sábado, 29 de setembro de 2012

IP para que te quero


 
Fiquei aqui matutando e me perguntando se existe alguma possibilidade de inovar num contexto de não renovação. Vamos combinar que o caso de IP desafia até a célebre lei da Conservação das Massas, de Lavoisier, que diz quena natureza, nada se cria nada se perde, tudo se transforma”.

Além da química, essa regra tem sido interpretada em outras dimensões inclusive da nossa vivência. Aproveito esta relativa liberdade de interpretação para fazer um paralelo com o cotidiano político em IP que insiste em contrariar Lavoisier. Ou seja, na política de IP nada se cria, nada se perde e nada se transforma.

Por que?

Porque criar implica em inovar, trazer algo novo, uma nova mentalidade, novos métodos, abrir-se ao futuro, compreender que o destino não é uma fatalidade, encarar um futuro desafiador, incorporar os novos tempos, trabalhar as contradições, renovar os discursos, perceber, pensar, questionar e agir como um indivíduo que vive no século XXI. Reconhecer que a vida caminha para frente e que as pautas do passado já não se colocam da mesma maneira para os povos, para os tempos, para o universo. Para criar é preciso renovar as estruturas, separar o joio do trigo, descartar hábitos arraigados e avançar no tempo presente tendo como horizonte um futuro possível. E nada se cria porque não se quer perder a pior parte, ou seja, a pretensa segurança dos velhos métodos, do clientelismo, da liderança pautada no universo tosco de um mundinho pequeno, pessoal e de limites instransponíveis.  Não há espaço para transformação, não há espaço para novas ideias, não há espaço para o surgimento de novas lideranças.

E porque nada se quer perder, estamos sempre no ponto de partida. Somos como um carro com luzes dianteiras apagadas e luzes trazeiras acesas. Distanciando-se ao longo de uma estrada mas olhando para trás, iluminados pelo que ficou atrás, guiados pelo passado no que o passado tem de mais desabonador. Estamos perdendo o presente e sacrificando o futuro em nome de uma herança política tacanha, estreita e de vistas curtas. O mais temeroso de tudo é querer doutrinar os jovens pelos mesmos preceitos. Só entra no gueto quem rezar no mesmo catecismo. E muitos deles entram achando que lá dentro podem mudar alguma coisa. Ledo engano, é pouco provável que alguém entre numa mesquita para adorar Jesus Cristo. As amarras, as sutilezas, os acenos e, a pior de todas, as lições da esperteza são sedutoras. É preciso que o novo traga conhecimento, segurança, lucidez e coragem para enfrentar desafios. Mas quem quer - nesta política miúda - abrigar alguém com tamanha determinação para se libertar?

E porque nada se cria e nada se perde é que nada se transforma. Nada se renova.

Acho que muita gente se sentiria feliz, eu inclusive, se o futuro nos surpreendesse positivamente. Se a devoção ao passado não permanecesse no futuro próximo.

Na minha modesta maneira de ver, ainda há um espaço para arejar o futuro próximo em IP. É tentar uma renovação na Câmara dos Vereadores. Por que não? Renovar o discurso e a ação da casa legislativa. Abandonar as práticas político-partidárias que permeiam as ações e as questiúnculas que ocupam o plenário. Descartar a banda podre que alimenta o clientelismo, as picuinhas e os pequenos interesses.

Para isso não é preciso apenas saber votar mas sobretudo acompanhar, cobrar, exigir dos nossos representantes. E isso só quem pode fazer bem é uma sociedade livre e organizada. Para estes, a luta precisa ser contínua, incessante e corajosa.
ML 

ET Brasil

                                        Fonte:http://wwwterrordonordeste.blogspot.com.br/

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Diga não à violência contra a mulher





Uma em cada três mulheres no planeta vai ser estuprada ou espancada em sua vida.
Um bilhão de mulheres violadas é uma atrocidade.
Um Bilhão de Mulheres dançando é uma revolução.

Convidamos UM BILHÃO de mulheres e todAs aquelAs que as amam para sair, dançar, levantar-se e EXIGIR o fim dessa violência. 

Assistam ao curta Um Bilhão Que Se Ergue, compartilhem com xs amigxs e vamos planejar onde e com quem estaremos dançando no dia 14 de Fevereiro de 2013.

Por favor, sintam-se à vontade para dar sugestões de local/horário e dar depoimentos do por que vocês se erguem.

http://www.onebillionrising.org/

Entre neste perfil do face para maiores detalhes: "Um bilhão que se ergue". Participe deste evento.

Telecatch em tempo de UFC

Da inutilidade

 
(Carla Hilário Quevedo)
 
Numa entrevista recente a Judite de Sousa, o ministro da Educação, Nuno Crato, afirmou que uma pessoa que se esforçasse e estudasse os assuntos que mais lhe interessam poderia ser bem sucedida na vida. O exemplo que escolheu foi o estudo do latim, para horror da entrevistadora. Nuno Crato defendeu que, quem queira ensinar latim, tem a possibilidade de viver daquilo a que se dedicou desde que estude para ser o melhor na sua área. Penso que, de uma forma geral, tem razão, mas a vida tem o problema e a graça de não ser o resultado de uma fórmula. O esforço e a dedicação são fundamentais, mas não são garantias, sobretudo num país de poucas oportunidades como o nosso.
Estudar latim, além do mais, não leva necessariamente à nobre profissão de professor de latim. Pode não parecer, mas esta é uma boa notícia. E não parece porque há a ideia, que me parece limitada, de que é preciso haver uma correspondência exacta entre o que se estuda e o que se faz na vida. Até podia acontecer, há uns anos, e daí as certezas sobre empregos para a vida. Um médico acabava o curso, estudava mais uns dez anos depois disso, mas sabia que o esforço e o tempo compensariam no final. Hoje em dia, mesmo em medicina, não há certezas. O desafio difícil das novas gerações em Portugal é o de ainda serem confrontadas com a ideia de que é preciso ter estudado x para ser x. Não tem de ser assim, mas a responsabilidade de mudar a mentalidade no que diz respeito aos perfis das pessoas a contratar não tem de ser das universidades, mas das empresas.
Penso que ninguém defende a manutenção de escolas e cursos sem qualidade e, infelizmente, não nos podemos dar ao luxo de sustentar aulas com dois alunos inscritos. Mas daí a exigir às universidades que provem a empregabilidade dos seus cursos vai uma distância enorme. O problema é abordado sempre que se fala das humanidades, encaradas como uma perda de tempo num mundo cada vez mais embrutecido. O que vai fazer quem decida estudar filosofia? Ou história? Ou literatura grega? Num mercado de trabalho reduzido e a funcionar mal, as perspectivas de futuro são pouco animadoras.
Mas a solução não é transformar as universidades em escolas de formação profissional, libertando as empresas da responsabilidade de formar os seus quadros. Não é para isso que serve a universidade, que, nas palavras do filósofo Michael Oakeshott, no ensaio "The Idea of a University", "não é uma máquina para atingir um objectivo particular nem produzir um resultado particular: é uma forma de actividade humana". A actividade consiste na "busca da aprendizagem", constitutiva de uma sociedade civilizada. Justificar a necessidade da universidade levou a uma resposta perversa que se adequa a uma sociedade fragilizada pela pobreza: a empregabilidade dos cursos.
As respostas são, no entanto, bastantes antigas. Não se trata de "aprender literatura", um exemplo, porque "dá para" o desempenho de uma função específica. Estamos a falar de aprender a distinguir o bom do mau, o que é verdadeiro do que não é. Aprender sobre os outros, sobre nós. Como preparação para o mercado de trabalho, não está nada mal.
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cabra marcado para morrer


