sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Dinheiro e pudor

Ticiano - O dinheiro do tributo (1535-40)

Ao falar do dinheiro o rosto do homem tomou uma expressão repugnante...
(Hugo von Hofmannsthal, Andreas)

Até há relativamente pouco tempo cultivava-se um certo pudor relativamente ao dinheiro. Esse pudor poderia ser uma reminiscência, que se terá democratizado, de uma sobranceria da nobreza perante a emergência de uma burguesia agressiva, do poder do dinheiro e do fim do ethos aristocrático. Seja como for, a ligação entre dinheiro e repugnância era um topos subliminar de certo tipo de educação, a qual tinha a virtude de impedir que o dinheiro fosse, fora de certos locais e ocasiões, motivo de conversa. Esse pudor tinha uma semântica complexa e com tonalidades contraditórias. No entanto, havia nele um reconhecimento de uma coisa que hoje desapareceu. Reconhecia-se que o dinheiro não podia nem devia ser a coisa mais importante na vida dos homens. Isso permitia que outras actividades, para além de ganhar e acumular dinheiro, tinham uma legitimidade inquestionável e, mesmo a hipocrisia social, era-lhes obrigada a prestar tributo. Um dos sintomas da doença que afecta o Ocidente é a perda do pudor de falar de dinheiro. Não só o dinheiro deixou de ser uma coisa pouco digna, embora desejável, como a repugnância de falar dele se transformou no seu contrário. A única coisa que interessa à ideologia dominante é o dinheiro. E a ideologia nunca se cala. Multiplica-se na voz de cada um, transformando a vida social numa liturgia do bezerro de ouro. Para quê? Para fazer mais dinheiro, multiplicando-o vezes sem conta, com a única finalidade de continuar a sua multiplicação. O dinheiro é agora a única realidade, o meio e o fim de todas as acções humanas. O pudor que havia de falar dele era a última resistência ao mundo cujo sentido está reduzido à pura multiplicação de capitais. Isto é, a nada.
Fonte: http://kyrieeleison-jcm.blogspot.pt/2014/10/dinheiro-e-pudor.html

A sociedade brasileira está isolada



 
A sociedade civil organizada foi desarticulada nas décadas de 70 e 80, em seu lugar surgiram grupamentos corporativos, cada um se mobilizando em torno de seus interesses específicos.
Essa é a sociedade que Bauman definiu de "liquido", é individualista, amorfa e vazia. Não há mais interesses coletivos sendo defendidos, é a vida do cada um por si.

Esse isolamento favoreceu que grupos mais fortes tomassem a rédea dos debates do país. Assim, segmentos como a bancada ruralista e a evangélica se tornaram mais fortes do que partidos. Da mesma forma a imprensa que detém a informação e o rentismo detentor do capital se tornaram os verdadeiros mandantes dos destinos do país.


Muito se fala que na última década o Congresso Nacional aprovou Leis e o STF decidiu favoravelmente em temas progressistas e citam  o casamento gay, as células tronco, a demarcação de terras indígenas, mas vejo, da mesma forma como ocorreu a nossa abolição da escravatura que só aconteceu pela pressão da maior economia da época, a Inglaterra, que tais temas foram pautados por pressões internacionais para os quais a mídia e o rentismo nacionais não tiveram forças suficientes para impedir tais avanços.

Na área do executivo a Carta aos Brasileiros, de Lula, foi emblemática no sentido de deixar claro que a vitória de Lula nas urnas só seria permitida pelas adequações expressas na carta. Movimentos do governo fora dos interesses da mídia e do rentismo só alcançaram sucesso em 2008 pela condição do mundo e do país se encontrarem em abismo econômico sem que o sistema tivesse conseguido apresentar propostas que representassem avanços. Ainda assim, naquele período, o presidente Lula foi obrigado a demitir o presidente do Banco do Brasil que se recusava a seguir a orientação anticíclica do governo. As pressões foram enormes e a mídia massificou que o BB iria falir, que o governo se tornava interventor, e outras baboseiras mais.

No período Dilma, quando o Banco Central ousou diminuir os juros contra o queriam a mídia e o mercado as pressões foram insuportáveis e o BC teve que voltar atrás.

Concluindo, os interesses das corporações fortes como a bancada ruralista, a dos evangélicos, o rentismo e a mídia, conseguem se articular em prol dos seus interesses,e a total deficiência de representatividade e de articulação de outros grupos para agirem em conjunto, deixam as instituições democráticas ora limitadas para controlar o equilíbrio para o qual foram concebidas, ora decidindo de forma corporativa dentro dos seus interesses mais específicos e menos nacionalistas.

A imprensa passa a ser a detentora da verdade nesse mundo líquido, amorfo, individualista e segmentado, e acrescido que pelas regras atuais, ela atua sem qualquer instrumento que delimite responsabilidades, se tornando mais forte do que as instituições de poder delegados da população, ao mesmo tempo em que nossos congressistas se sentem pelo próprio apoio da mídia, seres isolados, descomprometidos com  as promessas feitas aos eleitores e atendendo a interesses individualizados,  daí as pressões para que não sejam aprovados a regulamentação da mídia, a ideia de ampliar as formas deliberativas inserindo a população na participação social nos debates sobre o destino do país, o bloqueio de que a população participe ativamente e de forma direta da reforma política, e a dificuldade de se avançar na reforma tributária.
Fonte: http://assisprocura.blogspot.com.br/

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Femme Terrible: o pecado de ser mulher em 20 grandes frases.

Cruéis, megeras e terríveis. Esterótipos sociais femininos em frases de grandes escritores.

Instáveis, complicadas, histéricas e não-confiáveis. Os estereótipos femininos vão além das virtudes. Desde que Eva quebrou a perfeição da vida no Éden pela desobediência e curiosidade irresponsáveis, a mulher, mesmo em países com muitos avanços na questão da igualdade de direitos entre os gêneros, leva uma fama terrível.

