quarta-feira, 30 de abril de 2014

Aos homens tudo é devido

Toda a gente sabe a his­tó­ria da sereia. Da prin­cesa filha do rei dos mares que durante um imenso tem­po­ral salva um rapaz de mor­rer afo­gado após o nau­frá­gio do navio onde nave­gava. Toda a gente sabe que ela se apai­xo­nou por ele, afi­nal prín­cipe tam­bém, mas na terra, e sabe-se que por causa desse amor tro­cou a cauda de peixe por um lindo par de per­nas — para poder par­ti­lhar desse mundo dele. Mas tam­bém toda a gente sabe que as tro­cas de natu­reza têm um preço ele­vado: as per­nas custaram-lhe a voz. Era uma prin­cesa muda. Assim mesmo tam­bém o prín­cipe terá gos­tado dela — só por um boca­di­nho, pois quando deci­diu casar, casou com a prin­cesa do reino vizi­nho que tinha voz e reino.
Toda a gente sabe que se a prin­cesa não casasse com ele não teria lugar na terra pois não era da terra. Mas para vol­tar a per­ten­cer ao mar, reto­mar a sua cauda de peixe, teria de o matar ela pró­pria antes do nas­cer do sol sobre a noite da lua de mel: enfiar-lhe um punhal de osso de tuba­rão na carne. Isso ou transformar-se ia em espuma do mar quando entrasse nas ondas. Pare­cia fácil matá-lo ao vê-lo tão feliz com a sua noiva, tão esque­cido dela. Porém, amava-o e foi assim que, como toda a gente sabe, ati­rou o punhal ao mar e a seguir jogou-se a si mesma nas ondas e se fez espuma na pri­meira luz da aurora.
Aos homens tudo é devido por­que são as mulhe­res que os parem. Eles nunca per­gun­tam por­que é que ela me ama? Perguntam-se: como é que ela não me ama? Essa é chave.
Penso que Sar­to­rio sabia que a his­tó­ria seria dife­rente se fosse o prín­cipe a sal­var a sereia da morte.
Fonte: http://www.escreveretriste.com/page/5/

Pense nisso antes de reclamar

terça-feira, 29 de abril de 2014

Cine Ipaumirim: Argentino


   


Informações:
Prêmios: Melhor Curta-metragem regional - IV Festival Paulínia de Cinema
Melhor Diretor regional - IV Festival Paulínia de Cinema
Prêmio do Juri Popular - IV Festival Paulínia de Cinema
Diretor/Director: Diego da Costa
Assistente de Direção/Director Assistant: Von Gabriel e Particia Castilho
Roteiro/Writer: Enric Llagostera
Produção Executiva/Executive Producer: Patrick Siaretta, Tatiana Quintella, Diego da Costa
Direção de Produção/Producer Director: Gustavo Cabral
Produção/Producer: Juliana Villiotti
Assist. Produção/ Producer assistent: Luis Rangel, Tamara Gigliotti
Diretor de Fotografia/Cinematographer: Heloísa Ururahy
Assistente de Câmera/Camera Assistant: Anna Leticia
Diretor de Arte/Art Director: Yara de Barros, Ana Lua contatore, Alice Dalgalarrondo
Figurino/Costume Design: Manuela Romeiro e Flávia Penereiro
Maquiagem/Makeup: Clayton Cardoso
Montagem/Film Editing: Henrique Cartaxo, Cartano Biasi
Trilha Sonora/Soundtrack: Pedro Assad, Gustavo Mazon
Desenho de Som e Mixagem/Sound Design and Audio Mixing: Eduardo
Barbosa, André Menezes e Pedro Noizyman
Som Direto/Direct Sound: Gabriel Tonelo
Design Gráfico/Graphic Design: Fernanda Brenner
Produção de Locação/Set Production: Nicolas Pirata
Fotografia Still/Still Pictures: Ana Rute Mendes
Maquinária/Key Grip: Chris Ribeiro
Preparação de Elenco/Cast Direction: Diego da Costa
Making off: Tarsila Nakamura, Luiza Folegatti
Produção: Paranoid Films, Produtora Imago
Distribuição: Florinda Produções

domingo, 27 de abril de 2014

Mil cópulas não valem um grande beijo

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(Fabio Hernandez)