Julian Assange

(Paulo Nogueira)

Um jornal australiano obteve um documento do governo americano em que Julian Assange e o Wikileaks são classificados como “inimigos do Estado”.
A notícia está repercutindo em todo o mundo, e com razão.
“Inimigos do Estado” é a mesma categoria em que estão catalogados o Talibã e a Al-Qaeda, por exemplo. Na prática, pela legislação de segurança americana, significa que eles podem ser presos sem processo formal por tempo indeterminado.
Podem também ser executados. Mortos. Eliminados. Como se estivéssemos vivendo o seriado 24 horas.
Onde, no Brasil, o repúdio à perseguição movida pelo governo americano a Assange? Ninguém se importa com ele? Algum colunista brasileiro o defendeu? Assange foi alvo de um único editorial? Ou, por criticar os Estados Unidos, ele não pode ser defendido?
Não só a perseguição americana já passou dos limites. Também a intransigência inglesa em não dar a ele salvo conduto para que pegue um avião rumo ao Equador vai passar para a história como um dos maus momentos da história recente do Reino Unido, em seu alinhamento com a política externa americana.
Assange está confinado na modesta embaixada equatoriana em Londres. Ontem, numa fala na ONU, o ministro das relações exteriores do Equador, Ricardo Patiño, alertou para os riscos físicos que Assange enfrenta em sua presente situação. Lembremos que o pretexto para isso é o sexo que duas suecas fizeram consensualmente com ele.
Por teleconferência, Assange também falou ontem num fórum da ONU. Como sempre, num gesto de elegância, falou menos de si mesmo e mais do soldado Bradley Manning. (Também numa atitude admirável, Assange recusou um prêmio de “liberdade de expressão” concedido pela editora argentina Perfil — que no Brasil é sócia da Abril na Caras — quando soube que também estava sendo homenageado um jornalista do Equador que recebe subvenções americanas e trata a patadas o governo constitucional de Rafael Correa.)
Manning é acusado de ter passado ao Wikileaks os documentos americanos que, entre outras coisas, mostravam a Guerra do Iraque como ela era e é, não como os Estados Unidos fingiam que era.
Manning está preso à espera de julgamento, e pode ser condenado à morte por traição. Até que ativistas fizessem pressão, ele foi submetido a condições degradantes numa cadeia militar americana. Estava privado de qualquer contato com outros presos, e durante boa parte do tempo era impedido de vestir qualquer roupa. Tecnicamente, como lembraram os ativistas, estava sob tortura contínua.
E agora: o mundo vai esperar o quê para gritar pela libertação de Assange? Que ele morra?
Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=12044

'Normose' (a doença de ser normal)



Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.

A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses
ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas? Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.

A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Então, como aliviar os sintomas desta doença? Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover
obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada. A normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.


Michel Schimidt
(Psicoterapeuta)

Haikai



Haja hoje
 
para tanto
 
ontem.


(Paulo Leminski)

Para quem foi criança nos anos 60


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Surge o Movimento dos Sem Jeito


Os miseráveis, deserdados dos bens, que não dispõem de dinheiro em banco, teimosos como mulas, insistentes em não entregar os pontos da vida, renitentes e perseverantes na arte de viver, são os grandes sujeitos da história humana. Eles são os Sem Jeito, mesmo não sendo assim reconhecidos, assim continuam tratados.

Washington Araújo
 
E, então, eis que a chuva voltou a São Paulo depois de quase 70 dias da segunda maior estiagem da história, quando uma desconcertante regularidade de incêndios pipocou em suas 1.650 favelas, habitadas por quase 1,5 milhão de pessoas.

E mais de 40 arderam desde janeiro; 70, incluídos os focos menores.

O descaso das "autoridades" com os "sem jeito", que são aqueles que teimam em sobreviver, morando em condições precárias, distantes dos benefícios urbanos, de sistemas de água e esgoto, de segurança para suas moradias, de acesso a alimentos para suas famílias, migra da crônica urbana para se transmutar em impressionante evidência de descaso governamental, criminoso e francamente delinquente.

E enquanto não ganha as ruas o Movimento dos Sem Jeito, ou simplesmente MSJ, começo a pensar seriamente sobre o porquê de a corda continuar arrebentando sempre do lado mais fraco.

Os miseráveis, deserdados dos bens, que não dispõem de dinheiro em banco, teimosos como mulas, insistentes em não entregar os pontos da vida, renitentes e perseverantes na arte de viver, são os grandes sujeitos da história humana.

Sujeitos de deveres e privados de direitos. Eles são os Sem Jeito, mesmo não sendo assim reconhecidos, assim continuam tratados. São Sem Jeito porque não se conformam em ter a miséria como sua riqueza, nem a pobreza como seu estigma, a doença como sua marca, a fome como punição diária, exterminando geração a geração.

Sujeitos sem predicados. Geralmente entram na história oficial pela porta dos fundos. Não são de ostentação: nem diplomas, nem feitos, nem terras, nem sobrenomes bimestrais quanto mais quatrocentões. São anônimos em um sociedade que preza o reino dos nomes, das alcunhas valiosas, dos pomposos pronomes de tratamento.