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A dúvida é: questão biológica ou social? Com progesterona correndo pelo corpo é difícil manter o mesmo rostinho, paciência e opinião durante o mês inteiro. Muito se engana quem acha que uma TPM de 5 dias é o único efeito. A mulher passa praticamente metade do mês sob a ação do tal hormônio. O ciclo menstrual dura o mês inteiro e mexe com os nervos e emoções das moças, que passam por várias fases durante esse tempo.

Mas o fator social e cultural também é muito importante, e, na minha opinião, tão definidor quanto o biológico. Vista pela sociedade machista e patriarcal como ser inferior, a mulher é acusada de possuir defeitos de caráter e virtude. Suponho que na construção da identidade da mulher através dos tempos, o rótulo de Dona encrenca e TPM ambulante foram sendo introjetados pelas mulheres. A cientista social Kathrin Woodward defende que nossa identidade é formada por dois processos: representação e subjetividade. A representação se refere aos estereótipos e modelos construídos na sociedade e a subjetividade diz respeito aos nossos desejos, medos e conflitos mais íntimos e pessoais. A construção identitária da mulher seria então mediada pelos modelos femininos criados pela sociedade e sua própria subjetividade. Em uma sociedade ainda machista é comum que a identidade feminina venha fortemente permeada pelos estereótipos sociais, fazendo com que, entre vários papéis, a mulher também assuma o estilo megera, instável, complicada. Veja alguns desses modelos sociais na forma como vários escritores pensaram as mulheres em 20 frases.

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“Sinto-me feliz por não ser homem, porque, se o fosse, teria de casar com uma mulher.” (Madame de Stael)
“Uma mulher bonita e fiel é tão rara como a tradução perfeita de um poema. Geralmente, a tradução não é bonita se é fiel e não é fiel se é bonita.” (William Maugham)
“Demasiada maquilhagem e muito pouca roupa para vestir é sempre um sinal de desespero para a mulher.” (Oscar Wilde)
“As mulheres que não são vaidosas na sua roupa de vestir são vaidosas de não serem vaidosas na sua roupa de vestir.” (Mark Twain)
“Se fosse possível somente deslizar para os braços da mulher e no entanto não cair nas suas mãos.” (Henri Montherlant)
“É mais fácil morrer por uma mulher do que viver com ela.” (Lord Byron)
“A mulher tem a arte de apropriar-se do dinheiro do amante apaixonado.” (Ovídio)
“O que fizeste para a mulher, isso ela pode esquecer, mas nunca esquecerá aquilo que para ela não fizeste.” (André Maurois)
“As mulheres permanecem sempre crianças que vivem à espera de algo.” (Oscar Wilde)
“Na mulher, é mais duradoiro o ódio do que o amor.” (Carlo Goldoni)

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"Pois em todas as espécies a fêmea é mais mortífera que o macho.” (Rudyard Kipling)
“Menos mal te fará um homem que te persegue do que uma mulher que te segue.” (Baltasar Gracián e Morales)
“Por pior que um homem possa pensar das mulheres, não há mulher que não pense ainda pior do que ele.” (Sébastien-Roch Chamfort)
“Inconstante e sempre mutável / é a mulher.” (Virgílio)
“Conheço o carácter das mulheres: / não querem quando queres; quando não queres, são as primeiras a querer.” (Terêncio)
“A mulher ruim? No mundo vive, no máximo, uma única mulher ruim: pena que cada um considere a sua como tal.” (Gothold Lessing)
“As próprias mulheres, no fundo de toda a sua vaidade pessoal, têm sempre um desprezo impessoal – pela mulher.” (Friedrich Nietzsche)
“Faz parte da natureza das mulheres desprezar quem as ama e amar quem as detesta.” (Miguel de Cervantes)
“Se uma mulher não trai, é porque não lhe convém.” (Cesare Pavese)
“Uma mulher leva vinte anos para fazer do seu filho um homem – outra mulher, vinte minutos para fazer dele um tolo.” (Helen Rowland)
“Os ladrões exigem a bolsa ou a vida. As mulheres exigem ambos.” (Samuel Butler)

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/cool_and_fresh_sociology/2012/11/femme-terrible-o-pecado-de-ser-mulher-em-20-grandes-frases.html

domingo, 26 de outubro de 2014

OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÁAAAAAAAAAAAAAAA


PT e Dilma reencontram agenda dos direitos humanos e a militância jovem


 


 Artigo por Laura Capiglione publicada no Yahoo.


Ganhe ou perca Dilma Rousseff (e o Ibope e Datafolha repetem a vantagem dela sobre o adversário tucano Aécio Neves), o PT fez nesta empolgante jornada eleitoral do segundo turno a sua campanha mais autêntica desde 1989.

Mais de 5 mil jovens da região de Itaquera participaram do ato Periferia com Dilma.
Em vez dos slogans limpinhos e brilhantes dos marqueteiros, o que se viu foi a multiplicidade de vozes, sotaques, reivindicações e cores.

Se, na campanha do primeiro turno, Dilma aparecia um dia em um templo evangélico – e no seguinte também –, nesta, ela surgiu em ato na periferia de São Paulo ladeada por representante devidamente paramentada de uma religião de matriz africana. E defendeu, ao lado do imprescindível Jean Wyllys, do PSOL, acriminalização da homofobia, para horror do fundamentalismo religioso de Marco Feliciano e Silas Malafaia.
Foi uma Dilma ativista dos Direitos Humanos a que se viu –comprometida com a luta “contra a discriminação da juventude negra deste país, contra os ‘autos de resistência’, contra esse morticínio”, disse ela em Itaquera, bairro da zona leste paulistana. (Os “autos de resistência” são instrumentos jurídicos que têm servido para mascarar os homicídios praticados pela Polícia Militar, acusando as vítimas de ter tentado resistir à abordagem policial.)

Ato aconteceu com apresentação de rappers e ativistas culturais da periferia.
"Achei foda a Dilma falar de ‘auto de resistência’… Foi bem bonito hoje. Tô emocionado e acho que isso aqui hoje é histórico. Nunca fui tão convicto para as urnas igual eu vou no dia 26. É 13 mesmo!", declarou ao fim do ato o rapper Emicida, uma das maiores referências do hip hop nacional.
Reconciliado com sua militância, com os coletivos de ativistas e de artistas, com os movimentos sociais, como não se viu em recentes disputas eleitorais, o PT reincorporou a força de uma juventude guerreira de quem parecia ter-se distanciado definitivamente, desde os protestos de junho de 2013.
É toda a diferença!

