sábado, 29 de novembro de 2008

Como detectar se alguém está usando drogas


As marcas para descobrir se alguém está usando drogas na família ou no círculo de amigos são facilmente percebidas se existe diálogo e uma relação aberta. Quando falta conversa, também há sinais que podem ajudar pai, mãe, irmão ou avó e avô a descobrir o uso e tentar ajudar o viciado a livrar-se da dependência.
Além da devastação no organismo (veja quadro), o comportamento avisa. Há visível mudança física, que inclui perda de peso acentuada, em especial nos usuários de cocaína e crack - os "crackeiros" ainda sofrem de envelhecimento precoce e pele ressecada. O consumo de drogas deixa o usuário retraído, deprimido, cansado e até descuidado em sua aparência.
Um teste da Associação Espaço Comunitário Comenius, de São Paulo, orienta a observar o estilo da pessoa - se ficou agressiva, adotou atitudes violentas e se mudou de amigos. Para Maria Cecília Heckrath, coordenadora do setor de álcool e drogas da Secretaria de Estado da Saúde, não há fórmula segura para detectar o consumo de drogas, mas é comum perceber o uso se a família tem diálogo. "Quando os pais são distantes ou a família é desestruturada fica difícil. Aí os pais só percebem quando encontram droga no bolso do filho", diz Maria Cecília, que trabalhou mais de dez anos no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Capital.

Sinais que podem indicar consumo de drogas

Especialistas apontam que o conjunto desses fatores pode indicar o consumo de drogas:

- O jovem anda retraído, deprimido, cansado e descuidado do aspecto pessoal (com cabelo e barba por fazer e unhas sujas e mal cuidadas), agressivo, com atitudes violentas.
- Quando a pessoa muda radicalmente o grupo de amizades. Se estuda, mostra dificuldades na escola e perde o interesse por passatempos, esportes e hobbies. Se trabalha, começa a faltar e ficar relapso.
- O usuário muda seus hábitos alimentares, deixa de se alimentar com freqüência e passa a sofrer com distúrbios de sono.
- Usa desodorantes para disfarçar cheiro, fica com os olhos vermelhos, as pupilas dilatadas e usa colírios.
- Mantém conversas telefônicas com desconhecidos, começa a sumir com objetos de valor na casa.
- Adota mudanças no visual, usa roupas sujas e faz apologia a drogas.
- No caso da maconha, quando há caixas de fósforos furadas no centro, ou piteiras e cachimbos, que permitem fumar o cigarro de maconha até o final sem queimar os dedos ou os lábios; papel de seda (para enrolar a droga); tem manchas amareladas entre as pontas dos dedos e queimaduras e há cheiro nos lençóis.
- No caso da cocaína, encontrar cartões de crédito e lâminas (para pulverizar o pó) e canetas sem carga (para aspirar) são sinais de uso.
- Também é importante perceber se o nariz da pessoa sangra com freqüência ou apresenta corizas, se apresenta dificuldade para falar, se gasta mais dinheiro e sai mais de casa, ou passa noites insones.

Apoio

Onde buscar ajuda www.ssp.sc.gov.br/conen/grupos.htm
Autor: Editoria Segurança OBID
Fonte: A Notícia - SC
http://www.antidrogas.com.br/

Exames toxicológicos podem detectar o uso de drogas

Quais tipos de exames toxicológicos existentes? Eles detectam qualquer droga? A partir de quando eles dão positivo?

A análise toxicológica para verificação do consumo de drogas vem sendo utilizada no meio profissional, no esporte, no auxílio e acompanhamento da recuperação de usuários em clínicas de tratamento e em pesquisas. Há testes disponíveis para a detecção de qualquer tipo de substância psicoativa (maconha, cocaína, barbitúricos, opiáceos, anfetaminas e êxtase).

Atualmente há três tipos de exames capazes de detectar a presença de drogas no organismo:

Exame de Urina

As drogas são geralmente destruídas (metabolizadas) pelo fígado e eliminadas pela urina. Portanto, analisar a urina em busca de metabólitos das drogas é um dos métodos para se detectar a presença do consumo de drogas. A urina é geralmente aceita como amostra para verificar o uso recente de drogas de abuso, mas não permite distinguir o usuário ocasional do abusivo ou do dependente.

O período de duração da detectabilidade das drogas varia de acordo com a freqüência e intensidade do uso das mesmas. Este período pode variar de poucas horas até 27 dias (ver tabela abaixo). A análise de amostras de urina podem detectar o uso de maconha e de cocaína em períodos mais longos. Já o álcool é metabolizado e eliminado rapidamente e os exames toxicológicos detectam somente o uso feito nas últimas horas.

A exata concentração da droga ou de seu metabólito presente na urina não pode ser estimada; oferecendo um resultado preliminar. A quantificação da droga é realizada, quando solicitada, por metodologia específica em centros especializados. Portanto, a interpretação do resultado desta triagem deve ser submetida à consideração clínica e ao julgamento profissional do médico. Ainda, as concentrações de detecção do método seguem as recomendações da "Substance Abuse and Mental Health Services Administration" SAMHSA, EEUU. Exame de SanguePesquisa direta da droga no sangue. O exame de sangue possibilita apenas verificar o uso recente de substâncias (algumas horas). Este exame é realizado em centros especializados.

É importante salientar que os teste de detecção de drogas só podem ser realizados após autorização do indivíduo por escrito ou em condições de urgência clínica. No ambiente hospitalar a triagem para drogas de abuso é realizada exclusivamente para avaliação e suporte da conduta médica, não podendo ser utilizado como subsídio para outras ações.

Fonte: Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas)/Programa Álcool e Drogas (PAD) do Hospital Israelita Albert Einstein

Maconha causa mais câncer do que cigarro, diz estudo


Em artigo publicado na revista European Respiratory Journal, os cientistas disseram que a maconha lesa mais as vias aéreas porque sua fumaça contém o dobro de substâncias cancerígenas, como os hidrocarbonetos poliaromáticos, em relação aos cigarros de tabaco.

Também a forma de consumo aumenta o risco, já que os "baseados" são normalmente fumados sem um filtro adequado e até a ponta, o que aumenta a quantidade de fumaça inalada. O fumante de maconha traga mais longa e profundamente, o que facilita o depósito das substâncias cancerígenas nas vias aéreas.

"Os fumantes de maconha terminam com cinco vezes mais monóxido de carbono na corrente sanguínea do que os tabagistas", disse por telefone o coordenador do estudo, Richard Beasley, do Instituto de Pesquisa Médica da Nova Zelândia.

"Há concentrações mais altas de substâncias cancerígenas na fumaça de maconha. O que nos intriga é que haja tão pouco trabalho feito a respeito da maconha e tanto trabalho sobre o tabaco."

Os pesquisadores entrevistaram 79 pacientes de câncer de pulmão, na tentativa de identificar os principais fatores contribuintes, como tabagismo, histórico familiar e ocupação. Os pacientes responderam sobre o consumo de álcool e maconha.

Neste grupo de alta exposição, o risco de câncer de pulmão cresceu 5,7 vezes para pacientes que fumaram mais de um "baseado" por dia durante dez anos, ou dois "baseados" por dia durante 5 anos - isso já levando em conta outras variáveis, como o tabagismo.

"Embora nosso estudo abranja um grupo relativamente pequeno, mostra claramente que o consumo de maconha por longo prazo aumenta o risco de câncer de pulmão", escreveu Beaseley.

"O uso da maconha já pode ser responsável por um em cada 20 casos de câncer de pulmão diagnosticados na Nova Zelândia", acrescentou ele.

"No futuro próximo, podemos ver uma "epidemia" de câncer de pulmão ligado a esta nova substancia cancerígena. E o risco futuro provavelmente se aplica a muitos outros países, onde o crescente uso da maconha entre os jovens adultos e adolescentes está se tornando um grave problema de saúde pública."