Sujeitos ocultos. Normalmente engrossam estatísticas nada lisonjeiras: freqüentam listas de desempregados, alimentam filas intermináveis de postos de saúde periféricos, são assíduos do velho hábito de caminhar e, muitas vezes, passageiros habituais de transportes públicos superlotados.

Sujeitos invisíveis. São encontrados em shows ao ar livre, “de grátis”, associados a alguma data comemorativa da nacionalidade ou apenas da cidade ou rincão onde vivem. A invisibilidade lhes cai bem como roupa feita sob medida. Não são encontrados em mesas onde se discutem o futuro do município, o desenvolvimento da cidade, o progresso do Estado, e muito menos onde se lança o olhar em direção ao futuro do país. É uma invisibilidade social, porque só se verifica em uma sociedade em que o valor está intimamente associado à propriedade de bens móveis e imóveis, à conquista de bens culturais, à sorte de ostentar algum sobrenome luminoso. Na estrada da vida, há muito lhe subtraíram a condição humana, deixando-lhes ostentar apenas a condição de sinal de trânsito, árvore plantada à margem da estrada, imenso outdoor anunciando a nova promoção da semana. Estão ali, e também por toda a parte. Mas, no fundo, se confundem facilmente com a paisagem: são placas, são postes, são semáforos, são árvores. Menos gente, seres humanos.

Sujeitos teimosos. Têm tudo para não existir e nem mesmo deixar rastros de suas existências. Mantém aquela fé inabalável digna de um Moisés retirante abrindo mares e caminhando avante por toda a trajetória da vida rumo à terra prometida. Renitentes, são alvos prediletos das forças de segurança. Praticam tudo o que estiver à margem da lei para conseguir se evadir da realidade insuportável e sufocante.

É quando começa a tomar forma o Movimento dos Sem Jeito, o movimento que abarcará essa massa desfocada para os velhos cabeças-de-planilha, todos herdeiros do pensamento expresso em tabelas Excel. Os velhos antagonistas de sempre, estes mesmos que disfarçados de protagonistas enfermaram a maioria da população, perdem seu chão, se confundem na noção do tempo em que vivem.

Os que chegam ao MSJ sabem que chegou a sua vez. A vez de freqüentar escolas, a vez de ter alimento sobre a mesa, a vez de se alvo de cuidados médicos. A vez de conduzir consigo uma sempre adiada carteira profissional, a vez de planejar seu futuro e o futuro dos seus descendentes.

O MSJ começa a anunciar aos quatro ventos que os muros seculares separando as casas grandes das grandes senzalas começaram a ser derrubados. O cimento da hipocrisia social já não mais mantém os tijolos da discriminação e do preconceito ordenados em forma de muros, fronteiras imaginárias que resistem a desaparecer nos horizontes da cidadania plena, total e abarcadora.

O MSJ entende que o que não tem jeito ajeitado está - assim como o que não tem remédio, remediado está. E percebe que os tempos mudaram de direção – as pressões que vinham de cima para baixo agora se levantam com força e rara intensidade no sentido baixo para cima.

O MSJ não se informa pelos meios de comunicação tradicionais, monopólios midiáticos que se mantém às custas da desinformação e da informação intencionalmente truncada, notícias plantadas e fatos divulgados pela metade. Agindo assim, o MSJ lhes subtrai legitimidade para falar em nome deles, cassando seu autoconferido direito de usar a surrada expressão “opinião pública”.

O MSJ declara em alto e bom som que chegou a hora da abolição da escravatura mental, a libertação das amarras do pensamento único, exclusivo e excludente. E sua palavra de ordem é um libelo contra toda forma de colonização de um pensamento sobre os demais pensamentos.

O MSJ surge no horizonte auriverde não como miragem, nem utopia, sem sonho de velhas noites de verão, encharcados de perdidas esperanças. Surge sim como os primeiros raios de sol emitidos após tenebrosa noite de privações e suplícios. Noite que ultrapassando contadas horas se espraiam por anos, décadas e séculos, interrompendo vidas aos milhões, encerrando na degradação inteiras gerações de seres humanos.

É porque ‘o jeito’ que o mundo precisa somente poderá partir daqueles que nasceram com tudo para serem na vida... sem jeito.
 

Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5782

Bruxas e mais bruxas


Todos sabem da minha paixão pelas nossas bruxas de pano.
Federalina Quaresma me mandou essa dupla.
Adorei, obrigada.

É o mundo todo!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Do baú

Mulheres hoje


(FABRÍCIO CARPINEJAR)


As mulheres não telefonam no dia seguinte.
As mulheres somente querem sexo.
As mulheres pedem para pular a preliminar.
As mulheres dormem logo depois da transa.
As mulheres só almejam a ascensão profissional.
As mulheres preferem loiros burros.
As mulheres abandonam seus parceiros de repente.
As mulheres não desejam ter filhos, nada que atrapalhe sua carreira.
As mulheres acreditam que suas mães e suas avós eram umas coitadas.
As mulheres não permitem que ninguém dirija seu carro.
As mulheres confiam que felicidade é se manter ocupada: sair do trabalho para a festa, da festa para o trabalho.
As mulheres recusam homens românticos, carentes e dedicados.
As mulheres se enxergam envergonhadas diante de demonstrações exageradas de amor, como flores e chocolate.
As mulheres amam mentir e narrar indiscrições sexuais às amigas.
As mulheres gostam de filmes de ação para não pensar muito.
As mulheres largaram aulas de dança para lutar boxe tailandês e Krav Magá.
As mulheres consideram o ciúme um sentimento inferior.
As mulheres abominam a ideia de partilhar a mesma residência. Cada um precisa ter seu endereço, para facilitar separações.
As mulheres odeiam cozinhar, passar roupa ou arrumar a casa, qualquer serviço menor, que não traga rendimentos. E, de modo nenhum, descem com o lixo.
As mulheres já estão enfrentando ratos e matando baratas.
As mulheres apenas aceitam discutir o relacionamento com o terapeuta.
As mulheres fazem escândalo quando o homem se oferece para pagar a conta, é sinal de submissão.
As mulheres não se importam com a vida afetiva dos outros por absoluta falta de tempo, entretidas demais em resolver seus problemas.
As mulheres não estão dispostas a negociar, é tudo ou nada.
As mulheres não prestam mais atenção em detalhes, como gola desajeitada da camisa ou fio estourado da roupa, dedicam-se aos grandes assuntos emergentes.
As mulheres não se arrependem, não voltam atrás, não sofrem com dúvidas – o ideal é olhar sempre para a frente. A incerteza é para os fracos.
As mulheres não escutam o que a sua companhia fala e repetem as últimas palavras para fingir que ouviram.
As mulheres sentem repulsa de conversar sobre gêneros.
Não é evolução imitar o pior do homem.
Nós é que deveríamos nos igualar a vocês. Nós é que estávamos atrasados em sensibilidade.
Esta igualdade é decadência.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cine Ipaumirim:Mundo Estranho, Leonardo da Vinci - O Homem que Queria Entender de Tudo