Durante o ato coletivos periféricos entregaram à presidenta um manifesto com suas reivindicações.
Saíram do proscênio os petistas amigos de banqueiros e do agronegócio e entraram outros tipos de dirigentes, mais ligados à militância das ruas, como o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira e o ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins –ambos escanteados durante o primeiro governo Dilma.
Eles ajudaram a campanha petista a desenvolver o encantamento da “continuidade que segue sonhando”, esvaziando o discurso meramente mudancista da oposicão.
Foi como transfundir sangue em paciente anêmico. “Em vez da medíocre e derrotista política do possível, a grandiosidade de lutar para tornar possível o impossível”, conforme descreveu um militante.

Ao falar de fim dos autos de resistência e do combate ao extermínio da juventude negra, Dilma agradou o público presente.
O resultado tem sido o reencontro do PT com a espontaneidade das ruas. Se, em outras campanhas abundavam as monótonas camisetas distribuídas gratuitamente pelos comitês eleitorais, nesta, são os militantes que fazem a moda-PT, usando o avatar que inunda as redes sociais, de uma Dilma guerrilheira, retratada ainda jovem e de óculos. Nos comícios petistas em Recife e São Paulo, garotos levavam suas camisetas para serem impressas com silk screen ali mesmo.

Emicida e Negra Li subiram ao palco e discursaram em apoio à reeleição de Dilma Rousseff
Do lado de Aécio Neves, uma militância também aguerrida tem disputado as ruas, com uma narrativa bem diferente. Na concentração realizada no largo da Batata, em Pinheiros, na quarta-feira, 22/outubro, colada ao centro fashion-financeiro da avenida Faria Lima, os tucanos (Fernando Henrique Cardoso presente) gritavam em uníssono “Fora PT! Viva a PM!”
Como se vê, da atual campanha pode-se dizer tudo. Menos que tenha sido despolitizada. Os dois projetos de Brasil estão expostos em toda a sua nudez. Que falem as urnas.
Fonte: https://ninja.oximity.com/article/PT-e-Dilma-reencontram-agenda-dos-dire-1

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Urariano Mota, com sabor de mangaba e cajá: Uma noite com Dilma

Urariano Mota, com sabor de mangaba e cajá: Uma noite com Dilma

publicado em 22 de outubro de 2014 às 14:48
Foto 2 maniefstacao Dilma
Foto do motorista na manifestacao
Foto 3 manifestacao dilma
Fotos Filipe Mendes

Dilma, a querida do Recife
por Urariano Mota, especial para o Viomundo

Roberto Carlos costuma falar que “são muitas emoções” em sua vida. Mas o Rei canta e não sabe o que são emoções de amor político, com afeição despudorada, num coletivo de paixão, porque não esteve presente  na mais feliz terça-feira do Recife. Assim falo porque ontem, 21 de outubro de 2014 — mas terá mesmo sido ontem? – digo, agora, mas um agora contínuo até domingo e adiante, em resumo, vou tentar escrever o que vi a partir da tarde de 21.
Aquilo que Dom Pedro II certa vez revelou, numa visita à cidade, que Pernambuco era um céu aberto, Lula, Dilma e o povo ontem atualizaram: o Recife é um coração aberto, pulsante, vermelho e pleno.
Assim falo porque as pessoas gritavam, cantavam “Dilma, eu te amo”. Não digo que tiravam a roupa, mas fizeram coisas mais impulsivas, desbragadas e delirantes.
Na Avenida Conde da Boa Vista, contente com o engarrafamento de carros que se formava em razão da caminhada com Dilma, o  motorista de um ônibus largou o volante e subiu para o teto. Para quê? De lá de cima, com uma bandeira vermelha, ele  dançou ao som de “Dilma, coração valente”.
A massa foi ao delírio. Achando pouco, o louco e sincero motorista fazia passos e voltas sobre o teto do ônibus, agarrado à bandeira, como se ela fosse a própria presidenta. Um crítico de música ao meu lado observou que ele estava em seu momento Michael Jackson. Mas para a massa da multidão, o motorista era, depois  de Lula e Dilma, o cara. E nós sorríamos, e acenávamos, e ele posava e pousava para as fotos dos celulares.
O recifense, o homem do povo, tem um modo de recepcionar, de receber, que é fora de esquadro, fora de governo, de regras de boas maneiras e da boa educação do colégio das damas. O povo é total, efusivo, de alegria.
Sim, achei a palavra que desde ontem procurava: alegria. Foi com a multidão alegre, a sorrir, a gargalhar, a dar vivas que Dilma foi recebida no Recife.
Quando lhe anunciaram o nome, lá na tarde às margens do Parque 13 de maio, uma corrente elétrica, de alta voltagem do frevo Vassourinhas correu a multidão.
Foi um fenômeno como uma ola nos estádios de futebol, não, foi como um urro, ainda não, foi como uma respiração em voz alta, um ar que correu em ondas e crescendo num som que não se distingue em palavras. E todos correram para a origem do fenômeno, porque havia chegado a presidenta.
Durante o percurso, nos ônibus pudemos ver mais gente que não podia descer, que voltava do trabalho e que não pôde vir, mas que gostaria muito de estar com toda a gente. Diante do gigantesco engarrafamento na Conde da Boa Vista, na hora, não, mas agora percebo que eu só podia ter pena das ambulâncias. Os pacientes que entendessem o momento histórico de Dilma na cidade. Fora das sirenas, o Recife era mais urgente. Parecia o Galo da Madrugada fora de época.
A multidão mostrava que Dilma é amada pelo povo do Recife. O povo lhe dedica uma afeição que já deixou de ser política, virou um caso pessoal. Ela virou o nosso caso na República.
Lula, para nós, é como um sogro, o nosso querido sogro que nos deu a sua filha num lance raro de generosidade. A multidão ontem, no comício, se comportava como se falasse para ela, “Dá licença, presidenta, o povo pede a sua mão”. E ela respondeu e correspondeu:
– Eu amo vocês, esta é a primeira coisa que eu queria falar. A segunda coisa é que eu nunca vi na minha vida um ato tão bonito, tão alegre, tão carinhoso como este.
Tentando chegar mais perto da sua afeição, um escritor amigo foi barrado quando desejou ficar mais junto do palanque. O pobre do literato só queria estar mais perto da pessoa da presidenta. Mas um dos seguranças lhe falou: “Aqui só passa se tiver credencial”.
Ao que o escritor respondeu: “Eu não tenho credencial, mas tenho todas as palavras”. Falou e amargou. Mas convenhamos, o escritor estava magoado, porque as palavras todas não saíram ali nem agora, como ele queria. É como um poema não escrito, porque as palavras mais eloquentes, as que vêm da ação, estavam sendo escritas ali, no ato, em gestos, canções e suspiros.
Dilma poderia falar o que quisesse. Poderia cantar “o cravo brigou com a rosa”, e todos aplaudiriam. Poderia ficar diante do microfone repetindo “sapo-sapo-sapo-sapo”, e o povo iria ao delírio.
Diriam, “como ela fala bem sapo-sapo-sapo!”. Sabem aquele afeição conquistada, que vê em tudo quanto vem da pessoa amada a coisa mais linda? Mas a presidenta, em lugar de palavras sem nexo, falou:
– Vamos mostrar que este país tem coluna vertebral, tem mulheres de coragem e fé. O estado de Pernambuco me honra estando perto de mim.
E abriu a bandeira do estado. Em Pernambuco, a bandeira que vem da revolução de 1817 é sagrada e acima de todas as coisas. E se estabeleceu então mais alta a corrente de afinidade. É uma relação de tal modo apaixonada, que uma senhora do povo me falou, com a maior intimidade, embora nunca nos tivéssemos conhecido antes, o que é raro entre pernambucanos, um povo em seu natural tímido.
Mas como a situação ali era outra, ela me disse com a voz embargada: “quando Dilma passou mal, depois daquele debate na televisão, eu fiquei… olhe, eu fiquei…” e não conseguia completar a frase, porque a lembrança lhe voltava em forte emoção.
E porque eu a compreendia eu pensava em lhe falar na língua de imbu, mangaba, graviola, cajá, azeitona, pitomba, abacaxi, goiaba, maracujá, manga, cana doce, numa fala de salada do Nordeste. Mistura de tudo, porque o povo mais misturado que já vi numa eleição estava presente.
No final, depois do comício, corremos feito loucos para flagrar a passagem da presidenta, que sairia por trás do palanque. Eu não era mais um cidadão de cabelos brancos, barrigudo, de fôlego curto, a léguas de distância de atleta de qualquer condição.
Eu era, todos éramos, voltávamos a ser mais uma vez meninos. Éramos a infância do que manda o coração.  A presidenta entendeu a nossa meninice. Na passagem, ela nos enviou 2 beijos.
Leia também:

