(Joana Nave)
De que adianta querer controlar o mundo se tão pouco conseguimos controlar os nossos próprios impulsos?
Controlar é uma condição inerente a qualquer ser humano. Somos, em doses variáveis, controladores, manipuladores e obsessivos, mas gostamos de tingir estas características menos positivas com uma lata cheia de obstinação, a que invariavelmente apelidamos de personalidade forte.
Desde pequeninos que nos ensinam que temos de ocupar o nosso lugar no mundo, como se este fosse demasiado pequeno para o tamanho dos nossos desejos e ambições. Os valores fundamentais como a partilha, a solidariedade e a compreensão são sinais de fraqueza que só mais tarde, em idade adulta, nos entram pela porta adentro mascarados de homens de boa-vontade que lutam pelo seu semelhante. É mais uma moda que uma crença.
O controlo é apenas uma consequência da vivência mesquinha a que somos instigados desde a infância. Controlar o que se come para ter um corpo esbelto, controlar o que se veste para ter uma aparência decente, controlar o que se diz para ser considerado uma pessoa culta, controlar o que se faz para ser tido como uma pessoa educada. Pouco se tem dito sobre controlar a desonestidade, a falta de civismo, a mesquinhez, e até a avareza, porque o que se controla está à superfície e não na profundidade dos nossos sentimentos.
Tenho pensado algumas vezes que gostava de controlar o tempo para poder assimilar com maior clareza as consequências dos meus actos, mas o impulso é incontrolável e só o trabalho diário, perseverante e consistente consegue alinhar dentro de cada um de nós o que racionalmente sabemos que nos faz bem. Controlar tudo e todos os que nos rodeiam é um trabalho inglório, que nos desgasta e deprime, porque só quando conseguimos entender o que estamos a sentir somos capazes de aceitar e libertar as amarras que nos oprimem e limitam a nossa felicidade plena.
Fonte: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/
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