quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"Olha, eu vou ter que viajar. Meu avião está saindo" quá, quá, quá...

Blog entrevista o líder do grupo que vaiou médicos cubanos


O presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (SimeC) é o médico e ex-vereador José Maria Pontes. Ele liderou o protesto contra médicos cubanos ocorrido na terça-feira (27) em Fortaleza. Cobrado pela violência do ato, vem dizendo que “Ninguém vaiou médico cubano, mas quem estava com eles”. E que a vaia só ocorreu porque “Não dava para não misturar se estava todo mundo junto”.
O sindicalista ainda garantiu à imprensa que “A vaia, na verdade, foi para aquelas pessoas que tiveram a ideia absurda de trazer esses médicos para cá, inclusive com trabalho escravo sem nenhum compromisso a não ser com o compromisso ideológico do Partido dos Trabalhadores”.
A declaração de Pontes se deu no âmbito de críticas aos médicos, militantes políticos e sindicalistas cearenses que vaiaram os médicos cubanos, críticas que foram feitas por entidades médicas e sindicais do próprio Ceará, pela imprensa e pelas redes sociais.
Diante de fato como esse, o Blog decidiu entrevistar o presidente do SimeC. Este blogueiro encontrou Pontes em seu celular, em Brasília, preparando-se para voltar ao Ceará. Confira, abaixo, a conversa (gravada) com a pessoa que liderou a manifestação que xingou médicos cubanos negros de “escravos” e “incompetentes”.
*
Blog da Cidadania – Senhor José Maria Pontes, o senhor é presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, certo?
José Maria Pontes – É.
Blog da Cidadania – Sr. José Maria Pontes, sobre esse caso do ato do seu sindicato contra os médicos cubanos, o senhor deu uma declaração de que as vaias e tudo mais que foi feito ali não teria sido contra eles.
José Maria Pontes – Não, na realidade, pra que as pessoas entendam, nunca ninguém teve intenção de atingir os médicos, porque naquela manifestação os médicos cubanos que chegaram ao Ceará foram recepcionados pelo Ministério da Saúde. O Odorico, que é representante do Ministério, é cearense.
O ato foi feito contra essa postura [do Ministério da Saúde] de trazer os médicos cubanos sem o Revalida. A nossa manifestação tinha uns 70, 80 médicos. Inclusive barraram a nossa entrada na Escola de Saúde Pública e nós ficamos do lado de fora com carro de som, fazendo manifestação e quando eles [os médicos cubanos] saíram, realmente levaram uma bruta vaia.
Quer dizer, não os médicos, né… Foi direcionado ao Odorico, porque ele saiu cercado por médicos [cubanos], como se estivesse protegido. E tudo foi direcionado a ele. Inclusive, né, a…
Blog da Cidadania – Quando fala em Odorico, o senhor se refere a quem?
José Maria Pontes – Odorico Monteiro é o representante do Ministério da Saúde. É cearense e é uma das pessoas responsáveis por essa situação…
Blog da Cidadania – Senhor José, desculpe-me por interrompê-lo, mas há uma foto que circulou muito na internet e na imprensa em que um desses médicos cubanos está sendo vaiado por jovens médicas do seu sindicato. Elas estão gritando com as mãos na boca perto do rosto dele.
Havia, também, gritos de que os médicos seriam escravos. Foram ouvidos reiteradamente durante o protesto. Inclusive…
José Maria Pontes – Vamos, vamos, vamos…
Blog da Cidadania – Um minutinho, senhor José, deixe-me só terminar essa pergunta, porque as pessoas estão querendo entender o que de fato aconteceu.
Então veja, os manifestantes gritaram que os médicos cubanos seriam “escravos”. As vaias foram gravadas em vídeo e o que se vê nesse vídeo é que foram dirigidas diretamente aos médicos.
O que o senhor pode me dizer sobre essa contradição? O senhor afirma que as vaias não foram dirigidas aos médicos cubanos, mas o vídeo mostra outra coisa.
E ainda há um outro componente um pouco doloroso nisso tudo, senhor José Maria, porque havia muitos médicos cubanos negros, ali, e chamá-los de “escravos” é uma associação que muitas pessoas viram como racismo…
José Maria Pontes – Então deixa eu contar.
Blog da Cidadania – Pode falar, por favor.
José Maria Pontes – Quando nós estivemos lá, fazendo manifestação, eles [os médicos cubanos e o representante do Ministério da Saúde] fecharam a porta e foram fazer a manifestação deles lá dentro…
Blog da Cidadania – Perdão, mas não estavam fazendo “manifestação lá dentro”, estavam recebendo treinamento…
José Maria Pontes – Nós ficamos lá fora fazendo manifestação contra eles. Uma das coisas que foi mais debatida, lá, foi a história do trabalho escravo, né, no sentido de eles não terem direito a férias, 13º salário, a hora-extra e não ter direito a casar nem a namorar no Brasil
Blog da Cidadania – Epa! Proibição de se relacionar com brasileiros?
José Maria Pontes – É, porque…
Blog da Cidadania – Perdão de novo: de onde o senhor tirou essa informação?
José Maria Pontes – Essa informação todo mundo sabe, circula, porque é o seguinte, só pra você entender: se o médico tiver um filho com brasileiro ele adquire, naturalmente, a nacionalidade [brasileira] e o que se comenta – que parece que é verdade – é que eles querem que os cubanos voltem pra lá, porque se eles [os cubanos] pedirem asilo político no Brasil eles [o governo] não vão dar…
Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria, mas espere aí: como é que se vai impedir alguém de ter relacionamentos amorosos, por aqui? Suponhamos que um médico vê uma brasileira bonita na rua, começa a namorá-la, ela engravida… Enfim, como é que o governo brasileiro ou o cubano vão impedir que isso aconteça?
José Maria Pontes – Pois é, é isso que estou falando…
Blog da Cidadania – Então não pode existir essa proibição
José Maria Pontes – Eles não querem que o médico cubano tenha filho com a mulher brasileira porque aí adquire nacionalidade e os médicos vão acabar ficando aqui…
Blog da Cidadania – Mas, repito, de onde o senhor obteve essa informação, senhor José Maria?
José Maria Pontes – Ah, essa informação circula há muito tempo, né…
Blog da Cidadania – Mas, aí, não significa que seja verdadeira
José Maria Pontes – Eeehh… Inclusive na Venezuela, tá! Isso aí [a suposição] aconteceu [sic] porque os médicos venezuelanos, com essa história de não poder sair a partir das 18 horas – e se tiver que sair tem que prestar contas pra uma pessoa de Cuba –, faz a gente pensar assim…
Mas eu vou lhe responder a outra pergunta, né. O médico, o que ficou colocado foi essa questão do trabalho escravo. Até, ontem, a Fenam [Federação Nacional dos Médicos] entrou com uma representação, né, no Ministério Público do Trabalho sobre a questão trabalhista.
Eles [os médicos cubanos] vão ser utilizados para trabalho escravo. E o que aconteceu, então, não foi no sentido pejorativo, de chamá-los de negros. O que ficou colocado é que a gente estava dizendo para eles que eles iam exercer trabalho escravo…
Blog da Cidadania – Mas senhor José Maria… Primeiro que chamá-los de negros, tudo bem. Afinal, eles são negros mesmo e ser negro não é “pejorativo”.
José Maria Pontes – O que foi chamado [sic] é que eles querem associar a um sentido pejorativo, mas foi no sentido de ter o trabalho dele não do jeito que vem, porque do jeito que eles estão postulando… Porque, veja bem, os médicos que vêm da Argentina vão receber, diretamente, dez mil reais, que não é salário, é bolsa. Então eles [os médicos cubanos] não têm nenhum direito trabalhista.
Blog da Cidadania – Desculpe interrompê-lo, mas eu não consigo entender. Se eu chamo alguém de escravo, estou xingando. Porque se chamassem o Odorico [representante do MS] de feitor de escravos, até se poderia entender que o insulto foi para ele, mas quando chamam os médicos cubanos de escravos, isso é um insulto. Além disso, o escravo não tem culpa de ser escravo. Não pode ser vaiado por sua escravidão…
José Maria Pontes – Não, não, não foi nesse sentido. Foi no sentido de chamar a atenção…
Blog da Cidadania – Deles?!
José Maria Pontes – Não, não foi nesse sentido…
Blog da Cidadania – Vou reformular a pergunta: o senhor não se ofenderia se chegasse em um determinado local e uma pequena multidão o chamasse de escravo?
