sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Genteeeeeeeeeee

Juro que minha ausência não é preguiça. Tive uma semana pesada de recomeço de aulas. Com certeza, domingo estarei aqui. Amanhã. talvez.



Costumes atuais: o “ficar”
Aline Machado Oliveira


Já ouvi muita gente reclamar,mas a verdade é que poucos conseguem,ou realmente tentam, abrir mão dessa espécie de relacionamento instantâneo, o “ficar”. Ele é realmente estranho, pois consegue envolver, ao mesmo tempo, variáveis graus de intimidade, entretanto, continua não significando nada, não tendo nenhum valor.
A maioria dos adeptos dessa prática afirmam estar plenamente adaptados e de acordo suas regras,as quais eu considero quase desumanas. Imaginem um rapaz ou uma moça, solteira e carente. Sim, carente, por que por mais amigos que alguém tenha, todas as pessoas emocionalmente normais desejam ter alguém para amar, alguém que seja muito mais que um amigo. Imaginem agora que essa moça sai com os amigos,sexta-feira à noite,claro,e um dos seus amigos lhe apresenta alguém. Eles sentam lado a lado, num barzinho com música ao vivo, e começam a conversar. Viajam por todos os assuntos, descobrem mil afinidades, gostam do mesmo tipo de música. E trocam telefones, é claro.
Sábado. A garota que trocou telefone ontem está na maior expectativa. É que ela não quer ligar pra ele,prefere que ele ligue, então, só lhe resta esperar. Ela espera, o tempo passa, e ele liga, sim.Ele vai passar na casa dela para busca´-la.Lá pelas nove(da noite)ele dá um “toque”no seu celular. É o sinal que indica que ele já chegou.Ela sai do prédio,nem preciso dizer que ela está linda(ou quase isso) e vai em direção ao carro dele. Ele faz tudo o que ela espera que ele faça: a cumprimenta com um beijo no rosto e abre a porta do carro para ela.
Eles conversam bastante,decidem ir a uma boate e, finalmente,”ficam”. Eu acho essa palavra extremamente sem graça, anti-romântica, mas, não sejamos hipócritas, pois “ficar”é, ao mesmo tempo, o mais corriqueiro, menos valorizado e o mais praticado tipo de relacionamento. Tanto que é até engraçado considerá-lo como sendo um tipo de relacionamento.
Sabem como termina essa história?Sinto muito, ela não termina, pois sequer chegou a começar. Eles gostaram um do outro, sim, mas na semana seguinte ele, ou ela, foi a uma festa de aniversário, onde acabou conhecendo outra pessoa ,também interessante, e acabaram “ficando” nessa festa mesmo. E na outra semana os dois( o primeiro rapaz e a primeira moça) tinham prova na faculdade, e acabaram adiando um novo telefonema. O motivo é incerto, mas eles não “ficaram” mais.
E o que eu considero desumano?Eu considero desumano não receber um telefonema no dia seguinte àquele primeiro encontro maravilhoso, considero desumano ter que frear os próprios sentimentos por não saber se o outro está realmente interessado em lhe conhecer, ou se todo aquele carinho que ele demonstrou é o mesmo que ele demonstraria para qualquer outra pessoa, considero desumano “ficar”com alguém e depois descobrir que esse alguém tem namorado ou namorada, enfim, considero desumana a facilidade que as pessoas têm, hoje em dia, de serem quase íntimas num dia e, no dia seguinte, totalmente indiferentes.

Fonte: http://www.simplicissimo.com.br/anteriores/049.php#texto_3
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NAMOROFOBIA
DANUZA LEAO


A praga da década são os namorofóbicos. Homens (e mulheres) estão cada vez mais arredios ao título de namorado, mesmo que, na prática, namorem. Uma coisa muito estranha. Saem, fazem sexo, vão ao cinema, freqüentam as respectivas casas, tudo numa freqüência de namorados, mas não admitem. Têm alguns que até têm o cuidado de quebrar a constância só para não criar jurisprudência, como se diria em juridiquês. Podem sair várias vezes numa semana, mas aí tem que dar uns intervalos regulamentares, que é para não parecer namoro.
- É tua namorada?
- Não, a gente tá ficando.
Ficando aonde, cara pálida? Negam o namoro até a morte, como se namoro fosse casamento, como se o título fizesse o monge, como se namorar fosse outorgar um título de propriedade. Devem temer que ao chamar de namorada (o) a criatura se transforme numa dominadora sádica, que vai arrastar a presa para o covil, fazer enxoval, comprar alianças, apresentar para a parentada toda e falar de casamento - não vai. Não a menos que seja um (a) psicopata. Mais pata que psico.
Namorar é leve, é bom, é gostoso. Se interessar pelo outro e ligar pra ver se está tudo bem, pode não ser cobrança, pode ser saudade, vontade de estar junto, de dividir. A coisa é tão grave e levada a extremos que pode tudo, menos chamar de namorado. Pode viajar junto, dormir junto, até ir ao supermercado junto (há meses!), mas não se pode pronunciar a palavra macabra: NAMORO. Antes, o problema era outro: CASAMENTO.
Ui. Vá de retro! Cruz credo! Desafasta.
Agora é o namoro, que deveria ser o test drive, a experiência, com toda a leveza do mundo. Daqui a pouco, o problema vai ser qualquer tipo de relacionamento que possa durar mais que uma noite e significar um envolvimento maior que saber o nome.
Do que o medo? Da responsabilidade? Da cobrança? De gostar? Sempre que a gente se envolve com alguém tem que ter cuidado. Não é porque "a gente tá ficando" que não se deve respeito, carinho e cuidado. Não é porque "a gente tá ficando" que você vai para cama num dia e no outro finge que não conhece e isso não dói ou que não é filhadaputice. Não é porque "a gente tá ficando" que o outro passa a ser mais um número no rol das experiências sexuais - e só.
Ou é? Tô ficando velha?
Se estiver, paciência.
Comigo, só namorando.................

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

QUINTA DA ENTREVISTA: Ciro Gomes.


Presidenciável diz faltar “projeto” a petista, admite voto em Aécio e critica Serra

PRESIDENCIÁVEL DO campo governista mais forte nas pesquisas sobre a sucessão de 2010, Ciro Gomes, 50, diz que falta “projeto estratégico” a Luiz Inácio Lula da Silva, mas que “o Brasil melhorou” na gestão do petista. Ciro (PSB-CE) afirma que Lula e o antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), contemporizaram com o patrimonialismo. “Tive uma conversa explícita com FHC, reclamando do excesso de concessões e da frouxidão moral a pretexto da sustentação no Congresso. Ele disse: “Você é muito jovem e um dia vai se sentar aqui. Verá que caiu o presidente que não contemporizou com o patrimonialismo”. Fiquei chocado. No governo Lula, vi um pouco de novo a mesma coisa.”

FOLHA - FHC estabilizou a economia e deu início a uma rede de proteção social. Lula manteve a estabilidade, ampliou os gastos com os mais pobres e lançou plano de investimentos em infra-estrutura que ainda é incógnita. Quais seriam as prioridades do próximo governo?
CIRO GOMES - Discordo da formulação da pergunta. Houve uma lavagem cerebral no Brasil protagonizada pelo Fernando Henrique. O governo Itamar Franco fez a estabilização com a fundação do real. Itamar foi jogado na lata do lixo, como se tivesse sido um presidente exótico, quando foi uma passagem benfazeja pela Presidência.

FOLHA - FHC não teve méritos?
CIRO - Sem FHC não teria havido o real, como também sem o Itamar não teria havido. As pessoas acham que tenho animosidade particular. Nenhuma. Quando FHC tomou posse, havia uma dívida pública equivalente a cerca de 38% do PIB. Ele deixou essa relação em 58% do PIB. Explodiu a dívida, aumentou muito a carga tributária, deprimiu a taxa de investimento aos menores valores desde a 2ª Guerra Mundial e levou o país ao colapso, inclusive na caricatura trágica do apagão.

FOLHA - O governo dele tem saldo positivo na história?
CIRO - Ele pessoalmente tem. O governo é um desastre sem precedente na história.

FOLHA - Quais devem ser os próximos passos do país?
CIRO - Falta ao Brasil um projeto estratégico. Percebo avanços importantes, conceituais com Lula. Por isso, o apóio.

FOLHA - Falta ao governo Lula um projeto estratégico?
CIRO - Ao Brasil.

FOLHA - Ao Brasil ou a Lula?
CIRO - Ao Brasil e ao governo Lula, evidentemente. Temos um privilégio hoje: a intuição de Lula, o compromisso verdadeiro com a causa nacional, com a causa dos mais pobres. Esses dois valores, que parecem uma abstração, embrionam um conjunto de valores coerente com o projeto nacional com o qual sonho. O Brasil melhorou com Lula, mas há muita debilidade institucional. Há dependência da vontade do Lula, da presença pessoal dele.

FOLHA - Resuma esse projeto.
CIRO - Construir com começo, meio e fim uma economia política que tenha algumas clarezas. A produção brasileira não dispõe, mesmo no melhor momento dos últimos 20 anos, de condições simétricas às do empreendedor global para competir no mundo e no Brasil. A taxa de juros é global? Não estou falando que devemos revogar o capitalismo. Mas não tem conversa, o Brasil não superará o hiato tecnológico sem intervenção direta do Estado. No macro, a meta estratégica é liderar um esforço de elevação do nível interno de poupança. No micro, recuperar o Estado nas suas funcionalidades vitais. Isso foi satanizado. Nossas estradas e nossos portos estão arrebentados. O Brasil tem uma das mais agudas concentrações de renda do mundo organizado. Vai se resolver pelo espontaneísmo das forças de mercado?

FOLHA - É possível formar uma maioria no Congresso para implementar esse projeto?
CIRO - Possível, sim. Vejo interlocução no PSDB e em parte do DEM, sendo eu do campo hostil a eles na política. Tive uma conversa explícita com FHC, reclamando do excesso de concessões e da frouxidão moral a pretexto da sustentação no Congresso. Lá pelas tantas, ele me disse: “Você é muito jovem e um dia vai se sentar aqui. Verá que caiu o presidente que não contemporizou com o patrimonialismo”. Ele usou essa expressão. Fiquei muito chocado. No governo Lula, vi um pouco de novo a mesma coisa. Me incomodei muito.

FOLHA - Lula também contemporizou com o patrimonialismo?
CIRO - É o que estou lhe dizendo. Não deveríamos aceitá-lo, deveríamos manter sempre disciplina crítica contra isso, mas devemos reconhecer que é um traço da realidade. Como atenuar? Governo vai ter sempre corrupção. Vai ter sempre oposição pedindo uma CPI com a perspectiva de desmoralizar o governo para obter efeitos eleitorais. Isso tudo é normal. Não acho normal isso dominar 100% as energias do país, especialmente da imprensa. A responsável não é a imprensa. A responsabilidade é dos políticos. Porém, a imprensa ajuda ao espetacularizar o escândalo, ao novelizar o escândalo. Não estou dizendo que o escândalo não deva ser tratado. Deve ser tratado duramente, mas não pode monopolizar as atenções da sociedade brasileira se temos tais e tantas questões graves. Advogo que o modelo tributário, o modelo previdenciário, o marco central de economia política e a questão da institucionalidade política devam ser temas que fiquem fora do mundanismo do dia-a-dia do governo governando e oposição oposicionando. Em certos momentos, é profundamente democrático e não significa enquadramento do Congresso, convocar a população para mediar determinadas questões, com plebiscitos e referendos.

FOLHA - Qual dos três pré-candidatos à presidência dos EUA seria melhor para o Brasil, os democratas Barack Obama e Hillary Clinton ou o republicano John McCain?
CIRO - Há contradição entre a minha simpatia e o que a tradição histórica demonstra. Para a economia brasileira, os republicanos têm sido menos hostis, um pouco menos protecionistas. O padrão de consumo que os EUA têm está matando o planeta. Uma lógica assentada no combustível fóssil e no automóvel não é sustentável. A idéia de uma ação unilateral de guerras preventivas choca-se com a busca de uma ordem mundial amparada na paz. Os dois democratas estão mais comprometidos com essa visão, melhor para o planeta. Não disfarço minha simpatia pelos dois, mas McCain é figura bastante interessante. A ultradireita americana, neopentecostal e belicista, está meio sem representação nessas eleições.