FONTE:  http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/urariano-mota-dilma-querida-recife.html

Jornalismo UFPE

 

DILMA 13

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Voto PT


Lembro que uma vez - há bastante tempo -  Joelmir Betting disse que "ninguém faz política sem meter a mão na merda". Não devia ser assim mas é isso que vemos todos os dias em todas as instâncias da política nacional. Não adianta nem citar as mazelas porque todo mundo já sabe e muita gente usufrui desse jogo imoral que não exclui o eleitor em busca de vantagens individuais.
Quando falamos partidos políticos no Brasil nunca sabemos se estamos falando de ideologia, de programa ou de gang. Mas, com todos os defeitos que já conhecemos, comprovamos, registramos e que são comuns a todos os partidos políticos no Brasil, é incontestável que ninguém fez pelos pobres o que fizeram os governos do PT. Isso é indiscutível. Todo mundo diz que vai fazer igual e melhorar mas antes ninguém fez absolutamente nada. Os mais atentos não desconhecem os efeitos dessa política daqui a pelo menos 20 anos na composição da sociedade brasileira. A não ser que haja um retrocesso demolidor dos direitos duramente conquistados.
O fato de muitas pessoas que foram beneficiadas pelos programas sociais e pelas oportunidades oferecidas se acharem, hoje, em outro patamar e por isso contra Dilma, não anula a importância do que foi feito. Apenas atesta que ao se sentirem incluídas, as pessoas adotam os mesmos modelos que as discriminaram.   Outras  variáveis entram nessa discussão que vão muito além  de um processo eleitoral. 
Se esta mudança na perspectiva de olhar para os mais pobres e abrir-lhes pequenos espaços na busca de uma melhor qualidade de vida é o que incomoda aos que nem precisam desse pouco pra viver - alguns deles sequer percebem que estão neste segmento -  comigo acontece justamente o contrário. Esta é a razão do meu voto. 
E, graças a Deus, posso escolher meus candidatos e não ter medo de anunciar publicamente.  Eu ou qualquer um, do lado em que estiver, pode faze-lo sem medo. Mas teve gente que lutou pra chegarmos a esse ponto. Ninguém pode esquecer que houve tempos não tão longínquos que as coisas não eram assim. 
ML

domingo, 19 de outubro de 2014

E eu não sei?

Pintura de Georges Braque, Auto-retrato

O que nos mata é solidão povoada


Jorge de Sena

Fonte: http://maravista-anamar.blogspot.com.br/

sábado, 18 de outubro de 2014

A corrupção e os dados do Brasil nos últimos 20 anos


 

O mote é sempre o mesmo e parte da nossa falsa moral cristã, a indignação seletiva.
Conheço a história de Collor, Maluf, Sarney e tantos outros, e elas não são de agora. Conheço a história de um presidente que foi eleito com uma "vassourinha" para limpar a nossa corrupção. Um dos lemas de 64 foi a corrupção. Um outro presidente foi eleito porque era o "caçador de Marajás" e muitos acreditaram. O que nunca vi foi a imprensa massificando as notícias, a Polícia Federal investigando e nem a repetição de nomeações tipo "engavetador geral da união".