José Maria Pontes – Eu quero te garantir que o que foi colocado foi não aceitar que essas pessoas sejam usadas em trabalho escravo.
A nossa orientação, do sindicato, foi nesse sentido, que os manifestantes chamassem a atenção para a questão do trabalho escravo.
Foi, então, uma palavra de ordem, não no sentido pejorativo. Foi pra chamar a atenção deles de que iam exercer o trabalho escravo.
Blog da Cidadania – Isso o senhor já me explicou. Mas fico com uma dúvida quando o senhor fala em trabalho escravo. Pelo seguinte: o acordo feito entre o governo brasileiro e o governo cubano é semelhante aos acordos que a Organização Pan-americana de Saúde – a entidade de saúde mais antiga do mundo – fez com 58 países.
Não fica uma coisa meio estranha que 58 nações e mais o governo brasileiro estejam promovendo o trabalho escravo? Além do que, trabalho escravo, pelo que se entende, depende de condições degradantes de alojamento, alimentação, pagamento e, até agora, não existe nenhuma evidência de que isso esteja acontecendo.
Minha questão, portanto, é: 58 nações, mais o governo da República Federativa do Brasil, mais a organização de saúde internacional mais antiga do mundo (fundada em 1902) iriam promover o trabalho escravo no Brasil e no mundo, senhor José Maria?
José Maria Pontes – Estranho, né? Mas é verdade.
Blog da Cidadania – Estranho, não: fantástico.
José Maria Pontes – Quando você diz que a pessoa vai trabalhar, ela tem direito a salário. Eles [os médicos cubanos] vão receber uma bolsa. Não vão ter 13º salário, não vão ter direito trabalhista nenhum, porque é bolsa, né…
Quando você limita para que ele [o médico cubano] não possa sair de determinada área… Foi assim que aconteceu com os médicos cubanos na Bolívia e na Venezuela. Há depoimentos. E eles também não podem trazer a família deles.
Eu vi a entrevista de uma médica da Espanha, ela pode trazer a família dela. Eles [os médicos cubanos] não podem.
Quer dizer, quem está dando as ordens não é o governo brasileiro, é o governo cubano.
E essa coisa da OPAS foi só uma coisa… Uma bijuteria, foi só pra enfeitar, para dizer que foi uma coisa oficial, tal…
Blog da Cidadania – Ora, mas não é “para dizer que foi uma coisa oficial”. O acordo foi feito entre o governo brasileiro, o cubano e a OPAS. Não é uma “bijuteria”, é um acordo formal. Inclusive, o portal UOL publicou esse acordo, um tipo de acordo que é feito com a entidade por dezenas e dezenas de nações do mundo inteiro e o regime legal pelo qual esses médicos trabalharão no Brasil, até o momento, recebeu todo o aval da Justiça.
Então eu lhe pergunto: se a Justiça e o Ministério Público não encontrarem qualquer irregularidade nesse acordo, como é que fica uma manifestação e um discurso que GARANTEM a todos que está sendo implantando o trabalho escravo na medicina brasileira?
Ficaríamos assim: o governo brasileiro, a Justiça brasileira, o Ministério Público brasileiro, a OPAS e mais 58 nações estariam envolvidos com exploração de trabalho escravo, senhor José Maria? Isso não lhe parece uma sandice?
José Maria Pontes – É porque, até agora, ninguém teve acesso ao acordo do Brasil com a OPAS e o governo cubano. E estamos pedindo ao Ministério Público do Trabalho para que analise esse contrato, né, para ver se não existe trabalho escravo…
Blog da Cidadania – Sim, mas querer saber...
José Maria Pontes – Deixa eu falar, senão você fala, fala e não vai entender…
Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria. Pode falar, então.
José Maria Pontes – O que estou querendo dizer é que nós não temos nada contra os médicos. Foi uma manifestação contrária ao representante do ministério da Saúde. Eles [o governo Dilma] utilizou aquilo ali politicamente, para tirar proveito porque eles são poderosos, eles têm dinheiro, eles têm o poder da máquina estatal, mas não somos contra a vinda de médicos cubanos.
Não saiu em imprensa nenhuma, mas nós colocamos, várias vezes, que os médicos cubanos são bem vindos ao Brasil, mas queremos que eles tenham todas os direitos trabalhistas e tenham liberdade de ir vir. Mas ao governo não interessa, né, divulgar essas coisas.
Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria, mas a forma dessa manifestação não me parece correta. Eu lhe pergunto uma coisa: se o senhor fosse um daqueles estrangeiros e, chegando ao Brasil, encontrasse uma turba gritando, chamando-o de escravo, o senhor se sentiria bem vindo?
José Maria Pontes – Veja bem, quando se colocou essa questão não foi com a conotação que querem dar. Dissemos escravos foi no sentido inclusive de defender os interesses deles…
Blog da Cidadania – Espere aí: então a manifestação que foi feita com vaias e chamando-os de escravos foi para defendê-los?! De quem, deles mesmos? Porque, até onde se sabe, eles estão de acordo com tudo.
José Maria Pontes – Não, não foi a questão de defendê-los, foi para defender as condições de trabalho deles…
Blog da Cidadania – Mas o senhor não acha que a opinião deles também conta? Essas pessoas estão fora do país delas e, se estivessem sendo submetidas a trabalho escravo, poderiam muito bem, estando em território estrangeiro, denunciar e pedir asilo político dizendo ao governo brasileiro “Olha, estou sendo escravizado, me dê asilo”…
Eu digo isso, senhor José Maria, porque nunca vi um escravo que gostasse de ser escravo.
Aliás, muito pelo contrário, os médicos cubanos têm dado declarações no sentido de que estão muito satisfeitos por estarem aqui, de que não visam somente dinheiro porque o Estado cubano lhes deu a formação que têm, deu assistência médica, educação, moradia, alimentação a eles e às suas famílias. Então, trata-se de uma realidade diferente da nossa.
A questão que surge, portanto, é sobre como pode o sindicato do senhor querer defender os médicos contra a própria vontade deles.
José Maria Pontes – É, mas, veja bem, não é defender os médicos, é a questão do trabalho escravo independentemente da vontade de quem está sendo submetido a trabalho escravo.
Cuba é um país extremamente pobre. Ora, pra você formar um médico é difícil e Cuba exporta milhares de médicos para Venezuela, para a Bolívia… No Brasil, no segundo país que mais forma médicos, você não tem condição de formar tantos médicos para exportar.
Blog da Cidadania – Mas acontece, senhor José Maria, que, em Cuba, o ensino é gratuito. É difícil formar médicos no Brasil porque as faculdades privadas custam uma fortuna e para entrar nas públicas tem que estudar em escolas caras, cursinhos caros e poucos têm condições.
José Maria Pontes – É que precisa uma escola equipada, com bons profissionais…
Blog da Cidadania – E o senhor acha que não tem isso em Cuba? Porque seus indicadores de saúde são muito superiores aos nossos. Expectativa de vida, mortalidade infantil… Aliás, a mortalidade infantil em Cuba é menor do que a dos Estados Unidos.
José Maria Pontes – Veja bem, eeehh… Em Cuba você não tem a violência que tem no Brasil e o trabalho que eles fazem, que todo mundo comenta, é que esses profissionais não são médicos, eles são formados num nível intermediário para trabalhar no interior…
Blog da Cidadania – Ah, o senhor me desculpe, mas os currículos desses médicos foi divulgado. A maioria é versada em mais de uma especialidade. Todos têm mais de uma década de experiência na profissão. Como não são médicos?
José Maria Pontes – Não, não, eles não são médicos de verdade, eles são formados em atenção básica…
Blog da Cidadania – Qual é a fonte da sua informação, porque diverge do que vem divulgando o Ministério da Saúde.
José Maria Pontes – Não, não, eles são só médicos de atenção básica…
Blog da Cidadania – Então agora são médicos? E apesar de seus currículos dizerem que não são formados só em atenção básica… Até porque, mesmo o maior especialista de Cuba é formado, também, em atenção básica, ou em saúde da família. É a lei de lá.
José Maria Pontes – Olha, eu vou ter que viajar. Meu avião está saindo.
Blog da Cidadania – Ok, senhor José Maria Pontes.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Nossos vizinhos: Lavras da Mangabeira