Informações
Sinopse: O documentário conta a vida do italiano Leonardo da Vinci, desde o seu nascimento no pequeno vilarejo de Vinci até sua morte. Por meio de reconstituições de época (com atores etc) e entrevistas com alguns dos maiores especialistas na obra, os filmes retratam cada episódio marcante na trajetória daquele que é considerado uma das mentes mais brilhantes da historia. E tocam em todos os pontos mais curiosos de Da Vinci.
Duração: 50 minutos
Gênero: Documentário
Idioma: Inglês legendado
Tamanho: 1,1 GB (Alta definição)
Fonte: http://www.sat4fun.co.uk/showthread.php?128651-Mundo-Estranho-Leonardo-da-Vinci-O-Homem-que-Queria-Entender-de-Tudo

Sambe na segunda


domingo, 23 de setembro de 2012

Nota de falecimento


Faleceu, hoje, em Ipaumirim, Dona Maria Ribeiro, mãe de Zefinha. O sepultamento já ocorreu durante a tarde. Dona Maria era uma mulher trabalhadora e corajosa. Quando jovem tinha um café no mercado, ali do lado da antiga Rua do Sol, onde fica atualmente o Forripá. Ao longo da vida, perdeu o marido e muitos filhos mas nunca perdeu a coragem de viver. O velho Ip segue cumprindo sua trajetória de despedidas.

Som do domingo

Nota de falecimento


Faleceu em 21/09. em João Pessoa, aos 87 anos, a sra. Ritinha Rolim D. Cardoso, mãe de José Harley, esposa de Jocely Cardoso (falecido) irmã de Diógenes Rolim.
 
Dona Ritinha morou muitos anos numa casa entre a farmácia de Seu Ernani e a padaria de Doca Moreira. Atualmente o prédio da farmácia abriga a agência dos Correios e Telegráfos e a casa juntamente com a padaria foram reformadas num só prédio onde funciona a loja de eletrodomésticos "Casas Alves". Uma pessoa boa, discreta, muito católica e sempre andava bem arrumadinha. Deixa boas lembranças entre os que conviveram com ela nos seus tempos de IP. Nossos sentimentos aos familiares.

CESARIA EVORA: INCOMPARÁVEL




Música pra quem é de música


sábado, 22 de setembro de 2012

Eleições 2008


Organizando o arquivo do blog  encontrei em  05.10.2008 a seguinte publicação:



Além da vice prefeita - Joelma Rolim - as mulheres são a maioria na Câmara Municipal de Ipaumirim. Vamos ver o que isto pode influenciar na gestão do município.
Pressupõe-se, no mínimo, que as políticas públicas voltadas para as mulheres serão prioritárias na próxima gestão.

Uma outra leitura que se pode fazer é que, quem sabe, na próxima eleição, o município já está preparado para eleger uma mulher para o seu mais importante cargo."
Hoje, 22 de setembro de 2012,   constatamos que as mulheres ainda não conseguiram avançar. É uma pena. Mais pela  competência que propriamente por uma questão de gênero.  Eu, particularmente, acho que a estas alturas do campeonato colocar mulheres na vice é mais um oportunismo que um reconhecimento da competência feminina. A  Câmara de Vereadores é bem melhor que uma vice prefeitura. Historicamente, os nossos prefeitos, após as eleições,  não dão a mínima para os seus vices deixando-os à deriva  entre o rompimento magoado ou a mudez consentida.  Lamento o desperdício de talento no papel coadjuvante e pouco reconhecido. Mas, política é isso aí. Manda quem pode. Obedece quem não tem juízo.
ML  

Nossos vizinhos:

Feira livre de Cajazeiras existente há mais de 150 anos


 
 