FOLHA - Tem simpatia por um?
CIRO - Tenho, mas não digo. Vá que eu me eleja um dia presidente, tenho de tratar com um deles com o maior respeito.

FOLHA - O sr. é favorável ao fim da reeleição e a um mandato presidencial de cinco anos?
CIRO - Seria melhor para o Brasil. Há tendência de abuso por quem está no poder.

FOLHA - Lula prega que a aliança dos partidos da base com candidatura única em 2010 seria mais eficaz para derrotar a oposição. Concorda?
CIRO - Concordo.

FOLHA - É viável uma coalizão com PT, PMDB e PSB?
CIRO - Muito improvável.

FOLHA - Serão lançados dois ou mais nomes do campo hoje lulista?
CIRO - Muito provável.

FOLHA - O sr. hoje é o nome do campo governista que está mais bem posicionado. Quais os critérios para definir os candidatos?
CIRO - Pesquisa hoje é muito mais uma forma de notoriedade do que voto sedimentado. Mesmo na data, quando pesquisa tem tendência mais reveladora, é um critério despolitizado. Os critérios devem ser quem tem mais clareza da tarefa que se impõe ao sucessor de Lula e quem é mais viável.

FOLHA - Admite ser vice?
CIRO - Admito ser qualquer coisa. Não fui ministro do Lula com a maior honra?

FOLHA - Na hipótese de Aécio Neves ingressar no PMDB e de o partido integrar uma coalizão governista em 2010 com apoio de Lula e do PT, ele poderia ser o cabeça de chapa?
CIRO - Aécio é uma das grandes e boas novidades que a democracia brasileira está produzindo. Falta a ele uma vivência nacional. Nada que o talento, o espírito público e o carisma dele não supram rapidamente. Votaria nele em uma certa circunstância tranqüilamente.

FOLHA - Comporia chapa com ele?
CIRO - Não é provável. Ele é do PSDB. Pertenço comovidamente ao arco de sustentação do governo Lula.

FOLHA - Se ele fosse para o PMDB?
CIRO - Não acredito.

FOLHA - No caso dos cartões corporativos, o governo diz que a oposição faz luta política. Já a oposição vê um novo escândalo de corrupção.
CIRO - É um tema vulgar, desagradável. Há erros que devem ser pesquisados pelos órgãos institucionais que já estão fazendo o seu trabalho. É um caso que terá menos peso na vida do país. É tão fortemente artificial que não vai colar. Não se acha todo dia um mensalão.

FOLHA - A oposição está tentando achar um mensalão?
CIRO - Claro. Setores da oposição adoram isso, porque simplifica o debate. O PSDB aqui na Câmara começou o debate da CPMF indo para a tribuna defender a contribuição, falando de coerência. E terminou o debate no Senado com o PSDB inteiro votando contra. Estão desarvorados, perdidos, num mato sem cachorro. Parte dos defeitos graves do governo Lula são similitudes com eles. Os tucanos dizem: vamos examinar os cartões. Então o governo diz: desde 1998. Acabou a CPI.

FOLHA - Por que o sr. não gosta de José Serra e vice-versa?
CIRO - É um homem de valor, porém sem escrúpulos. Eu era muito amigo dele. Quando eu governava o Ceará, ele era o cara de maior mérito na bancada do PSDB. Por excesso de méritos, porque ele é muito qualificado intelectualmente, ninguém tolerava a idéia de o Serra ser líder da bancada. Porque não conversava com ninguém, não cumprimentava ninguém. É arrogante, prepotente, só ele sabe a verdade. FHC vivia esculhambando o Serra. O esporte preferido de FHC ainda é falar mal do Serra na intimidade. Outro dia soube que um jornal distribuído gratuitamente no metrô de São Paulo pôs lá entre aspas que eu achava que o Serra não gostava de pobre. E, se fosse negro e nordestino, pior. Resultado: processo.

FOLHA - O sr. disse isso?
CIRO - Que eu me lembre, não. Que ele não gosta de pobre, eu sei. Posso responder a 50 processos, mas isso é uma opinião política. Ele pode dizer: o Ciro é feio. Qual o problema? Nunca processei ele. Mas processa para me constranger, obrigar a contratar advogado, perder dinheiro, penhorar meu salário, como ele fez. Ele penhorou agora o meu salário, mas a Justiça mandou devolver. Passei um mês sem dinheiro para pagar as contas, porque só tenho essa fonte de renda.

FOLHA - Por que o sr. não tem boa relação com a imprensa, sobretudo a escrita?
CIRO - Minha relação é boa. Como acho que a imprensa presta grande serviço ao criticar, a imprensa também tem de ter tolerância ao ser criticada.

FOLHA - Quais suas críticas?
CIRO - Primeiro, é nepotista. Lamento, mas são cinco famílias que controlam a grande imprensa do país. Isso não quer dizer que não tenho apreço e respeito por pessoas dessas famílias. Muitos têm espírito público. Tenho saudade do sr. Frias [Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha, morto em 29 de abril do ano passado]. Eu ia almoçar com ele duas, três vezes por ano. Ele adorava minhas maluquices. Ele perguntava, eu respondia. Ríamos para caramba. Tenho respeito e boa relação com outras pessoas da imprensa, mas a imprensa brasileira não é neutra. É conservadora. Vamos tratar isso como? Mais imprensa, mais liberdade de imprensa.

FOLHA - Em 2002, o sr. chegou a liderar as pesquisas. Dois episódios simbólicos, quando chamou de burro um ouvinte de uma rádio e afirmou que a função de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha era dormir com o sr., foram determinantes para não ir ao segundo turno?
CIRO - Foram duas das maiores besteiras das muitas que eu já fiz na vida. Nenhuma delas alcançou um centavo do dinheiro público. Me arrependo muito, mas aprendi amargamente. Não me perdôo. Mereci a repulsa dos eleitores porque não é sintoma de bom presidente.

FOLHA - Considera-se preparado hoje para ser presidente?
CIRO - Estou muito mais maduro do que jamais estive.

FOLHA - Um temperamento difícil não é um obstáculo para chegar à Presidência e, uma vez lá, não poderá estimular crises?
CIRO - Pode ser. Já disse e vou repetir, agora com muita mais serenidade e moderação. Não quero vender a alma para ser presidente. Sou uma pessoa indignada e quero morrer assim.

FOLHA - O sr. falou que temperança é boa para um presidente.
CIRO - Mais do que boa, é necessária. Aprendi com Lula.

FOLHA - Terá temperança?
CIRO - Só o tempo vai dizer.

QUARTA VIA: Ciência

E chegam as células 3i
Alysson Muotri
Recentemente participei de um congresso científico sobre o desenvolvimento embrionário de diversas espécies na simpática cidade de Nara, no Japão. A idéia era juntar especialistas em diferentes aspectos do desenvolvimento animal com o intuito de descobrir vias bioquímicas comuns que levam o zigoto (o óvulo fecundado) a se desenvolver num organismo adulto.

Um ponto interessante nesse congresso foi que os palestrantes tiveram de se apresentar dentro de um típico teatro Noh e, como manda a tradição, sem os sapatos. Por incrível que pareça, esse simples ato ajudou a limpar o ego de muitos palestrantes, prevalecendo um clima de amizade e companheirismo científico que havia tempo eu não presenciava.

As etapas iniciais do desenvolvimento são extremamente complicadas: uma única célula tem de ser capaz de se dividir e se especializar em todas as células do organismo, formando tecidos organizados e interligados, incluindo órgãos complexos como o cérebro. Na minha visão, o que muitos chamam de “milagre” não passa de uma série de reações físico-químicas que podem ser compreendidas, da mesma forma que entendemos como diversas partes formam um computador com rápida capacidade de processamento.

Obviamente as células-tronco embrionárias são uma das melhores ferramentas para o estudo de estágios iniciais do desenvolvimento. De fato, desde 1998, quando a primeira linhagem de célula-tronco embrionária humana foi isolada, o número de trabalhos científicos na área tem crescido de forma exponencial. Esse reconhecimento é devido ao fato de que, a partir delas, podemos estudar os fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade de elas se especializarem em outras células. Por isso mesmo, esse estado “imortal” em que as células-tronco embrionárias são mantidas é chamado de estado pluripotente.

Não foi fácil conseguir definir as condições de cultura para que as células se mantivessem nesse estado pluripotente. Atualmente, usa-se uma série de fatores derivados de animais, como o soro bovino e a presença de células-suporte derivadas de camundongos. E é por isso mesmo que as células-tronco humanas embrionárias estão, até hoje, contaminadas por produtos animais e não são aconselháveis para ensaios clínicos em humanos (ver “Células-tronco, células ainda contaminadas…”).

Mas nesse congresso um grupo de pesquisadores da Inglaterra apresentou resultados extremamente importantes, mostrando que é possível manter as células no estado pluripotente utilizando apenas três compostos sintéticos. Melhor ainda, são compostos que podem ser adquiridos por qualquer grupo de pesquisa no mundo. Na presença dessas drogas, as células conseguem propagar-se indefinidamente e permanecer pluripotentes, sem nenhum outro auxílio externo. Pôde-se inclusive derivar novas células-tronco embrionárias na ausência de qualquer produto animal. Essas novas células foram batizadas de células 3i (no inglês, “3i cells”). O “i” se refere à natureza química dos compostos - são três inibidores.

Para chegar a esse coquetel de inibidores, o grupo partiu de uma triagem racional de uma biblioteca de compostos químicos. Sem entrar em detalhes muito técnicos, já se sabia que as células-tronco embrionárias usavam seus receptores para captar fatores do ambiente que poderiam induzir sua especialização. Então é óbvio que um desses inibidores esteja atuando nesses receptores (mais precisamente, receptores conhecidos como FGF). Os outros dois compostos atuam em proteínas encarregadas de controlar a divisão celular.

Toda célula precisa duplicar seu DNA antes de se dividir, mantendo sua imortalidade. Algumas proteínas internas da célula auxiliam nessa tarefa e, ao mesmo tempo, monitoram a integridade do novo DNA sintetizado. Durante esse controle de qualidade do DNA, a célula toma a decisão de se especializar, continuar se dividindo ou morrer. Esses dois inibidores enganam as células, fazendo com que elas pulem a parte do ciclo no qual tinham a chance de optar por se especializar. Ou seja, ou elas continuam a se dividir ou morrem. Logicamente, nessas condições, apenas as células-tronco embrionárias serão selecionadas em cultura. Esses compostos são conhecidos como inibidores de MAPK e de Erk, duas proteínas que compartilham vias bioquímicas comuns durante a divisão das células-tronco embrionárias.

A descoberta ainda inédita, assim que passar pelo crivo da crítica dos revisores e for publicada, promete dar uma chacoalhada no meio científico. Não só porque nos livra de uma xenocontaminação (ou seja, contaminação por outras espécies) indesejada, mas também porque elimina o conceito de diferenciação por “default”. Eu explico. Muitos pesquisadores acreditam que as células-tronco embrionárias tendem a se especializar sozinhas, de forma espontânea. Na verdade, ignoram que fatores secretados por elas mesmas são os responsáveis pela saída do estado pluripotente. O que o grupo inglês mostrou com as células 3i é que o “default”, ou seja, o estado “normal”, é justamente o estado pluripotente.

Depois da reprogramação de células somáticas e origem das células iPS (“induced Pluripotent Stem”, ou “células-tronco pluripotentes induzidas”) pelo grupo japonês de Shinya Yamanaka, faltava justamente saber como manter essas células indefinidamente no estado pluripotente. A união dessas duas ferramentas promete alavancar as pesquisas, tornando o sonho de uma eventual terapia celular um pouco mais real.