O município de Lavras da Mangabeira ganhará neste dia 30 de Agosto, sua primeira TV WEB.

A LAVRAS TV WEB, irá ao AO pela primeira vez neste dia 30 de Agosto e já estreia com transmissão AO VIVO do Jubileu de 200 anos da instalação da Paróquia de São Vicente Ferrer.

Os devotos que vivenciam momentos de missões, orações e de liturgia e que certamente estarão presentes ao evento, já levaram ao conhecimento dos seus parentes e amigos que estão distantes e que não poderão estar presentes, a boa nova.

A LAVRAS TV WEB, uma parceria dos Radialistas Valluz Nunes e Paulo Sergio de Carvalho, contará também para essa transmissão com parceiros visto que o fluxo de mídia no momento da transmissão será muito grande, dado a grande quantidade de internautas conectados.

A LAVRAS TV WEB, está fechando parceria com o Empresário Orlando Leite para que a SAT NET possa fornecer um sinal fechado de Internet com velocidade suficiente para que a transmissão ocorra dentro dos padrões.

A partir das 18 horas do dia 30, a LAVRAS TV WEB ja estará AO VIVO, transmitindo direto do patamar da Igreja Matriz de São Vicente Ferrer e a partir das 18h30min, celebração de missa solene ao Jubileu, que será presidida pelo bispo da Diocese do Crato, Dom Fernando Panico. A liturgia será concelebrada com a participação de padres e religiosos de vários municípios da região.

Nesses 200 anos de missão e evangelização da Paróquia de São Vicente Ferrer, Lavras da Mangabeira estará ganhando sua TV WEB.

"O Paulo Sérgio me convidou para que pudéssemos montar esse empreendimento na área da comunicação em Lavras, e eu topei na hora, e decidimos que inaugurarmos a nossa LAVRAS TV WEB no momento do Jubileu, seria uma forma de também estarmos engajado nesse momento. Estamos muito felizes com esse momento e esperamos fazer um bom trabalho", disse o Radialista Valluz Nunes.



Valluz falou ainda do empreendimento (LAVRAS TV WEB)..."é uma ferramenta criada que nos permite a transmissão de sinais televisivos pela internet podendo ser sob a forma de Vídeo sob demanda ou Streaming em tempo real. Mas para que possamos estar no ar, vamos necessitar de apoio, e isso ficará a cargo do Paulo Sérgio que buscará entre os empresários e comerciantes locais e até de fora, firmar essas parcerias”, finalizou Valluz.

Qualquer pessoa poderá assistir ao vivo o jubileu, para tanto terá que acessar o seguinte endereço eletrônico:
http://lavrastv.blogspot.com.br/

Até o dia 29 de Agosto, a LAVRAS TV WEB estará em fase de ajustes, entrando em funcionamento com sua inauguração no dia 30 de Agosto.

Fonte: Blog do Paulo Sérgio de Carvalho

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A inveja dos outros

(Contardo Caligaris)

Anos atrás, decidi que, salvo necessidade absoluta, em voo internacional, eu não viajaria mais de  classe econômica. Quando não posso pagar pela executiva, é simples: não viajo.
A passagem de executiva dá direito ao uso de uma sala de espera confortável, que no Brasil é chamada de sala VIP (sigla de "very important person", pessoa muito importante). Há um quê de idiota na ideia de que alguém se torne importante por pagar uma passagem mais cara que os outros.
Mas o que me interessa agora é o fato de que os passageiros de classe executiva, confortavelmente instalados na sala VIP, poderiam esperar até o fim do embarque da classe econômica; aí eles iriam ao portão já esvaziado e subiriam no avião.
Não é o que acontece. Convidados a embarcar antes dos outros, eles entram no avião sob o olhar dos passageiros de classe econômica e ocupam seus assentos espaçosos, situados na parte da frente da aeronave, de forma que os passageiros de econômica, a caminho de suas poltronas-suplício, são obrigados a contemplar o privilégio dos que já estão instalados na executiva.
Por que essa irracionalidade? É que o passageiro de executiva não compra apenas um tratamento mais humano e um espaço compatível com as formas médias de um corpo: ele compra também a experiência (desejável, aparentemente) de ser objeto da inveja dos outros.
Numa recente viagem à Europa, eu já estava instalado na executiva, tomando suco e lendo um livro quando uma senhora chinesa, a caminho de seu lugar na econômica, passou do meu lado e espirrou molhada e barulhentamente em cima da minha cabeça. Por sorte, não era época de gripe aviária. Mas é isto: a inveja é uma mistura de idealização, amor e ódio.
Circulando de madrugada, passo pela entrada de uma balada. Há uma longa fila de espera, há seguranças imponentes e há uma "hostess" que escolhe quem pode entrar. Em Nova York, entram até desconhecidos, se forem bizarros, interessantes e decorativos. Em São Paulo, parece que a lista de clientes VIPs é soberana. Os outros esperam noite adentro, tentando ganhar a simpatia da "hostess". Vale a pena? O que acontecerá se eles forem admitidos? Pois é, será uma noite sensacional: eles tirarão fotos que postarão no Facebook e no Instagram.
Em geral, com as fotos, eles esperam receber a mesma inveja que eles destinam aos VIPs: por isso, exibirão poses parecidas com o que eles imaginam que os VIPs (os que entraram na balada há tempos) fazem quando se divertem (loucamente).
E o que fazem os VIPs? Pois é, essa é a parte mais estranha: os VIPs imitam as poses dos que os invejam e imitam, pois, eles constatam, essas são as poses que mais suscitam inveja.
De fato, na balada, muitos, VIPs e mortais comuns, apenas esperam a ressaca de amanhã. Mas, no círculo vicioso da inveja, a experiência efetiva é irrelevante; não é com tal ou tal outra vida e história concretas que se sonha: sonha-se ser o que os outros sonham.
A inveja é, por assim dizer, uma emoção abstrata: o privilégio não precisa dar acesso a uma fruição especial da vida (sensual ou espiritual, tanto faz), ele só precisa suscitar inveja. Ou seja, privilégio não é o que faço ou o que acontece de extraordinário em minha vida, mas o olhar invejoso dos outros.
Nesse mundo, em que a inveja é um regulador social, as aparências são decisivas porque elas comandam a inveja dos outros. Por exemplo, o que conta não é "ser feliz", mas parecer invejavelmente feliz.
Nesse mundo, o ter é mais importante do que o ser apenas porque, à diferença do ser, o ter pode ser mostrado facilmente. É simples mostrar o brilho de roupas e bugiganga aos olhos dos invejosos. Complicado seria lhes mostrar vestígios de vida interior e pedir que nos invejem por isso.
O Facebook é o instrumento perfeito para um mundo em que a inveja é um regulador social. Nele, quase todos mentem, mas circula uma verdade de nossa cultura: o valor social de cada um se confunde com a inveja que ele consegue suscitar.
Comecei a escrever essa coluna depois de assistir a "Bling Ring: A Gangue de Hollywood", de Sofia Coppola (uma tradução por "Bling Ring" seria "A Turma do Deslumbre"). A não ser que outro tema se imponha com força, voltarei a falar sobre o filme. Mas digo já: saí do cinema muito feliz por não ter levado nenhum adolescente comigo (respeitando a indicação para acima de 16 anos).