Autor: Saúde OBID
Fonte: Agência Reuters

Álbum da semana

Arabelle e suas gatinhas

Erivando Teles

Zenith (de Zé Omar)


Faquito e Aldeíde

Jucemília (de Doca Moreira) e Rafael do BBB

Jucieuma Gouveia

Tom, de Nino Batista e Luci

Zefinha de Melo e filho

Hilda e Edmilson

Océlio Lustosa (de D. Euclice)

Mauro e Zélia
Josué e Socorro Duarte

Adriano Lucena

Micimara Gonçalves
(filha de Niltão)

Suylan, Zé Galego e Suenny

Strauss Filho e João Neto

IP precisa ocupar seus jovens com atividades produtivas se não quiser chegar ao fundo do poço


GOVERNO DO ESTADO ABRE 4 MIL VAGAS PARA PROFESSOR
Por: Luciano Augusto

O governador Cid Gomes encaminhou nesta sexta-feira (28) à Assembléia Legislativa duas mensagens de lei. A primeira delas prevê a criação de 4 mil vagas para professor classe I, referência 13 (quadro I) e a segunda cria as Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEP), no âmbito da Secretaria da Educação (Seduc). As matérias deverão ser votadas pelos deputados estaduais até o fim deste ano.

Caso a primeira mensagem seja aprovada, o preenchimento das 4 mil vagas deverá ser feito por concurso público a ser realizado ainda em 2009. O vencimento inicial é de R$ 1.257,34. Na segunda proposta, além da criação das EEEPs – no total de 100 até 2010 -, está também a criação de 1.000 cargos a serem preenchidos por meio de seleção pública.
Segundo a proposta do Executivo, as Escolas Profissionalizantes têm a finalidade de garantir uma articulação entre a vida escolar e o mundo do trabalho, oferecendo aos alunos um ensino médio técnico, podendo ter uma jornada de tempo integrado (currículo tradicional em um período e curso profissionalizante em outro), o que vai proporcionar as condições necessárias para uma maior inserção do jovem no mercado de trabalho.

Nas duas mensagens, o governador Cid Gomes pede ao Poder Legislativo que as propostas tramitem em regime de urgência.
Coordenadoria de Imprensa do Governo.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O amor comeu

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço.
O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas.
O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré.
Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.
Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto
Fonte: http://amigosdofreud.blogspot.com/

Médicos incompetentes: a vítima pode ser você



O país com problemas de saúde
Luiz Gonzaga Bertelli *


Muito se critica a saúde no Brasil pelo viés de políticas públicas e poucos se arriscam a olhar uma das faces mais profundas do problema. Há, sim, longas filas de espera, falta de leito e equipamentos nos hospitais. Porém, mais grave é a qualificação dos médicos, como reafirma o mais recente exame de avaliação do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp): o índice de recém-formados reprovados, ou seja, dos estudantes que saem da faculdade sem dominar conhecimentos básicos do atendimento clínico, dobrou entre 2005 e 2008, saltando de 31% para 61%.

O percentual começa a se aproximar perigosamente do registrado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil/Secção de São Paulo (OAB-SP) que, em 2008, reprovou 77,3% dos inscritos. A diferença é que a prova da OAB-SP é obrigatória e a do Cremesp é feita voluntariamente, o que pode indicar que apenas os recém-graduados mais interessados participaram.

A comparação entre as duas situações rende outra diferença e mais um ponto em comum. Tanto a Medicina quanto o Direito sofreram com a proliferação de cursos, já que quantidade não é sinônimo de qualidade. A história muda no que se refere ao treinamento que os estudantes dessas áreas podem receber antes de passar pelo teste.

Diferentemente dos futuros advogados, que, antes mesmo da conclusão da faculdade, são estimulados a participar de estágios nos quais aplicam na prática os conceitos teóricos e aprendem com a experiência de profissionais gabaritados, os futuros médicos esbarram numa série de dificuldades para entrar em programas de capacitação.

Por não estarem autorizados a prestar atendimento direto a pacientes sem a devida graduação, eles precisam ganhar experiência desempenhando atividades não menos importantes na área da saúde, atuando em setores administrativos ou laboratoriais. Nem mesmo a residência médica, estágio de pós-graduação que visa à especialização, é obrigatória. Na ponta do lápis, um jovem pode conquistar o diploma de médico generalista sem ter exercido qualquer prática profissional e, o que é pior, ser contratado por um pronto-socorro em que tratará até mesmo dos problemas de saúde que mais matam no país: doenças cardiovasculares e traumas.

E há um outro problema: o direcionamento de carreira, mesmo entre aqueles que optam pela residência. Contando com mais de 50 opções de especialização, a maior procura recai em cirurgia plástica e dermatologia, carreiras com maior retorno financeiro, em detrimento das menos glamorosas e mais necessárias, como pneumologia e nefrologia – conforme aponta estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM).

*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Fonte:http://congressoemfoco.ig.com.br/DetForum.aspx?id=25663

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Prioridade para a educação, coerência com o professor


Há, hoje, consenso de que a educação deve ser prioridade da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios – é a forma de transpor um dos principais obstáculos brasileiros para o seu pleno desenvolvimento. Prioridade, porém, que não passa de retórica vazia no caso dos governadores que contestam o princípio do piso salarial nacional unificado para o magistério, lei sancionada pelo Presidente Lula, após um grande debate por todo país.

Coerente, a grande maioria dos governadores defende a prioridade da educação e são favoráveis ao piso. Reconhecem que na adoção desta política está a luta pela valorização do magistério.

Contrário a este consenso sobre a prioridade para a educação nacional, os governadores do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB); de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB); do Paraná, Roberto Requião (PMDB); de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), e do Ceará, Cid Gomes (PSB) são autores de uma ação encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tornar inviável, na prática, a aplicação da lei que criou o piso, de R$ 950 para 40 horas semanais. São apoiados pelos governadores do PSDB, Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), e do DEM, José Roberto Arruda (DF).

Se má vontade política não fosse e se reais preocupações esses governadores tivessem com a legitimidade, a legalidade e o interesse público, especialmente com a educação e com os educadores, observariam uma série de medidas para viabilizar o pagamento a que os professores fazem jus, por lei. Medidas simples, da rotina legislativa estadual para os orçamentos, como estão, aliás, fazendo os outros governadores.

Não vou desperdiçar linhas deste artigo para enfrentar os ataques que esses cinco governadores fazem ao princípio da jornada de 40 horas como medida do salário de R$ 950, ou sobre as horas-atividades. Essa é a cortina de fumaça para desviar a atenção, da imprensa e da sociedade, do alvo central da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin): derrubar o artigo 3º da lei. Este é o artigo que estabelece o início da vigência da regra salarial e a forma de sua integralização pelas prefeituras e pelos estados.

Os autores da ação argumentam que – em função da data de edição da lei (em 17 de julho passado), assim como o início da vigência, retroativa ao início deste ano, e o escalonamento da integralização do piso em pelo menos dois terços do valor definitivo de R$ 950, a partir de 2009 – não estariam legalmente preparados para pagar os professores. O argumento é que não haveria lei orçamentária autorizando estados a executarem esses pagamentos.

Neste sentido, a legislação dá ampla cobertura às necessidades orçamentárias criadas pela nova lei. A começar pelo próprio orçamento federal. A lei estabelece que, se o governo municipal ou estadual não tiver os recursos necessários para cobrir as despesas dela resultantes, o governo federal proverá. Primeiro obstáculo vencido.