Infelizmente, as descobertas revolucionárias na área das células-tronco embrionárias continuam saindo dos mesmos países: EUA, Japão e Inglaterra. Erra quem acha que isso só acontece por causa das verbas destinadas à pesquisa. Conversando com líderes japoneses, descobri que a maioria dos grupos tem um orçamento parecido com o de grupos brasileiros. Também descobri que eles sofrem com taxas de importação de material científico caríssimas, além do óbvio problema com a língua inglesa. Mas o que eles têm de forte é muita determinação, longas horas de trabalho pesado no laboratório, um planejamento ousado, vontade política de atrair seus jovens pesquisadores que saíram para o exterior e visão de futuro, principalmente em áreas tecnológicas de ponta. Tirei os sapatos e o chapéu.
Fonte:http://colunas.g1.com.br/espiral/

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Estudo britânico questiona eficácia de antidepressivos
Pesquisadores questionaram efeito do Prozac

Um estudo conduzido na Grã-Bretanha concluiu que a última geração de antidepressivos é pouco eficaz no tratamento da maioria dos pacientes.

Os pesquisadores, da Universidade de Hull, argumentam que os medicamentos “ajudam apenas um pequeno grupo de pessoas que sofrem de depressão severa”.

A equipe de especialistas, cujo estudo foi publicado na revista especializada PloS Medicine, revisou os dados de 47 testes clínicos.

Os cientistas se concentraram nos medicamentos conhecidos como Inibidores Seletivos da Recaptura de Serotonina (ISRS), que atuam aumentando o nível da serotonina no cérebro, um hormônio que controla o humor.

Entre os remédios examinados estavam o Prozac, Seroxat e Efexor, todos eles amplamente receitados na Grã-Bretanha.

Os pesquisadores descobriram que os efeitos positivos das drogas em pacientes com depressão profunda foram “relativamente pequenos”.

O coordenador da pesquisa, Irving Kirsch, afirmou que a diferença entre os pacientes que tomaram placebo e os que tomaram remédios para combater o mal “não foi muito grande”. “Isso significa que pessoas com depressão podem melhorar sem tratamentos químicos”, disse o pesquisador.


Controvérsia


Para os pesquisadores, a maioria dos pacientes parece acreditar que os remédios funcionam, e isso se explica pelo chamado efeito placebo - as pessoas se sentem melhor pelo simples fato de acreditarem que estão tomando um remédio que os ajudará.


“Diante desses resultados, parece haver poucas razões para se receitar antidepressivos a menos que tratamentos alternativos tenham falhado.”

A pesquisa gerou controvérsias no meio farmacêutico. A Eli Lilly, que fabrica o Prozac, disse que “extensas pesquisas médicas e científicas demonstraram que o medicamento é um antidepressivo muito eficaz”.

E um porta-voz da GlaxoSmithKline, que produz o Sexorat, argumentou que o estudo britânico se concentrou em “uma pequena amostra do total de dados disponíveis”.

Fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/02/080226_antidepressivoseficacia.shtml

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

TERÇA POESIA E PROSA

NÃO BASTA AMAR
Martha Medeiros(*)


Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga. Tudo o que todos querem é amar. Encontrar alguém que faça bater bem forte o coração e que justifique loucuras. Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata. Que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado. Tem algum médico aí?

Depois que acaba essa paixão retumbante, sobra o quê? O amor. Mas não o amor mitificado que muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra é o amor que todos conhecemos: o sentimento que temos por mãe, pai, irmãos, filhos e amigos. É tudo o mesmo amor, só que, entre amantes, existe sexo. Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudade, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge, ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza e, de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.

Casaram. Te amo para lá, te amo para cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas. Entre duas pessoas que resolveram dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais que amor e, às vezes, nem necessita um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência. Amor, só, não basta.

Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber relevar. Amar, só, é pouco. Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas pra pagar. Tem que ter disciplina para educar os filhos, dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem visando a longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, independência, um tempo para cada um. Tem que haver confiança. Uma certa camaradagem: às vezes, fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união, não significa necessariamente, fusão, E que amar, solamente, não basta.

Entre homens e mulheres que acham que amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que, sozinho, não dá conta do recado. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.
(*) Jornalista gaúcha. Crônica extraída do livro Trem Bala, Editora L&PM.)
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Separação de Bens
Dalva Agne Lynch

Você fica com a razão.

Eu fico com os dias ensandecidos
Com o vento nos seus cabelos
Com o canto final do sol
No dourado da sua pele.

Você fica com a verdade.

Eu fico com os raios da lua
Com os sussurros sem nexo
Os beijos loucos, dementes
Com a obsessão dos corpos.

Você fica com o direito.

Eu fico com as horas de gozo
Com o ruído das folhas das árvores
Com seus dedos tecendo anseios
Na brancura do meu corpo

Você fica com o que é certo.

Eu fico com a incerteza
Com a beleza do instante sem continuidade
Com o momento perdido entre as horas
Com a eternidade perdida no momento.

Você fica, meu amor.
Eu sigo.
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De tudo o que ele me deu, o melhor foi um pé na bunda.

(Tati Bernardi)

Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo 'olha, não dá mais'. Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu 'mas agora eu to comendo um lanche com amigos'. Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não voltava pra mim? Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito. Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve? Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única. Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele , só assim ele voltaria pra mim. Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida. Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto. O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu. Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele.
Ele quem, mesmo?

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VOU BEIJAR-TE AGORA, NÃO ME LEVE A MAL

(Xico Sá)


Se não é nada fácil a harmonia dos pombinhos em tempos normais, no carnaval, valha-me poderoso Jeová, o knorr do amor entorna de vez.
Até o mais pudico dos casais prevarica, o mais convertido dos ex-canalhas faz besteira, a mais sonsa das donzelas tira uma casquinha nas ladeiras de Olinda e a mais guardada moça do caritó sente-se no jogo de novo e vai à forra...
Vai à luta, justíssima, cheia de esperança, é a chance de pegar um desses galegos importados das terras em que as mulheres não têm bunda, recurso que não lhe falta, orgulhosa, feliz e fagueira proprietária de um latifúndio dorsal imbatível. Daqueles capazes de deixar um membro do MST louco para pular a cerca e cortar o arame farpado do desejo proibido.
O mais correto, para imitar Mark Twain no seu “Manual para a maldita raça humana”, seria, durante o tríduo momesco, afrouxar o nó cego do moralismo e deixar o bicho correr solto na capoeira.
Dama para um lado; cavalheiro para o outro. Se possível mascarados, fantasia de clóvis, pierrôs e papangus, para o álibi ser completo, seja no “I love cafusú” -o mais pecaminoso bloco do carnaval de Pernambuco-, na folia brejeira de Aracati ou na “República do Beijo” lá em Diamantina.
Para que se desgastar em intermináveis e vexaminosos barracos públicos? Melhor entregar a sorte aos ursos pés-de-lã e às ursas manhosas que estão em todos os blocos, troças, cordões e fuzarcas.
Chifre de carnaval é fantasia, adorno, alegoria, não resiste à marca da cinza cristã da quarta-feira, não sobrevive à ressaca moral da quaresma.
Não dói, não pega nada, no dia seguinte lá estarão vocês dividindo a mesma aspirina, a mesma macaxeira com charque, o mesmo baião-de-dois com nata, o mesmo feijão tropeiro, a mesma rotina-tapioca da harmonia dos lares, a mesma sustança que nos refaz independentemente da lavagem de roupa suja.
Então tá combinado, a partir de hoje cada um vai para o seu lado. Bom se pudesse ser assim, fácil, mas o sangue quente não deixa, somos passionais, corações ao molho pardo, corações à cabidela, vixe!
Não tem jeito, não há dica ou manual de bom senso, será sempre o mesmo drama, “diz que me ama, porra”, como na canção clássica de Olinda.
Antes era mais leve, mais fácil mesmo, era só correr ao “Baile dos Casados”, no Clube Atlético de Amadores, bairro de Afogados, no Recife, que sempre foi genial nesse aspecto “gaiero”, um refúgio histórico da traição lúdica e tão-somente carnavalesca. Evoé, Baco!
Óbvio, amigo, você ai que me cutuca ao longe, que existem os pombinhos que se divertem lindamente juntos, numa boa, numa nice, na buena onda da maresia social clube. Mas são tão poucos, amigo, que até esmoreço.
De casalzinho ou na safadeza propriamente dita, que brinque em paz e que a ressaca lhe seja leve na quarta.

Fonte: http://carapuceiro.zip.net/

domingo, 24 de fevereiro de 2008

SEGUNDA BEM HUMORADA


VAIDADE MATA



Uma mulher foi levada às pressas para o CTI de um hospital. Lá chegando, teve a chamada 'quase morte', que é uma situação pré-coma. E, neste estado, encontrou-se com Deus:

- Que é isso? - perguntou ao Criador - Eu morri?

- Não, pelos meus cálculos, você morrerá daqui a 43 anos, 8 meses, 9 dias e 16 horas - respondeu o Eterno.

Ao voltar a si, refletindo o quanto tempo ainda tinha de vida, resolveu ficar ali mesmo naquele hospital e fez uma lipo aspiração, uma plástica de restauração dos seios, plástica no rosto, correção no nariz, na barriga, tirou todos os excessos, as ruguinhas e tudo mais que podia mexer para ficar linda e jovial.

Após alguns dias de sua alta médica, ao atravessar a rua, veio um veículo em alta velocidade e a atropelou, matando-a na hora. Ao encontrar-se de novo com Deus, ela perguntou irritada:

- Puxa, Senhor, você me disse que eu tinha mais 43 anos de vida. Porque morri depois de toda aquela despesa com cirurgias plásticas!!???

E Deus aproximou-se bem dela e, olhando-a diretamente nos olhos, respondeu:

- MENINA! NÃO TE RECONHECI !!!



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OFERTA DE EMPREGO


Um desempregado compareceu ao SINE para ver se havia algum emprego para ele. Chegando lá, viu um cartaz escrito "Precisa-se de assistente de ginecologista". Ele foi ao balcão e perguntou pelo trabalho.

- Pode me dar mais detalhes?

E o funcionário:- Sim senhor. O trabalho consiste em aprontar as pacientes para o exame. Você deve ajudá-las a se despir e cuidadosamente lavar suas partes genitais. Depois, você faz a depilação dos pêlos púbicos com creme de barbear e uma gilete novinha. Depois esfrega gentilmente óleo de amêndoas doces, de forma a que elas estejam prontas para o ginecologista. O salário mensal é de R$ 4.500,00 com carteira assinada e demais benefícios, mas você deve ir até Jundiaí.

- Puxa, são 60 km de São Paulo! É lá o emprego?

- Não, é onde está agora o fim da fila".



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A pizza do velório



O nono estava hospitalizado, os filhos, netos e bisnetos vieram de todos os cantos do mundo. Os médicos deixaram que os parentes levassem-no para a sua casa, para cumprir o último desejo de morrer em casa ao lado de seus queridos. Foi para o quarto e as visitas foram se revezando para tentar consolar e dar conforto ao nono em seu derradeiro momento. De repente o nono sentiu um aroma de comida que vinha da cozinha. Era a nona tirando do forno uma fornada de pastiére de grano italiani. Os olhos do nono brilharam e ele se reanimou. Então o nono pediu ao bisneto que estava ao lado da cama dele:

- Piccolo mio, vá lá na cojina e pede um pedaxo de pastiére pra nona.

O guri foi e voltou muito rápido.

- E o pastiére? - perguntou o nono.

- A nona disse que não!
- Ma per que non, porca miséria?

- A nona disse que é pro velório!!!



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HIPNOSE



Uma mulher chegou em casa e disse para o marido:

- Zé, lembra das enxaquecas que eu costumava ter toda vez que nós íamos fazer amor? Estou curada.

- Não tem mais dor de cabeça? O marido perguntou espantado.

A esposa respondeu:

- Minha amiga Margarete me indicou um terapeuta que me hipnotizou. O médico me disse para ir para frente do espelho, me olhar bem no espelho e repetir para mim mesma. Não tenho mais dor de cabeça. Não tenho mais dor de cabeça. Não tenho mais dor de cabeça. Fiz isso e a dor de cabeça parece que sumiu.