A lista tocante que Fitzgerald fez para sua filha

Fitzgerald e Scottie
 Scott Fitzgerald é um dos maiores escritores americanos, inventor e cronista da chamada Geração Perdida – os jovens artistas que, nos anos 20, foram a Paris para escrever, pintar, esculpir e, sobretudo, viver intensamente. O Grande Gatsby e Suave é a Noite são os retrato acabado dessa época, a Era do Jazz, romances semiautobiográficos em que Fitzgerald contava suas aventuras com a mulher Zelda e os amigos.
Scott era também um alcoólatra e Zelda sofria de esquizofrenia. Ele morreu em 1940, aos 44, de ataque cardíaco causado pelas doses cavalares de gim, e ela num incêndio no sanatório em que estava internada, em 1948. Os dois tiveram uma única filha, Frances Scott Fitzgerald, apelidada Scottie. Quando ela nasceu, a mãe disse que esperava que fosse uma “linda pequena idiota” — frase que Daisy Buchanan, a heroína de Gatsby, diz sobre sua própria filha.
Scottie tornou-se uma jornalista bem sucedida e uma militante ativa do Partido Democrata. Tinha memórias afetuosas dos pais, apesar das festas insanas constantes. Numa carta de 1933, enviada a Scottie quando ela contava 11 anos, seu pai escreveu uma lista das coisas com as quais ela devia e não devia se preocupar. Meses antes, Zelda havia sido internada pela enésima vez.
É uma lista tocante, simples e rica, com a simplicidade do gênio — e sempre útil para nós, pais e filhos.
Coisas com as quais se preocupar:
Preocupe-se com coragem
Preocupe-se com limpeza
Preocupe-se com eficiência
Preocupe-se com equitação
Preocupe-se com …
Coisas com quais não se preocupar:
Não se preocupe com a opinião alheia
Não se preocupe com bonecas
Não se preocupe com o passado
Não se preocupe com o futuro
Não se preocupe em crescer
Não se preocupe com quem fica à sua frente
Não se preocupe com triunfo
Não se preocupe com o fracasso, a menos que ele aconteça por sua própria culpa
Não se preocupe com mosquitos
Não se preocupe com moscas
Não se preocupe com insetos em geral
Não se preocupe com os pais
Não se preocupe com os meninos
Não se preocupe com decepções
Não se preocupe com prazeres
Não se preocupe com satisfações
Coisas para pensar:
Qual é realmente o meu objetivo?
Quão boa eu sou em comparação aos meus contemporâneos com relação a:
(a) Escolaridade
(b) Eu realmente entendo as pessoas e sou capaz de me relacionar com elas?
(c) Estou tentando transformar meu corpo num instrumento útil ou estou negligenciando isso?
 
 Fonte:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/de-pai-para-filha-nao-se-preocupe-em-crescer-2/

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Controlador mas pouco



(Joana Nave)

De que adianta querer controlar o mundo se tão pouco conseguimos controlar os nossos próprios impulsos?
Controlar é uma condição inerente a qualquer ser humano. Somos, em doses variáveis, controladores, manipuladores e obsessivos, mas gostamos de tingir estas características menos positivas com uma lata cheia de obstinação, a que invariavelmente apelidamos de personalidade forte.
Desde pequeninos que nos ensinam que temos de ocupar o nosso lugar no mundo, como se este fosse demasiado pequeno para o tamanho dos nossos desejos e ambições. Os valores fundamentais como a partilha, a solidariedade e a compreensão são sinais de fraqueza que só mais tarde, em idade adulta, nos entram pela porta adentro mascarados de homens de boa-vontade que lutam pelo seu semelhante. É mais uma moda que uma crença.
O controlo é apenas uma consequência da vivência mesquinha a que somos instigados desde a infância. Controlar o que se come para ter um corpo esbelto, controlar o que se veste para ter uma aparência decente, controlar o que se diz para ser considerado uma pessoa culta, controlar o que se faz para ser tido como uma pessoa educada. Pouco se tem dito sobre controlar a desonestidade, a falta de civismo, a mesquinhez, e até a avareza, porque o que se controla está à superfície e não na profundidade dos nossos sentimentos.
Tenho pensado algumas vezes que gostava de controlar o tempo para poder assimilar com maior clareza as consequências dos meus actos, mas o impulso é incontrolável e só o trabalho diário, perseverante e consistente consegue alinhar dentro de cada um de nós o que racionalmente sabemos que nos faz bem. Controlar tudo e todos os que nos rodeiam é um trabalho inglório, que nos desgasta e deprime, porque só quando conseguimos entender o que estamos a sentir somos capazes de aceitar e libertar as amarras que nos oprimem e limitam a nossa felicidade plena.
Fonte: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/

O analfabeto midiático




Por Celso Vicenzi

“O pior analfabeto é o analfabeto midiático.” (Com a “ajuda” de Bertolt Brecht)

Ele ouve e assimila sem questionar, fala e repete o que ouviu, não participa dos acontecimentos políticos, aliás, abomina a política, mas usa as redes sociais com ganas e ânsias de quem veio para justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e discriminatórias, e interpreta os fatos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula. Nas passeatas e na internet, pede liberdade de expressão, mas censura e ataca quem defende bandeiras políticas. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

E que elas – na era da informação instantânea de massa – são muito influenciadas pela manipulação midiática dos fatos. Não vê a pressão de jornalistas e colunistas na mídia impressa, em emissoras de rádio e tevê – que também estão presentes na internet – a anunciar catástrofes diárias na contramão do que apontam as estatísticas mais confiáveis. Avanços significativos são desprezados e pequenos deslizes são tratados como se fossem enormes escândalos. O objetivo é desestabilizar e impedir que políticas públicas de sucesso possam ameaçar os lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social no país.