O ataque à corrupção  que foca em administrações ou pessoas é jogo de cena para os que querem ser enganados. Movimentos reais que façam diminuir a sua incidência só virão com uma reforma política ampla e com funcionamento da justiça. Aqui vemos a luz no fundo do poço pois nunca se tinha visto políticos de alta cúpula serem condenados, o que aconteceu com o mensalão, e melhor ainda, com um STF composto em sua ampla maioria com ministros indicados pelo próprio PT.

Agora vamos falar do outro Brasil. O Brasil que o PSDB nos deixou e o outro novo Brasil que surge:

1. Produto Interno Bruto:
2002 – R$ 1,48 trilhões
2013 – R$ 4,84 trilhões

2. PIB per capita:
2002 – R$ 7,6 mil
2013 – R$ 24,1 mil

3. Dívida líquida do setor público:

2002 – 60% do PIB
2013 – 34% do PIB

4. Lucro do BNDES:
2002 – R$ 550 milhões
2013 – R$ 8,15 bilhões

5. Lucro do Banco do Brasil:

2002 – R$ 2 bilhões
2013 – R$ 15,8 bilhões

6. Lucro da Caixa Econômica Federal:

2002 – R$ 1,1 bilhões
2013 – R$ 6,7 bilhões

7. Produção de veículos:
2002 – 1,8 milhões
2013 – 3,7 milhões

8. Safra Agrícola:
2002 – 97 milhões de toneladas
2013 – 188 milhões de toneladas

9. Investimento Estrangeiro Direto:
2002 – 16,6 bilhões de dólares
2013 – 64 bilhões de dólares

10. Reservas Internacionais:
2002 – 37 bilhões de dólares
2013 – 375,8 bilhões de dólares

11. Índice Bovespa:
2002 – 11.268 pontos
2013 – 51.507 pontos

12. Empregos Gerados:
Governo FHC – 627 mil/ano
Governos Lula e Dilma – 1,79 milhões/ano

13. Taxa de Desemprego:
2002 – 12,2%
2013 – 5,4%

14. Valor de Mercado da Petrobras:
2002 – R$ 15,5 bilhões
2014 – R$ 104,9 bilhões

15. Lucro médio da Petrobras:
Governo FHC – R$ 4,2 bilhões/ano
Governos Lula e Dilma – R$ 25,6 bilhões/ano

16. Falências Requeridas em Média/ano:
Governo FHC – 25.587
Governos Lula e Dilma – 5.795

17. Salário Mínimo:
2002 – R$ 200 (1,42 cestas básicas)
2014 – R$ 724 (2,24 cestas básicas)

18. Dívida Externa em Relação às Reservas:
2002 – 557%
2014 – 81%

19. Posição entre as Economias do Mundo:
2002 - 13ª
2014 - 7ª

20. PROUNI – 1,2 milhões de bolsas

21. Salário Mínimo Convertido em Dólares:
2002 – 86,21
2014 – 305,00

22. Passagens Aéreas Vendidas:
2002 – 33 milhões
2013 – 100 milhões

23. Exportações:
2002 – 60,3 bilhões de dólares
2013 – 242 bilhões de dólares

24. Inflação Anual Média:
Governo FHC – 9,1%
Governos Lula e Dilma – 5,8%

25. PRONATEC – 6 Milhões de pessoas

26. Taxa Selic:
2002 – 18,9%
2012 – 8,5%

27. FIES – 1,3 milhões de pessoas com financiamento universitário

28. Minha Casa Minha Vida – 1,5 milhões de famílias beneficiadas

29. Luz Para Todos – 9,5 milhões de pessoas beneficiadas

30. Capacidade Energética:
2001 - 74.800 MW
2013 - 122.900 MW

31. Criação de 6.427 creches

32. Ciência Sem Fronteiras – 100 mil beneficiados

33. Mais Médicos (Aproximadamente 14 mil novos profissionais): 50 milhões de beneficiados

34. Brasil Sem Miséria – Retirou 22 milhões da extrema pobreza

35. Criação de Universidades Federais:
Governos Lula e Dilma - 18
Governo FHC - zero

36. Criação de Escolas Técnicas:

Governos Lula e Dilma - 214
Governo FHC - 11
De 1500 até 1994 - 140

37. Desigualdade Social:
Governo FHC - Queda de 2,2%
Governo PT - Queda de 11,4%

38. Produtividade:
Governo FHC - Aumento de 0,3%
Governos Lula e Dilma - Aumento de 13,2%

39. Taxa de Pobreza:
2002 - 34%
2012 - 15%

40. Taxa de Extrema Pobreza:

2003 - 15%
2012 - 5,2%

41. Índice de Desenvolvimento Humano:
2000 - 0,669
2005 - 0,699
2012 - 0,730

42. Mortalidade Infantil:

2002 - 25,3 em 1000 nascidos vivos
2012 - 12,9 em 1000 nascidos vivos

43. Gastos Públicos em Saúde:
2002 - R$ 28 bilhões
2013 - R$ 106 bilhões

44. Gastos Públicos em Educação:
2002 - R$ 17 bilhões
2013 - R$ 94 bilhões

45. Estudantes no Ensino Superior:
2003 - 583.800
2012 - 1.087.400

46. Risco Brasil (IPEA):
2002 - 1.446
2013 - 224

47. Operações da Polícia Federal:
Governo FHC - 48
Governo PT - 1.273 (15 mil presos)

48. Varas da Justiça Federal:
2003 - 100
2010 - 513

49. 38 milhões de pessoas ascenderam à Nova Classe Média (Classe C)

50. 42 milhões de pessoas saíram da miséria


FONTES:
47/48 - http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas
39/40 - http://www.washingtonpost.com
42 - OMS, Unicef, Banco Mundial e ONU
37 - índice de GINI: www.ipeadata.gov.br
45 - Ministério da Educação
13 - IBGE
26 - Banco Mundial

Por Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira.