O marido respondeu:

- Mas que maravilha!

Então a esposa falou para o marido:

- Nos últimos anos você não anda muito interessado em sexo. Por que você não vai ao terapeuta e tenta ver se ele te ajuda a ter interesse em sexo novamente?

O marido concordou, marcou uma consulta e alguns dias depois estava todo fogoso para uma noite de amor com a esposa. Então foi correndo para casa e entrou arrancando as roupas e arrastando a esposa para o quarto. Colocou a esposa na cama e disse para ela:

- Não se mova que eu já volto. Ele foi ao banheiro e voltou logo depois, pulou na cama e fez amor de maneira muito apaixonada como nunca tinha feito com a esposa antes.

A esposa falou:

- Zé, foi maravilhoso!

O marido disse novamente para a esposa:

- Não saia daí que eu volto logo.

Foi ao banheiro e a segunda vez foi muito melhor que a primeira. A mulher sentou-se na cama, a cabeça girando em êxtase com a experiência.

O Marido disse outra vez:

- Não saia daí que eu volto logo.

Foi ao banheiro. Desta vez a esposa foi silenciosamente atrás dele e quando chegou lá o marido olhava para o espelho e dizia:

- Não é minha esposa. - Não é minha esposa. - Não é minha esposa. - Não é minha esposa. - Não é minha esposa. - Não é minha esposa. - Não é minha esposa. - Não é minha esposa.

O velório do Zé será amanhã na capela 13 do cemitério da Saudade!!!



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sábado, 23 de fevereiro de 2008

DOMINGO MEMORIOSO: perfil

Luiz Leite da Nóbrega

Natural do Sítio Panelas, município de Lavras da Mangabeira, nasceu em 27 de setembro de 1895, filho de Jerônimo José da Nóbrega e dona Francisca Leite da Nóbrega. Quando mascate, em Ipaumirim, contraiu núpcias com Maria Leite da Nóbrega, pernambucana de São José do Egito. Do casal, sobreviveram os filhos Luiz Leite da Nóbrega, Maria Eunice Nóbrega de Morais, Sebastião Leite da Nóbrega, Maria Luiza Leite da Nóbrega e Vilany Nóbrega Brasil.
Trabalhou na construção da ferrovia cearense, depois voltou-se para a agricultura destacando-se como maior produtor de algodão da região.
Em 28.10 de 1929 foi designado pelo então Presidente da República do Brasil para ocupar o cargo de suplente de substituto de Juiz Federal da Comarca de Lavras da Mangabeira.
Em 15.10.1930 foi designado pelo então Ministro da Guerra como Depositário de Armas e Munições nas vilas de Ipaumirim, Baixio, Umari e Olho d’água.
Em 03 de janeiro de 1947 foi nomeado pelo Interventor Federal do Ceará para ocupar o cargo de Prefeito Municipal da cidade de Baixio – CE. Com a redemocratização, candidatou-se a Prefeitura de Baixio e foi eleito derrotando seu opositor, Francisco Irineu.
Jarismar Gonçalves, Vicente Gomes, Alexandre Gonçalves, Luiz Nóbrega, Geraldo Saraiva
Foto de 1958

Jornal Estado de Minas


Como prefeito, foi manchete no jornal Estado de Minas ao transferir o descanso semanal de domingo para quinta-feira.

“O prefeito de Baixio, no Ceará, dizem os telegramas, transformou a quinta-feira em domingo dando ao povo dois dias de descanso na semana.
O prefeito não se engana
Seguindo esse rumo novo
Dois domingos na semana
Para a alegria do povo!

°°°
Aos cearenses escaldados
Pelo sol que é fogaréu
Uma chuva de feriados
Vale bem mais que a do céu.

°°°
É um prefeito extraordinário
Maior que todos, talvez
Sem meter a mão no erário
Fez coisas que ninguém fez.”


Foi o principal baluarte da festa de São Sebastião, em nossa cidade, construindo com a ajuda de amigos a capelinha de São Sebastião que que fica no alto da pedra, ponto de turismo religioso na cidade.
Foi o fundador da paróquia e defensor da igreja em nossa terra. Manteve correspondência por muito tempo com o General Juarez Távora, Menezes Pimentel, Nogueira Acioly, Fernandes Távora, Beni de Carvalho, Olavo de Oliveira, Raul Barbosa, entre outros.
Sua residência sempre hospedou personalidades da política e da igreja além de amigos e correligionários da região.
O casal deixou mais de mil afilhados no município. Luiz Leite da Nóbrega faleceu em Fortaleza, na Casa de Saúde São Lucas, em 02 de novembro de 1960.
Nomeação para o cargo de Prefeito de Baixio

Nomeação

Nomeação para suplente de substituto de juiz federal
no município de Lavras da Mangabeira

Documento de nomeação para arrecadação de armamentos nas vilas de Umary, Alagoinha, Baixio e Olho d"água

Álbum da semana

Rosamaria vestida para um desfile de 7 de setembro, em Ipaumirim
Década de 60


Rosamaria, janeiro 2006




Cícero Victor


(do orkut de Luiz Antonio Gonçalves Neto)

(Produtor rural, casado com Silvina. Pai de maria Alice,Ivanise, Elza, Osmar, Hugo, Terezinha e Centôr)



Osmar Victor (á esquerda), o do centro não sei quem é, Hugo Victor (à direita)

(do orkut de Luiz Antonio Gonçalves Neto)

Luiz Antonio Gonçalves
Produtor rural
(do orkut de Luiz Antonio Gonçalves Neto)



Maria Glaydson Araujo
(Foto de 15 anos)
(12.01.1961)



Adolfo Augusto de Oliveira
(esposo de Maristela, pai de Flávio e Gerardo,
foi comerciante
e coletor em Ipaumirim)


Pedro Jorge e Fernando Luiz
(21.09.1964)


Pedro Jorge e Fernando Luiz
Janeiro/2008

Sábado em queda livre

Vista aérea do açude de Olho d'Água
(ao fundo, casa de Chico Felizardo)
(Foto do orkut de Luiz Antonio Gonçalves Neto)




A poesia e a cidade
(Clóvis Rossi)


SÃO PAULO - O empresário Oded Grajew é um poeta, um sonhador. Quando Lula se elegeu presidente, Oded acreditou que era a hora de fazer seus sonhos - centrados em uma sociedade mais humana, mais justa - virarem realidade.

Foi designado assessor especial da Presidência. Renunciou pouco depois, convencido de que "o pessoal lá em Brasília só pensa no poder", como me disse à época.

Não desistiu, no entanto. Acaba de conseguir emplacar, graças ao Movimento Nossa São Paulo, a chamada Lei de Metas, aprovada terça-feira pela Câmara Municipal paulistana. Pela lei, o prefeito tem que apresentar, até 90 dias após a posse, metas quantitativas por áreas e subprefeituras.

"É uma revolução política", festejou Grajew. Devagar, devagar, meu caro poeta. O Brasil é um caso exemplar de como as melhores idéias e propostas podem ser postas a perder.

Mas o caso da Lei de Metas merece de fato festejos. Tira a avaliação da gestão pública do impressionismo para colocá-la em torno de parâmetros e prazos objetivos, numéricos. Ou, como disse o ex-jogador Raí à Folha, "agora, [a população] vai ter o que cobrar de cada ponto".

Melhor ainda: o Movimento Nossa São Paulo propõe-se a "incentivar a incorporação de novas lideranças, empresas e organizações sociais" e a "constituir fóruns nas regiões de todas as subprefeituras de São Paulo".

Posto de outra forma: ou a sociedade se organiza para propor, cobrar, vigiar, exigir, ou a cidade se tornará cada vez mais inóspita.

Melhor ainda dois: trata-se de um movimento que foge completamente ao indigente Fla-Flu e PT-PSDB, na medida em que incorpora desde a Fiesp até o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Por mais que eu continue um cético profissional, espero que a poesia se materialize.

Fonte: http://entrelacos.blogger.com.br/


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Confederação Nacional de Municípios (CNM). Índice de Responsabilidade Fiscal, Social de Gestão dos Municípios (IRFS)



Imagine os piores

Na semana que passou, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) divulgou o Índice de Responsabilidade Fiscal, Social e de Gestão (IRFS) dos municípios brasileiros relativo ao ano de 2006. O indicador mostra a situação administrativa e gerencial de cada município. O resultado do Ceará é melancólico. No índice geral não há nenhum município do Estado entre os 100 melhor administrados do Brasil. Há também indicadores sobre aspectos específicos - um relativo a gestão, outro a situação fiscal e um terceiro a responsabilidade social. Dentre entre esses três critérios, em apenas um - o índice fiscal - há um município cearense entre os 100 melhores. Trata-se de Beberibe, na 48ª colocação. O mais curioso é que o Município, de 2005 para cá, passou pelas mãos de três prefeitos - um sofreu impeachment, outro foi cassado pela Justiça. E é o município cearense melhor classificado em termos de gestão.

Imagine os piores II.

Entre as 26 capitais brasileiras, Fortaleza ficou na 16ª colocação em relação ao IRFS. Desde 2002, no segundo ano do último mandato de Juraci Magalhães (PR), até 2006, segundo ano da gestão Luizianne Lins (PT), a situação gerencial de Fortaleza caiu no ranking. A Capital cearense teve queda de 3% no indicador, passando de 0,488 para 0,473.



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O que é o IRFS?

A Confederação Nacional de Municípios criou o IRFS para compreender e estimular a melhoria das gestões municipais. Ele reflete, anualmente, o desempenho dos municípios sob as óticas fiscal, social e de gestão. Oferece à sociedade um parâmetro simples e ao mesmo tempo amplo de avaliação das administrações municipais, que não se restringe aos controles da Lei de Responsabilidade Fiscal, pois abrange medidas de eficiência interna e de responsabilidade social. Além de indicadores fiscais, são comparados dados como o custeio da máquina, o esforço de investimento, o superávit primário e a performance nas áreas de saúde e educação.
Como é composto?
O IRFS é dividido em três subíndices (fiscal, social e de gestão), compostos por 16 índices específicos, calculados a partir de indicadores construídos com informações das prefeituras à Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e a outros órgãos oficiais, como Datasus e Inep.
IRFS: Média do Índice Fiscal + Índice de Gestão + Índice Social
Índice fiscal = Médias (endividamento + suficiência de caixa + gasto com pessoal LRF ajustado + superávit primário)
Índice gestão = Médias (custeio da máquina + gasto com Legislativo + grau de investimento)
Índice social = Média de Subíndice educação + Subíndice saúde
Subíndice educação = Média de gasto com educação + matrículas da rede municipal + taxa de abandono da rede municipal + porcentagem de professores da rede municipal com curso superior
Subíndice saúde = Média de gasto com saúde líquido + taxa de mortalidade infantil + Cobertura vacinal + média de consultas médicas
Como é calculado?
Os índices refletem uma relação entre duas variáveis. Os gastos com pessoal, o endividamento, a suficiência de caixa, o superávit primário, a taxa de investimento, as despesas de custeio, os gastos com o legislativo municipal e com saúde e educação são mensurados como proporção da receita corrente líquida dos respectivos municípios ou, em alguns casos, divididos pela população. Todos indicadores fiscais foram calculados como prevê a LRF e as normas da STN.
Como o indicador é convertido em índice?
Como cada indicador reflete uma informação diferente, foi preciso adotar um critério de conversão para uma base comum que permitisse a comparação entre todos. Isso foi feito por meio de uma operação matemática que converte o indicador original em um índice entre 0 e 1. O índice 0,500 é sempre atribuído a uma espécie de média dos indicadores.

Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar • Cep 70350-530 • Brasília – DF • Tel/Fax: (61) 2101-6000 Escritório: Rua Marcílio Dias nº 574 – Bairro Menino de Deus • Cep 90130-000 • Porto Alegre – RS • Tel/Fax: (51) 3232-3330
Fonte: www.cnm.org.br

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CIDADANIA

O SIGA BRASIL é um sistema de informações que permite a qualquer indivíduo, por meio da Internet, acesso amplo e facilitado a diversas bases de dados sobre planos e orçamentos públicos federais.
O SIGA BRASIL reúne os dados do SIAFI e outras bases em um único portal e oferece uma ferramenta simples para elaboração de consultas. O portal disponibiliza, ainda, várias consultas prontas, a fim de facilitar a disseminação de informações sobre o orçamento público.

http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/orcamento_senado/SigaBrasil

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Nossa terra, nossa gente


TRANSPOSIÇÃO, IBGE E ALAGOINHA.
(Rubens Dário Vieira)
Acompanhei com atenção o patético Bispo Dom Luiz Cappio em sua inglória greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco, conhecido como o “velho Chico”. Ante a isso, cheguei à conclusão que Dom Cappio é covarde e fraco, pois só agüentou 24 dias tomando soro caseiro feito com água tratada. Agora, como diria o Euclides da Cunha, “o sertanejo é antes de tudo um forte”, pois é capaz de tomar água barrenta e insalubre durante vários meses enquanto volta a chover numa atitude de coragem e desafio aos ditames da vida.
Dom Luiz Cappio faz lembrar-me um pouco a história da abolição da escravatura no Brasil. Na época existiam os “não abolicionistas”, eles defendiam a tese que os negros eram pessoas inferiores e certamente não saberiam viver livres, não conseguiriam progredir e nunca chegariam a uma posição de destaque. Será que Pelé concordaria com isso? E o Milton Nascimento, o que diria? E a talentosa, bonita (e gostosa)Taís Araújo, estará de acordo com essa história feia? Pois é, também existem aqueles que não querem ver os pobres progredirem.
Os que são contrários a Transposição do São Francisco, como Dom Luiz Cappio, estão cheios de argumentos estatísticos técnicos e científicos. Mas eu duvido que eles tenham e divulguem os dados de quantos nordestinos durante séculos já morreram e morrem de subnutrição ou diarréia pelo simples fato de não ter água boa para beber e produzir alimentos. Fico a imaginar ainda se Dom Luiz Cappio morasse nos Estados Unidos e tivesse conseguido impedir o desvio do Rio Colorado ou residisse no Egito para barrar a transposição do Rio Nilo. O que seria hoje da superpotência americana? Como estaria vivendo o milenar povo do deserto Egípcio? É, mas infelizmente o Bispo mora no Brasil.
Com relação à Alagoinha, é necessário que a Transposição do Velho Chico venha logo para poder mudar uma estatística deprimente. O último Censo Demográfico, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que em sete anos a população de Ipaumirim aumentou exatamente 52 pessoas. Passou de 11.539 habitantes em 2000 para 11.591 em 2007. Isso dá menos de 0,5%(meio ponto percentual) contra 10,15 % de crescimento do Ceará no mesmo período. O que está acontecendo com Alagoinha? Como um município não consegue aumentar nem em 1% sua população em sete anos? De quem será a culpa? Boas perguntas essas, não? Melhor ainda devem ser as respostas que os leitores têm em mente. E eu também. Um dia ainda escreverei sobre culpa e culpados.
Ainda bem que uma das metas da Transposição do Velho Chico é fazer permanecer no campo 400 mil pessoas evitando assim o êxodo rural para grandes centros urbanos. Essa medida por si só já ajudaria em muito o povo de Alagoinha que teria aqui possibilidades de viver trabalhando e ajudando a melhorar os péssimos e vergonhosos índices sociais do município, levando ainda a máxima bíblico-divina do “crescei e multiplicai” à prática, e o melhor, no seu torrão natal. Que Deus esteja pelos ipaumirinenses e por todos os sertanejos famintos, sedentos e sofredores e também pela Transposição do Velho Chico, e claro, esteja contra Dom Luis Cappio e as estatísticas científicas, principalmente as do IBGE. Vixe Maria!
Até mais. Vou logo ali verificar se o Rio já chegou para tomar um banho nas águas puras do velho Chico. Espero que a Letícia Sabatella esteja lá tomando banho nua e linda, exatamente o contrário de sua posição feia contra a transposição. E se ela estiver lá, não precisa o Ciro Gomes bater boca com ela, deixa que eu dou um trato na morena. Valei-me, São Francisco!

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DA INFÂNCIA
(Leticia Wierzchowski )


Dia lindo de verão, e meu filho de seis anos vem correndo pela areia e diz: "Mãe, estou com um psicólogo no pescoço." Dá vontade de tascar um beijo nesse rosto bronzeado e vivaz, mas eu apenas respondo sorrindo: "Psicólogo, não, meu filho. Você está é com um torcicolo."

"E o que é psicólogo então?", ele quer saber depressa. "Psicólogo é um médico que ajuda as pessoas a resolverem seus problemas e medos." Ao que ele retruca: "Ah, mas por que elas não falam essas coisas com os pais delas?"

No exato momento em que você lê esse texto, imagino que milhares de consultas terapêuticas estejam sendo pagas por pacientes ávidos em resolver seus traumas com os progenitores.

Mas, aos seis anos, essa é a lógica da vida: apertou, chame o pai ou a mãe. E que delícia viver isso, equilibrar essa responsabilidade nos ombros, com seus momentos difíceis e suas glórias. Neste final de férias, os problemas do meu filho se resumem à temperatura da água, ou à falta do picolé predileto.
O que não posso resolver (quem sou eu pra ter alguma incidência sobre a temperatura da água nessas paragens?), eu driblo. O mar está ruim, vamos jogar frescobol. Haverá certamente um tempo em que serei apenas observadora dos problemas do meu menino, e provavelmente meus conselhos nem serão levados em consideração.
Mas, por enquanto, massageio o seu pescoço dolorido, e vamos juntos comer um picolé de morango, que não há dor infantil que resista a tal delícia.
Faz algum tempo, pensando numa personagem que eu queria compor, cheguei em casa com dois baralhos de tarô novos em folha.
Sentada no chão do meu quarto, comecei a mexer naquelas cartas grandes e bonitas, brincando de adivinhar o futuro nos seus signos, de olho fixo num pouco confiável manual que acompanhava o baralho.
Meu filho entrou no quarto e interessou-se imediatamente pela função. Perguntou-me que jogo era aquele, e respondi que eram cartas muito antigas que adivinhavam coisas. A gente fazia uma pergunta, cortava o baralho assim e assado, e lá vinha a resposta que queríamos.
Ele quis jogar. Embaralhei as cartas, e pedi que cortasse o bolo em três e se concentrasse numa pergunta. Nada de dúvidas profundas nem curiosidades transcendentais.
Meu filho fechou os olhinhos, respirou fundo e, cortando o baralho conforme a minha indicação, perguntou aos Arcanos em voz alta e expectante: "Baralho, eu queria saber quantas sementes têm uma laranja." Veio um oito de paus e ele deu-se por satisfeito. E depois eu me pergunto por que a gente cresce.


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Secretaria tenta melhorar ensino


A Semana Pedagógica de Iguatu teve como tema central Direito de Aprender. Outros temas também foram debatidos De olho nos indicadores educacionais que são insuficientes, a Secretaria de Educação deste município, antes do ano letivo começar, promoveu um ciclo de palestras com os professores da rede municipal. A idéia é motivar os docentes para tentar melhorar a qualidade do ensino na escola pública. O foco do debate são os fatores que contribuem para o desempenho dos alunos. O ano letivo na rede municipal começou no último dia 13.
A julgar pelos dados que se repetem todos os anos, a melhoria da qualidade de ensino na rede pública não é tarefa fácil. Exige-se do docente planejamento, dedicação e compromisso. Exemplos de outros países são apresentados e debatidos. Há até apelos para que os professores tratem os alunos como filhos. São fórmulas que buscam vencer o desafio de tornar o processo de ensino e aprendizagem na escola municipal com relativa qualidade.
A secretária de Educação, Marlene Amâncio, enfrenta esse desafio. “Apesar dos indicadores mostrarem baixo rendimento das crianças, acredito que estamos no caminho certo. É possível oferecermos uma escola pública de qualidade”. Ela reafirmou que as ações do setor passam pela valorização do professor a partir da implantação do Plano de Cargo e Salário do Magistério em 2007, melhoria da infra-estrutura das escolas, apoio à gestão escolar e a implantação do Plano Municipal de Educação.
De acordo com dados da Secretaria, o rendimento médio dos alunos da 1ª a 4ª série, é de 3,3 e para os estudantes do 5º ao 9º ano, é de 2,8. O mínimo aceitável é um rendimento com média 6. O índice de evasão é em torno de 15%. “Os indicadores não são bons e, por isso, optamos, num primeiro momento, em investir na valorização dos professores, sem esquecer equipamentos e melhoria das escolas”, disse o prefeito, Agenor Neto.
A professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Eloísa Maia Vidal, participou da Semana Pedagógica e apresentou uma série de fatores que influenciam no desempenho das escolas e propôs a implantação de um sistema municipal de avaliação dos alunos e dos docentes. “No Brasil, houve descentralização e ampliação do acesso à escola pública, mas houve também uma queda na qualidade da educação. Um dos piores fatores é a perda de tempo em sala de aula”.


Aprendizagem
Com base em dados de relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma instituição internacional, Eloísa apresentou um conjunto de fatores que interferem na aprendizagem e na qualidade da escola. Observou a dificuldade de se fazer intervenção para melhorar o quadro atual em face da falta de critérios de avaliação. “Sem identificar o porquê do aluno não ter aprendido, há uma permanência da dificuldade e do caminho errado”. O evento teve como tema central “Direito de Aprender”. Outros temas foram debatidos. O professor adjunto da Universidade Federal do Ceará, Wagner Andriola, falou sobre a avaliação da aprendizagem no dia-a-dia da escola.


Mais informações:Secretaria de Educação do município de Iguatu(88) 3581. 6002
Fonte: Diário do Nordeste, 21.02.2008


PELO MENOS, TEM ALGUÉM TENTANDO DAR UMA SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO AOS BAIXOS ÍNDICES DE EDUCAÇÃO E BUSCANDO COMPREENDER O PROBLEMA.


E IPAUMIRIM?

ACORDA, ALAGOINHA!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

QUINTA DA ENTREVISTA: a entrevista legendária

A entrevista legendária

“Visita ao rebelde cubano em seu refúgio”, assim intitulou o importante diário “The New York Times”, em sua edição de 24 de fevereiro de 1957, a primeira parte de uma reportagem que atraiu a atenção mundial, ao mostrar a guerrilha sobrevivente, liderada pelo comandante-em-chefe Fidel Castro na Serra Maestra • Fidel ordenou a Faustino Pérez, expedicionário do iate Granma, que descesse das montanhas à planície e que, entre as primeiras missões a cumprir, tentasse enviar um jornalista, mas os diretores das principais publicações se recusaram por medo das represálias. Contudo, nos primeiros dias de fevereiro, conseguiram que o destacado repórter Hebert Matthews, chegasse a Cuba...

(Extraído do livro em edição: Marabuzal)
POR JOSÉ ANTONIO FULGUEIRAS



Sierra Maestra


O caminho apareceu diante de Felipe Guerra Matos como uma corda lamacenta e enegrecida pela noite rural em Manzanillo. Felipe conhecia o caminho como a palma da mão e sabia muito bem onde estavam os cruzamentos da estrada como um reflexo condicionado pelas muitíssimas subidas e descidas. Seu jipe Willy assemelhava-se a um mulo de cascos firmes, domesticado para vencer os obstáculos que os aguaceiros dos últimos dias esculpiram no caminho rústico e estreito. A seu lado, mais ou menos acomodado no banco dianteiro, viajava o jornalista norte-americano Herbert Matthews, que segundo parece, tentava decifrar através do pára-brisa o caminho que o levaria a um lugar desconhecido na Serra Maestra.
“Creio que não vai chover nesta noite”, disse o motorista em voz alta, inclinando a cabeça para um lado. Depois reparou que o norte-americano sabia pouco ou nada de espanhol. René Rodríguez, Javier Pazos, Quique Escalona e Nardi Iglesias, que também viajavam no banco traseiro também nada responderam.
Então, com o pouco conhecimento que tinha do idioma inglês, tentou enfiar na mente alguma frase para ganhar a amizade do repórter do The New York Times, famoso por seu trabalho como repórter em diversos países do mundo, participando como testemunha de alguns dos acontecimentos mais importantes do século.
O homem, na casa dos 60 anos, foi correspondente de guerra na Abissínia, na década de 30, e na Espanha, durante a Guerra Civil, que acabou com a República. Publicou vários livros e ganhou diversos prêmios, entre os quais, o John Moors Cabot, conferido pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia.
Matthews era editor do The New York Times, e se destacava na redação de editoriais e reportagens especiais sobre a América Latina. Com mais de 1,80 m, magro, ligeiramente encorvado, olhos claros e olhar penetrante, Herbert Matthews, desde sua posição liberal, era considerado um dos jornalistas mais prestigiados e importantes nos Estados Unidos.