Questões iguais ou semelhantes são tratadas de forma distinta pela mídia. Aula prática: prestar atenção como a mídia conduz o noticiário sobre o escabroso caso que veio à tona com as informações da alemã Siemens. Não houve nenhuma indignação dos principais colunistas, nenhum editorial contundente. A principal emissora de TV do país calou-se por duas semanas após matéria de capa da revista IstoÉ denunciando o esquema de superfaturar trens e metrôs em 30%.

Corrupto e corruptor

O analfabeto midiático é tão burro que se orgulha e estufa o peito para dizer que viu/ouviu a informação no Jornal Nacional e leu na Veja, por exemplo. Ele não entende como é produzida cada notícia: como se escolhem as pautas e as fontes, sabendo antecipadamente como cada uma delas vai se pronunciar. Não desconfia que, em muitas tevês, revistas e jornais, a notícia já sai quase pronta da redação, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar o que o jornalista, o editor e, principalmente, o “dono da voz” (obrigado, Chico Buarque!) quer como a verdade dos fatos. Para isso as notícias se apoiam, às vezes, em fotos e imagens.

Dizem que “uma foto vale mais que mil palavras”. Não é tão simples (Millôr, ironicamente, contra-argumentou: “então diga isto com uma imagem”). Fotos e imagens também são construções, a partir de um determinado olhar. Também as imagens podem ser manipuladas e editadas “ao gosto do freguês”. Há uma infinidade de exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque possuía depósitos de armas químicas que nunca foram encontrados. A irresponsabilidade e a falta de independência da mídia norte-americana ajudaram a convencer a opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos foi deflagrada.

O analfabeto midiático não percebe que o enfoque pode ser uma escolha construída para chegar a conclusões que seriam diferentes se outras fontes fossem contatadas ou os jornalistas narrassem os fatos de outro ponto de vista. O analfabeto midiático imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo de esforço intelectual. Não se apoia na filosofia, na sociologia, na história, na antropologia, nas ciências política e econômica – para não estender demais os campos do conhecimento – para compreender minimamente a complexidade dos fatos.

Sua mente não absorve tanta informação e ele prefere acreditar em “especialistas” e veículos de comunicação comprometidos com interesses de poderosos grupos políticos e econômicos. Lê pouquíssimo, geralmente “best-sellers” e livros de autoajuda. Tem certeza de que o que lê, ouve e vê é o suficiente, e corresponde à realidade. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o espoliador das empresas nacionais e multinacionais.”

O analfabeto midiático gosta de criticar os políticos corruptos e não entende que eles são uma extensão do capital, tão necessários para aumentar fortunas e concentrar a renda. Por isso recebem todo o apoio financeiro para serem eleitos. E, depois, contribuem para drenar o dinheiro do Estado para uma parcela da iniciativa privada e para os bolsos de uma elite que se especializou em roubar o dinheiro público. Assim, por vias tortas, só sabe enxergar o político corrupto sem nunca identificar o empresário corruptor, o detentor do grande capital, que aprisiona os governos, com a enorme contribuição da mídia, para adotar políticas que privilegiam os mais ricos e mantenham à margem as populações mais pobres. Em resumo: destroem a democracia.

Para o analfabeto midiático, Brecht teria, ainda, uma última observação a fazer: Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed760_o_analfabeto_midiatico

sábado, 17 de agosto de 2013

Álbum da semana: IP em branco e preto

 Antonio Baraúna
Do FB de Dorinha Duarte
 
 Dona Maria Baraúna
FB de Dorinha
 
 Zezim Maciel
Do FB de Dorinha Duarte


Lúcia Dore
Do arquivo de Lúcia Dore

 Blandina, Sonia Sampaio, Geysa, Fátima Lemos, Gisele, Amazonina e Lúcia Dore
A criança é uma das filhas de Zilda e gilberto Dore. A outra não reconheci.
Do arquivo de Lúcia Dore
 
 Cândida, Zé Holanda, Lúcia Dore, Luizete Sarmento, José Henrique e Maria Souza
 Arquivo de Lúcia Dore
 
 Lúcia Dore e sobrinha (Tânia)
Arquivo de Lúcia Dore
 
 Filomena, de Ilca e Josa
Do FB de Filomena


Antigo Colégio XI de Agosto, ao lado da ponte
 
 
 Lúcia Dore, Naylê, Terezinha Nóbrega. Não reconheci as outras pessoas. As crianças acho que são Regnorberto e um dos meninos de Terezinha.
Do arquivo de Lúcia Dore


 Dona Rosário, Lúcia Dore, Neuma de Euclice (as demais não reconheci)
Do árquivo de Lúcia Dore


 Festa de São Sebastião
Vilany Nóbrega, Zé Brasil, Maria Eunice, Vicente Gomes, Alaís,
Luiz Leite,  Maria Luiza e João Jorge
 Seu Manuelzinho, esposa e Rosinha
(acho que peguei no FB de Aída)
 
 Sete de setembro em IP
 Arquivo de Lúcia Dore


Maria Luiza e Vilany Nóbrega (irmãs)

Maria Nóbrega, Rosamaria, Maria Luiza e Luiz Neto



Genilda, Giseldina, João Bosco e Toinzão Macedo

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Observação sobre o texto abaixo

Nos comentários ao texto original publicado abaixo há uma observação que merece registrada. Segundo o comentarista,  no segundo tópico há uma confusão entre PIB e orçamento.

A classe média é hipócrita, critica o bolsa família mas adora uma renúncia fiscal


O mito da classe média explorada I: Bolsa-Família Pobre, Bolsa-Família Classe-Média e Bolsa-Família Milionária


Um espectro ronda os condomínios brasileiros: o espectro dos impostos. Toda a sociedade deve ser unir a essa jornada: do papa Francisco a Edir Macedo, de Aécio Neves a Eike Batista, de José Serra a José Dirceu, da Família Marinho a Daniel Dantas.

Que partido, ao propor um imposto para financiar a saúde ou a educação, não foi acusado de antilibertário, castrador e déspota. Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a pecha infamante de explorador?

Toda a história da humanidade pode ser resumida na luta do Estado versus cidadão explorado, espalhada hoje na vadiagem dos pobres não pagadores de impostos sustentados por políticas públicas financiadas com dinheiro público oriundo de impostos e a classe média explorada pagadora religiosa de impostos. Assim foi entre os aristocratas atenienses e os escravos vagabundos, entre os patrícios e os ociosos dos plebeus que não sustentavam o senado, entre o barão e o imbecil preguiçoso do servo. Toda a história da humanidade pode ser resumida na luta entre o Estado opressor e o indivíduo oprimido, na qual a opressão se expressa pelo pagamento de impostos.

Se fosse um manifesto que procurasse sintetizar sua visão de mundo, o acima poderia, talvez, expressar o teor das reivindicações da classe média. A classe média parte do seguinte pressuposto: ela é a classe (sic!) verdadeiramente explorada, que paga seus impostos; portanto, o explorador é o Estado (sic!). As outras classes (sic!) não são exploradas, seja porque são ricas e não precisam trabalhar, seja porque são pobres e não pagam impostos, sobretudo imposto de renda. Então, como tsunami, ela se volta com ódio mortal aos impostos diretos, sobretudo o Imposto de Renda, o IPTU e o IPVA, alegando que são impostos que ela majoritariamente paga, transformando-se em pilar de sustentação do corrupto Estado brasileiro.