Pedro estava em seu pequeno apartamento de jornalista solteiro. O clássico entre os jornalistas: muitos livros e discos, pouca ou nenhuma organização, garrafas variadas de bebida, comida precária. Roupas, em geral baratas, espalhadas pelos cômodos, algumas delas no chão. Gravuras bem escolhidas, e jamais caras, nas paredes. Alguns pôsteres. Um deles, seu predileto, mostrava a cena final de Butch Cassidy: os dois mocinhos feridos, revólveres em ambas as mãos, correndo rumo à morte ignorada. Um retrato do pai. Pedro estava deitado na cama baixa.
“Gostaria tanto de ter dado um jeito em seu apartamento e em você”, disse Carol. Ela estava se vestindo, na beira da cama, e ao mesmo tempo indo embora. Naquela tarde, tinha avisado a Pedro que o caso deles acabara. O marido banqueiro começara a suspeitar de que algo estranho estava acontecendo com a mulher, e tudo ficara complicado.
Carol amava Pedro, mas não a ponto de colocar em risco sua vida de mulher da sociedade paulistana. Não era apenas o marido que estava em jogo, mas o círculo de amigos, os jantares e as festas e os almoços em que aquela pequena elite fugia do tédio à base de flertes entre os casais, bebida fina e antidepressivos da última geração.
“Sinto que fracassei”, disse Carol. “Saio da sua vida e você está do mesmo jeito que estava quando entrei nela.”
“E você, você mudou em alguma coisa?”, Pedro perguntou.
Ela riu, e quando isso acontecia seus enormes olhos verdes brilhavam como faróis solitários num mar bravio e remoto.
“Melhorei muito no beijo, com certeza. Pedro. Jamais existiu antes para mim e nem vai existir no futuro um beijo como o nosso. Eu tinha vontade de te beijar pela eternidade. Disso, do beijo, é que vou sentir mais falta. Não que do resto não vá sentir, mas …”
“Mil cópulas não valem um grande beijo”, disse ele. “Li isso outro dia num blog.”
“Legenda, por favor.” Sempre que ele usava uma palavra que ela desconhecia, ela pedia a legenda.
“Sexo. Cópula é uma maneira vulgar, mas interessante, de dizer sexo. Fazer amor também é vulgar, só que é desinteressante”, ele disse, e sorriu.
“Gosto da sua risada, Pedro. Também vou sentir falta dela. Risada de menino. Inocente. O tempo transforma a risada numa coisa maliciosa, mas você conservou a inocência no riso.”
“Também gosto da sua. Um escritor, não sei qual. Um grande escritor. Ele disse que contava nos dedos o número de mulheres capazes de gargalhar sem ficar ridículas. Esqueci o nome do escritor, mas não a frase. Você é um caso desses. Ri e gargalha com classe.”
“Você me acha calculista por eu estar indo embora, Pedro? Uma vez você disse que eu parecia uma máquina de calcular.”
“Você disse que se sentia fracassada por não ter dado um jeito em mim e no meu apartamento. O meu fracasso foi não ter transformado você numa mulher irresponsável como eu, Carol. Era uma missão acima das minhas forças, agora eu entendo. Mas num certo momento eu achei que podia o impossível com você. Sou … sou … sei lá, um otimista amoroso. Ou tolo.”
Ela acabara de se vestir.
“Vou sentir falta deste seu vestido”, ele disse. Era um vestido de tecido fino e de muitas transparências. Um decote grande e algumas rendas. Quem o escolhera, pacientemente, fora o marido de Carol. Numa manhã de sábado ele a acompanhara a uma loja fina do Iguatemi, e ela experimentou vários vestidos. Pedira ao marido que escolhesse aquele que mais a fizesse irresistível. Carol estreou o vestido com Pedro.
“Só não te dou agora o vestido porque, bem, porque bem não dá pra sair assim daqui”, disse Carol.
Pedro riu. Lembrou-se de um episódio de Friends em que a namorada de Ross pedia a ele, na despedida, que lhe desse de recordação uma camisa rosa que ele amava. Ela já estava com a camisa na mão. Era uma cena romântica. Ele pensa por um instante e diz, firme: “Não”. Ao mesmo tempo, pega de volta a camisa. O jeito Friends de lidar com cenas românticas.
“Pedro. Também vou sentir falta da imagem de você cheirando os dedos.”
Pedro riu. “Carol, é melhor você parar de falar assim. Sou meio sentimental, e não quero fazer uma cena na hora da despedida. Não quero que lágrimas atrapalhem a última visão de você.”
“Você dizia que era o melhor cheiro do mundo”, disse Carol.
“E é. A combinação de seu perfume de mulher rica com sua essência íntima de fêmea. Uma vez eu fiquei um dia inteiro sem lavar as mãos. Quando estava desanimado levava as mãos ao nariz e sorvia o ar como um mergulhador que demora a subir.”
O celular de Carol tocou. Era o marido. Pedro entendeu que a hora chegara.
“Você. Você canta para mim uma vez, a última vez? Aquela música.”
Ela sabia bem qual era a música. Pedro era um esnobe cultural, e gostava do seu esnobismo. Jamais ouvira música espanhola romântica. Desprezava Julio Iglezias e outros cantores similares. Até o dia em que Carol, do nada, começou a cantar para ele Corazon Partido.
Jamais ouvira esta música. Carol não cantava como uma profissional, mas era afinada e tinha voz bonita. Secretamente, ele pusera Corazon Partido em seu iPod, e às vezes escutava obsessivamente. Carol, nessas horas, aparecia em sua mente, linda, vivaz, apaixonada, arrebatadora, os imensos olhos verdes fixados nele. Carol o influenciara mais do que Pedro poderia imaginar. Nenhuma outra mulher antes conseguira fazê-lo gostar de uma música romântica e brega espanhola.
Ela atendeu ao pedido de Pedro. E después de ti, después de ti no hay nada. Era o trecho de que mais ele gostava. Quando ela terminou, disse a Pedro: “Posso também pedir uma coisa?”
Pedro aquiesceu com a cabeça.
Ela foi a Pedro e o beijou. Já na porta, ela disse a ele: “Aquele livro. O primeiro que você me deu. Dostoievski. A frase final. Tudo podia ter sido tão diferente. Para nós também, Pedro. Tudo podia ter sido tão diferente. Mas … mas eu também não quero que lágrimas distorçam minha última visão de você, Pedro. Pedro. Meu Pedro.”
E então ela partiu, apressada, rumo a seu marido e a sua vida de mulher da sociedade.

Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/mil-copulas-nao-valem-um-grande-beijo-3/

Gente de IP

O poeta Gerson Carlos de Morais

As rimas e violas de Gerson Carlos de Morais
Cristiano Moura
Gerson Carlos de Morais nasceu a 5 de outubro de 1928 no Sítio Ingá, município de Ipaumirim (CE), filho de José Carlos de Morais e Joaquina Hosana de Souza. Cursou a primeira série ginasial em 1953. Trabalhou de balconista nos estabelecimentos: Armazém São Paulo e Armazém Paulista, de Francisco Matias Rolim, nas Nações Unidas, de Joca Claudino, e no Armazém das Fábricas, de Waldemar Matias Rolim.