Uma das maiores atrações que Cajazeiras tinha, sempre foi a realização das feiras livres aos sábados. Sabemos que o centro delas era na Praça dos Carros, porque a praça é paralela a várias ruas que fazem extensão da feira. Ruas: Juvêncio Carneiro, Padre Manoel Mariano, Padre José Tomaz, Epifânio Sobreira e saída para a Presidente João Pessoa, entre outras.
A primeira feira livre realizada em Cajazeiras foi no dia 7 de agosto de 1848. A feira oferecia uma infinidade de produtos artesanais oriundos dos municípios e região do Alto Piranhas. Como Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cantou em versos a Feira de Caruaru, na feira de Cajazeiras também tinha massa de mandioca, batata assada, ovo cru, banana, laranja e manga, batata doce, queijo e caju, cenoura, jabuticaba, guiné, galinha, pato e peru, bode, carneiro e porco, se duvidar disso até cururu.
Tinha cesto, balaio, corda, tamanco, gréia, boi tatu, fumo, tabaqueiro. Tinha tudo e chifre de boi zebu, caneco, arcoviteiro, peneira, boi, mel de uruçu, carça de arvorada, qué pra matuto não andar nu. Tinha rede, baleeira, móde menino caçar nhandu, maxixe, cebola verde, tomate, coentro, coco e chuchu, armoço feito na hora, pirão mexido que nem angu, mobília de tamborete, feita de tronco de mulungu. Tinha louça, ferro véio, sorvete de raspa que faz jaú, garapa gelada, caldo de cana, pão doce, rapadura...
Enfim, tinha violeiros falando sobre a vida sofrida do sertanejo na linguagem de cordel, emboladores de côco num ritmo de desafios para o parceiro com temas diversos. No vai e vem das pessoas fazendo compras, olhando os produtos, outras passeando, tudo isso era um momento de felicidade para os feirantes, para os compradores e para todos que se dirigiam à feira.
Quando eu morava em Cajazeiras, eu gostava de assistir as mirabolantes enganações de Bigodim, que ficava na Rua da Tamarina, em frente a Casa Norte (José Adelgides), onde ele colocava dinheiro, isso mesmo, dinheiro, enrolado em balinhas de chupar, passando papel de embrulho em cima da balinha e colava no meio de centenas de balinhas com notas de pequeno valor, dentro de um tablado quadrado tamanho de uma mesa. Ele colocava uma ou duas notas de alto valor e mostrava para os espectadores as notas sendo enroladas e jogava no meio das demais. Conclusão: o espectador pagava, digamos em valor de hoje, um real para ver se pegava cem reais e se pegasse, podia levar pra casa. Nunca ví ninguém pegar a balinha onde tava as notas de alto valor. Percebia-se que a maioria dos espectadores eram pessoas simples (pobres), que ficavam na certeza que sairia dalí com uma boa grana. Ô bigodim sabido!
Uma outra atração, era seu Antônio (um velhinho de seus 90 anos de idade aproximadamente), com um microfone sendo apoiado no mini pedestal em volta do pescoço, onde ele lia folhetos de Cordel. Era parecido com o microfone que Silvio Santos usou por muito tempo nos seus shows de calouros do SBT. Ele, como era banguelo, muitas vezes nem sabia o que estava lendo, porque cortava as palavras.
Na Praça do Espinho, os sitiantes (matutos) iam para a feira à cavalo e amarravam os animais embaixo dos pés de castanholas em frente ao Grupo Dom Moisés Coelho. As ruas onde se realizavam as feiras da cidade tinham as budegas, os armazéns, mercadinhos e cerealistas, que depois se transformaram em supermercados.
Me lembro das cerealistas de seu João Moreira, de Luiz Gonzaga, de João Batista, de Edilson Figueiredo, entre outros. O Armazém Rio Piranhas de seu Arcanjo era o local preferido de compras da minha mãe (dona BIA). Minha mãe me chamava e dizia: “vai lá no seu Arcanjo e compra isso, compra aquilo e fala pra ele anotar no caderno, que no final do mês eu vou pagar”.
As budegas eram as de seu Antônio Mãozinha, de Zecão, de seu Juvenal, de Jaime, de Quinco na Rua Dr. Coelho, de seu Mané na esquina da Rua Pedro Américo em frente ao Círculo Operário, de seu Vicente em frente ao Cine Pax, onde em todas elas os matutos iam tomar suas cachaças (pitú e caragueijo), rabo de galo, conhaque... E daí, depois das talagadas, davam as cusparadas no pé do balcão com o boró (cigarro de palha) no canto da boca. Todo pé de balcão de budega tinha um cheiro forte de cachaça, cuspe e cigarro. Écaaa!!!
Eu gostava mesmo era de tomar caldo-de-cana com pão doce na garapeira de Zé Alves, no Mercado. Um detalhe: as abelhas ficavam voando por cima dos pães doce e eu ficava só olhando, e, quando uma pousava no pão, eu falava pra Zé Alves: “eu quero esse pão com abelha”. Hum!!!! era gostoso!
Lá em casa eu era a pessoa incumbida de ir ao açougue e comprar carne. Eu chegava na tarimba de seu Zé Palmeira, no Açougue Municipal, e pedia pra pesar 800 gramas de carne, 800 gramas de toicim, 800 gramas de carne de porco, 800 gramas de banha de porco. Chegando em casa, minha mãe me perguntava: “tudo isso aqui tem um quilo, cada?”, e eu respondia, que sim! Como não tinha balança em casa, ela não me perguntava mais nada. O troco das 800 gramas, que sobrava de cada produto solicitado, eu escondia para assistir cinema e chupar picolé da Sorveteria de seu Walmor. Depois que falei tudo isso pra ela quando chegamos em Brasília, ela me disse: “tu me deve muito dinheiro, seu cabra safado!”
A vida é assim mesmo, cada qual com seu cada qual.
Blog AC2B
Per
Fonte:http://noticiasdecajazeiras-claudiomar.blogspot.com.br/2010/10/feira-livre-de-cajazeiras-existente-ha.html
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Onde foi parar o brasileiro cordial?

Paulo Nogueira
21 de setembro de 2012
A voz rouca das ruas
 
Leio no Jazeera – um excelente site e canal de notícias baseado no Catar – um texto sobre o Brasil. O título indaga: onde foi parar a famosa cordialidade brasileira?
O autor recolhe, no caso do Mensalão, coisas – insultos, maledicências, calúnias — que mostrariam que já não somos tão cordiais assim.
Primeiro, um depoimento. Quase quatro anos depois de vir para Londres, o brasileiro é, sim, reconhecido e admirado pela cordialidade. As pessoas costumam abrir um sorriso quando você diz que é brasileiro. Não à toa. O Brasil, imenso como é, jamais foi um país bélico, militarista, arrogante. Todas as religiões sempre conviveram no Brasil sem dramas.
Volto ao artigo do Jazeera. Onde foi parar o brasileiro cordial, então?
Minha suspeita é que está onde sempre esteve: nas ruas. Aqui, ali, em todos os lugares. O articulista se deixou enganar pelo tom belicoso do universo da política brasileira.
Aí, sim, e não é de hoje, vigora o ódio. Carlos Lacerda é o maior símbolo disso. Tanto quando militou na esquerda como quando passou para a direita, Carlos Lacerda combateu com uma agressividade extrema, cínica e, não raro, desonesta.
O “mar de lama” que ele infamemente atribuiu ao presidente Getúlio Vargas, que só se livrou de Lacerda dando um tiro na própria boca em 1954, é o retrato do homem que institucionalizou o ódio na política brasileira.
Lacerda conseguiu tudo com isso – exceto o que mais desejou: a presidência da república. Como Serra, ele se julgava um predestinado a ser presidente. Com o golpe de 1964, os militares suprimiram o debate político — e o ódio na política ficou como que em suspenso. Até pelas circunstâncias, os grandes políticos da oposição aos militares, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, manobraram com cuidado suas críticas. Eram radicais da moderação.
A redemocratização foi gradativamente devolvendo o ódio à política brasileira. A ausência de um novo Lacerda impediu que as agressões retornassem logo aos níveis tonitruantes que marcaram primeiro o suicídio de Getúlio e depois a queda do presidente João Goulart, em 1964.
Foi nos últimos doze anos, com a chegada do PT ao poder, que o ódio voltou a dominar a política brasileira. Ela se manifestou primeiro como medo: o Brasil viraria uma União Soviética? (Também eu estava sobressaltado, e não me acalmei quando vi que o dólar passara de três reais com a iminência da vitória de Lula. Acabei votando em Serra, pela última vez.) Depois, quando ficou claro que não, que o Brasil continuaria ser um país capitalista no qual os ricos poderiam ganhar ainda mais dinheiro que antes, o medo foi cedendo à raiva que chamou a atenção do articulista que li no Jazeera.
A mídia vem desempenhando um papel extraordinário nisso. Pequenos Lacerdas – Jabor, Merval, Kamel, Reinaldo Azevedo, Mainardi, para ficar num quinteto que é o avesso do time dos sonhos, em cuja suplência talvez possamos incluir Noblat — como que se uniram e formaram um Lacerda inteiro com a soma de suas vociferações incessantes e de suas catilinárias estridentes em defesa dos interesses daquilo que o movimento Ocupe Wall Street definiu tão bem como o “1%”.
Como o Lacerda original, os pequenos Lacerdas estão longe de representar o povo brasileiro – tolerante, afetuoso, gentil. O autor do artigo do Jazeera tomou, felizmente, a parte que berra pelo todo. O brasileiro continua a ser o que é – cordialíssimo, como diria o agregado José Dias, o superlativo personagem de Dom Casmurro, de Machado de Assis. Por isso ri, ainda que na pobreza miserável, enquanto os pequenos Lacerdas parecem carregar o mundo nas costas, torturados e infelizes.
 