Fonte: http://assisprocura.blogspot.com.br/

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pais




Pais que se comportam como adolescentes, adolescentes que se comportam como crianças, crianças que parecem gente adulta. Não é gralha nem lapso, os pais preocupam-me. Lido com eles diariamente e, por estes dias, pela mais estimulante das razões: manuais escolares. Uma contrariedade, como já ouvi dizer. Não é dinheiro que se gaste com agrado, é dinheiro que se gasta por obrigação. Muitos nem consideram o dispêndio investimento, é dinheiro deitado fora porque: os miúdos não querem a escola, a escola não quer os miúdos. A tragicomédia educativa no país parece dar razão aos pais, mas os pais não têm razão alguma. Pelo menos muitos daqueles com quem lido, os que parecem ter-se demitido de serem pais. Demitiram-se de ser pais quando esperam da escola o papel que é deles: educar. Colocam nos professores o papel que é deles: transmitir valores. Nem sequer servem de exemplo, nem sequer se preocupam em dar exemplo. Os pais generalizam-se para simplificar, nem todos serão como estes pais. Mas vamos passar algodão em rama sobre a chaga? Há cada vez mais pais que não são pais, são uma espécie, como dizê-lo, de fonte de rendimento até à autonomia. Não passam tempo com os filhos, e muitos consideram-no uma bênção. Não falam com os filhos senão para responder a solicitações, as materiais. Os pais dão trocos para o fim de semana, compram roupa, dão guarida, levam com os manuais na cabeça, vão de casa para o trabalho e vêm do trabalho para casa cheios de angústias e de traumas e de frustrações porque, foda-se, tiveram o azar ou cometeram a imprudência de serem pais. Só não se dizem arrependidos porque Deus pode ouvi-los e no Inferno há vaga. Os pais que não querem ser pais são uma praga impossível de desparasitar, não há escola para eles, não há escola para a escola que também é feita de pais, só há escola para os alunos e alguns, quando calha, são pais precoces e ficam cheios de medo e pensam na vida e temem pelo futuro deles e dos filhos e até pelo futuro dos pais. Esta gente complica a existência, julga-se eterna, desconfio, não terá espelhos para ver o tempo passar pelo corpo e as faculdades que o vento usurpa. Fazem análises, radiografam o esqueleto, testes, exames, vão ao médico, consultam psicólogos, pediatras, metem-se na psicanálise, vão à missa, confessam-se, pagam a bruxas, astrólogos, quiromantes, retiram o diabo do corpo aos energúmenos que têm lá em casa e aos que têm dentro de si próprios. Alguns, se pudessem, faziam como outrora fizeram certas que não lembro quais tribos: matavam os filhos à nascença. Porque querem ser pais os pais? Para terem uma coisa fofinha lá em casa? Mas a coisa fofinha chora, esperneia, caga-se, mija, vomita, tem febre, precisa de cuidados e de tempo e de atenção e, ai o inferno, reivindica porque reivindicará direitos e nesses direitos começam, claro, as obrigações dos pais: falar, comunicar, valorar, educar. E amar? Há pais que não amam, há pais que não foram amados quando eram filhos, mas sobretudo há pais que não sabem amar. Amam dando, dão contrariados, é como se amassem contrariados, e andam revoltados com o preço dos manuais, com os resultados da selecção, com a economia, já nem lêem nem vêem televisão, excepto se for a bola, um filme erótico, porrada, telenovela a espaços, preferem conversa no café do bairro, conversa rápida, ocupação certeira, caça, putas, pesca, cartas. Andam à toa e pela toa trazem os filhos, que crescem e se tornam homens e se fazem pais num país onde cada vez mais os pais se parecem com os filhos e os filhos com órfãos. Pelo que se vê nas notícias é assim. Onde andam os pais dos miúdos? Onde andam os pais desses miúdos que se divertem a atirar carros de compras para o Mondego? Ou não serão miúdos? Ou terão pais? Onde andam os pais dos praxados e dos praxantes que estupidificam tudo com a sua simples presença? Virão nos manuais, estes pais? Não puxam orelhas, prática bárbara, não recriminam, hábito ultrapassado, reforçam positivamente de acordo com as práticas em vigor, não tradicionalizam, modernizam, andam nos psicólogos, nos psiquiatras, fazem psicanálise, perdem-se na estante de puericultura a ler e a comprar livros que ensinam… a amar os filhos. Isto é tudo inacreditável, a realidade é inacreditável, os livros sobre educação são inacreditáveis, a pedagogia é inacreditável, o inacreditável parece estar a funcionar muito bem, é cada vez mais real, um sucesso de vendas.
Fonte: http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com.br/

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Eita "nóis"!



Versos de João Paraibano

Já nasci inspirado no ponteio
Dos bordões da viola nordestina
Vendo as serras banhadas de neblina
Com uma lua imprensada pelo meio
Mãe fazendo oração de mão no seio
E uma rede ferindo o armador
Minha boca pagã cheirando a flor
Deslizando no bico do seu peito
Obrigado meu Deus por ter me feito
Nordestino, poeta e cantador.


Me criei com cuscuz e leite quente
Jerimum de fazenda e melancia
Com seis anos de idade eu já sabia
Quantas rimas se usava num repente
Fui nascido nas mãos da assistente
Na ausência dos olhos do doutor
Mamãe nunca fez sexo sem amor
Papai nunca abriu mão do seu direito
Obrigado meu Deus por ter me feito
Nordestino, poeta e cantador.

Fonte: http://www.blogpajeudagente.com/…/poesia-joao-paraibano-men…

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

DIA DOS PROFESSORES




Minha professora mais querida - e acredito que também de todos que em algum momento de sua vida conviveram com ela - chama-se Zenira Gonçalves Gomes (Zê). Mas também tive outros. Não tão queridos quanto ela mas sempre respeitados e a quem muito devo. Sou imensamente agradecida a todos que me ensinaram alguma coisa boa. Dentro e/ou fora da escola. Cada um do seu jeito, me ensinou uma pequena lição que aos poucos foi construindo o que de bom tenho em mim. Amigos, conhecidos, colegas, alunos, desconhecidos, passageiros da vida que em algum momento por alguma razão ou mera casualidade cruzamos os mesmos caminhos.
ML

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

As diferenças das propostas de Dilma e Aécio

Por Roberto Mangabeira Unger
 
O povo brasileiro escolherá em 26 de outubro entre dois caminhos. Que escolha o rumo audacioso da rebeldia nacional e afirme a grandeza do Brasil
 
O povo brasileiro escolherá em 26 de outubro entre dois caminhos.
 