No dia 31 de maio de 1964 fundou o programa “Quando as Violas se Encontram”, na Difusora Rádio Cajazeiras, onde cantou cinco anos com os cantadores: José Vicente de Souza, Francisco Guedes Garcia, Geraldo Amâncio Pereira, Sebastião da Silva e Raimundo Borges. Fundou o programa “Rimas e Violas” na Rádio Alto Piranhas; em sua fundação, entregou-o aos cantadores José do Monte Neto e João Tavares de Sousa. Anos depois, Gerson Carlos ficou no programa “Rimas e Violas”, com os cantadores Fenelom Dantas, José Monte e Expedito Sobrinho.

No dia 31 de maio de 1975, por sua criatividade, com apoio de José Monte Neto, Expedito Sobrinho, João Amaro, J. Abel, Francisco Genésio, Vicente Correia, Valdeci Bezerra e seu amigo sargento Nonato Correia Lima, fundou a Associação Cajazeirense dos Violeiros e Poetas Populares (ACVPP), sendo o primeiro presidente e voltando à presidência por vários mandatos.

Foi vereador em Bom Jesus, pelo PSL, de 1979 a 1982. Em 1997, lançou o livro “Pérolas da Poesia”. Faleceu a 30 de outubro de 2013, em São Carlos (SP), aonde residia atualmente ao lado da esposa Dulce Carlos, das filhas, genros e netos.

Fonte: http://cajazeirasdeamor.blogspot.com.br/

sábado, 26 de abril de 2014

As perguntas que não são feitas nas pesquisas eleitorais

Rompendo o tédio da rotina dos questionários elaborados pelos institutos de pesquisa, formulei seis perguntas cujos resultados me interessariam conhecer.



Arquivo
Wanderley Guilherme dos Santos

Pesquisas de opinião são orientadas, claro, e as eleitorais não constituem exceção. Se alguém deseja saber quem prefere maçã ou banana deve perguntar justamente isso, sem confundir o pesquisado com as opções de abacaxis e mangas. Muitas pesquisas eleitorais desorientam os entrevistados ao introduzir opções que nada mais são do que abacaxis e mangas, nomes de candidatos sabidamente estéreis no contexto eleitoral efetivo. Obtêm-se antes de tudo uma idéia da dispersão aleatória da preferência eleitoral, não as escolhas sólidas a aparecer com perguntas focadas no que está, de fato, em jogo.  Mas nada impede que se investigue se o freguês é mais afeito a frutas ácidas ou cremosas – um tanto mais geral e inespecífica do que a pergunta anterior.
 
Com maior ou menor generalidade o que importa é que há um mundo de interrogações adequadas ao conjunto das frutas, todas legítimas, respeitadas modestas regras de lógica. Simples, mas esquecido quando os institutos divulgam seus resultados, aceitos com sagrada intimidação. Na verdade, os mesmos tópicos das pesquisas podem ser investigados por inquéritos variados, nada havendo de interdito no terreno do mexerico.

Em pesquisas de opinião são fundamentais a representatividade da amostra dos pesquisados, a correção dos questionários e, concluindo, a leitura dos resultados. É intuitivo que em uma comunidade onde 99% são religiosos o inquérito não pode concentrar-se no 1% restante, exceto se o pesquisador estiver interessado justamente na opinião da extrema minoria de agnósticos que ali vivem. Isto respeitado, tudo bem quanto à representatividade dos números.

Mas a leitura dos resultados pode ser marota. Jogando uma moeda para o ar centenas de vezes, o número de experimentos em que ao cair a moeda mostrará a “cara” tende a ser o mesmo número de “coroas”. Ignorando quando e porque acontece uma ou outra coisa, deduz-se que a probabilidade de dar “cara” ou “coroa” é de 50%, ou seja, metade das vezes uma, metade, a outra. Em certos convescotes essa peculiaridade é chamada de “acaso”.

Mas essa é uma probabilidade diferente da que indica o futuro do clima, por exemplo. As chances de que chova nas próximas 48 horas não é derivada diretamente de uma série de 48 horas do passado, mas das condições em que milhares de 48 horas foram chuvosas: umidade do ar, regime de ventos, formação de nuvens, etc. explicam com relativo grau de precisão (a probabilidade) as variações climáticas. O que justifica o probabilismo é o conhecimento das particularidades associadas ao aparecimento do fenômeno “chuva”, não o mero fato de sua repetição.

Pois a probabilidade derivada de uma série de pesquisas eleitorais é análoga à do jogo “cara” ou “coroa”, não à dos prognósticos atmosféricos. De onde se segue serem um tanto marotas as previsões de resultados eleitorais apoiadas em séries históricas, por mais extensas que sejam. A diferença é ontológica: uma eleição não é um jogo de “cara” ou “coroa”. A seguir, uma crítica, digamos, construtiva. 

Rompendo o tédio da rotina dos questionários elaborados pelos institutos de pesquisa, formulei seis perguntas cujos resultados me interessariam conhecer. Aí vão:

1 – o Sr(a) prefere:
    a) continuar com a presidenta atual (Dilma Roussef)
    b) voltar ao governo do PSDB (Aécio Neves)
    c) indiferente

2 – o Sr(a) votaria em alguém que:
       a) defende a manutenção do emprego de quem trabalha
       b) promete medidas impopulares
       c) indiferente

3) – o Sr(a) apóia o controle nacional do petróleo do pré-sal?
        a) sim
        b) não
        c) indiferente

4) - A oposição atual representa seu ideal de governo?
     a) sim
     b) não
     c) indiferente

5) Em relação à distribuição de renda o Sr.(a) é:
     a) a favor
     b) contra
     c) indiferente

6) Os atrasos na conclusão de aeroportos e estádios demonstram que:
     a) a iniciativa privada não é confiável
     b) há sempre imprevistos em grandes obras
     c) indiferente


Escolhi agregar todos os votos “não sei/prefiro não responder”, brancos e nulos em uma única opção porque estou interessado somente nas escolhas claras. E indiquei o nome de dois candidatos na pergunta 1 porque este é o desenho do questionário e, conforme o manual da boa pesquisa, o entrevistado deve estar de posse das informações relevantes para responder corretamente. Naturalmente, os entrevistados com preferência por outros nomes ou por nenhum estariam representados na resposta c.