Herbert Mathews e Fidel Castro
Mister, how do you feel here?, Guerrita queria perguntar, mas essa pergunta pareceu-lhe vulgar para uma pessoa tão experiente na arte das perguntas e respostas.
Saindo de Yara, uma patrulha da estrada os detém. Um guarda, com cara amarrada, aproximou-se deles e Guerrita, sem descer do veículo, respondeu-lhe antes que o homem lhe perguntasse:
— O senhor é um norte-americano rico que está interessado em comprar os campos de arroz de Gómez, disse, enfatizando a palavra rico e o sobrenome do burguês, muito conhecido na zona.
A frase era quase uma redundância para o patrulheiro, pois segundo os jornais e os filmes da época, todos os norte-americanos eram ricos. No entanto, o guarda, satisfeito com as facilidades que sua farda amarela lhe proporcionava para beber uma cerveja sem pagar em qualquer bar de Manzanillo e seus arredores, sabia que incomodar uma pessoa abastada era fatal para suas aspirações de ser promovido para sargento, então, como diria o poeta Amado Nervo, fez um gesto de cortesia e fechando os olhos os deixou passar.
Para Guerra Matos, depois do ardil efetivo, o mais importante era dirigir o melhor possível por aquele caminho inundado por causa das chuvas recentes e chegar ao destino.
Are you cold?, perguntou-lhe o norte-americano quando o viu fazer um gesto de quem sente um momentâneo calofrio. Mas o homem continuou absorto na escuridão e no pensamento. De vez em vez, quando absorvia o cachimbo que não afastava da boca; depois expirava a fumaça pouco a pouco.
Para chegarem a Matthews, os companheiros do Movimento 26 de Julho tiveram que transitar inteligentemente um caminho perigoso. A idéia foi de Fidel Castro, que com 82 homens tinha desembarcado, dois meses antes (2 de dezembro de 1956) pela praia Las Coloradas, na costa norte da província de Oriente.
Após serem surpreendidos pelo exército batistiano em Alegria de Pío, os jovens rebeldes se dispersaram por diferentes lugares da zona. Alguns foram presos ou assassinados às ordens do presidente Fulgencio Batista; outros puderam burlar o cerco e somente sete conseguiram reencontrar-se em Cinco Palmas, onde Fidel, com uns poucos fuzis tornou célebre em 1956 a frase mais otimista do século 20: “Agora sim ganhamos a guerra”!


Iate Granma

Contudo, a imprensa cubana publicou a notícia de que Fidel foi morto e a guerrilha eliminada. E depois, censura total contra tudo o que e parecesse rebeldia.
Quando subia a montanha, Guerrita lembrou aquele fato:
“Entre os dias 9 e 11 de fevereiro de 1957, perdemos o contato com a Serra, até o dia em que o companheiro Radamés Reyes, telegrafista do quartel e aliado do Movimento 26 de Julho, chegou à loja de Rafael Sierra. Trazia a infeliz notícia de que Fidel e o grupo tinham sido liquidados numa emboscada em Los Altos de Espinosa.
“Rafael Sierra me informou e imediatamente transmiti a Celia aquela horrenda notícia. Com muito otimismo, ela disse: ‘Não acredito, pois a imprensa já o teria publicado. Temos que confirmá-lo, mas tenho certeza que ele estava vivo’.”

FIDEL ESTÁ VIVO!


“No dia seguinte, Miguelito, um filho de Epifanio, chegou e me contou o que tinha acontecido. Eles conseguiram fugir com Luis Crespo. E ele estava certo de que Fidel e outra parte do grupo também conseguiram burlar o cerco inimigo. Disse-me que Crespo, expedicionário do iate Granma, queria nos contatar. Celia ordenou-me que fosse buscá-lo. Crespo afirmou que Fidel estava vivo, pois viu que o comandante e o resto do grupo também fugiram”.
“Eu propus a Crespo que o melhor era que ele abandonasse a Serra e respondeu taxativamente: ‘Enquanto houver um fuzil aqui, a luta continuará’. Senti grande admiração pela atitude daquele homem semi-analfabeto, que em meio do desespero, mostrava os valores e a qualidade humana dos expedicionários do Granma.

“No dia seguinte, Miguelito retornou de novo a Manzanillo com a confirmação de que Fidel estava vivo e mandou um mensageiro, que esperava por nós na quinta de Epifanio para recolhê-lo, porque recebeu a ordem de se entrevistar com Celia. Fui buscá-lo e quando regressávamos, deparei na entrada de Manzanillo com um soldado da guarda rural que me pediu carona. Parei o carro e o levei. Entrei na cidade protegido por um guarda inimigo e festejando a vida de Fidel”.
Mas a ditadura de Batista se aferrava à notícia de que Fidel e seus homens tinham sido liquidados. Foi por isso que Fidel pediu um repórter, para que publicasse a notícia, mas os chefes da imprensa nacional tinham medo das represálias e por isso foi necessário buscar um jornalista de um jornal influente.
Ruby Hart Phillips, correspondente do The New York Times em Havana, mandou Matthews vir urgentemente para Cuba, pois tinha uma boa notícia para ele. Na segunda-feira, 4 de fevereiro, a senhora Phillips foi convocada para o escritório de Felipe Pazos, no prédio Bacardí, na rua Monserrate. Ali se encontravam também seu filho Javier Faustino Pérez e René Rodríguez, que explicaram à repórter o interesse de Fidel em receber um jornalista no coração da Serra Maestra.
Logicamente, Phillips se ofereceu de imediato, mas foi convencida de que não devia ser ela, pois as condições da viagem eram muito difíceis para uma mulher, e além disso, ela era a correspondente permanente no país e depois podia ser alvo de uma forte represália do regime de Batista.
No telefonema de Phillips e Matthews não se deram muitos detalhes, mas um jornalista experiente como ele sabia que se tratava de algo muito importante.


Fidel, Raul e Che Guevara

Cinco dias depois, Matthews, acompanhado de sua esposa Nancie, chegou à terra cubana. Em 15 de fevereiro, às 22h, hospedou-se no hotel Sevilla, com sua mulher, e se encaminhou para o oriente do país, com Faustino Pérez, que desde o primeiro momento trabalhou incansavelmente para executar a ordem que Fidel lhe tinha dado.
Faustino acompanhou o destacado jornalista até Manzanillo. Guerrita viu pela primeira vez o jornalista nessa cidade, em casa de Pedro Eduardo Saumell, e pensou que era um homem muito idoso para viajar pelo caminho difícil que o levaria à Serra. E por seu cachimbo e boné, segundo ele, parecia-se mais com um detetive privado ao estilo de Sherlock Holmes do que com um repórter com vigor e juventude para escalar, por exemplo, a Colina de la Derecha de Caracas, que se ergue majestosa, vestida com a verde folhagem da Serra.
Matthews e Nancie estavam cansados pela longa viagem, quase sem dormir, por toda a Rodovia Central. Somente detiveram-se em Camagüey para tomar o café da manhã. Depois continuaram rumo a Bayamo e entraram no trecho mais difícil, custodiado por várias patrulhas do exército. Seus visíveis traços de turistas estrangeiros lhe permitiram entrar em Manzanillo sem muitos contratempos, acompanhados por Faustino Pérez, Javier Pazos e Lilia Mesa.
À medida que a encosta e a água estagnada exigiam maior velocidade do motor do jipe, Guerrita olhava de esguelha o norte-americano, que tinha deixado sua esposa na casa do anfitrião, Saumell, em Manzanillo. Ele estava concentrado na direção do jipe, nas velocidades e no freio, evitando os saltos e as freadas abruptas. Contudo, de vez em vez, quando o jipe dava um grande salto como um cavalo ferido pelo ginete. Sempre que isso acontecia, Guerrita olhava para o rosto do norte-americano, tentando ver algum gesto de contrariedade, mas o homem aceitava sem alarde os saltos do jipe por causa do caminho alagado.
Esta era a terceira viagem no mesmo dia à quinta de Epifanio Díaz, camponês, de amizade sincera e um dos primeiros colaboradores de Fidel e da guerrilha depois do desembarque.

FAUSTINO O LEVOU A MANZANILLO E ALMEIDA FOI O PRIMEIRO A RECEBÊ-LO NA SERRA

A casa do velho Epifanio erguia-se solidária em Los Chorros, a sul do Purial de Jibacoa, na vertente norte da Serra Maestra. Na quinta não havia grandes elevações que possibilitassem o refúgio da guerrilha, embora pelo lugar em que se encontrava, facilitasse o acesso de qualquer veículo ou pessoa que não conhecia o caminho.

Fidel, que conhecia a lealdade e colaboração de Epifanio e de seus dois filhos, Enrique e Miguel, decidiu esperar nesse lugar o jornalista norte-americano e ao mesmo tempo realizar a primeira reunião com os principais dirigentes da planície oriental.
Filho de camponeses, e camponês ele também, Guerrita podia determinar as horas apenas olhando os astros. Por tal motivo, quando viu a lua no centro do céu, soube que, no domingo, 17 de fevereiro de 1957, quase estava terminando.
Foi então que deteve o veículo e disse que havia que continuar a pé. Matthews desceu do jipe e caminhou com os outro em meio da escuridão e do cício do grilo insone. Guerra Matos, conhecedor do caminho, ia à frente e o jornalista se guiava por seus passos, sem soltar o cachimbo nem as ânsias de chegar.
De repente apareceu diante deles o riacho Tío Lucas, que corria entre as árvores da Serra. Para chegar ao acampamento, era preciso atravessar o riacho de águas frias e as correntezas. René o explicou ao repórter do The New York Times e este respondeu com um gesto animador.
Matthews entrou brioso, mas em meio do riacho perdeu o equilíbrio e caiu na água. “Danou-se o norte-americano”! gritou Guerrita. Mas, apesar do surpreendente esbarrão, o jornalista levantou a pequena carteira que levava nas mãos, sem soltar o cachimbo da boca. Guerrita ofereceu-lhe a mão em sinal de ajuda e o norte-americano se incorporou com certos brios juvenis.
O riacho da Serra, que comprazia a Martí mais que o mar, se comporta como um cachorro faminto que lambe constantemente as pedras do fundo até deixá-las polidas. Matthews, ao que parece, não levou em conta o curso fluvial, e esbarrou como um clássico jogador de beisebol à procura da base.
Contudo, não perdeu a postura nem a inteireza, e com gesto elegante, exortou a prosseguir a viagem rumo ao acampamento, que, sem ele saber, apenas faltava uns poucos minutos.
O primeiro a recebê-lo foi o expedicionário Juan Almeida Bosque, que lhe explicou que Fidel se encontrava nesse momento no Estado-Maior e que chegaria ao amanhecer. Matthews simpatizou, desde o primeiro momento, com este homem que apoiava suas palavras na tradução de Pazos e lhe informou que a tropa dispunha de vários acampamentos.