Com um maniqueísmo típico, ela relaciona a pujança dos congressistas com os impostos, alegando que é ela que os sustenta. Ainda por cima, volta-se para as políticas sociais, alegando também que é ela que sustenta todo esse desperdício. Mas, para chegar a essas conclusões estúpidas, ela elimina muitos e muitos conceitos e constatações que não permitiriam, com um mínimo de rigor lógico, obtê-las. Para chegar a essas conclusões, ela se faz a classe mais ignorante da composição social brasileira.

Vamos analisar alguns tópicos:

1º Classe média não sabe nada de carga tributária.

Ao contrário do que boa parte da classe média pensa, ela paga poucos impostos. E não falo comparando com a média dos países ricos, quando ela alega que lá, pelo menos, há serviços de qualidade – o que revela que, no fundo, ela só quer pagar o que “consome”, como shopping center.

Falo comparando com outros segmentos populacionais da sociedade brasileira. Grande parte da carga tributária brasileira é fruto de impostos indiretos, que são aqueles que estão na cadeia produtiva e compõem o preço da mercadoria, já que nenhum burguês que se preste fica com esta conta na medida em que pratica altivamente a política da socialização dos prejuízos. Os impostos indiretos são pagos por qualquer pessoa quando compra qualquer mercadoria ou serviço. Estima-se que 48% a 50% da arrecadação brasileira ocorram através de impostos indiretos, o que significa que todos, independente da classe ou segmento, pagam a conta, porque todos consomem. Enquanto isto, os tributos diretos representam cerca de 28% da carga tributária brasileira.

2º Classe média não sabe nada da distribuição da carga tributária brasileira.

Como o consumo consiste em 50%, em média, da composição de gasto da família brasileira, o pagamento de impostos indiretos passa a significar grande parte da receita do Estado. Entretanto, quanto menor a renda familiar, maior a incidência do consumo sobre ela, fazendo com que, proporcionalmente, essa família pague mais impostos indiretos comparados com famílias com maior renda. Ou seja, o problema não é o pobre que não paga imposto, porque ele paga, mas o rico que paga pouco, pois o comerciante, industrial ou prestador de serviços transfere os seus impostos para o preço da mercadoria.

Segundo dados da Receita Federal, uma família com renda de até R$ 400,00 destina 57,85% para habitação (aqui tem IPTU, pois o dono da imobiliária ou o cedente faz o cidadão pagar em parcela destacada no começo do ano ou embute no preço do aluguel, o que desmente a ideia segundo a qual pobre não paga imposto direto), 45,34% para alimentação (impostos indiretos), 11,81% para transporte (impostos indiretos), 8,28% para vestuário (impostos indiretos) e 6,26% da renda com despesas com saúde (impostos indiretos, já que grandeparte destina-se para medicamentos inexistentes na rede pública de saúde ou automedicação). Reparou que não há espaço orçamentário para lazer? (recomendo a leitura -
AQUI - do documento: "Carga Tributária no Brasil")

Peguemos o ICMS. Enquanto que o ICMS incide sobre a renda familiar monetária em famílias que recebem até R$ 400,00 em 11,08%, em famílias com renda acima de R$ 6.000,00 o mesmo tributo incide 6,03%. Algo parecido ocorre com o PIS e Cofins e IPI, ainda que este seja mais igualitário, o que é também um problema quando se pensa que sistema tributário justo é aquele que, à luz da equidade e igualdade, trata desiguais de forma desigual. Bem, então a classe média partiria para uma defesa ferrenha de uma reforma tributária que cobre mais dos ricos, taxando renda e fortuna desonerando produtos, sobretudo aqueles ligados ao consumo imediato, qual seja, alimentação, habitação e vestuário simples? Não, ela defende ferrenhamente a diminuição da carga tributária, em alguns casos a extinção de impostos, taxas e contribuições, como foi o caso da CPMF.****Ela confronta a sua moral e bom costume contra qualquer política de assistência a trabalhadores pobres e miseráveis, afirmando que ela, explorada, está sustentando vagabundo que não sabe votar. Bem, por que ela faz isto?

Aqui é uma mistura de ignorância, preconceito e autopreservação. Analisando sucintamente os valores despendidos dos impostos pelo Estado brasileiro, chegamos à constatação que muito do que é arrecadado é direcionado para pagamento de juros e rolagem da dívida pública.

Mas o que isso significa? Significa que metade da média dos trabalhos dos brasileiros (PIB) é direcionada para pagamento de dívida e juros para os poucos que possuem títulos da dívida pública. Mas quem são os detentores de títulos da dívida pública? Famílias milionárias. Contabiliza-se algo em torno de 20 mil clãs, segundo o IPEA, que se apropriam de 70% dos juros pagos pelo Estado, com garantia de superávit primário de 5 a 6 % do PIB subscrita em programa econômico oficial, em contraposição aos 11 milhões atendidos pelo Programa Bolsa-Família, que resume seus parcos recursos a 1% do PIB brasileiro.

Diante disto, proponho, sintetizando as indicações de Leonardo Sakamoto, que chamemos o pagamento de títulos da dívida pública de Bolsa-Família Milionária, e o pagamento do programa governamental a famílias trabalhadoras de baixa renda de Bolsa-Família Pobre.

Mas façamos um esforço maior para compreender o absurdo da coisa. Agrupemos todas as políticas públicas que, em tese, são direcionadas ao trabalhador – digo em tese porque, além da corrupção, há PPP, projetos duvidosos, como o TREM BALA, que não é para quem para em Capão Redondo e sim em Higienópolis, programas elitistas de Ciência e Tecnologia, onde hoje grande parte vai para inovação em multinacionais e suas prestadoras de serviço, isenção de impostos como programas sociais, como bolsas de estudo em entidades privadas de todas as etapas de ensino e Planos de Saúde, retirando investimento de escolas públicas e SUS e direcionando dinheiro público para escolas privadas e planos privados, etc.etc.etc..

Agrupemos as seguintes áreas: Ciência e Tecnologia Gestão Ambiental, Saneamento, Habitação, Urbanismo, Direitos da Cidadania, Cultura, Educação, Saúde, Trabalho, Assistência Social, Segurança Pública, Transporte e Desporto e Lazer. Por ora, vamos retirar a Previdência Social, que corresponde a, aproximadamente 19% do PIB. Somando todos os investimentos, chega-se a bagatela de 10,8 % do PIB. Somando com Previdência Social (lembrando que o grosso pago é de funcionários públicos federais, algo distante dos que recebem programas sociais), chega-se a 29% do PIB. Muito abaixo dos 47% de amortização (que não existe, pois a dívida só cresce, o correto seria rolagem) e pagamento de juros da dívida pública. Sim, o pagamento de juros e o tal do superávit primário superam todos os anos o investimento em saúde e educação, como pode ser visto em 2011 e 2012 e provavelmente em 2013, que possui uma previsão de 42% do PIB para pagamento de juros e amortização da dívida, algo em torno de R$ 900 bilhões.