Caso a prefeitura ou o governo estadual não tenham as necessárias pro-visões orçamentárias, a legislação permite a aprovação, pelas respectivas casas legislativas, dos créditos suplementares. Já estive na tribuna conclamando as assembléias legislativas de todo o país que tomem as providências para que, já este ano, o piso seja contemplado nas leis orçamentárias a serem aprovadas pelos legisladores estaduais até o final deste ano, para vigorar a partir de janeiro de 2009.

O projeto foi aprovado na Câmara e no Senado, tendo tramitado por um ano e sete meses, sem que qualquer desses governadores tivesse jamais se manifestado contra sua adoção.

Participaram desse debate os próprios secretários estaduais de Educação e sua constitucionalidade jamais foi colocada em questão. Esta constitucionalidade foi confirmada nas comissões de Justiça das duas Casas do Congresso. Além disso, a Advocacia Geral da União e a Procuradoria Geral da República já se manifestaram pela improcedência da ação direta de inconstitucionalidade desses cinco governadores.

Por todos estes fatos e argumentos, desnudam-se as intenções políticas dos governadores com esta Adin. Nestes casos, o discurso de prioridade para a educação é incoerente se não for, por causa desta ação de inconstitucionalidade, implantada a lei do piso nacional do magistério.

Ideli Salvatti (PT-SC), líder do PT e do Bloco de Apoio ao Governo no Senado

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DAS DROGAS

Dra. Débora Christina Ribas D'Ávila
Médica Psiquiátrica

Falar em causas e conseqüências das drogas implica em sair dos limites da Medicina. É preciso pensar em Sociedade, Família, Religião, Profissão, Psicologia, Mídia, Polícia e Política. Não existe uma só causa, ou uma só conseqüência.

DROGA é qualquer substância capaz de modificar o funcionamento fisiológico (normal), mental ou comportamental de um indivíduo. Inclui medicamentos (drogas lícitas) e plantas. As drogas capazes de alterar o funcionamento mental ou psíquico são denominadas drogas psicotrópicas ou simplesmente psicotrópicos. Costumamos usar a palavra droga para falar de substâncias que apresentam potencial de abuso e que podem causar dependência.

A história das drogas acompanha a história da humanidade. Temos relatos muito antigos do uso de chás e álcool em rituais religiosos ou em comemorações. A alteração da consciência é algo que desperta a curiosidade do homem e o leva a experimentar substâncias psicoativas.

A dependência de drogas (lícitas e ilícitas) é conseqüência de uma interação entre os genes, a seqüência temporal dos ambientes externos aos quais estamos sujeitos durante a vida e eventos aleatórios de interações moleculares que ocorrem dentro das células individuais. São essas as interações que devem ser incorporadas em uma explicação adequada acerca da formação da dependência. Uma grande parte das pessoas se envolverá em uso ocasional, porém outra parte se tornará dependente, possivelmente devido a uma memória que a droga cria no cérebro, nos sistemas de gratificação cerebrais. Memória esta que é despertada principalmente em diversas situações emocionais e ambientais. Nessas situações, através de mecanismos desconhecidos, o indivíduo sente necessidade da droga. A incidência de alcoolismo em filhos de pais dependentes de álcool é de três a quatro vezes maior do que entre os filhos de não dependentes. Estudos em gêmeos também tendem a confirmar esta predisposição. Existem vários modelos propostos para explicar este fenômeno, mas nenhum comprovado definitivamente.

O Brasil apresenta taxa crescente de consumo de drogas ilícitas. Tais taxas já estão estáveis na Europa e Estados Unidos. A ONU estima que o número de usuários de drogas aumente em 10% por ano no Brasil. Isso mostra uma falência de nossa política de combate às drogas. O Dr. Ronaldo Laranjeira tem uma teoria para explicar esses dados. Aqui, há dez anos, o Ministério da Saúde adota a política de redução de danos. Se vai usar, que use de uma forma menos lesiva. É preferível usar maconha que crack. Mas não existe droga segura. A própria maconha - considerada tão inocente - aumenta o risco de transtornos mentais graves como a esquizofrenia. Pelo menos 12% dos casos de esquizofrenia na Inglaterra foram desencadeados pelo uso de maconha. Há piora do desempenho escolar, aumenta as chances de transtornos mentais - especialmente a esquizofrenia - e diminui o pique para fazer as coisas (síndrome amotivacional). O uso da maconha também causa ansiedade e depressão. E o Ministério da Saúde não divulga isso.
Quando falamos em prevenção primária devemos ter em mente que a primeira droga a ser experimentada é o álcool, depois o cigarro e em terceiro lugar a maconha. A maconha é a droga ilícita que funciona como porta de entrada para outras drogas. Por isso dei ênfase a essas 3 drogas.

ÁLCOOL:

Álcool é a droga preferida dos brasileiros (68,7% do total), seguido pelo tabaco, maconha, cola, estimulantes, ansiolíticos, cocaína, xaropes e outros.
No País, 90% das internações em hospitais psiquiátricos por dependência de drogas, acontecem devido ao álcool.
Não há ainda certeza científica, mesmo que aproximada, sobre qual fator é o mais determinante na etiologia do alcoolismo. Estudos apontam evidências para as várias condições, mas sem conclusão definitiva.
Fatores genéticos: familiares próximos apresentam um risco quatro vezes maior que indivíduos que não têm familiares alcoolistas; o gêmeo idêntico de um indivíduo com problemas de alcoolismo apresenta maior risco que um gêmeo fraterno; e filhos de alcoolistas que foram adotados têm o risco quatro vezes maior de apresentar alcoolismo, mesmo que separados dos pais após o nascimento. Indivíduos que um dos pais é ou foi alcoolista têm alto risco para o alcoolismo.

A idade do primeiro drinque (13-15 anos), a idade da primeira intoxicação (15-17 anos) e a idade do primeiro problema relacionado ao consumo de álcool (16-22 anos) observados em indivíduos que desenvolveram alcoolismo, não diferem basicamente do esperado da população geral que não tem problema posterior de abuso ou dependência de álcool.

Pelo menos 2,3 milhões de pessoas morrem por ano no mundo todo devido a problemas relacionados ao consumo de álcool, o que totaliza 3,7% da mortalidade mundial, segundo um relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Motoristas alcoolizados são responsáveis por 65% dos acidentes fatais em São Paulo.

O alcoolismo é a terceira doença que mais mata no mundo. Além disso, causa 350 doenças (físicas e psiquiátricas) e torna dependentes da droga um em cada dez usuários de álcool.
É a substância psicoativa mais consumida no mundo.

O álcool é absorvido em sua maior parte no intestino delgado e é metabolizado pelo fígado até seu produto final, o acido acético.
No cérebro o álcool age como um depressor do sistema nervoso central. Em uma concentração de:
0.05%: pensamento, julgamento e autocontenção estão alterados.
0.1%: prejuízo nas ações motoras voluntárias.
0.2%: A área motora do cérebro é deprimida, perdendo-se o controle das atividades, alterações emocionais.
0.3%: confusão e estupor.
0.4%: coma.
Em níveis acima de 0.5% pode ocorrer parada respiratória e morte.

Também ocorre:

Fragmentação e diminuição do sono profundo, quadros psicóticos, depressivos e ansiosos,
“black out” (amnésia lacunar)
fígado: esteatose hepática, hepatite alcóolica e cirrose hepática
esôfago: esofagite
estômago: gastrite, úlcera, má absorção de nutrientes (anemia por deficiência de vitamina B12)
pâncreas: insuficiência pancreática, pancreatite
coração: aumento da pressão arterial, taquicardia e arritimias
disfunção sexual.
Síndrome fetal alcoólica: microcefalia, ma formação crânios-faciais e defeitos nos membros e no coração dos bebês. Na idade escolar, estas crianças podem apresentar comportamentos mal adaptativos e dificuldades no aprendizado.