O diabo é que ninguém acredita que os questionários dos institutos são apenas uma aproximação do que os eleitores perguntam a si mesmos, na hora do vamos ver. Por isso suas pesquisas ao final de uma corrida eleitoral se tornam mais diretas e econômicas, reduzindo o percentual de erro. Ainda assim, por vezes o palpite estatístico é desastrosamente equivocado. É quando o instituto, ao contrário de tentar replicar o que pensa o eleitor, busca fazer com que o eleitor pense como ele. Não dá certo.
 
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/As-perguntas-que-nao-sao-feitas-nas-pesquisas-eleitorais/4/30793

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Quanto vale um secador de cabelo?

por Rui Rocha

Gabo já tinha publicado algumas obras. Apesar disso, a vida corria-lhe com aperto, restrições e penúria. Naquele ano de 1967, consumia-se no esforço de encontrar editor para o novo livro. As portas, todavia, mantinham-se fechadas. Que era demasiado longo. Que não era aquilo que as pessoas procuravam. Por essa altura, na Argentina, Luis Herss concluíra um ensaio sobre os dez escritores mais representativos da, assim se dizia, Nova Literatura. É possível que no mesmo momento em que Herss abriu a porta do gabinete de Paco Porrúa para lhe apresentar o seu trabalho, a milhares de quilómetros dali mais uma porta de um editor se estivesse a fechar na cara de Gabo. Servir-lhe-ia certamente de consolo saber que alguma coisa, chamemos-lhe providência, se tinha já posto em marcha para alinhar os cordelinhos que vão tecendo o futuro em proveito do seu enorme talento. Todavia, esse ainda não era o tempo de Gabo. Para já, a única certeza que tinha era que aquele livro tão grande era um grande livro. Tudo o resto, era angústia. Paco Porrúa, esse conhecia já nove dos dez escritores referidos por Herss. Quis conhecer o décimo. As rodas dentadas da engrenagem que levariam Gabo ao sucesso continuavam a mover-se lentamente. O contacto com Porrúa foi estabelecido, apesar das dificuldades. Os trâmites burocráticos foram vencidos. A certa altura, a luta de Gabo pela publicação do novo livro estava à distância do envio do manuscrito pelo correio. Uma e outra vez tomamos o sucesso pela sua manifestação no momento em que se concretiza. Como se não houvesse caminho, pedras para desviar, dúvidas, escolhas dolorosas, fracassos e redenções. Para um escritor a quem a roda da fortuna ainda não tinha favorecido, o envio de um manuscrito com centenas de páginas pode constituir um escolho quase insuperável. O custo do correio, do México para a Argentina, pode ser bem mais do que aquilo que alguém pode pagar quando no bolso tem apenas a fórmula mágica que permite dar sentido às palavras e desorganizar o mundo. Foi preciso escolher. Para reduzir o custo, o manuscrito seria dividido em duas partes. Seguiriam os primeiros dez capítulos num primeiro envio. Depois, logo se veria. Mesmo assim, era maior o peso da encomenda do que os pesos mexicanos que Gabo tinha na carteira. Mercedes ficaria sem secador, vendido em estado de necessidade a alguma vizinha para completar a importância necessária. À saída dos correios, Mercedes não pode evitar um comentário: olha, Gabo, agora só faltava que a novela não prestasse... Ao que parece, com a atrapalhação própria de quem pressente um encontro com a história, no momento do envio Gabo trocou os volumes e acabou por seguir, por engano, a segunda metade do livro. Tal não impediu que Porrúa assumisse definitivamente as rédeas do futuro e que acelerasse os passos necessários à publicação. O que lera bastara para se convencer de que estava perante uma obra prima. Agora que Gabo perdeu a memória,  podemos até duvidar que as coisas se tenham passado exactamente assim. Mas, se apreciamos o realismo mágico da escrita, não há motivo para não acreditar que a magia da realidade tenha sincronizado o espaço, o tempo e estas circunstâncias nos dias que precederam a publicação de Cem Anos de Solidão. E que o facto de o livro não se ter perdido com a memória do seu autor se deve, em boa parte, ao valor em pesos mexicanos do secador de Mercedes.
Fonte:  http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/

Da Liberdade

por Rui Herbon,

É saudável pensar no valor da liberdade todos os dias. Quando se fala pouco ou de passagem das liberdades individuais corremos o risco de esquecê-las e submetermo-nos aos arbítrios de poucos, ou de muitos, tanto faz, que querem a uniformidade do pensamento e da acção. A sociedade é plural por natureza. Querer encaixar todos num partido – uso o termo em sentido lato – é um abuso contra a dignidade das pessoas.
 
Vou reproduzir três textos sobre a liberdade extraídos de leituras antigas.