As duas candidaturas compartilham três compromissos fundamentais, além do compromisso maior com a democracia: estabilidade macroeconômica, inclusão social e combate à corrupção. Diferem na maneira de entender os fins e os meios. Diz-se que a candidatura Aécio privilegia estabilidade macroeconômica sobre inclusão social e que a candidatura Dilma faz o inverso. Esta leitura trivializa a diferença.
 
Duas circunstâncias definem o quadro em que se dá o embate. A primeira circunstância é o esgotamento do modelo de crescimento econômico no país. Este modelo está baseado em dois pilares: a ampliação de acesso aos bens de consumo em massa e a produção e exportação de bens agropecuários e minerais, pouco transformados. Os dois pilares estão ligados: a popularização do consumo foi facilitada pela apreciação cambial, por sua vez possibilitada pela alta no preço daqueles bens. Tomo por dado que o Brasil não pode mais avançar deste jeito.
 
A segunda circunstância é a exigência, por milhões que alcançaram padrões mais altos de consumo, de serviços públicos necessários a uma vida decente e fecunda. Quantidade não basta; exige-se qualidade.
 
As duas circunstâncias estão ligadas reciprocamente. Sem crescimento econômico, fica difícil prover serviços públicos de qualidade. Sem capacitar as pessoas, por meio do acesso a bens públicos, fica difícil organizar novo padrão de crescimento.
 
O país tem de escolher entre duas maneiras de reagir. Descrevo-as sumariamente interpretando as mensagens abafadas pelos ruídos da campanha. Ficará claro onde está o interesse das maiorias. O contraste que traço é complicado demais para servir de arma eleitoral. Não importa: a democracia ensina o cidadão a perceber quem está do lado de quem.
 
1. Crescimento econômico. Realismo fiscal e manutenção do sacrifício consequente são pontos compartilhados pelas duas propostas. 
Aécio: Ganhar a confiança dos investidores nacionais e estrangeiros. Restringir subsídios. Encolher o Estado. Só trará o crescimento de volta quando houver nova onda de dinheiro fácil no mundo. 
Dilma: Induzir queda dos juros e do câmbio, contra os interesses dos financistas e rentistas, sem, contudo, render-se ao populismo cambial. Usar o investimento público para abrir caminho ao investimento privado em época de desconfiança e endividamento. Apostar mais no efeito do investimento sobre a demanda do que no efeito da demanda sobre o investimento.
Construir canais para levar a poupança de longo prazo ao investimento de longo prazo. Fortalecer o poder estratégico do Estado para ampliar o acesso das pequenas e médias empresas às práticas, às tecnologias e aos conhecimentos avançados. Dar primazia aos interesses da produção e do trabalho. Se há parte do Brasil onde este compromisso deve calar fundo, é São Paulo.
 
2. Capital e trabalho. 
Aécio: Flexibilizar as relações de trabalho para tornar mais fácil demitir e contratar. 
Dilma: Criar regime jurídico para proteger a maioria precarizada, cada vez mais em situações de trabalho temporário ou terceirizado. Imprensado entre economias de trabalho barato e economias de produtividade alta, o Brasil precisa sair por escalada de produtividade. Não prosperará como uma China com menos gente.
 
3. Serviços públicos. 
Aécio: Focar o investimento em serviços públicos nos mais pobres e obrigar a classe média, em nome da justiça e da eficiência, a arcar com parte do que ela custa ao Estado. 
Dilma: Insistir na universalidade dos serviços, sobretudo de educação e saúde, e fazer com que os trabalhadores e a classe média se juntem na defesa deles. Na saúde, fazer do SUS uma rede de especialistas e de especialidades, não apenas de serviço básico. E impedir que a minoria que está nos planos seja subsidiada pela maioria que está no SUS. Na segurança, unir as polícias entre si e com as comunidades. Crime desaba com presença policial e organização comunitária. A partir daí, encontrar maneiras para engajar a população, junto do Estado, na qualificação dos serviços de saúde, educação e segurança.
 
4. Educação. 
Aécio: Adotar práticas empresariais para melhorar, pouco a pouco, o desempenho das escolas, medido pelas provas internacionais, com o objetivo de formar força de trabalho mais capaz.
Dilma: A onda da universalização do ensino terá de ser seguida pela onda da qualificação. Acesso e qualidade só valem juntos. Prática empresarial, porém, tem horizonte curto e não resolve. Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia indicam o caminho: substituir decoreba por ensino analítico. E juntar o ensino geral ao ensino profissionalizante em vez de separá-los. Construir, do fundamental ao superior, escolas de referência. A partir delas, trabalhar com Estados e municípios para mudar a maneira de aprender e ensinar.
 
5. Política regional. 
Aécio: Política para região atrasada é resquício do nacional-desenvolvimentismo. Tudo o que se pode fazer é conceder incentivos às regiões atrasadas. 
Dilma: Política regional é onde a nova estratégia nacional de desenvolvimento toca o chão. Não é para compensar o atraso; é para construir vanguardas. Projeto de empreendedorismo emergente para o Nordeste e de desenvolvimento sustentável para a Amazônia representam experimentos com o futuro nacional.
 
6. Política exterior. 
Aécio: Conduzir política exterior de resultados, quer dizer, de vantagem comerciais. E evitar brigar com quem manda. 
Dilma: Unir a América do Sul. Lutar para tornar a ordem mundial de segurança e de comércio mais hospitaleira às alternativas de desenvolvimento nacional. E, num movimento em sentido contrário, entender-nos com os EUA, inclusive porque temos interesse comum em nos resguardar contra o poderio crescente da China. Política exterior é ramo da política, não do comércio. Poder conta mais do que dinheiro.
 