DELIRIUM TREMENS a síndrome de abstinência pode evoluir para um quadro perigoso caracterizado por alucinações visuais e táteis, alternância entre lentificação e agitação psicomotora, sudorese, aumento da freqüência cardíaca e pressão arterial. Indivíduos que apresentarem estes sintomas devem ser levados imediatamente para um serviço médico de emergência, pois o quadro pode evoluir para coma e até óbito.

Quem disse que tabaco não é droga?

TABACO:

No Brasil, cerca de um quarto da população adulta fuma. A busca de novas emoções, de integração com grupos de pares e de questionamento de padrões e regras aliada à falta de informação adequada sobre o assunto, leva os jovens a iniciar o hábito de fumar. Somente uma pequena minoria de fumantes consegue fumar moderadamente, devido ao alto potencial de dependência causada pela nicotina. 90% dos fumantes que tentam parar de fumar, a cada ano, falham nos seus esforços.

A OMS estima que aproximadamente um terço da população com 15 anos ou mais fume (47% dos homens e 12% das mulheres, com 15 anos ou mais).

A droga que causa dependência no tabaco é a nicotina e os processos farmacológicos e comportamentais que determinam a dependência ao tabaco são similares àqueles que determinam a dependência de outras drogas como a heroína e a cocaína. Inicialmente se busca os efeitos benéficos da nicotina mas o que mantém o indivíduo fumando é o alívio dos sintomas de abstinência.

Efeitos tóxicos:

A fumaça do cigarro contém um número muito grande de substâncias tóxicas ao organismo. Entre as principais, citamos a nicotina, o monóxido de carbono e o alcatrão. O uso intenso e constante de cigarros aumenta a probabilidade de ocorrência de algumas doenças, como pneumonia, câncer (pulmão, laringe, faringe, esôfago, boca, estômago etc.), infarto de miocárdio, bronquite crônica, enfisema pulmonar, derrame cerebral, úlcera digestiva e efeitos como náuseas, dores abdominais, diarréia, vômitos, cefaléia, tontura, braquicardia e fraqueza.

Quando a mãe fuma durante a gravidez, “o feto também fuma”, recebendo as substâncias tóxicas do cigarro através da placenta. A nicotina provoca aumento do batimento cardíaco no feto, redução de peso no recém-nascido, menor estatura, além de alterações neurológicas importantes. O risco de abortamento espontâneo é maior. As substâncias tóxicas do cigarro são transmitidas para o bebê através do leite materno.

Os poluentes do cigarro dispersam-se pelo ambiente, fazendo com que os não fumantes próximos ou distantes dos fumantes inalem também as substâncias tóxicas. Estudos comprovam que filhos de pais fumantes apresentam incidência três vezes maior de infecções respiratórias (bronquite, pneumonia, sinusite) do que filhos de pais não-fumantes.

MACONHA:

Os efeitos do principal constituinte ativo da cannabis (THC) sobre a ansiedade parecem ser dose-dependente: com baixas doses é ansiolítico (reduz ansiedade) e em doses mais altas sendo ansiogênico (aumenta ansiedade). O canabidiol apresenta propriedades ansiolíticas.

Jovens portadores de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) relatam um efeito calmante proporcionado pela maconha, reduzindo sua inquietação interna. Este efeito reforça a hipótese da automedicação dos sintomas de TDAH como um fator de risco para o desenvolvimento de abuso/dependência de drogas.

A cognição se refere a habilidade de pensar. Os processos cognitivos incluem a percepção visual, auditiva e tátil, a atenção sustentada a determinada tarefa, à memória, julgamento, capacidade de resolver problemas e funções executivas (estabelecimento de objetivos, capacidade de planejamento, iniciativa, controle dos impulsos, monitoramento, avaliação de riscos, conseqüências do comportamento e flexibilidade mental). Há alterações no funcionamento cerebral e neuropsicológico dos usuários crônicos de maconha, mais especificamente em atenção, memória, aprendizagem, funções executivas, tomada de decisões, funcionamento intelectual e funções psicomotoras, mesmo após um mês de abstinência.

COCAINA:

Aspirada, fumada ou injetada na veia, a cocaína "entope" os receptores que reabsorvem a dopamina, deixando-a por mais tempo na sinapse e perpetuando a sensação de prazer. Tem efeito euforizante, mas o metabolismo do cérebro cai muito com seu uso, pois diminui a quantidade de oxigênio em zonas importantes. O cérebro do usuário de cocaína é embotado, muito pobre em termos de estímulos. Atualmente, há recursos que permitem avaliar o funcionamento cerebral e deixam claro o enorme contraste existente entre o cérebro normal, rico e vivo que consome bastante glicose, por exemplo, e o do usuário de cocaína, que se mostra alterado substancial e principalmente nas regiões frontais, ou seja, nas regiões do pensamento, do controle dos estímulos e da impulsividade. Isso explica em parte o comportamento impulsivo.
Doses maiores de dopamina provocam sintomas paranóides à semelhança do que ocorre com as anfetaminas (medicações para emagrecer). O usuário se tranca no banheiro, imaginado que a polícia vai invadir o local e prendê-lo.

É quase um quadro semelhante ao da esquizofrenia paranóide. A diminuição do oxigênio especialmente nas regiões frontais provocada pelo uso crônico da cocaína produz alterações que não se recuperam mesmo depois de vários anos de abstinência. Memória, concentração, capacidade de elaborar pensamentos complexos, de ponderar são funções seriamente prejudicadas. O usuário é impulsivo, busca o prazer imediato, não se articula para retardar as conseqüências de seu comportamento, deixando claro os danos que a droga causa no cérebro.


Você quer ver seu filho assim?

O crack é um derivado da cocaína. Seu baixo custo torna-o atraente para o consumo.

No começo dos anos 80 a pasta de coca foi transformada numa forma nova chamada base livre, que permite a volatilização (transformação em vapor) da cocaína, permitindo com que a cocaína pudesse ser fumada. A cocaína inalada em pó é uma apresentação sólida que se dissolve na mucosa nasal antes de ser absorvida – isso significa que o início do efeito demora mais. Os vapores do crack vão para os pulmões e são transportados para a corrente sanguínea mais rapidamente (10 segundos) conferindo maior rapidez de sensação psicotrópica, a sensação contudo é a mesma da cocaína bem como os demais efeitos. O nome crack é derivado do ruído característico que é produzido pelas pedras quando estão sendo queimadas.

Por ser barato alcança classes econômicas antes não atingidas pelo alto custo da cocaína em pó. O crack tem efeito de duração menor que a cocaína inalada, mas como inicia muito mais rápido e mais intensamente que a cocaína há uma espécie de compensação psicológica pelo efeito. Após 12 anos de uso, a mortalidade é de quase 40%, a maioria por causa da violência.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Escalas do tempo



Pouca gente tem consciência de que a Estação Espacial Internacional é o embrião da primeira cidade humana no espaço. E poucos se atentaram que, em 20 de novembro, ela completou dez anos. Uma década em que governos mudaram, líderes políticos ascenderam e caíram, impérios desmoronaram e guerras modificaram o mundo.

Daí... É irresistível recorrer a "Mundo Imaginados", livro do físico Freeman Dyson no qual ele brinca com sete escalas do tempo: dez anos, cem anos, mil anos, 10 mil anos, 100 mil anos, 1 milhão de anos e o infinito. No livro, o velho cientista prevê que no próximo século plantas e animais alterados por engenharia genética já estejam adaptados para assentamentos humanos na Lua e em alguns asteróides por perto. E talvez em Marte.

De volta ao Brasil terráqueo, também em 20 de novembro. A Câmara de Deputados aprovou em Brasília o projeto que reserva 50% das vagas nas universidades federais para alunos vindos de escolas públicas. Metade dessas vagas será distribuída de acordo com critérios "raciais" e a outra metade, de acordo com a renda familiar per capita. Por quê? Porque a maioria dos alunos nas universidades públicas estudou em escolas particulares. Então, há quem diga: não pode haver universitários privilegiados!