Chega-se a conclusão de que a classe média não é contrária a políticas de distribuição de renda, mas tão somente ao programa Bolsa-Família Pobre, pois destila seu ódio tão unicamente a esse programa de distribuição de renda. O Bolsa-Família Milionária é fruto de desejo da família de classe média, quando já não participa da jogatina da bolsa de valores com seus parcos títulos do BB. Almejam entrar no clã dos herdeiros do programa Bolsa-Família Milionária, o qual “distribuiu” em 2008 R$ 162 bilhões quando o Imposto de Renda arrecadou na fonte-salário R$ 50 bilhões e um total de R$ 190 bilhões.

Segundo o IPEA, uma família que recebe menos do que dois salários mínimos, para o mesmo ano de 2008, teve que trabalhar 197 dias para pagar impostos (mais do que seis meses cara pálida), ao passo que quem recebe mais do que 30 salários mínimos teve que trabalhar 106 dias (pouco mais do que três meses). Em tese, um pobre trabalha praticamente duas vezes mais do que um playboy para pagar o fisco, mesmo não tendo que pagar, formalmente, imposto direto. Então, por que o ódio ao Bolsa-Família Pobre?

3º Classe média é hipócrita porque adora uma renúncia fiscal

Pagar imposto direto seria ótimo para uma política tributária mais justa, pois permitiria construir um sistema mais justo em que os mais ricos pagassem mais. Entretanto, no Brasil, pagar imposto direto, mesmo com todas as reclamações, é bom, mas não para o Estado Brasileiro, e sim para o contribuinte que consegue pagar imposto de renda e pagar menos impostos indiretos. Como o sujeito pode abater quase tudo na declaração e ainda consegue a restituição do Imposto de Renda, o Imposto de Renda transforma-se em uma boa política de fomento para muitos setores privados (e privatizados). Assim sendo, no Brasil o Imposto de Renda não é um dever, mas um direito obrigatório, mais ou menos como o voto.

Direito por que o sujeito vê parte de sua renda usada para fins privados voltar para o seu bolso. Quando o Estado restitui um plano de saúde ou a mensalidade de escola particular, fomenta-se o mercado privado da saúde e da educação. Veja, há pessoas que compram um plano privado de saúde ou pagam a mensalidade de escola privada porque sabem que o governo vai depositar em sua conta parte do que foi gasto. Contudo, esse dinheiro que cai na conta do consumidor vai para o bolso do plano de saúde e do dono da escola privada, como ocorre hoje com o subsidio dado às empreiteiras com o Minha Casa Minha Vida. Na prática, é subsidio.

No ano de 2011, esse subsídio a todos os setores que imaginar, segundo o IPEA, perfez R$ 137 bilhões. Em Imposto de Renda de Pessoa Jurídica foram R$ 28 bilhões, enquanto que para Pessoas Físicas foram R$ 16 bilhões. Se você colocar no bolo isenções como IPI, Igrejas etc.etc., a coisa passa dos R$ 300 bilhões. Só com plano de saúde, estima-se isenções na ordem de R$ 16 bilhões, um quarto do orçamento do Ministério da Saúde – sem contar também a dificuldade do SUS de restituição dos Planos de Saúde para tratamentos mais caros, uma vez que eles empurram sem dó para o SUS. Como isso passa pela classe média para que ela gaste em setores privados, os quais ela quer distância daqueles prestados pelo Estado (serviço público), proponho que chamemos de Bolsa-Família Classe-Média.

A restituição faz parte da política de “distribuição” de renda constituída pelo Estado brasileiro, sem a qual setores privados (e privatizados) diminuiriam sua margem de lucro e aumentariam o valor dos convênios e mensalidades. Essa política ajuda a induzir a classe média a fugir do serviço público. Ah, já sei, a classe média vai para o setor privado porque o setor público é ruim. Errado. Ela vai para o setor privado e piora o serviço público porque retira orçamento dele com indução do Estado, comprometido com a margem de lucro dos planos de saúde e escolas privadas.

Quem sabe minimamente de História da Educação sabe do comprometimento histórico do Estado brasileiro com as escolas privadas. Quem acompanha os jornais, sabe que Dilma, no começo do ano, bem antes das manifestações de junho, propôs a universalização dos planos privados a baixo custo com subsídio estatal nos moldes do Tea Party. O lobbydesses setores é fortíssimo, são grandes financiadores de campanha (Sobre o assunto, leia - AQUI  e AQUI ) .

Ah, restituição não é bolsa, é restituição, como o próprio nome diz. Mas veja, se o Bolsa-Família Pobre é fruto de impostos, taxas e contribuições, e se sabidamente grande parte da arrecadação vem dos impostos indiretos, e se sabidamente grande parte dos impostos indiretos são pagos pelos trabalhadores pobres, então é justo tratar o Bolsa-Família Pobre como restituição também, porque o mecanismo é o mesmo. Pagaram impostos e tiveram parte dos impostos restituídos. Mas como ninguém trata o Bolsa-Família Pobre como restituição, e sim como bolsa, então é razoável também que tratemos a restituição do Imposto de Renda como Bolsa-Família Classe-Média.

Recentemente, houve a notícia de que 1,6 milhões de famílias devolveram, voluntariamente, os cartões por considerarem que não necessitam mais do programa, pois ultrapassaram o valor de R$ 140,00 por indivíduo. Façamos uma média de que, por ano, uma família do Bolsa-Família Pobre receba R$ 1.000,00. Digamos que uma pessoa receba uma restituição com o mesmo valor. Será que ela devolveria? Nunca ouvi falar. Devolver restituição de imposto de renda ou desistir dela na elaboração da declaração ninguém quer... ou se existe, estou convicto que são casos não chegam a 1 milhão de pessoas. Leia - AQUI

4º Todo mundo fala do impostômetro, mas e o sonegômetro?

A sonegação de impostos, segundo o sonegômetro, pode chegar a R$ 415 bilhões em 2013. Isto equivale a - Mais que toda arrecadação de Imposto de Renda (R$ 278,3 bilhões). - Mais que toda arrecadação de tributos sobre a Folha e Salários (R$ 376,8 bilhões). - Mais da metade do que foi tributado sobre Bens e Serviços (R$ 720,1 bilhões). - 5.156.521 ambulâncias; - 1.441.319 postos de saúde equipados; - 8.647.916 postos policiais equipados; - 12.456.996 salários anuais de policiais (SP); - 30.079.710 salas de aula; - 20.377.006 salários anuais de professores do ensino fundamental (piso MEC); - 612.241.888 salários mínimos; - 1.241.699.072 cestas básicas; - 2.986.330 ônibus escolares; - 4.010.628 km de asfalto ecológico; - 18.672.964 carros populares (Fiat Mille Economy 2p); - 13.836 presídios de segurança máxima; - 143.137.931 iphone 5 (16Gb); - 11.860.000 casas populares (40m²); - 16.000.000 de bolsas família por 31 anos (básico R$70,00). Leia -
AQUI

Bem, quem sonega imposto? É aquele que paga impostos indiretos? Não, não tem jeito, está embutido no preço da mercadoria. Quem sonega é aquele que paga tributos diretos, seja Pessoa Física ou Jurídica. Então façamos o cálculo político. Pobre paga imposto indireto, que é o que compõe a maior parte da carga tributária; pobre proporcionalmente paga muito mais imposto e, portanto, trabalha mais dias, mais do que seis meses para dar conta do fisco; pobre não paga imposto direto, o qual ainda permite a restituição de parte e a sonegação para quem paga (por isso que no Brasil é um direito obrigatório, e não um dever); e o problema é o Bolsa-Família Pobre? O Bolsa-Família Classe-Média é ignorado pela classe média por questão de hipocrisia e pelos milionários por interesse de subsídio a setores privados (e privatizados), e o Bolsa-Família Milionária também o é por questão de hipocrisia pelos milionários e pela classe média explorada que sonha em pertencer ao seleto grupo.