O primeiro é de Stefan Zweig no seu ensaio sobre Montaigne. Diz Zweig que «o único erro, o único crime é querer encerrar a diversidade do mundo em doutrinas e sistemas, afastar os outros homens do seu livre arbítrio, do que realmente querem, e obrigá-los a querer algo que não está neles. Assim actuam os que não respeitam a liberdade, e Montaigne abominava o frenesi dos ditadores do espírito que, com arrogância e vaidade, queriam impor ao mundo as suas novidades e para quem o sangue de centenas de milhares de homens nada importava, desde que saíssem victoriosos».

A outra citação é de José Antonio Marina, que em Os sonhos da razão escreve que «quando em Maio de 1793 a Convenção aprovou as perseguições revolucionárias, Marat explicou o sentido da medida: a liberdade, disse, deve estabelecer-se mediante a violência. Chegou o momento de organizar momentaneamente o despotismo da liberdade para destroçar o despotismo dos reis. Isso já o havia dito Rousseau quando afirmou que há que obrigar as pessoas a serem livres».

A terceira referência escreveu-a George Steiner em The New Yorker falando do perigo da tirania. Disse que «sabemos – e deveríamos saber desde as fantasias utópicas de Platão – que os ideais de igualdade, de racionalidade colectiva, de austeridade abnegada, somente se podem impor por um custo totalmente inaceitável. O egoísmo humano, o impulso competitivo, a ânsia de esbanjamento e ostentação só podem ser afogados por uma violência tirânica. E, por sua vez, aqueles que exercem semelhante violência desintegram-se eles próprios na corrupção. De maneira inelutável, os ideais colectivistas-socialistas parecem conduzir a uma forma ou outra de Gulag».

Fim de citações.
Fonte: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/
 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

terça-feira, 22 de abril de 2014

A Páscoa nossa de todos os dias

 
Renovação e luta representam o verdadeiro sentido da Páscoa que deve amanhecer conosco todos os dias.

domingo, 20 de abril de 2014

1967 latinoamericano: o Gabo e o Che


A notícia mais importante da sua vida não foi a dolorosa notícia de ontem, nem tampouco o Premio Nobel de 1982, mas o lançamento de Cem Anos de Solidão, em 1967

por Emir Sader



Emir Sader


O discurso do Gabo ao receber o Nobel de Literatura é a mais notável reivindicação da América Latina. Ali, ele afirma que, da mesma forma se reconhece ao nosso continente sua criatividade, sua originalidade e sua criatividade nas artes, se deve deixar de tentar impor-nos  projetos políticos desde fora, deixando-nos exercer, da mesma maneira, nos caminhos da nossa história, essa criatividade, essa genialidade e essa originalidade, que nos reconhecem no campo das artes.

A íntegra do discurso


Segue abaixo a íntegra desse discurso, com texto e áudio em sua forma original, para homenagear Gabo e a lingua que trabalhou durante toda sua vida:



"Antonio Pigafetta, un navegante florentino que acompañó a Magallanes en el primer viaje alrededor del mundo, escribió a su paso por nuestra América meridional una crónica rigurosa que sin embargo parece una aventura de la imaginación. Contó que había visto cerdos con el ombligo en el lomo, y unos pájaros sin patas cuyas hembras empollaban en las espaldas del macho, y otros como alcatraces sin lengua cuyos picos parecían una cuchara. Contó que había visto un engendro animal con cabeza y orejas de mula, cuerpo de camello, patas de ciervo y relincho de caballo. Contó que al primer nativo que encontraron en la Patagonia le pusieron enfrente un espejo, y que aquel gigante enardecido perdió el uso de la razón por el pavor de su propia imagen.

Este libro breve y fascinante, en el cual ya se vislumbran los gérmenes de nuestras novelas de hoy, no es ni mucho menos el testimonio más asombroso de nuestra realidad de aquellos tiempos. Los cronistas de Indias nos legaron otros incontables. Eldorado, nuestro país ilusorio tan codiciado, figuró en mapas numerosos durante largos años, cambiando de lugar y de forma según la fantasía de los cartógrafos. En busca de la fuente de la Eterna Juventud, el mítico Alvar Núñez Cabeza de Vaca exploró durante ocho años el norte de México, en una expedición venática cuyos miembros se comieron unos a otros y sólo llegaron cinco de los 600 que la emprendieron. Uno de los tantos misterios que nunca fueron descifrados, es el de las once mil mulas cargadas con cien libras de oro cada una, que un día salieron del Cuzco para pagar el rescate de Atahualpa y nunca llegaron a su destino. Más tarde, durante la colonia, se vendían en Cartagena de Indias unas gallinas criadas en tierras de aluvión, en cuyas mollejas se encontraban piedrecitas de oro. Este delirio áureo de nuestros fundadores nos persiguió hasta hace poco tiempo. Apenas en el siglo pasado la misión alemana de estudiar la construcción de un ferrocarril interoceánico en el istmo de Panamá, concluyó que el proyecto era viable con la condición de que los rieles no se hicieran de hierro, que era un metal escaso en la región, sino que se hicieran de oro.

La independencia del dominio español no nos puso a salvo de la demencia. El general Antonio López de Santana, que fue tres veces dictador de México, hizo enterrar con funerales magníficos la pierna derecha que había perdido en la llamada Guerra de los Pasteles. El general García Moreno gobernó al Ecuador durante 16 años como un monarca absoluto, y su cadáver fue velado con su uniforme de gala y su coraza de condecoraciones sentado en la silla presidencial. El general Maximiliano Hernández Martínez, el déspota teósofo de El Salvador que hizo exterminar en una matanza bárbara a 30 mil campesinos, había inventado un péndulo para averiguar si los alimentos estaban envenenados, e hizo cubrir con papel rojo el alumbrado público para combatir una epidemia de escarlatina. El monumento al general Francisco Morazán, erigido en la plaza mayor de Tegucigalpa, es en realidad una estatua del mariscal Ney comprada en París en un depósito de esculturas usadas.