Não é bem assim. Eles estudaram muito e passaram por mérito. Grande parte desses "privilegiados" se origina de famílias simples que pagaram a formação escolar de seus filhos porque a puseram acima de tudo. Não são os responsáveis pelo alto índice de reprovação no vestibular dos alunos vítimas da má qualidade de escolas públicas de ensino médio. Aí sim, uma injustiça social por incompetência política de governos. E de deputados.

Por que não criam um projeto viável que obrigue o governo a priorizar e injetar com urgência mais dinheiro na educação básica? Que exija emergência de melhores escolas com professores capacitados e bem remunerados? Hoje o investimento do país em educação chega a 4% do PIB. Gente, por que não dobrar esse investimento? Aí sim, valeria uma "operação de guerra" para tirar um pouquinho de cada orçamento a fim de instituir um ensino fundamental, médio e universitário de excelente qualidade para todos.

Nada contra cotas sociais provisórias, desde que não haja risco de retrocesso no ensino das universidades públicas. Concordo que quem parte de um patamar mais elevado, de famílias cultas com formação superior, obviamente leva vantagem nos estudos. Mas usar da busca por justiça e equilíbrio como desculpa para não olhar para frente, para as cobranças futuras, pode gerar prejuízos para todos, principalmente para aqueles que mais precisam de ajuda. Ações afirmativas são realmente afirmativas se sabemos como avaliar seus resultados. Em termos de educação, temos de usar a escala de tempo correta. Dez anos? Cem anos?

Enviado por Ateneia Feijó

OIT: efeitos da crise sobre salários serão 'dolorosos'


Os efeitos da crise no sistema financeiro mundial sobre os salários em 2009 serão "dolorosos", alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Uma combinação entre baixo crescimento econômico ou recessão e alta volatilidade dos preços dos alimentos e da energia vai erodir os rendimentos de muitos trabalhadores, particularmente os mais pobres. Em muitos países, a classe média também será seriamente afetada, e as negociações entre empresas e sindicatos serão tensas. "Para 1,5 bilhão de trabalhadores assalariados no mundo, avizinham-se momentos difíceis", afirmou em relatório o diretor-geral da OIT, Juan Somavia.

Para minimizar os efeitos da crise junto aos trabalhadores, a OIT recomenda aos governos que manifestem um sólido compromisso de proteção do poder aquisitivo dos assalariados, com a adoção de medidas que fortaleçam o salário mínimo e as negociações sindicais, estimulem o consumo interno, complementem a renda dos trabalhadores e impeçam que a participação dos salários no Produto Interno Bruto (PIB) per capita continue a cair frente à fatia dos lucros.
Segundo o "Relatório Mundial sobre salários 2008/2009", divulgado hoje pela entidade e feito com base nas mais recentes estimativas de crescimento econômico do Fundo Monetário Internacional (FMI), em média, os salários reais (descontada a inflação) vão crescer 1,1% no próximo ano, mas cairão em muitos países, inclusive nas maiores economias. Nos países mais desenvolvidos, os salários vão recuar 0,5%.


Brasil


Enquanto o PIB brasileiro aumentou 16% entre 1995 e 2007, o rendimento médio dos trabalhadores caiu 6% no período, de R$ 1.023 para R$ 965. Na avaliação da OIT, os números mostram que os ganhos de produtividade do País não se traduziram em ganhos salariais para os empregados e a participação dos salários no PIB caiu ao longo dos anos.
No entanto, nos últimos quatro anos houve uma reversão dessa tendência e a renda média dos trabalhadores aumentou 15,6%, muito em função da política do salário mínimo, que corresponde ao rendimento de 12,5% dos trabalhadores brasileiros. Como o peso do mínimo é considerável, os aumentos tiveram importantes efeitos sobre a distribuição de renda. O coeficiente de Gini baixou de 0,563 em 2000 para 0,528 em 2007 - quanto mais baixo o índice, menor a desigualdade social.
O mínimo aumentou 43% entre 2004 e 2008 e chegou aos R$ 415, 50% mais do que no ano 2000, e seus impactos foram maiores nos grupos mais vulneráveis da sociedade, particularmente mulheres, negros, jovens, terceira idade e menos escolarizados. Entre os trabalhadores domésticos, 30% recebem o mínimo - esse grupo representa 8% da ocupação total e 17% da população feminina. Já a diferença entre os salários de homens e mulheres continua grande no Brasil - elas recebem apenas 66,1% do que eles ganham.

Aposentados e pensionistas em expectativa



Se há dinheiro para bancos, montadoras, construção civil, agricultura e o que mais estiver ameaçado pela crise financeira internacional, por que também não tem para resolver a situação dos aposentados e pensionistas? Com certeza, esse é o questionamento que se fará por aí, diante da resistência do governo Lula em provar projetos que beneficiam essa população.

Os projetos que favorecem os inativos, aprovados pelo Senado, são três, que agora dependerão da Câmara dos Deputados, onde o governo tem maioria. Esses projetos visam a recomposição de perdas salariais dos vencimentos de aposentados e pensionistas, que há algum tempo reclamam da situação e o governo tem sempre como resposta a questão do déficit previdenciário, como fator impeditivo para atender reivindicações nessa área.

Um grupo de senadores já fez até vigília na noite do último dia 18 , varando a madrugada, a favor desses projetos, e poderão voltar a fazer nesta quarta-feira (26), pela aprovação na Câmara dos Deputados que deve votar a matéria até o dia 10 de dezembro. O senador Paulo Paim (PT-RS), autor de um dos projetos, diz que Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais nos Estados poderão aderir ao movimento da vigília.

É hora do governo mostrar sensibilidade e refazer as contas para buscar uma alternativa que atenda o segmento prejudicado.

Famílias dilaceradas

Pai ou mãe que joga baixo para afastar o filho do ex-cônjuge pode perder a guarda da criança por "alienação parental"

Claudia Jordão

Fazia seis anos que Karla, de oito, não via o pai. Nem mesmo por foto. Sua irmã mais nova, Daniela, nem sequer o conhecia. Quando seus pais se separaram, ela ainda estava na barriga de sua mãe. Aquela noite de 1978, portanto, era muito especial para as duas irmãs. Sócrates havia deixado o Rio de Janeiro, onde morava, e desembarcado em São Luís do Maranhão, onde elas viviam com a mãe, para tentar uma reaproximação. “Minha mãe disse que nosso pai iria nos pegar para jantar”, conta Karla Mendes, hoje com 38 anos. As garotas, animadas e ansiosas, tomaram banho, se perfumaram e vestiram suas melhores roupas. “Acontece que meu pai nunca chegou, ficamos lá, horas e horas, até meia-noite”, diz. Enquanto as meninas tentavam superar a decepção, a mãe repetia sem parar: “Tá vendo? O pai de vocês não presta! Ele não dá a mínima!”

Naquele dia, Karla viveu sua primeira grande frustração. Mas o maior baque aconteceu 11 anos depois, quando recebeu uma ligação inesperada do pai, que até então estava sumido. Karla começou a entender que sua mãe havia armado contra todos naquela noite – e em outras incontáveis vezes. Ela descobriu que o pai esteve mesmo em São Luís. Para ele, minha mãe prometeu que iríamos à praia em sua companhia, mas sumiu com a gente quando ele passou para nos pegar. Para nós, inventou o jantar”, conta Karla. De tão desorientada com a descoberta, trancou a faculdade por um ano para digerir a história. “O mais difícil foi descobrir que meu pai não era um monstro”, diz Karla, que há 20 anos tem uma relação próxima com o pai, mas não fala com a mãe desde que descobriu que ela manipula da mesma forma seus dois outros filhos de outro casamento.

