sábado, 30 de agosto de 2008

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Josias de Souza
Quem é inimigo de quem na política? Quem apóia quem nas eleições de 2008? As perguntas vêm a propósito dos palanques municipais, uma das graças do momento.
Alguns deles conferem à expressão “coerência política” uma aparência de velha louca. Uma maluca que faz tricô com o novelo de suas próprias contradições.
O mapa brasileiro está apinhado de alianças esquisitas. Experimente-se, de saída, olhar para Natal.
Ali, há quatro anos, o tratamento mais cortês que o peemedebista Garibaldi Alves mereceu da petista Fátima Bezerra foi o de “ladrão”.
Pouco depois, no Senado, Garibaldi se tornaria relator de uma investigação cujo ânimo em relação a Lula e ao petismo rendeu apelido apocalíptico: “CPI do Fim do Mundo.”
Pois não é que agora Garibaldi está, junto com Lula, no palanque de Fátima Bezerra? Voltem-se os olhares agora para Salvador.
O PT local é representado pelo candidato Walter Pinheiro. Mas o governador petista Jaques Wagner flerta com Antonio Imbassahy (PSDB) e com João Henrique (PMDB).
Hoje tucano, Imbassahy alçou vôo na política agarrado às asas de um ACM cujas práticas o petista Jaques Wagner se propõe a varrer da Bahia.
Henrique é apoiado por Geddel Vieira Lima. Um amigo de FHC que, antes de tornar-se ministro de Lula, dissera o seguinte sobre a hipótese de o PMDB aceitar cargos:
“A meu ver, não é imoral. É aético, politicamente, que isso seja feito com partidos e parlamentares que não foram às ruas defender as bandeiras de Lula.”
Em São Paulo, José Serra (PSDB) prefere o ‘demo’ Gilberto Kassab ao tucano Geraldo Alckmin. Em Minas, Aécio Neves (PSDB) tricota com o petista Fernando Pimentel.
O mesmo PT que se insurge contra a amizade colorida de Pimentel com Aécio engole a proximidade do governador Marcelo Déda (PT) com o tucanato sergipano.
O espaço de um único artigo é pequeno demais para realçar todos os pontos do tricô da “coerência política”, essa velha louca. Assim, melhor encaminhar o texto para um arremate.
Diz-se que o eleitor brasileiro só dá atenção a nomes, não a partidos políticos. Seria uma distorção que não contribui para o bom funcionamento da democracia brasileira.
É verdade. Mas os políticos não ajudam a aperfeiçoar os costumes, eis o que se deseja realçar. A diversidade dos palanques como que acomoda os Batmans e os Coringas da política num mesmo saco.
Aos olhos do eleitor, super-heróis e bandidos tornam-se iguais. Os partidos e seus filiados viram um amontoado mal definido.
Algo que a sabedoria popular convencionou chamar de “farinha do mesmo saco”. Uns seriam a cara esculpida e escarrada dos outros.
É óbvio que ninguém é igual a ninguém. Mas, se os partidos, se os próprios políticos buscam de maneira tão frenética a indiferenciação, como exigir mais do eleitor?
Se são todos iguais, como pode o eleitor escolher conscientemente entre um e outro? Como decidir em quem votar? Pior: para que votar?

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