Hace once años, uno de los poetas insignes de nuestro tiempo, el   chileno Pablo Neruda, iluminó este ámbito con su palabra. En las buenas conciencias de Europa, y a veces también en las malas, han irrumpido desde entonces con más ímpetus que nunca las noticias fantasmales de la América Latina, esa patria inmensa de hombres alucinados y mujeres históricas, cuya terquedad sin fin se confunde con la leyenda. No hemos tenido un instante de sosiego. Un presidente prometeico atrincherado en su palacio en llamas murió peleando solo contra todo un ejército, y dos desastres aéreos sospechosos y nunca esclarecidos segaron la vida de otro de corazón generoso, y la de un militar demócrata que había restaurado la dignidad de su pueblo.

En este lapso ha habido 5 guerras y 17 golpes de estado, y surgió un dictador luciferino que en el nombre de Dios lleva a cabo el primer etnocidio de América Latina en nuestro tiempo. Mientras tanto 20 millones de niños latinoamericanos morían antes de cumplir dos años, que son más de cuantos han nacido en Europa occidental desde 1970. Los desaparecidos por motivos de la represión son casi los 120 mil, que es como si hoy no se supiera dónde están todos los habitantes de la ciudad de Upsala. Numerosas mujeres arrestadas encintas dieron a luz en cárceles argentinas, pero aún se ignora el paradero y la identidad de sus hijos, que fueron dados en adopción clandestina o internados en orfanatos por las autoridades militares. Por no querer que las cosas siguieran así han muerto cerca de 200 mil mujeres y hombres en todo el continente, y más de 100 mil perecieron en tres pequeños y voluntariosos países de la América Central, Nicaragua, El Salvador y Guatemala. Si esto fuera en los Estados Unidos, la cifra proporcional sería de un millón 600 mil muertes violentas en cuatro años.

De Chile, país de tradiciones hospitalarias, ha huido un millón de personas: el 10 por ciento de su población. El Uruguay, una nación minúscula de dos y medio millones de habitantes que se consideraba como el país más civilizado del continente, ha perdido en el destierro a uno de cada cinco ciudadanos. La guerra civil en El Salvador ha causado desde 1979 casi un refugiado cada 20 minutos. El país que se pudiera hacer con todos los exiliados y emigrados forzosos de América Latina, tendría una población más numerosa que Noruega.

Me atrevo a pensar que es esta realidad descomunal, y no sólo su expresión literaria, la que este año ha merecido la atención de la Academia Sueca de las Letras. Una realidad que no es la del papel, sino que vive con nosotros y determina cada instante de nuestras incontables muertes cotidianas, y que sustenta un manantial de creación insaciable, pleno de desdicha y de belleza, del cual éste colombiano errante y nostálgico no es más que una cifra más señalada por la suerte. Poetas y mendigos, músicos y profetas, guerreros y malandrines, todas las criaturas de aquella realidad desaforada hemos tenido que pedirle muy poco a la imaginación, porque el desafío mayor para nosotros ha sido la insuficiencia de los recursos convencionales para hacer creíble nuestra vida. Este es, amigos, el nudo de nuestra soledad.

Pues si estas dificultades nos entorpecen a nosotros, que somos de su esencia, no es difícil entender que los talentos racionales de este lado del mundo, extasiados en la contemplación de sus propias culturas, se hayan quedado sin un método válido para interpretarnos. Es comprensible que insistan en medirnos con la misma vara con que se miden a sí mismos, sin recordar que los estragos de la vida no son iguales para todos, y que la búsqueda de la identidad propia es tan ardua y sangrienta para nosotros como lo fue para ellos. La interpretación de nuestra realidad con esquemas ajenos sólo contribuye a hacernos cada vez más desconocidos, cada vez menos libres, cada vez más solitarios. Tal vez la Europa venerable sería más comprensiva si tratara de vernos en su propio pasado.

Si recordara que Londres necesitó 300 años para construir su primera muralla y otros 300 para tener un obispo, que Roma se debatió en las tinieblas de incertidumbre durante 20 siglos antes de que un rey etrusco la implantara en la historia, y que aún en el siglo XVI los pacíficos suizos de hoy, que nos deleitan con sus quesos mansos y sus relojes impávidos, ensangrentaron a Europa con soldados de fortuna. Aún en el apogeo del Renacimiento, 12 mil lansquenetes a sueldo de los ejércitos imperiales saquearon y devastaron a Roma, y pasaron a cuchillo a ocho mil de sus habitantes.

No pretendo encarnar las ilusiones de Tonio Kröger, cuyos sueños de unión entre un norte casto y un sur apasionado exaltaba Thomas Mann hace 53 años en este lugar. Pero creo que los europeos de espíritu clarificador, los que luchan también aquí por una patria grande más humana y más justa, podrían ayudarnos mejor si revisaran a fondo su manera de vernos. La solidaridad con nuestros sueños no nos haría sentir menos solos, mientras no se concrete con actos de respaldo legítimo a los pueblos que asuman la ilusión de tener una vida propia en el reparto del mundo.

América Latina no quiere ni tiene por qué ser un alfil sin albedrío, ni tiene nada de quimérico que sus designios de independencia y originalidad se conviertan en una aspiración occidental.

