presença de jornalistas foi a senha: “Quando os repórteres chegaram perto é que caiu a ficha…”
Os repórteres, a 48 horas da cerimônia de abertura, seguem na caça a Phelps, Insibayeva, Nadal, Federer… Wellisson caminha tranqüilo, na sua imensa solidão midiática, pela Vila Olímpica.
Ao lado do treinador, Edmilson, mentaliza as 6 tentativas de arranco e arremesso que podem levá-lo a ultrapassar os favoritos chineses, aos outros 30 atletas da sua categoria, e levá-lo ao pódio. Wellisson é um guerreiro brasileiro. Sonha com o pódio e pensa no exemplo do ídolo, Romário, aquele a quem um dia, nos seus14 anos, assistiu pela televisão prometer ao Brasil:
- Eu vou ganhar a Copa…
Ele, como Romário, acredita que pode. Acredita na disciplina, no trabalho e no talento, mas não segue a boiada, aquela que se move e se esconde atrás do padrão.
Padrão, o biombo dos medíocres.
Wellisson é um da Silva. É um guerreiro. Sonha com o pódio, mas sabe que Pequim já é uma gigantesca vitória.
(Enviada por Flávio Lúcio)

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