Fonte:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=11698

Deu no Icó é notícia

no curso de Eletricista Predial


Aconteceu, no Centro Vocacional Tecnológico [CVT] de Ipaumirim, durante o mês de agosto e início de setembro, dois cursos de Eletricista Predial: um na sede do município e outro na comunidade de Felizardo, totalizando 35 concludentes.
 
As capacitações foram ministradas pelo técnico em Eletromecânica, Regivan Sales e, segundo ele, os treinandos encontram-se completamente aptos a atuar no mercado de trabalho.
 
A formação, que abrangeu 30h de aulas teóricas e 30h práticas, esteve de acordo com as normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas [ABNT]. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais da comunidade de Felizardo foi um parceiro essencial para a realização desta ação, pois cedeu o espaço para realização do curso naquela comunidade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Eu não nasci de óculos

 


 
Queria uma armação que não dissesse nada sobre mim; mas, por outro, queria colocar gelo e limão no visual
ESTILO NÃO é um troço que você escolha da noite pro dia. Não há um momento X no despertar da mocidade em que seus pais lhe convoquem, acompanhados pelo rabino, o padre ou o pastor, mais um colegiado de anciãos, e perguntem: "Então, cria minha, chegou a hora: serás punk? Yuppie? Almofadinha? Pit boy? Mano? Intelectual com a barba por fazer? Ou crente de terninho bege?"
Estilo é o resultado de milhares de microdecisões tomadas (ou não tomadas) ao longo de muitos anos, escolhas que vão aos poucos definindo desde a postura dos nossos ombros até a cor das nossas meias. Por isso, como descobri na semana passada, após duas horas penando numa ótica, é tão difícil comprar uma armação de óculos: pois ali você tem que decidir, no ato -ou ao menos, vá lá, revelar a si mesmo-, quem você é.
Comecei pelos mais discretos. Armações finas, prateadas ou pretas, com fio de nylon na parte de baixo das lentes. Pareciam ok. Afinal, eu não queria uns óculos com proposta, queria? Não. Não queria óculos que fizessem com que, digamos, um frentista perguntasse pro outro "de quem é o troco, Lima?", e ouvisse como resposta, "do artista, ali", ou "do John Lennon, ali", ou "do cara que pegou os óculos do avô, ali". Realmente, os mais discretos me caíam bem. No entanto, pareciam tão sem graça...
Por curiosidade, experimentei um daqueles oclões de acetato preto. Gostei do que vi, mas, ao mesmo tempo, me senti uma fraude. Aquelas armações vendiam um homem mais moderno do que eu. Mais antenado. Imaginei-me indo à padaria, uma equipe de TV me aborda: "O que você achou do último filme do Sokurov?". Sokurov? Não, amigo, eu só tava indo comprar pão.
Do acetato preto, migrei para a armação de tartaruga: uma proposta vistosa, também, embora um tantinho mais conservadora. Novamente, me senti em dívida. Óculos de tartaruga são para quem já leu pelo menos metade da obra de Proust, para quem tem a Cultura na memória 1 do rádio do carro. Se estivesse com uns óculos daqueles e tocasse Red Hot Chilli Peppers, eu teria que fechar os vidros. Não, não.
O problema, descobri então, perdido entre plásticos vermelhos e arames beges, é que duas forças lutavam por minha hegemonia: de um lado, queria óculos que não dissessem nada sobre mim, que fossem simples como um copo-d'água. De outro, queria, sim, colocar um gelo e limão em meu aspecto. Por que não?
Eu venho de um nicho, de um grupo, como qualquer pessoa. Qual o problema de afirmar, nas curvas, na espessura, na cor e no material dos meus óculos, a visão de mundo que eu, consciente ou inconscientemente, endosso? Sei lá, mas depois de duas horas olhando-me no espelho, acabei ficando com uma das primeiras armações, finas e discretas.
O que não deixa de ser, também, uma declaração de princípios. "De quem é o troco?", pergunta o frentista. "Daquele cara ali que, por covardia, por timidez, por orgulho, até, quem sabe, não quer dizer nada com seus óculos." "Boa observação, Lima. Cê devia largar o posto e fazer uma pós em semiótica, sabia?" "Tô ligado. Aqui o troco, chefia. Quer que dê uma olhada no óleo?"

Fonte:http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/eu-nao-nasci-de-oculos

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Nós

 (MARTHA MEDEIROS)

 
Poucas pessoas gostam de viajar sozinhas. O que é compreensível: a melhor modalidade é a dois, também acho. Mas, na ausência momentânea de parceria, por que desconsiderar uma lua de mel consigo mesmo?

Uma amiga psicanalista me disse que não é por medo que as pessoas não viajam sozinhas, e sim por vergonha. Faz sentido: numa sociedade que condena a solidão como se fosse uma doença, é natural que as pessoas se sintam desconfortáveis ao circularem desacompanhadas, dando a impressão de serem portadoras de algum vírus contagioso. Pena. Tão preocupadas com sua autoimagem, perdem de se conhecer mais profundamente e de se divertir com elas próprias.