No obstante, los progresos de la navegación que han reducido tantas distancias entre nuestras Américas y Europa, parecen haber aumentado en cambio nuestra distancia cultural. ¿Por qué la originalidad que se nos admite sin reservas en la literatura se nos niega con toda clase de suspicacias en nuestras tentativas tan difíciles de cambio social? ¿Por qué pensar que la justicia social que los europeos de avanzada tratan de imponer en sus países no puede ser también un objetivo latinoamericano con métodos distintos en condiciones diferentes? No: la violencia y el dolor desmesurados de nuestra historia son el resultado de injusticias seculares y amarguras sin cuento, y no una confabulación urdida a 3 mil leguas de nuestra casa. Pero muchos dirigentes y pensadores europeos lo han creído, con el infantilismo de los abuelos que olvidaron las locuras fructíferas de su juventud, como si no fuera posible otro destino que vivir a merced de los dos grandes dueños del mundo. Este es, amigos, el tamaño de nuestra soledad.

Sin embargo, frente a la opresión, el saqueo y el abandono, nuestra respuesta es la vida. Ni los diluvios ni las pestes, ni las hambrunas ni los cataclismos, ni siquiera las guerras eternas a través de los siglos y los siglos han conseguido reducir la ventaja tenaz de la vida sobre la muerte. Una ventaja que aumenta y se acelera: cada año hay 74 millones más de nacimientos que de defunciones, una cantidad de vivos nuevos como para aumentar siete veces cada año la población de Nueva York. La mayoría de ellos nacen en los países con menos recursos, y entre éstos, por supuesto, los de América Latina. En cambio, los países más prósperos han logrado acumular suficiente poder de destrucción como para aniquilar cien veces no sólo a todos los seres humanos que han existido hasta hoy, sino la totalidad de los seres vivos que han pasado por este planeta de infortunios.

Un día como el de hoy, mi maestro William Faulkner dijo en este lugar: «Me niego a admitir el fin del hombre». No me sentiría digno de ocupar este sitio que fue suyo si no tuviera la conciencia plena de que por primera vez desde los orígenes de la humanidad, el desastre colosal que él se negaba a admitir hace 32 años es ahora nada más que una simple posibilidad científica. Ante esta realidad sobrecogedora que a través de todo el tiempo humano debió de parecer una utopía, los inventores de fábulas que todo lo creemos, nos sentimos con el derecho de creer que todavía no es demasiado tarde para emprender la creación de la utopía contraria. Una nueva y arrasadora utopía de la vida, donde nadie pueda decidir por otros hasta la forma de morir, donde de veras sea cierto el amor y sea posible la felicidad, y donde las estirpes condenadas a cien años de soledad tengan por fin y para siempre una segunda oportunidad sobre la tierra.

Agradezco a la Academia de Letras de Suecia el que me haya distinguido con un premio que me coloca junto a muchos de quienes orientaron y enriquecieron mis años de lector y de cotidiano celebrante de ese delirio sin apelación que es el oficio de escribir. Sus nombres y sus obras se me presentan hoy como sombras tutelares, pero también como el compromiso, a menudo agobiante, que se adquiere con este honor. Un duro honor que en ellos me pareció de simple justicia, pero que en mí entiendo como una más de esas lecciones con las que suele sorprendernos el destino, y que hacen más evidente nuestra condición de juguetes de un azar indescifrable, cuya única y desoladora recompensa, suelen ser, la mayoría de las veces, la incomprensión y el olvido.

Es por ello apenas natural que me interrogara, allá en ese trasfondo secreto en donde solemos trasegar con las verdades más esenciales que conforman nuestra identidad, cuál ha sido el sustento constante de mi obra, qué pudo haber llamado la atención de una manera tan comprometedora a este tribunal de árbitros tan severos. Confieso sin falsas modestias que no me ha sido fácil encontrar la razón, pero quiero creer que ha sido la misma que yo hubiera deseado. Quiero creer, amigos, que este es, una vez más, un homenaje que se rinde a la poesía. A la poesía por cuya virtud el inventario abrumador de las naves que numeró en su Iliada el viejo Homero está visitado por un viento que las empuja a navegar con su presteza intemporal y alucinada. La poesía que sostiene, en el delgado andamiaje de los tercetos del Dante, toda la fábrica densa y colosal de la Edad Media. La poesía que con tan milagrosa totalidad rescata a nuestra América en las Alturas de Machu Pichu de Pablo Neruda el grande, el más grande, y donde destilan su tristeza milenaria nuestros mejores sueños sin salida. La poesía, en fin, esa energía secreta de la vida cotidiana, que cuece los garbanzos en la cocina, y contagia el amor y repite las imágenes en los espejos.

En cada línea que escribo trato siempre, con mayor o menor fortuna, de invocar los espíritus esquivos de la poesía, y trato de dejar en cada palabra el testimonio de mi devoción por sus virtudes de adivinación, y por su permanente victoria contra los sordos poderes de la muerte. El premio que acabo de recibir lo entiendo, con toda humildad, como la consoladora revelación de que mi intento no ha sido en vano. Es por eso que invito a todos ustedes a brindar por lo que un gran poeta de nuestras Américas, Luis Cardoza y Aragón, ha definido como la única prueba concreta de la existencia del hombre: la poesía.


Muchas gracias.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/1967-latinoamericano-o-Gabo-e-o-Che/2/30750

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Convite missa 30º dia



Geralda Almeida e familiares convidam parentes e amigos para a missa de 30 dias de falecimento em memória do seu esposo, Manuel Almeida Gonçalves, a ser realizada na capela do Sítio Barra no dia 20 de abril, domingo, às 8h30m da manhã. Desde já agradecem a presença e a solidariedade de todos pela consideração e amizade. 