A história de Karla e sua família é tão triste quanto antiga e corriqueira. Pais e mães que mentem, caluniam e tramam com o objetivo de afastar o filho do ex-parceiro sempre existiram. A diferença é que, agora, há um termo que dá nome a essa prática: alienação parental. Cunhada em 1985, nos Estados Unidos, pelo psicanalista Richard Gardner, a expressão é comum nos consultórios de psicologia e psiquiatria e, há quatro anos, começou a aparecer em processos de disputa de guarda nos tribunais brasileiros. Inspirados em decisões tomadas nos EUA, advogados e juízes começam a usar o termo como argumento para regulamentar visitas e inverter guardas. “Se comprovada a alienação, através de documentos ou testemunhos, quem trama para afastar pai de filho está sujeito a sanções, como multa e perda de guarda”, diz a psicóloga e advogada Alexandra Ullmann. São as mesmas penalidades previstas no projeto de lei 4.053/2008 que tramita na Câmara e pune mães, pais e demais familiares alienadores – também sujeitos a processo criminal por abuso psicológico. Alienação parental consiste em programar uma criança para que, depois da separação, odeie um dos pais. Geralmente é praticada por quem possui a guarda do filho. Para isso, a pessoa lança mão de artifícios baixos, como dificultar o contato da criança com o ex-parceiro, falar mal e contar mentiras. Em casos extremos, mas não tão raros, a criança é estimulada pelo guardião a acreditar que apanhou ou sofreu abuso sexual. “É a maneira mais rápida e eficiente de afastar a criança do ex-cônjugue”, diz a desembargadora aposentada Maria Berenice Dias, uma das maiores especialistas no assunto. “Afinal, que juiz vai correr o risco de, na dúvida, não interromper o contato da criança com o acusado?” Segundo ela, nesses casos, testes psicológicos mostram que não houve crime em 30% das vezes. A investigação é complexa e o processo lento por isso a criança permanece anos afastada do pai, tempo suficiente para que os vínculos sejam quebrados. “Quando há falsa acusação de abuso, a criança sofre tanto quanto se tivesse sofrido a violência de fato”, afirma a psicóloga Andreia Calçada, autora de livros sobre o tema.

O que motiva alguém a jogar baixo com o próprio filho? Na maioria dos casos, a pessoa não se conforma com o fim do casamento ou não aceita que o ex-cônjuge tenha outro parceiro. No Brasil, 90% dos filhos ficam com a mãe quando o casal se separa. Por isso, a prática é muito mais comum entre as mulheres. “Há diversos níveis de alienação, mas no afã de irritar o ex-marido, as mães não têm noção do mal que fazem aos filhos”, diz Andreia.

“O guardião altera a percepção da criança porque ela sente que o pai gosta dela, mas a mãe só o critica, e isso pode desencadear crises de angústia, ansiedade e depressão.” Além disso, a criança cresce em uma bolha de mentiras, o que pode provocar desvios de caráter e conduta.

Crianças de até seis anos são mais suscetíveis a uma modalidade de alienação chamada “implantação de falsas memórias”. É quando o pai ou a mãe a manipula a ponto de acreditar que vivenciou algo que nunca ocorreu de fato. Os dois filhos do consultor empresarial Nilton Lima, 45 anos, foram estimulados pela mãe e pela avó materna a acreditar que haviam apanhado do pai na infância. Nilton e a mãe dos rapazes se separaram após dez anos de casamento. “Certo dia, meu filho mais velho me disse que eu já havia batido nele”, diz Nilton, pai de Anderson, 22 anos, e Bruno, 16. “Fiquei chocado”, diz. Com o tempo, os filhos perceberam a manipulação e ficaram contra a mãe. Esse “efeito bumerangue” é comum quando as crianças crescem e começam a entender o que ocorre ao redor delas. “Nesses casos, os filhos se viram contra quem fez a cabeça de les”, diz a advogada Sandra Vilela. Há quatro anos, depois de quase uma década de briga na Justiça, Nilton conseguiu a inversão de guarda dos filhos. Para isso, foi fundamental o desejo deles de ficar com o pai.

Mas nem sempre uma decisão judicial favorável é suficiente para remendar laços partidos. Pai de uma adolescente de 15 anos e um garoto de dez, o publicitário Paulo Martins, 45, se separou há cinco anos. E, desde então, luta para ficar mais tempo com os filhos, que, sob influência da mãe, já chegaram a ignorar suas ligações, recusar seus convites e mudam de comportamento quando estão na presença dos dois. “Sempre que vou deixar o meu filho em casa, ele muda comigo, percebo que ele não quer que eu o abrace para que a mãe não veja”, conta Martins.

Em 2005, ele entrou com uma ação de regulamentação de visitas, na tentativa de ampliar o tempo de convívio com os filhos. A decisão, favorável a ele, saiu recentemente. Mas a filha mais velha de Martins ainda se recusa a vê-lo. Em julho, Martins resolveu presenteá-la com uma festa de 15 anos, o que deixou a adolescente superanimada. Tudo quase pronto, a bomba: “A mãe dela disse que só iria se a minha mulher não fosse”, conta ele. “Minha filha pediu para eu não levála, mas não quis ceder.” A adolescente preferiu abrir mão da festa e desde então não fala com o pai. Quando um casamento chega ao fim, o ex-casal precisa ter claro que a separação é entre eles. Separar a criança do pai ou da mãe é puni-la por algo que ela não tem culpa. “Não existe filho triste de pais separados, existe filho triste de pais que brigam”, diz o advogado Rodrigo da Cunha Pereira.

Fonte: Revista Isto é
Enviado por Argemiro Vieira Neto

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O caso do poema roubado


Cora Ronai

Quem poderia adivinhar o que havia dentro do pacote que apareceu no sítio?

Há coisa de dois ou três meses apareceu, no portão do sítio, um pacote grande, embrulhado num saco de lixo preto. Ninguém viu quem trouxe. Amanheceu e estava lá. Assim que foi notado, ficaram todos da casa, bípedes e quadrúpedes, muito cabreiros com a sua presença. Nos dias de hoje, ninguém vê com confiança ou simpatia pacotes grandes, embrulhados em sacos de lixo pretos.

Os cachorros cheiraram e latiram, os gatos mantiveram distância, o Dirceu olhou de longe, cutucou com uma vareta, chamou Mamãe. O conteúdo parecia ser duro, sólido, como madeira. Não era nada morto, com certeza. E não parecia ser bomba, muito embora ninguém da família tenha a mais remota idéia de como seja uma bomba, salvo pelo que se vê no cinema e nos desenhos animados.

Finalmente, depois de mais cutucadas e de muita hesitação, o pacote foi trazido para dentro, e aberto com o cuidado que a desconfiança recomendava. Quando o conteúdo se revelou, surpresa total: quem poderia imaginar que um poema roubado há 30 anos voltasse ao lar daquela maneira?!

* * *

Quando o sítio ficou pronto, em princípios dos anos 60, uma das primeiras providências dos meus pais foi espalhar pelo jardim e pela floresta uma dúzia de poemas. Papai os selecionava, Mamãe os pintava em tabuletas e ambos escolhiam juntos, com capricho, as árvores e os cantinhos onde seriam expostos. Passear pelo sítio era como entrar numa pequena antologia sentimental.

Com o tempo, as tabuletas foram sumindo. Algumas queimaram junto com as suas árvores nos incêndios que, há alguns anos, eram comuns na região e que, apesar dos esforços do pessoal lá de casa, eventualmente atingiam partes do terreno. Outras foram vítimas do tempo. A maioria, porém, desapareceu sem deixar vestígios.