Aqui é um ponto interessante, porque a classe média se junta com os burgueses ricaços, que, abraçados à distância, voltam a raiva e ódio aos trabalhadores pobres. A explicação é simples. É muito mais fácil e óbvio odiar o que você não quer ser do que você quer ser, almeja e sonha todos os dias fazendo gracinha para o chefinho em busca de uma progressão na carreira. Odiar o pobre, ter frêmito de prazer ou bocejo de indiferença quando um grupo de extermínio mata pobre e preferencialmente preto – “É tudo bandido!” –, é consequência lógica de quem tem horror a proletarização, como bem lembra Marilena Chauí (ver vídeo -
AQUI).

Mas não é só isso. Os direitos sociais, como saúde, educação e transporte, por exemplo, a classe média os obteve nos últimos 20 anos de forma privada, ainda que com qualidade para lá de duvidosa. Ela compra esses direitos sociais. Quem é da década de 1990 vai se lembrar. Quando da onda das privatizações, era comum ouvir, além da ineficiência inerente do setor público, que o mesmo deveria existir somente para quem não conseguisse ter renda suficiente para ter acesso ao mesmo serviço oferecido pelo setor privado. O que está implícito? O setor público é apenas um ente subsidiário do setor privado mais eficiente. Assim, serviço público é coisa pobre para pobre, porque ele deveria estar na rebarba das políticas estatais, dimensionadas prioritariamente pelas agências reguladoras.

Como a classe média conseguiu alçar vôo no Plano Real para ter acesso aos direitos sociais de forma privada, o setor público transformou-se em algo a ser evitado, inclusive na sociabilidade mais rasa que se possa imaginar – entre uma praça e um shopping para um passeio familiar, advinha qual é a escolha? A praça de alimentação –. Qual foi a consequência? Além de transformar o privado em espaço precípuo de sociabilidade, recrudescendo o individualismo, retirou pessoas das fileiras de luta por melhoria do setor público. Então, a questão na década de 1990 não era melhorar a educação pública, a saúde pública e o transporte público, porque foram substituídos pela saúde privada, a escola privada e o carro individual moderno privado em oposição às carroças de Collor. A questão era ter acesso individual a esses direitos.

Nesse sentido, qualquer imposto é visto como uma barreira para a consecução individual dos direitos mercantis. A CPMF foi um grande exemplo. Para quem tem saúde privada, o imposto é uma excrecência. Daí o entendimento de que estaria financiando algo para os outros, pecado mortal da contemporaneidade. Juntou-se a esse sentimento a necessidade de a burguesia eliminar um instrumento razoavelmente eficaz de rastreamento de movimentações financeiras “atípicas”, e o trabalho foi feito.

De forma mais abrangente, qualquer medida que modifique as regras desse jogo é vista como um ataque do Estado à individualidade, metamorfoseada em individualismo. Observe o caso da regulamentação das empregadas domésticas, cuidadoras e babás. Esse caso mostra algo latente na sociedade brasileira, que é a anulação de qualquer medida que modifique as regras do jogo, mesmo que sejam regras do continente que todos têm por estima como exemplo de civilidade e até de Civilização e que as práticas a serem eliminadas remontem práticas escravagistas. Logicamente que essa característica da sociedade brasileira é intensificada pelo fosso da desigualdade social.

A Professora Fúlvia Rosemberg possui uma argumentação da qual gosto muito. Em sociedades mais igualitárias, onde a diferença entre os mais ricos e os mais pobres é pequena, pagar uma empregada, com salário mínimo, consiste em pobreza imediata. Se um alemão recebe 5.000 euros, mas o salário mínimo, digamos, é de 3000 euros, sobram para ele 2.000 euros, menos do que o empregado e o salário mínimo. Como a diferença entre os mais ricos e os mais pobres no Brasil é imensa, isso faz com que se constituía um mercado de prestação de serviços inúteis de trabalhadores sub-remunerados para quem possui renda, parecido com o Brasil-Colônia, pautado na ojeriza ao trabalho manual. Como a classe média pode pagar por uma babá, por exemplo, para cuidar de seus filhos, ela não coloca na ordem do dia o atendimento público de escolas públicas de educação infantil, porque a mãe trabalha normalmente e esse serviço está a contento, ainda que não seja profissional com um professor. Isso explicaria por que as creches somente agora estão sendo expandidas, por que não foram colocadas ontologicamente na ordem do dia do movimento feminista brasileiro, mais direcionado historicamente a questões sobre o corpo.
Estúpida que acha que pedir um chá à empregada às 10h00m da noite é “direito”. Peguei a foto menos chocante, porque a cara dela está desfigurada por botox. Leia - AQUI.

Faz sentido. Se você oferece uma educação privada ao seu filho, por que lutar por uma escola pública de qualidade (mesmo sendo um professor de escola pública)? Se você possui um plano de saúde privado, por que lutar por uma saúde pública de qualidade (mesmo sendo um médico ou enfermeiro de posto público)? Pode até lutar, mas sempre será no nível da solidariedade e do voluntarismo, o que é relevantíssimo, mas não é ontológico. Sob uma visão mais solipsista, pagar imposto transforma-se em um entrave para o “crescimento pessoal”, mensurado pelo aumento da capacidade de consumo, o que inclui aquilo que seriam direitos sociais e constitucionais.

A única coisa que a classe média não conseguiu obter de forma privada foi segurança, muito em função dos custos e do monopólio flexibilizado do Estado, sobretudo para os milionários nos condomínios de alto padrão, o que explica as visões mais fascistas sentidas atualmente, como o apoio velado e explícito a grupos de extermínio e redução da maioridade penal. Quando se analisa o caso do governo estadual paulista, isso é mais grave, pois, além da xenofobia bandeirante já naturalizada, como o governo estadual privatizou quase tudo (estradas e rodovias), municipalizou a educação e entregou a saúde para Organizações Sociais (OS), não sobrou quase nada para o governador governar de forma direta, a não ser as polícias, especialmente a militar, o que resultou na militarização das questões sociais. Na prática, os governadores paulistas transformaram-se em comandantes das polícias, explicando as suas aparições quase que diárias em programas policiais.
Ação na Cracolândia. 

A questão da distribuição tributária no Brasil deve ser compreendida para além dos números. Ela deve ser entendida como a síntese das mazelas sociais, políticas e culturais, expressão moderna de um estado perpétuo de injustiça mesmo para uma visão estritamente republicana. Oxalá às manifestações tenham trazido um ar diferente para todo esse jogo. Agora, é preciso fazer com que esse ar rume para uma política tributária que promova justiça aos injustiçados, porque são eles que sustentam o Bolsa-Família Classe-Média e o Bolsa-Família Milionária.
 
Fonte:http://oobservatoriodascoisassemsentido.blogspot.com.br/2013/08/o-mito-da-classe-media-explorada-i.html