7. Forças Armadas. 
Aécio: O Brasil não precisa armar-se porque não tem inimigos. Só precisa deixar os militares contentes e calmos.
Dilma: O Brasil tem de armar-se para abrir seu caminho e poder dizer não. Não queremos viver em um mundo onde os beligerantes estão armados e os meigos, indefesos.
 
8. O público e o privado. 
Aécio: Independência do Banco Central e das agências reguladoras assegura previsibilidade aos investidores e despolitiza a política econômica. 
Dilma: A maneira de desprivatizar o Estado não é colocar o poder em mãos de tecnocratas que frequentam os grandes negócios. É construir carreiras de Estado para substituir a maior parte dos cargos de indicação política. E recusar-se a alienar aos comissários do capital o poder democrático para decidir.
 
Aécio propõe seguir o figurino que os países ricos do Atlântico Norte nos recomendam, porém nunca seguiram. Nenhum grande país se construiu seguindo cartilha semelhante. Certamente não os EUA, o país com que mais nos parecemos. Ainda bem que o candidato tem estilo conciliador para abrandar a aspereza da operação.
 
Dilma terá, para honrar sua mensagem e cumprir sua tarefa, de renovar sua equipe e sua prática, rompendo a camisa de força do presidencialismo de coalizão. E o Brasil terá de aprender a reorganizar instituições em vez de apenas redirecionar dinheiro. Ainda bem que a candidata tem espírito de luta, para poder aceitar pouco e enfrentar muito.
 
Estão em jogo nossa magia, nosso sonho e nossa tragédia. Nossa magia é a vitalidade assombrosa e anárquica do país. Nosso sonho é ver a vitalidade casada com a doçura. Nossa tragédia é a negação de instrumentos e oportunidades a milhões de compatriotas, condenados a viver vidas pequenas e humilhantes. Que em 26 de outubro o povo brasileiro, inconformado com nossa tragédia e fiel a nosso sonho, escolha o rumo audacioso da rebeldia nacional e afirme a grandeza do Brasil.
 
Artigo da Folha de São paulo 
Fonte:http://assisprocura.blogspot.com.br/ 

O sentimento de náusea do mundo político pernambucano

por Michel Zaidan Filho

 
            Quando Miguel Arraes de Alencar  tomou posse, pela terceira vez, do Governo de Pernambuco, ele citou uma conhecida frase de Carlos Drummond de Andrade que dizia: "tenho duas mãos e o sentimento do mundo". Se foi mais do que uma  mera frase de efeito, significaria que o velho líder do PSB queria dizer que, embora despojado de riqueza e poder, era portador do sentimento fundo das iniquidades sociais e que trabalharia para combatê-las, no exercício do seu último mandato. Infelizmente não pode fazê-lo,  em função da política de "terra arrasada" praticada contra ele pelo governo do PSDB e do PFL (leia-se Fernando Henrique  Cardoso e Jarbas Vasconcelos). Negaram-lhe até a antecipação de receita da privatização da CELPE, com que ele poderia pagar a folha dos servidores do Estado, no fim do seu melancólico mandato.

            É, portanto, com um sentimento de náusea  que se pode contemplar o espetáculo degradante em que se tornou o mundinho político de Pernambuco, reduzido aos interesses de uma família (mãe, nora, filho, irmão, primo, cunhada etc.) Foi nisso que se transformou o calvário da prisão e do exílio do velho Arraes: na formação de mais uma oligarquia familiar, que certamente pensa que o estado é seu  e pode ser rateado ou distribuído entre os parentes, os amigos e apaniguados. Alguns, muito novos, aliados de vésperas ou de conveniência. É nisso que se transformou o "leão do norte". Um mero botim para satisfação da ambição e a cupidez de uma minoria, atrelada  -na última hora  -à carruagem do vencedor.

           E as denúncias só se acumulam. Quando vamos desengavetar os processos sobre as licitações fraudulentas, que tratam de propinas aos políticos do PSB e PSDB, entre nós? Quando será apurado a denúncia do propinoduto da Petrobrás e o superfaturamento da Refinaria Abreu e Lima? - E os grampos da Polícia Federal, que surpreenderam as ligações promíscuas entre empresas e políticos do PSB. E o avião fantasma de Eduardo Campos? - E a doação post-mortem do ex-governador à irmã Marina Silva? E o favorecimento do candidato vencedor a empresários que intermediaram a compra da aeronave? - Nada vai ser apurado? Vai tudo para debaixo do tapete, como aconteceu com os escândalos do longo governo do FHC?

            Se nada for feito para apurar as denúncias e esclarecer a opinião pública, temos de convir que o processo eleitoral e seus resultados estão sob suspeita. A vitória eleitoral está longe de ser um indulto  ou anistia  para os crimes cometidos durante a campanha política. Pelo contrário: essa vitória será contestada, a cada minuto, pelas perguntas, dúvidas, incertezas, silêncio em relação aos indícios apresentados, desde o início, do processo eleitoral.Nem a morte, nem a vitória representam a  porta larga dos cortesões ao paraíso, por mais atraentes que sejam as burras de dinheiro do erário público, os cargos, as demissões, o tráfego de influência, o nepotismo, o troca-troca de favores e apoios recebidos etc.

           Se o Estado for mais do que um mero mercado persa, um balcão de negócios ao arrepio da lei e do controle da sociedade, é preciso agir: dá um basta a este festim alimentado pela memória de um morto, mas a serviço dos vivos, bem vivos - que sobreviveram para contar o dinheiro, as benesses, as vantagens auferidas pela necrofilia política praticada pelos amigos e correligionários.

           Os nossos ancestrais indígenas comiam a carne de seus adversários mortos (o banquete totêmico) numa espécie de homenagem à força, a sabedoria e a coragem dos inimigos. Mas esse canibalismo político atual, visa exclusivamente o botim, as vantagens, o lucro. Não a grandeza, despojamento, vocação de serviço, carisma, dom ou seja lá o que for. Apenas interesses. Só interesses.

                   Quanto tempo mais, estaremos dispostos a suportar esse triste espetáculo?
Fonte: http://blogdojolugue.blogspot.com.br/2014/10/michel-zaidan-filho-o-sentimento-de_12.html?spref=fb