* * *

O poema devolvido chama-se "Casa antiga", foi escrito em 1964 por minha madrinha Cecília Meireles e dedicado a Nora e Paulo Ronai:

Forrarei tua casa já tão antiga
Com um papel que imita as paredes de tijolo.
Ficará tão lindo como se estivéssemos na Holanda.

Forrarei tua casa assim, mas por dentro,
De modo que, longe de todas as vistas,
Será como se estivéssemos ao ar livre, no jardim.

E deixarei uma parede quebrada ? não uma porta, não uma janela:
Uma parede quebrada por onde passe um ramo de goiabeira
Carregado de flores e vespas.

Parecerá que estamos sonhando,
E estamos sonhando mesmo,
E parecerá que estamos vivendo,
E a vida não é mesmo um sonho impossível?

* * *

Dentro do pacote, junto com a tabuleta, veio um bilhete escrito em letra pouco cultivada, na folha arrancada de um caderno. Dizia o seguinte: "Quando era menino achei este quadro lindo, pelo poema. Peço perdão por ter roubado este quadro. Hoje sinto necessidade de devolvê-lo. Sinto-me envergonhado pela minha atitude. Mais era só um menino. Peço perdão a Deus e a vocês. E que vocês também consigam perdoar."

Não havia nome, assinatura, nada. Ficamos com muita pena, pois teríamos gostado de conhecer e abraçar o menino antigo que roubou o poema e o homem correto que o devolveu, passados tantos anos. Mal sabe ele que nos deu um presente muito maior do que o que levou: um mundo onde crianças roubam poemas e adultos os devolvem é um mundo de beleza e de esperança.

Crônica Do Amor Que Amadurece


(Urariano Mota)

Pois assim como a noite vinda depois do dia, que não mais pode ser da natureza do dia, mas no seu escuro, nas suas estrelas, tem um encanto, que por ser diverso daquele do dia não deixa de ser um encanto. Assim como nas sucessões físicas, temporais, de toda a natureza, da flor que fenece e cai e se ergue em outra a partir dos grãos derramados até a onda do mar que se espraia e se desfaz e se refaz dos seus restos em nova onda, assim o amor dos primeiros anos, que resistiu à inconstância da paixão, também se faz um sentimento curtido, de marcas e rugas que entranham à vista o sol que se foi, organizando-se em nova pele. Que não tem a elasticidade e o frescor dos primeiros anos. Mas que tem um sabor íntimo do vinho de que se aprendeu a gostar, uma cumplicidade de lições apreendidas ao toque sem palavras, que o rebento dos primeiros verdes fogos não poderiam dar.

Pois não é próprio do fogo o consumo e o autoconsumo, voraz no incêndio e lento depois até as brasas que por fim esfriam? Pois sendo próprio do fogo a destruição inexorável, linear e de sentido único, do começo para o fim, do começo para o fim, e sempre, é no entanto mais próprio da coisa humana o guardar semelhança com os fenômenos naturais, mas sem se deixar reduzir ao que não tem o salto e a qualidade da natureza da gente. Se os primeiros anos de amor são um fogo sem medida, e ao dizer isto guardamos apenas uma cômoda aproximação, pois não são exatamente um fogo a loucura e a impulsividade e o não ter limites os atos e ações daqueles anos, menos própria será a comparação do amor que amadurece ao fogo que lentamente se apaga. Pois se esse amor guarda correspondência com o próprio amadurecimento da gente, e portanto faz sua casa nas rugas do nosso rosto, e por rugas lembrarmos sempre os efeitos do sol ao longo do tempo na matéria couro de nosso semblante, isto não quer dizer, a continuar nesse processo, que o amor que amadurece, por lembrar sol e destruição do frescor, venha a ser um inventário de perdas.

Pois ainda que assim fosse, a esta altura já aprendemos que as perdas na vida não são um número frio, acabado e fechado, afetado de um sinal negativo. Diríamos, num primeiro impulso, que elas se reservam em experiência. Dizendo menos mal, diríamos que as perdas na vida organizam um novo ser, aquele ser que sabe porque aprendeu que a vitória não é bem um metódico e unidirecional fazer a coisa certa. Que a vitória é um fazer inúmeras coisas erradas, que ao receberem uma reflexão e um julgamento iluminam o fazer a coisa menos errada. Que a vitória sobre as trevas é como um labirinto que ocultasse um caminho secreto e inteligível até a maravilhosa saída. Mas ainda aí, nessa tradução de perdas, o amor amadurecido ainda não é alcançado. Pois para ele, para esse amor que sofreu mudanças ao longo dos anos, o que há e o que houve não são nem foram exatamente perdas. Por exemplo, é exatamente uma perda o não levar a amada para a cama com a mesma freqüência dos primeiros tempos? Um cínico, míope, como todos os cínicos, diria que sim. Que uma coisa é fazer sexo, e aqui mais se mostra a miopia ao fazer equivalentes o amor e o sexo, pois uma coisa seria fazer sexo três vezes por dia nos 25 dias de um mês, todos os meses, e outra bem diferente é fazer sexo quando Deus, a conveniência, a oportunidade e as forças forem servidas. Já nessa resposta o cínico não vê a etapa superior que é o prazer que conhece sobre a fome onívora. Enquanto o primeiro evita caminhos precários, já trilhados, a segunda vai às cegas até atingir uma provisória satisfação sempre insatisfeita.

É claro que o amor que amadurece não nos deixa menos carnais, mais virtuosos ou santos. Ele, de um ponto de vista mais pragmático, nos deixa mais perceptivos da bagagem que ao longo da jornada acumulamos. De um ponto de vista menos prático, menos visivelmente prático, queremos dizer, ele é a transformação daquele sentimento juvenil que só desejava a própria satisfação. Que em vez de abrigar buscava urgente abrigo. Em lugar da busca de formas perfeitas, e sabe-se lá o que a carência idealizava como perfeitas, coxas, busto, ventre, rosto, perfume e fetiches ativos e exuberantes, esse amor maduro põe a compreensão de que a estação das formas fôrmas não se guarda nua em mármore. Que aquela pedra é forma oca de experiência. Mas que nem por isso esse amor transformado é um sentimento outonal, do ocaso. Ele não é como o sentimento de alguém que vê a chuva batendo na janela, e aconchegado no calor da sala se diz, “para a rua não poderei mais sair”. Ele é apenas, talvez, uma doce intimidade conquistada. Sujeito a trovoadas, tempestades, pois a vida não é de paz, dentro e fora do sentimento. Mas sem aquelas soluções terminativas, definitivas, dos arroubos sectários dos primeiros anos, “ou isto ou aquilo”.

Esse amor maduro diz melhor, fala melhor às sístoles e diástoles do coração amadurecido. Dele fala melhor o que não é conceito, ao que é essencial encarnado no destino mesmo da gente. E o essencial é que as rugas, as gorduras, os ossos frágeis do objeto que se ama se revelam uma fortaleza. O amor que amadurece ama a pessoa exatamente nesse tempo de aparente decadência física, e por essas, e por causa mesmo dessas formas. As fragilidades físicas se tornam uma qualidade, pois remetem a uma história comum. Esse amor apenas deseja dizer, “saiba que aprendi muito a amar as suas rugas”. O que quer dizer, ele, esse novo amor, não quer vê-la sozinha, ele a quer a seu lado nos próximos, nos poucos e infelizmente poucos anos que lhes restam.

Como flores na praia açoitadas pelo vento. Até que venham as ondas e tudo cubram.

Fonte: http://blogln.ning.com/profiles/blogs/cronica-do-amor-que-amadurece

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Matemática feminina


(por Jô Hallack)

Bem, vocês sabem: mulheres adoram gastar dinheiro. Fazemos isso com um talento impressionante. Mas o mundo é caro, a vida é dura e sempre precisamos de alguma desculpinha básica para deixarmos nosso instinto se manifestar. E gastarmos, gastarmos, gastarmos. Daí que entra a matemática feminina.