HOJE, 30 DIAS SEM MEU PAI. ( Rosimeire Gonçalves Torquato)



Papai, que a saudade que tenho seja substituída pela admiração e amor por ti, que espalhou amor, sabedoria e experiências aqui na terra. Seu olhar seguro,  meigo, manso e a  sua voz calma, serena e sincera  ecoam nos meus ouvidos.  Seus conselhos que  revelam sua experiência de vida  serão sempre presentes na minha vida.  O senhor, PAPAI, me fascinava!  Fomos tão próximos, tão nós, tão família, tão iguais! Como sinto vontade de soltar a minha voz, e te chamar. Procuro teu olhar carinhoso, tua voz serena, tuas palavras amenas, agora só encontradas nas lembranças guardadas.   PAPAI, você sempre será meu ídolo, meu herói. 

Ah, que vontade de voltar no tempo, para reviver cada sorriso, cada passeio, cada abraço, cada momento que jamais será esquecido; todas as vezes que o senhor nos chamava de “FOFURAS” e chamava mamãe de “JUDITE”, até mesmo cada vez que o senhor dizia assim: “OLÁ COMADE ROSA”,  como dói Papai saber que não mais ouvirei sua voz a me chamar. Quantos dias ouvi seus conselhos por telefone mesmo de longe.  De todas as experiências difíceis que tive na vida, essa é a pior, é a maior dor que já senti. Uma dor que ultrapassa o psicológico e se transforma em dor física, que não permite comer, pensar, dormir… Nada. Hoje me sinto refém dessa dor. Posso descrevê-la como um BURACO em meu coração. Arrancaram algo de dentro de mim, sem anestesia.  A sensação é essa! Perdi meu PAI, perdi meu chão. Não encontrarei palavras, com significados suficientemente válidos, para expressar o meu amor e a minha saudade. PAPAI, o senhor me ensinou tanta coisa, porém a mais importante se esqueceu de fazer,  esqueceu de me ensinar a VIVER SEM VOCÊ. Pai... tua lembrança é viva entre nós. Em cada dia que amanhece uma gota de saudade é acrescentada aos nossos corações.   No meu entender,  partiste cedo demais, meu espírito pouco evoluído, ainda não consegue compreender, os desígnios de Deus.

O meu pai é uma semente de amor que  deixou marcas e saudades nos nossos corações. A sua mão suave continuará me orientando para o caminho da verdade, da moral e da perseverança. Agradeço por ter tido um PAI que  tanto admiro e me encanto. Hoje, sou o que sou porque tive uma família maravilhosa que soube guardar o segredo da vida em cada gesto, em cada abraço e em cada conselho. Uma família bem constituída e amada é uma dádiva de Deus. Por isso, agradeço a Deus por ter enviado dois anjos para a minha vida MEU PAI e MINHA MÃE (ALMEIDA E GERALDA). Mesmo sendo um agricultor, meu pai soube educar a todos nós com exemplos dignificantes. A sua coragem, a sua dignidade e honestidade ficará para sempre gravada em cada um de nós. Somos aquilo que transmitistes ao longo de décadas de convivência amorosa e amiga. Eu não sei como agradecer  a Deus por ter colocado um pai de profunda sabedoria, humildade e simplicidade. Hoje, adulta que sou, aprendi que: quando a raiz é boa, a árvore é forte e saudável. E com certeza o senhor é uma raiz nobre que ao lado de Deus nos enviará fluídos espirituais.

Bem-aventurado é aquele que tem um pai que soube construir a sua família, amar sua esposa, seus filhos e netos incondicionalmente, semear boas sementes, pois, aquilo que se planta se colhe com a mesma energia que se semeou. Se a semente é boa, o fruto é saudável. O fruto que é meu pai, sem dúvida é saudável e muito humano! A morte não é o fim de tudo, mas o reconhecimento de que tudo se renova e se transforma de acordo com a vontade de Deus. A sua presença é viva apesar de meus olhos não verem por limitações próprias deles. Mas, meu coração não mente ao perceber que seu amor vive em mim, papai.  Esse seu amor me aquece, me alimenta e me diz coisas santas. Sinto no ar… Sinto na aura. Sinto em todos os meus momentos de encantamento e agradecimento.

Eu não vou mais me lastimar, mas vou pedir a Deus para que em sonhos eu te tenha  de volta Papai para me dizer: ”Filha querida, o seu telefone está desligado por isso não consegues me ouvir e sentir quanto te amo mesmo aqui do outro lado tão perto de você”. 

Deus nos deu uma pedra preciosa que é o nosso pai. Homem carinhoso e forte na sua docibilidade, um pai nota mil! Nosso pilar de sustentação, nossa fortaleza, nossa base onde nos sustentamos nos momentos mais difíceis. Papai, o senhor é o nosso orgulho, nossa força, nossa vida e o nosso espelho. Eu, minha mãe, meus irmãos, seus genros e netos sentimos muita saudade e desejamos de coração que estejas num lugar mais alto do Céu porque o senhor merece tudo de bom. Meu Pai do Céu que a saudade que sentimos seja substituída pela admiração e amor INCONDICIONAL por aquele que espalhou aqui na Terra a Sua Imagem e Semelhança. Sentimos tanta saudade desse amor incondicional. Nunca existirá distância entre nós, pois nosso amor é maior que tudo. Um dia estaremos frente a frente, onde caminharemos novamente juntos, rumo a novas etapas, a novas jornadas, pois a vida é assim, sem fim.

Ao meu pai querido desejo que sigas em paz porque assim é a vontade de Deus ao levá-lo sem tempo de ainda lhe dizer: EU TE AMO! Pela primeira e última vez não pude atender ao teu apelo quando na hora da tua partida o senhor chamou por mim, mas, mesmo assim estarei perto do telefone lembrando quem sabe, a saudade de te ver em espírito e em luz. Um dia partiremos também e aí nos veremos numa mesma cidade chamada UNIÃO E AMOR.

PAPAI, aquilo que o dinheiro não compra o senhor nos deu de Graça: O AMOR!



Tua filha, Rosimairy.