Vivi recentemente essa experiência. Tirei 10 dias de férias, e não diga que não reparou, ou morrerei de desgosto. Estive em lugares que já conhecia para não me sentir obrigada a conferir as atrações turísticas _ o “aproveitar” não precisa necessariamente ser dinâmico, podemos aproveitar o sossego também.

Minha intenção era apenas flanar, ler, rever amigos que moram longe e observar a vida acontecendo ao redor, sem pressa, sem mapas, sem guias. Dormir até mais tarde e almoçar na hora em que batesse a fome, se batesse. Estar disponível para conversar com estranhos, perceber o entorno de forma mais aguçada, circular de bicicleta por cidades estrangeiras. Ave, bicicleta! Diante do incremento de turistas no mundo, não raro impossibilitando a contemplação de certos pontos, alugar uma bike às 7h30min foi a solução para curtir ruas vazias e silenciosas.

Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido?

Numa praça em Roma, um casal de brasileiros se aproximou. Começamos a conversar. Lá pelas tantas, perguntei de onde eles eram. “De São Paulo, e você?” Respondi: “Nós, de Porto Alegre”. Nós!!! Quanta risada rendeu esse ato falho. Eu e eu. Dupla imbatível, amor eterno, afinidade total.

Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia. Mas se está tudo bem entre “vocês”, saiam por aí e descubram como é bom sentar num café num dia de sol, pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora pra voltar, pedalar ao longo de um rio ouvindo suas músicas preferidas no iPod, em conexão com seus pensamentos e sentimentos, nada mais.

Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só.

Fonte: http://entrelacos.blogger.com.br/

João Gilberto para quem gosta

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um julgamento de exceção

Wanderley Guilherme dos Santos
 
 Wanderley Guilherme dos Santos analisa o julgamento do mensalão no STF. O Cafezinho teve acesso à íntegra do depoimento de Wanderley Guilherme dos Santos a Carta Capital, onde foram publicados algumas partes.
Destaco os seguintes trechos:
Imagine o que não diriam os editorialistas diante da seguinte proposição: Fernando Henrique Cardoso locupletou-se durante a presidência precisamente porque não existem provas de que o fez. É o que se pretende fazer em relação a Dirceu: uma interpretação ad hominem, isto é, só vale para casos singulares. Fazer da ausência de provas uma “prova” de que houve crime é a evidência de que se trata de julgamento de exceção, vingativo.
(…) o objetivo partidário de permanecer no poder foi satanizado pelo procurador, pelo relator, pelo preconceito que sai pelos poros de vários dos juízes e pelo prefácio de oratória proferido por Celso de Mello antes de votar o primeiro pacote de julgamentos. Em discurso abstrato, sem nomes, mas cheio de adjetivos degradantes sobre autoridades públicas que cometem ilícitos – o que, de fato, me lembrou o IPM a que respondi, e era o clima da época, em que coronéis e tenentes, impunes, esbravejavam contra várias coisas das quais eu não podia ser acusado, pois não havia provas, chegando ao cômico (mas não ri na hora) de me acusarem, além de subersivo, de ser suspeito; acredite, fui acusado de ser suspeito e isso era crime! – o ministro decano estava na verdade manifestando desprezo a priori pela atividade política e pelo PT como partido político. (…)

O Tribunal não é de exceção, mas o julgamento sim

Por Wanderley Guilherme dos Santos
Íntegra exclusiva publicada no Cafezinho
Não sei se José Dirceu é inocente ou se, como outros, cometeu algum crime à sombra do ilícito caixa 2. Os autos devem esclarecer isso. Há algo que não depende dos autos, todavia: será um julgamento de exceção se condenado por não haver provas contra ele.
Alguns magistrados do Supremo estão prontos a contorcionismos chineses para escapar à evidência de que a legislação eleitoral é causa eficiente do caixa 2 e que este proporciona a oportunidade para diversos crimes que nada têm a ver com tal ilícito.
Comentários antecipando votos condenatórios com base em provas nos autos preparam o caminho para condenações sem provas. A premissa de que chefes de quadrilha não deixam rastros – interpretação peculiar da tese do domínio do fato – pode ser defensável, mas requer comprovação sem sombra de dúvida e, até, agora, nenhuma condenação se apoiou em tal tese ou na versão mais amena de que quanto mais elevado nas hierarquias de poder, maior a possibilidade de que criminosos eliminem os indícios. As condenações por corrupção passiva de João Paulo Cunha e de Henrique Pizzolato são exemplos de que os discursos são para outros.
João Paulo Cunha foi condenado com fundamento na prova de que os recibos que explicariam os 50 mil recebidos por sua mulher foram forjados. Enquanto as falas do procurador e do ministro revisor só apontavam indícios a que atribuíam hiperbólica significação, a ministra Rosa Weber revelou que os recibos possuíam numeração seriada, embora supostamente preenchidos em datas afastadas no tempo. Com isso, a ida da mulher de João Paulo Cunha ao banco para retirar o dinheiro em espécie deixou de ser um comportamento esdrúxulo, sem dúvida, mas não criminoso, e muito menos da conta de ministros do Supremo, para se tornar um indício poderoso da ilegalidade do recebimento. Até porque os comentários dos juízes eram contraditórios: para Carmem Lucia fazendo sua mulher descontar o cheque à luz do dia era manifestação solar de arrogância de poder de João Paulo, indicativo seguro de que se sentia impune; para Rosa Weber, disfarce, dissimulação, sombra; para César Peluso, garantia de que chegaria em casa e não seria apropriado por outrem (esse comentário é interessante em outro contexto). Comentários diversos e contraditórios, mas o fundamento do voto foi o mesmo: a seriação dos recibos falsos. Ora, o presidente da Câmara é terceiro na linha de sucessão do poder executivo e os próprios magistrados exaltaram sua posição para melhor revelar como o crime merecia ainda mais forte repulsa. Não obstante, apesar desta posição hierárquica elevada, joão paulo deixou rastros toscos, elementares. Não foi porque, dada sua posição elevada, João Paulo não deixou pistas e foi condenado assim mesmo. Rosa Weber e todos os que o condenaram o fizeram com base nas provas toscas que deixou. A tese abstrata de Rosa Weber e do procurador é contrária aos fatos aqui.