No que consiste? Bem, fazemos uma série de contas complexas que transformam qualquer compra numa pechincha. E tudo isso, sem calculadora!

Lição 1:
Soma:
Nem sempre 1 + 1 é igual a 2. Por exemplo: uma blusa de R$ 40 e outra blusa de R$ 40, não dá R$ 80. Isso porque há cinco dias atrás você ia sair com os amigos e em cima da hora desistiu. Então, economizou R$ 40. Então, duas blusas custam R$ 40!

Lição 2:
Divisão:
Consiste em dividir os custos das suas compras por tudo que for possível. Através desta conta incrível, o mundo fica bem mais barato. Por exemplo: um táxi de Botafogo para a Barra da Tijuca custa R$ 20, o que é caro para ser gasto assim à toa. Mas se você voltar de ônibus, que é R$ 1.... a sua ida à Barra cai para R$ 10,50. E você ainda tem que descontar o R$ 1 do ônibus que gastaria se não fosse de tßxi. Então, custa só R$ 9,50 a mais! Bem mais acessível.

Lição 3:
Equações complexas
Essa semana uma amiga minha fez uma conta incrível. Tudo começou quando ela leu que passar o carnaval num spa incrível com banhos terapêuticos custava R$ 1200, o casal. O que absolutamente é caro, muito caro. Acompanhem o raciocínio. Todas as refeições, dos cinco dias, já estão incluídas. Como é Carnaval, se você não viajar, vai acabar querendo ir em restaurantes bacanas, brunches, etc. Tipo um prêmio por ter ficado no Rio para economizar. Se você gastar R$ 30 por almoço e R$ 20 no lanche, só de rango dá R$ 250!!! Somando um brunch e alguns cafés, R$ 300!! No spa, os tratamentos estão incluídos no preço. Se você fizer uns dez tratamentos (dois por dia), cada um custa mais ou menos R$ 30 (se for barato!!): R$ 300! Ou seja, já está saindo de graça a estadia no spa, a aula de hidroginástica, etc! E sem contar que, se você ficar no Rio, vai no cinema, sair pra dançar, etc. Segundo essa minha amiga, o spa estava praticamente pagando para você ir lá no Carnaval!. É claro que ela esqueceu de lembrar que as "refeições incluídas" eram rúcula e água fresca. Mas que era barato, era!

Lição no 4:
Números negativos
São aqueles que aparecem no seu extrato bancário ao final de tanta matemática feminina. Mesmo os números negativos também estão sujeitos à divisão. Por exemplo: você está R$ 200 negativo no banco. Mas no mês passado você não ficou no negativo. Então, neste mês e no mês passado juntos, você está apenas R$ 100 negativos por mês. Parece a mesma coisa, mas não é!


DEZ FRASES DE ALENTO PARA COMPRAR

*Eu mereço, eu mereço!
* Tá super em conta!
* É pra toda uma vida!
* Mês passado eu não comprei nada!
* Se a gente trabalha como camelas, temos direito a um presentinho!
* É caro, mas é de qualidade!
* É de péssima qualidade, mas é o preço de uma coisa descartável!
* É um investimento!
* Mais barato que uma sessão de análise!
* Economizar pra quê? O bom é aproveitar a vida!


DEZ FRASES DE ALENTO PARA ECONOMIZAR

* Tá super em conta, mas datou!
* Tá super em conta, mas é cafona!
* Tá super em conta, mas eu tô quebrada!
* Se eu não comprar esta blusa de R$ 20, poderei comprar uma casa própria!
* Eu quero comprar só para preencher uma vazio interior!
* Mês passado eu já comprei pra caramba!
* É futilidade, não leva a nada!
* Aposto que eu encontro mais barato!
* Está muito barato. Deve ter algo de errado!
* Não vou morrer se não comprar. Quer dizer, espero!

(A moça e seus problemas)

Obama, o filho da mãe


(Urariano Mota)



Na vitória de Barack Obama há um aspecto original que não vem sendo notado. “Há muitos aspectos, colunista apressado”, poderia ser dito. Tentarei explicar. Além do mais claro, quero dizer, além do fato mais óbvio, de Obama ser o primeiro negro eleito para a presidência dos Estados Unidos, me chama atenção que na sua vida há uma vitória sem ruído de pessoas “derrotadas”, ou marginalizadas na cultura da sociedade norte-americana. Para ser mais preciso, na sua vitória há uma vitória muito especial da sua mãe.

A mãe de Obama, Stanley Ann Duham, foi uma pessoa rara já a partir do nome com que foi batizada. O pai queria um filho homem, e se compensou , ou se vingou, impondo-lhe um nome de homem. Para quê? O bom da vida são as limonadas que fazemos dos limões que nos atiram. Stanley Ann, para a sociedade americana em 1960, não demorou a mostrar a que veio. Aos 18 anos, conheceu o negro Barack Hussein Obama na Universidade do Havaí, em uma aula de... russo! Branca, namorou o jovem queniano, casou.... queremos dizer, juntou suas roupas e livros às dele, e teve Barack Hussein Obama Jr. Como a estabilidade não era bem o seu ideal, separou-se poucos anos depois. Em 1964, ainda irrecuperável, Stanley Ann voltou à faculdade para se formar e casar à sua maneira mais uma vez: uniu-se a um estrangeiro não-branco, o indonésio Lolo Soetoro.

Stanley Ann era não só diferente, rebelde, por intuição. Antropóloga, escreveu uma dissertação de 800 páginas sobre os trabalhos de serralheria dos camponeses de Java. Trabalhando para a Fundação Ford, defendeu o direito das mulheres trabalhadoras e ajudou a criar um sistema de microcréditos para os pobres. Maya Soetoro-Ng, a meia-irmã de Obama, afirmou recentemente sobre a mãe: "Essa era basicamente a sua filosofia de vida: não nos limitarmos por medo de definições estreitas, não erguermos muros à nossa volta e nos empenharmos ao máximo para encontrarmos a afinidade e a beleza em locais inesperados”.

Stanley Ann Duham morreu de câncer no ovário em 1995. O pai, a quem Obama dedicara um livro, ele mal viu, depois dos 2 anos de idade. Por isso afirmou, o primeiro homem negro eleito para a presidência dos Estados Unidos: “Eu creio que se eu soubesse que a minha mãe não iria sobreviver à doença, eu escreveria um livro diferente – menos meditação sobre o pai ausente, mais celebração da mãe que era a única coisa constante em minha vida”, escreveu no prefácio de suas memórias, “Sonhos De Meu Pai”. E acrescentou “Eu sei que ela era a mais gentil, o espírito mais generoso que já conheci e o que existe de melhor em mim eu devo a ela”. Para essa Ann, mulher estranha para os valores dominantes, delicada e rebelde, na campanha eleitoral Obama chamava de a sua "mãe solteira".

O presidente eleito não repete, é claro, o pensamento, os atos e as convicções da mãe. Se assim fosse, não teria chegado aonde chegou. Mas sem as idéias de Stanley Ann Duham, Barack Hussein Obama Jr. não teria tido a mais remota possibilidade de existir. Em lugar do “sonho americano”, que toda imprensa proclama, Obama é antes uma vitória do pensamento e de idéias não-conservadoras, que estavam no limite dos marginalizados hippies. E os hippies, vocês lembram, naqueles malditos tempos acabavam nas prisões, ou como em Easy Rider, sob tiros de espingarda.

Em 2008, um filho de mãe solteira, de uma irrecuperável, é eleito presidente. Para essa nova história, somente espero não ser um colunista muito apressado.

(Publicado em 5.11.2008 no Direto da Redação,