terça-feira, 13 de agosto de 2013

O Novo Sempre Vem! (por Alberto Kopittke)

Escultura de Ron Mueck

E se muitos dos problemas que estão mobilizando milhões de jovens em todo o mundo não puderem ser resolvidos pelos governantes dos seus países? E se as reivindicações não forem apenas por mudanças em relação a quem ocupa os governos, mas sobre o que é o próprio governo?

Muito se tem discutido sobre a dimensão nacional da atual onda de mobilizações que varreu o Brasil em junho: mobilidade, planejamento urbano, inclusão social, liberdades morais, luta contra a corrupção, reforma política. Mas não são apenas as questões “de cada país” que estão por trás do fato de milhões de jovens, nos mais diversos países do mundo, estarem saindo às ruas.
Existe um sentimento muito maior que tem feito as pessoas se mobilizarem, questões muito mais amplas do que dizem os cartazes, posts no Facebook ou tweets. Existe algo implícito nas mobilizações que estão ocorrendo em todo o mundo, algo que não é dito por que simplesmente não sabemos o nome, e que, por enquanto, é apenas possível de ser sentido por quem está nas ruas e no máximo teorizado abstratamente pela Academia ou por poucos quadros políticos.
É um sentimento de pertencimento a um movimento que não se resolverá com mudanças sobre como são eleitos e o que fazem os 600 e poucos representantes do povo brasileiro (embora todos saibamos que isso é muito importante!). É um sentimento que quer apoiar e estar ao lado dos jovens que estão nas ruas da Turquia, do Egito, de Nova Iorque, de Paris, de Madri, de Atenas ou de Santiago do Chile. É um sentimento de quem descobre fazer parte de algo maior, um sentimento de identificação com o que até então não passava de um “estrangeiro”.
É um sentimento que de tão novo ainda não tomou forma e é difícil de expressar num cartaz. Como se dizia “antigamente”, ainda não é um “Programa Político”. Não existem Partidos que tratem dele porque não existem Parlamentos que o discutam. Ele é um sentimento político porque trata sobre a forma como as pessoas vivem no mundo, mas não cabe nas atuais instituições da política.
Aos poucos, de forma cada vez mais rápida, as fronteiras entre os países têm deixado de serem divisões ou as línguas, barreiras para a compressão. As imagens instantâneas de um jovem sendo agredido, distribuídas de forma instantânea por outro jovem ali presente, sem a frieza de uma agência de notícias, já falam uma linguagem universal, que supera qualquer diferença cultural, religiosa ou étnica.
Esse processo não começou ontem e talvez nem seja tão recente assim (é capaz que os historiadores do futuro vejam que ele já tem alguns séculos), mas é inegável que ele está atingindo um novo estágio de velocidade, de conexão, de identidade, de universalidade. Provavelmente ainda não seja o estágio de maturidade necessária capaz de fazer brotar novas instituições, mas ele já começa a ensaiar os seus primeiros passos dessa nova etapa.
Ao longo da história as mobilizações sociais sempre vieram antes das definições. O povo sempre sabe quando algo está errado, quando a violação dos seus direitos atinge níveis inaceitáveis. Primeiro vem a indignação individual, depois a coletiva e apenas depois, muito tempo depois, elas são interpretadas, se transformam em sujeito político e se tornam instituições.
Questões como o Sistema Financeiro, o Meio Ambiente e os direitos de liberdade e privacidade na Internet, já não podem ser resolvidas no âmbito nacional, são temas globais, para os quais os Estados nacionais praticamente não têm mecanismos para atuarem de forma efetiva.
Talvez o dia em que os cartazes dessas ruas e praças venham a ter as mesmas mensagens e se mobilizem de forma verdadeiramente articulada, lutando por novas instituições globais, ainda possa demorar, mas para a tristeza dos que professaram o fim da história, esse dia já está em gestação, no coração desses milhares de anônimos.

Alberto Kopittke é advogado e vereador em Porto Alegre

Fonte:http://www.sul21.com.br/jornal/2013/08/o-novo-sempre-vem-por-alberto-kopittke/
 

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