O mesmo em relação a Henrique Pizzolato. Ele foi condenado porque não apresentou a pessoa que, segundo sua explicação, seria o destinatário final do pacote cujo conteúdo alegava desconhecer. Alegação tosca e rude que, não sendo provada, prova o seu oposto, isto é, que ficou com o dinheiro indevido. Membro do corpo mais elevado da administração do Banco do Brasil, deixou, não obstante, rastros que permitiram aos juízes do Supremo o condenarem. Ele deixou rastros e foi condenado por eles, não porque tenha faltado provas. Outro exemplo em que o discurso abstrato sobre o domínio do fato nada tem com o voto real, sendo apenas preparatório para o momento em que não houver mesmo prova alguma e os juízes condenarem assim mesmo, configurando um julgamento de exceção.
João Paulo Cunha e Henrique Pizzolato não foram condenados em virtude de pertencerem a algum esquema diabólico efetivamente comprovado, como querem o procurador e o ministro relator, mas justamente porque não conseguiram comprovar que os ilícitos que cometeram resultaram da participação no ilícito caixa 2. Eram corrupção passiva mesmo. Assim como o ilícito de Marcos Valério, que no contrato com a Visanet cometeu apropriação indébita, via corrupção ativa, e Pizzolato corrupção passiva, via adiantamento de pagamentos. Do mesmo modo, Marcos Valério não foi condenado por se mostrar um elo de mirabolantes enredos, mas por se apropriar indevidamente dos bônus de contrato de publicidade do BB, que não tem conexão com caixa 2, embora propiciado por este. ESSES FORAM OS FUNDAMENTOS DE ROTINA PENAL NO PRIMEIRO BLOCO DA AÇÃO PENAL 470, DESCONECTADOS DAS ESPECULAÇÕES SOBRE AS LIGAÇÕES ENTRE NIVEL DE AUTORIDADE PÚBLICA E AUSÊNCIA PROVAS. AO CONTRÁRIO, TODAS AS AUTORIDADES PÚBLICAS CONDENADAS NO PRIMEIRO PACOTE DEIXARAM PROVAS SUFICIENTES E, ALGUMAS, BASTANTE TOSCAS, QUE NENHUM MELIANTE MEDIANAMENTE EXPERIMENTADO DEIXARIA DE EVITAR.
A INTERPRETAÇÃO do domínio do fato é a espinha dorsal para a condenação sem provas. Para tanto, o procurador insinuou e o relator apresenta repetidamente, em paralelo aos autos, um enredo perverso que ligaria todos os ilícitos, como se todos fossem uma mesma coisa, cujo Autor sem assinatura seria José Dirceu. A idéia é tornar aceitável a interpetação segundo a qual “quanto mais elevada for a posição do criminoso nas hierarquias sociais, mais fácil a ocultação de provas”, hipótese heurística defensável (embora não existam pesquisas que comprovem indubitavelmente que se trata de uma verdade, mesmo que apenas probabilística). Equivale a “não havendo provas, é forte indício de que há o mando de uma autoridade”. Além de ser contrária aos fatos na Ação Penal 470, a tese hipotética aceitável não se transforma na segunda senão por subterfúgio. Da proposição verdadeira de que todos os ímpares são números não se segue que todos os números são ímpares. Essa tentativa, se bem sucedida, é que fará deste um julgamento de exceção, ou seja, nunca mais se repetirá. Imagine o que não diriam os editorialistas diante da seguinte proposição: Fernando Henrique Cardoso locupletou-se durante a presidência precisamente porque não existem provas de que o fez. É o que se pretende fazer em relação a Dirceu: uma interpretação ad hominem, isto é, só vale para casos singulares. Fazer da ausência de provas uma “prova” de que houve crime é a evidência de que se trata de julgamento de exceção, vingativo.

A grande imprensa clama unanimemente por isso, mas não penso que os juízes estejam necessariamente se submetendo a ela. Acho, sim, que, neste caso, alguns juízes raciocinam como a grande imprensa. Por isso não se sentem pressionados, exceto o Lewandowski, claro. Eles sentem com absoluta convicção que o projeto do PT, Lula e Dirceu são um mal. Representou a quebra do monopólio do voto de classe média como fiel da balança eleitoral, a seduzir pés rapados que se elegem e os elegem. E se não há provas desse mal, é porque são diabólicos e não deixam rastro. Vai ser preciso condenar sem provas porque, no fundo, acham que estão certos.
Os ilícitos para os quais existem provas não podem ser somente conseqüência do caixa 2, do qual a justiça eleitoral é causa eficiente, ou da banal corrupção, por hábito ou oportunidade. Precisam estar dentro de um enredo maléfico, que parece impossível demonstrar. Isso, é claro, se o julgamento for até o fim do mesmo jeito. Se provarem que Dirceu afanou algum, é uma coisa, daí a “provar” um esquema perverso em que todos tinham consciência e cumplicidade no objetivo final, obscuramente definido como “permanecer no poder”, vai grande distância.
O objetivo partidário de permanecer no poder foi satanizado pelo procurador, pelo relator, pelo preconceito que sai pelos poros de vários dos juízes e pelo prefácio de oratória proferido por Celso de Mello antes de votar o primeiro pacote de julgamentos. Em discurso abstrato, sem nomes, mas cheio de adjetivos degradantes sobre autoridades públicas que cometem ilícitos – o que, de fato, me lembrou o IPM a que respondi, e era o clima da época, em que coronéis e tenentes, impunes, esbravejavam contra várias coisas das quais eu não podia ser acusado, pois não havia provas, chegando ao cômico (mas não ri na hora) de me acusarem, além de subersivo, de ser suspeito; acredite, fui acusado de ser suspeito e isso era crime! – o ministro decano estava na verdade manifestando desprezo a priori pela atividade política e pelo PT como partido político.
É fácil demonstrar que sem partidos políticos e parlamentos livres, nenhuma outra instituição é seguramente livre. Quando os partidos são fechados, a imprensa é censurada e o judiciário se acoelha. Tal acontece em todas as ditaduras e assim aconteceu no Brasil, durante o Estado Novo e durante a ditadura militar. Os advogados de presos e torturados políticos – Nilo Batista, Modesto da Silveira e a Rosa Maria Cardoso da Cunha, e que está na comissão da verdade, o falecido Heleno Fragoso, entre vários outros – sabem muito bem o que foi o rebaixamento silencioso do judiciário nesse último período. Quem garante a liberdade das demais instituições democráticas é um sistema partidário livre, não o contrário.
Fonte:http://www.ocafezinho.com/