Guerrilheiros en Sierra Maestra
A conversa demorou vários minutos, incorporando-se depois Ciro Frías e outros guerrilheiros. Almeida pediu a Matthews que descansasse um pouco. O norte-americano concordou e tirou do bolso uma caixa de fósforos, que sobreviveu do mergulho da madrugada e acendeu o cachimbo imutável.
Celia Sánchez lembrava:
Naquela noite, fomos caminhar para ver se encontrávamos uma pequena casa que víamos de dia. Íamos Fidel, Armando, Frank, Vilma e eu; e Luis Crespo que sempre estava perdido, e foi como guia. Não encontramos a casa; caminhamos tanto pela noite, que depois não soubemos voltar ao acampamento; deitamo-nos em pleno campo. Nessa madrugada chegou Matthews. Quando Universo chegou com a notícia, ordenamos-lhe que dissesse que Fidel estava em outro acampamento, que o esperasse ali. Almeida, Che e Raúl ficaram com o visitante.
No alvorecer, chegou ao acampamento o grupo liderado por Fidel. Vilma Espín, prestigiosa combatente da clandestinidade em Santiago de Cuba, que foi levada horas antes por Guerrita para o acampamento, e Javier Pazos, foram os tradutores, apesar de Fidel ter bom domínio do idioma inglês.
Raúl se adiantou ao grupo e cumprimentou o jornalista, anunciando a chegada de Fidel. Em seu diário de campanha, o então capitão Raúl Castro narrou o fato da maneira seguinte:
Chegamos ali e dei um abraço no “Flaco” (O Magro) — René Rodríguez —, que cumpriu realmente o que prometeu. Cumprimentei o jornalista e lembrando meu inglês elementar, lhe disse: How are you? Não entendi o que me respondeu e imediatamente chegou F (Fidel), que depois de cumprimentá-lo, sentou-se com ele na cabana e começou a entrevista, que, com certeza, será uma bomba (...) Enquanto corria a entrevista, o oficial Almeida triplicou a vigilância, tomando todas as medidas de segurança ao nosso alcance naquele lugar. Infelizmente esta é uma zona completamente a céu aberto e foi um atrevimento afastarmo-nos tanto de nossos queridos arvoredos. Se nos surpreendiam por causa de uma delação, o Movimento 26 de Julho sofreria um colapso, pois poderíamos perder alguns de nossos valentes homens.
Guerra Matos, por seu lado, o descreveu assim:
“Vi Fidel chegar e cumprimentar o jornalista, e senti uma imensa satisfação, mas não a externei. Tinha contribuído com um grãozinho de areia para este encontro tão esperado por nosso máximo líder, que tinha uma grande importância, pois tornaria público ao mundo que Fidel estava vivo e a guerrilha pronta para o combate. Em todo o percurso, fiz todo o possível para que o norte-americano se sentisse o mais cômodo e seguro possível, pois se ele se arrependesse no último instante, isso marcaria minha vida para sempre.
“Quando escorregou no riacho, fiquei desapontado e não consegui fazer coisa alguma para impedi-lo. Mas o jornalista tinha muita determinação como nós para chegarmos ao acampamento e nenhum bombardeio nos deteria. Percebi o entusiasmo de Fidel quando se dirigia a Matthews e esse regozijo o transmiti a meu coração.
Fidel cumprimentou Matthews com cortesia e singeleza. Com muita naturalidade, sentou-se em frente do repórte do The New York Times e começou a entrevista.

Matthews, como jornalista experiente, havia pesquisado durante sua estada em Havana sobre a situação em Cuba, a repressão a que era submetido o povo e conhecia, também, muitos traços pessoais de Fidel e alguns dados de sua história revolucionária estudantil e sua participação, como líder, no ataque ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba.
Apesar disso, ficou impressionado com a juventude de Fidel, mas, à medida que o ouvia, chegava à conclusão de que o chefe guerrilheiro era um homem invencível.
Fidel contou-lhe a odisséia do desembarque, quando foram apreendidos e assassinados muitos expedicionários, mas a tropa conseguiu reagrupar-se, consolidar-se e desferir-lhe nos dois meses de levantamento, várias derrotas ao exército de Batista.
“Há setenta e nove dias que estamos lutando — expressou Fidel — e somos mais fortes do que nunca. Os soldados estão combatendo mal. Sua moral é baixa e a nossa não pode estar mais alta. Provocamos muitas baixas a eles, mas quando os prendemos, nunca os fuzilamos. Interrogamo-los, tratamo-los bem, ficamos com suas armas e seus equipamentos, e os libertamos.”
E mais para frente, acrescentou:
“O povo cubano ouve pela rádio todas as notícias referentes à Argélia, mas não ouve nem lê uma só palavra a respeito de nós, graças à censura. O senhor será o primeiro a falar-lhe de nós. Temos seguidores na Ilha inteira. Os melhores elementos, especialmente os jovens, são a nosso favor. O povo cubano é capaz de suportar qualquer coisa, menos a opressão.”
Fidel destacou ao jornalista que a ditadura estava empregando contra o povo armas munidas pelos EUA e acrescentou:
“Batista tem 3 mil homens com armas perseguindo-nos. Eu não lhe direi quantos homens tenho, por razões óbvias. O exército opera em colunas de 200 homens. Nós, em grupos de 10 a 40. É uma batalha contra o tempo, e o tempo está ao nosso favor.
Enquanto decorria a entrevista, René Rodríguez, com uma máquina fotográfica antiga que trouxe de Manzanillo, se graduava como correspondente de guerra. Com muito afã, focalizava o entrevistado e o entrevistador e apertava o obturador, enquanto Matthews, com traços ágeis e pouco legíveis, fazia apontamentos num caderno com capa preta.

Fidel (1959)


Frank País, o grande líder clandestino, um pouco afastado, aproveitava o tempo dando manutenção às armas dos rebeldes, ação que se gravaria na memória de Che Guevara, que escreveu depois em seu diário:
“Não presenciei a entrevista, mas segundo me contou Fidel, o homem mostrou-se amigável e não fez perguntas capciosas. Perguntou a Fidel se ele era antiimperialista; respondendo-lhe que sim, que ele era, no sentido de almejar livrar sua pátria das cadeias econômicas, mas não de odiar os Estados Unidos e seu povo. Fidel queixou-se da ajuda militar prestada a Batista, fazendo com que ele visse quão ridículo era pretender que essas armas eram para a defesa do continente, quando não podiam acabar com um grupo de rebeldes na Serra Maestra.”
O diálogo entre Fidel e Matthews se caracterizou pela sutileza do cubano, onde o humor e a originalidade apareciam nos momentos mais relevantes e mais difíceis. A tropa de rebeldes tentava, de qualquer jeito, impressionar o repórter, sem cair em alardes nem mentiras que pusessem em dúvida a veracidade, a existência real e a força da guerrilha.
Por isso, desde o início, Fidel deu a ordem de manter uma atmosfera marcial diante do repórter norte-americano e dar uma imagem de grupo que simulasse ser mais numeroso do que era realmente. Enquanto decorrria a entrevista, os rebeldes entrevam e saíam constantemente do acampamento, aparentando um maior número de pessoas. Isso correspondia à insinuação de Almeida a respeito da existência de vários acampamentos no entorno.
Alguns guerrilheiros, como Manuel Fajardo, passavam ao lado de Matthews, impedindo que ele reparasse em sua camisa completamente rasgada. Outro momento engenhoso, foi quando o então capitão Raúl Castro Ruz, após a chegada do combatente Luis Crespo, informou Fidel:
— Comandante, chegou o enlace da coluna 2!
Fidel ao reparar na tramóia de Raúl, respondeu-lhe:
— Diga-lhe que espere que eu terminaecom o repórter.
A famosa entrevista durou ao redor de três horas. Matthews, visivelmente satisfeito, pediu para Fidel lhe autografar a agenda e assim conferir maior autenticidade aos dados obtidos. Fidel acedeu ao pedido e acrescentou a data do encontro histórico nesse dia.
A certa distância, Guerra Matos viu feliz a despedida do chefe guerrilheiro e do jornalista. Agora tinha uma ordem ainda mais complexa a executar: devia voltar a Manzanillo com Matthews em pleno dia. Javier Pazos o acompanharia no regresso, ao qual se somaria o jovem camponês Reynerio Márquez, que os dirigiria à casa de uma filha de Epifanio, ao lado do caminho do Jíbaro.

Fidel discursando para a multidão



INTERCEPTADOS NOVAMENTE POR UMA PATRULHA DO EXÉRCITO

Guerrita contou:
“Depois da entrevista, mandaram-nos passar para cumprimentar Fidel. O comandante-em-chefe mostrou interesse em saber como foi a viagem do repórter, qual caminho tomaram, quais medidas de precaução foram tomadas e insistiu em que tinha que ser mais cauteloso ao voltar, a fim de impedir que acontecesse alguma coisa ao jornalista.
“Recordei a Fidel que o conheci dez anos atrás, quando dos fatos da campanha de La Demajagua.” Guerrita revelou que o Fidel da Serra Maestra era o mesmo homem convicto e convincente, porém ainda mais inspirado. Gesticulava e punha otimismo em cada uma de suas palavras, que eram capazes de alentar a pessoa mais desanimada.
“Fui para Cayo Espino, para a quinta de meu pai a fim de buscar o carro que ali estava. Voltei e recolhi o norte-americano na casa de Epifanio e às 13h estávamos já em Cayo Espino.
“Sirva o almoço ao jornalista e que ele goste muito. O norte-americano tem que sair daqui com barriga cheia e coração contente’, disse Guerrita com tom de brincadeira a sua mãe e seu pai, camponeses admiradores e colaboradores das forças do Movimento 26 de Julho.”
Enquanto a família de Guerra Matos aprimorava a refeição cubana típica para satisfazer o visitante, o repórter apenas mastigou um pedacinho de frango e, com a maior cortesia do mundo, proferiu, para supresa de todos, cinco palavras que fizeram mudar completamente o itinerário:
Please, take me to Manzanillo. (Por favor, me leva a Manzanillo).
Guerrita não percebeu nesse momento que o pensamento do jornalista estava muito longe de seu estômago, e sua maior fome se concentrava na notícia que tinha gravada em sua cabeça e nos papéis que guardava zelosamente nos bolsos da camisa.
Uma patrulha do exército interceptou-os novamente na rodovia, mas Guerrita conseguiu desinformá-los outra vez. Ao redor das 17h, chegaram à casa de Saumell, onde sua esposa Nancie o esperava sentada na sala.
No limiar da porta, com breves palavras, Matthews propôs a Nancie partir imediatamente para Santiago de Cuba. Subiram apressados no carro que os levaria para o lugar. Viajaram de Santiago de Cuba para Havana num avião e no dia seguinte, o casal de norte-americanos foi para Nova Iorque.
Ao embarcar no avião, Nancie parecia mais gordinha que ao chegar. Será que teria abandonado seu regime, por causa da atraente comida cubana? Nada está mais longe disso. A esperta mulher havia colocado sob a roupa os papéis com todos os apontamentos que fez Matthews de sua entrevista histórica com Fidel. Enganaram, com discreta artimanha, os inspetores da alfândega e a rede dos ferozes membros do Sistema de Inteligência Militar de Batista.
Guerrita, por sua parte, continuou cumprindo suas tarefas, ora como mensageiro ora no translado de combatentes para a Serra Maestra. No mesmo dia em que Matthews abandonou Manzanillo, ele se encarregou de levar para a quinta de Epifanio Díaz mais três expedicionários do iate Granma, dispersos durante o desembarque.
Dias depois da partida do repórter para os Estados Unidos, Guerrita examinava diariamente os jornais à espera de um artigo escrito por Matthews. E no domingo, 24 de fevereiro de 1957, reparou que nas manchetes do El Diario de la Marina apareceu este título de grande impacto:

Fidel Castro


O IMPACTO DAQUELA ENTREVISTA FOI IMPRESSIONANTE



Fidel está vivo!
E mais abaixo, o seguinte sumário:
Entrevistado por Matthews, do “The New York Times”, na Serra. “Rebelde cubano é visitado em seu esconderijo”, aparecia depois na cabeça da página. E depois, a foto do chefe guerrilheiro com um fuzil de mira telescópica e a cópia fotostática do autógrafo que Fidel assinou na agenda do jornalista.
Guerrita, sentado no volante de seu jipe, começou a ler minuciosamente o artigo escrito por Matthews no The New York Times, que foi reinserido pelo El Diario de la Marina em suas páginas.
Matthews começava sua reportagem com esta afirmação:
“Fidel Castro, o chefe da juventude cubana, está vivo e está combatendo fortemente e com sucesso nos inóspitos e quase impenetráveis bosques da Serra Maestra, no extremo sul da Ilha.
“O presidente Fulgencio Batista mantém seu exército nessa região, mas os militares estão travando uma batalha, até agora, perdida para destruir o inimigo mais perigoso, ao qual o general Batista teve que enfrentar em sua longa e difícil carreira como líder e ditador cubano.
“Esta é a primeira notícia certa de que Fidel Castro ainda está vivo e em Cuba. Ninguém relacionado com o mundo exterior, e ainda menos com a imprensa, viu o senhor Castro, exceto este repórter. Ninguém em Havana, inclusive na Embaixada dos Estados Unidos, com todos seus recursos para a recopilação de informação, saberá até ser publicado este artigo que Fidel Castro está realmente na Serra Maestra.”
Matthews não escondeu neste artigo sua repulsa pelo regime de Fulgencio Batista e manifestou categoricamente: “Fidel Castro e seu Movimento 26 de Julho são o símbolo inflamado da oposição ao regime”.
Mais adiante argumentou: “Para facilitar meu acesso à Serra Maestra e meu encontro com Fidel Castro, dezenas de homens e mulheres em Havana e na província de Oriente correram verdadeiramente um grande perigo”.
Guerrita pensou que aquele homem de bonê e cachimba estava referindo-se a ele, e que em nenhum momento transpareceu que sabia do grande perigo que corriam ao levá-lo para se encontrar com Fidel. Por isso, quando releu a linha: “um grande perigo”, cresceu sua admiração pelo repórter veterano.
Continuou lendo e deparou que Matthews fazia um esboço biográfico de Fidel desde o ataque ao quartel Moncada até a expedição do iate Granma. Depois, referiu-se às diversas versões em torno da provável morte de Fidel, que desmentiu taxativamente. A seguir, informou de sua entrevista com Fidel e concluiu com uma breve referência a sua saída para Nova Iorque.
Dias depois, Guerrita deleitou-se novamente com mais dois artigos de Matthews, em que examinava a situação atual de Cuba.
O governo de Batista não teve outra alternativa que suspender a censura da imprensa. Ao que parece, tinha reconsiderado isso a partir da publicação dos artigos de Matthews, uma vez que estes poderiam ser aproveitados pela imprensa internacional para causar um grande escândalo e pôr em ridículo seu regime.
Por isso, os principais órgãos de imprensa de Cuba reproduziram os artigos de Matthews, ao passo que o ministro da Defesa, Santiago Verdeja, emitia algumas declarações em que qualificava as notícias de Matthews como os capítulos de um romance fantástico.
“O senhor Matthews não se entrevistou com o tal insurgente”, ressaltava.
O porta-voz governista impugnava a autenticidade da foto de Fidel e fundamentava sua dúvida com estas palavras:
“Parece ingênuo que, apesar de ter tido a oportunidade de se embrenhar naquelas montanhas e ter realizado a entrevista, não se retratasse com ele para confirmá-lo.”
Guerrita sabia que René lhe tinha tirado algumas fotos a Matthews e a Fidel quando conversavam na Serra Maestra. Talvez, pensou, os negativos se tivessem arruinado ou não tivessem a melhor qualidade para serem visíveis nas páginas de um jornal. Lembrou que Frank subiu também com uma máquina fotográfica, mas não se lembra dele tirando fotografias.
O regime batistiano tentava por todos os meios negar a veracidade da entrevista de Matthews com Fidel, a qual se espalhava por toda a Ilha. Aos depoimentos de Verdeja somaram-se os do chefe militar da província de Oriente, Martín Díaz Tamayo, que declarou à imprensa cubana: “É absolutamente impossível cruzar as linhas onde há tropas. A entrevista é história”.
Em 28 de fevereiro, como um facão no pescoço dos sicários de Batista, El Diario de la Marina mostrava, tirada do The New York Times, na capa a foto esperada em que apareciam Matthews e Fidel dialogando. A foto instantânea, que à velocidade da luz percorreu o mundo, mostrava à esquerda o repórter fazendo apontamentos. À direita, de perfil, o comandante-em-chefe Fidel Castro, com seu boné verde-olivo e sua barba de guerrilheiro, acendendo um charuto cubano, cujas chamas aclaravam as pupilas esperançosas das camadas mais humildes do povo.
Guerrita matos tirou seus óculos e enxugou-os com a ponta da camisa. Depois, pô-los novamente para poder apreciar com mais nitidez a foto tirada por seu companheiro René Rodríguez. Então mostrou um leve sorriso, arrancou o carro e partiu às pressas para a Serra Maestra.http://granmai.cubasi.cu/portugues/2007/febrero/mar20/8mattews-p.html
"No terán Cuba jamás!"
Fidel Castro Ruz


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José Martí (1883-1895)
(Cintio Vitier)

De onde cresce a palma


Primogênito de modestos imigrantes, José Martí, sem nunca renegar sua raiz hispânica, sentiu-se fruto de Cuba, a terra que o viu nascer. Sendo ainda um menino, os espetáculos sanguinolentos da escravidão fizeram-no pronunciar um juramento: “lavar com sua vida o crime”. Ao despontar sua adolescência, já era um lutador contra o colonialismo, que o condenou a trabalho forçado, com corrente e grilhão no pé, num presídio político cujos horrores ele denunciaria e no qual, paradoxalmente, forjou sua liberdade espiritual, sua ética militante, com a qual chegou a pregar uma guerra de libertação “necessária”, mas “sem ódio”.
Seu desterro em Madri e Zaragoza, onde estudou, confirmou, por um lado, seu vínculo com o espírito rebelde do povo da Espanha e por outro, que Cuba não podia esperar nada de seus governos, monárquicos ou republicanos. Sua peregrinação pelo México, Guatemala e Venezuela fê-lo experimentar os problemas das novas repúblicas ainda lastradas por vícios coloniais. Sua permanência de cerca de 15 anos nos Estados Unidos permitiu-lhe conhecer a fundo os grandes criadores da cultura, os méritos e perigos de seu sistema social, as características de seu povo e a crescente tendência imperialista de seu governo.
Este périplo vital foi expresso numa obra literária e jornalística de primeira magnitude, que adquiriu seu impulso definitivo a partir da viagem de Martí à Venezuela em 1881. O orador do discurso no Clube de Comércio de Caracas, o editorialista da Revista Venezuelana, o poeta de Ismaelillo, o autor do Prólogo ao Poema de Niágara de Juan Antonio Pérez Bonalde, já é o iniciador de uma nova literatura hispano-americana que vai ter um Rubén Darío – que chamou Martí de “Mestre” quando este caiu em Dois Rios – sua cabeça mais visível.
Entretanto, Martí não se dedicou – e essa é outra lição da parábola de sua vida – a lavrar para si uma reputação literária, mas sim pôs seu gênio verbal, como orador e como jornalista, a serviço da causa de Cuba e da que chamara, em páginas memoráveis, de “Nossa América”, à conscientização da qual dedicou o testemunho de seus Cenários Norte-americanos.
Vida toda ela dominada pela ética, pelo sentido do dever e do sacrifício, quando José Martí proclama o Partido Revolucionário Cubano, a 10 de abril de 1892 em Nova York, os humildes emigrados na Flórida já começavam a chamá-lo por um apelido – o Apóstolo – que significativamente ultrapassava os marcos políticos habituais.
A partir daquela proclamação precedida por um discurso fundador do novo projeto República – “Com todos, e para o bem de todos”, pronunciado no Liceu de Tampa a 26 de novembro de 1891 – a atividade revolucionária de Martí alcança uma intensidade surpreendente, refletida em seus discursos, em seus artigos no jornal Pátria, em seu epistolário e em suas viagens incessantes, incluindo as que teve de fazer para garantir a incorporação dos dois generais mais prestigiosos da Guerra dos Dez Anos : Máximo Gómez, eleito General-em-chefe do Exército Libertador, e Antonio Maceo.
No citado discurso, Martí tinha dito: “Ou a República tem por base o caráter inteiro de cada um de seus filhos – o hábito de trabalhar com suas mãos e pensar por si próprio, o exercício íntegro de si e o respeito, como de honra de família, ao exercício íntegro dos demais: a paixão, enfim, pelo decoro do homem – ou a República não vale uma lágrima de nossas mulheres nem uma só gota de sangue de nossos bravos.
Princípios desta fecundidade aparecem nos documentos que inspiraram, no fim da guerra, a república martiana, tais como o artigo Nossas idéias, Manifesto de Montecristi e as últimas cartas a Federico Henríquez y Carvajal e a Manuel Mercado. Segundo estes e muitos outros textos, a República seria uma democracia integral, sem privilégios de raça nem de classe, fundada no desfrute eqüitativo da riqueza e da cultura, e em reivindicação das massas produtoras.
Por outra parte, na citada carta a seu confidente mexicano, poucas horas antes de cair em combate, escreveu: “...já estou todos os dias em perigo de dar minha vida por meu país e por meu dever – posto que o entendo e tenho vontade de realizá-lo.” Para Martí, esse dever consistia em impedir a tempo, ao ficar Cuba independente da Espanha, que um novo imperialismo se estendesse pelas Antilhas e caísse ainda com maior força sobre as terras da América.
Para isso, pois, e não só para libertar Cuba do jugo espanhol, organizou José Martí a nova guerra, na qual caiu, em 19 de maio de 1895.
No fundo do povo, a parábola martiana continuou minando lições e apelos, pois como ele disse também a Mercado: “Vou desaparecer, mas meu pensamento não desaparecerá.”
Sua maior glória está em ter sabido falar aos pobres e às crianças, em ter sabido viver e morrer por eles. Continuará, por conseguinte, iluminando-os com seu exemplo, já que sua obra na terra que o viu nascer, na terra toda, não tem fim.

CRONOLOGIA DE JOSÉ MARTÍ


1853 janeiro, 28. Nasce em Havana, à Calle de Paula N.° 41, José Martí; filho de Mariano Martí, de Valencia, e de Leonor Pérez, de Santa Cruz de Tenerife.
1857 Martí viaja com seus pais à Espanha.
1859 Regresso de Martí a Cuba.
1866 Início dos estudos de Segundo Grau, depois de ter estudado com o poeta Rafael María de Mendive.
1869 Martí publica seus primeiros escritos independentistas no jornal El Diablo Cojuelo, de seu amigo, Fermín Valdés. Faz o primeiro e único número de seu jornal La Patria Livre, onde aparece seu drama Abdala. Em 21 de outubro, Martí é detido e encarcerado.
1870 Martí é condenado a seis anos de presídio político e logo transferido por indulto à Ilha de Pinos.
1871 Deportação para a Espanha. Publicação do ensaio El presidio político en Cuba. Matricula-se na Universidade Central de Madri como estudante de direito.
1872 Transferência a Zaragoza por motivos de saúde, em conseqüência de uma doença contraída durante sua condenação nas pedreiras de Havana. Começa a escrever seu drama Adúltera.
1873 Estudos de direito e filosofia na Universidade de Zaragoza. Publicação do trabalho: A República Espanhola ante a Revolução Cubana.
1874 Faz o exame de bacharel e obtém as licenciaturas em Direito Civil e Canônico e em Filosofia e Letras. Em dezembro, abandona a Espanha e visita várias cidades da França. Embarca para o México em Le Havre.
1875 Chega a Veracruz, México. Começa seu trabalho na redação da Revista Universal, onde publica um boletim sob o pseudônimo de “Orestes” e traduz partes de Mes Fils de Víctor Hugo.
1876 Delegado ao Primeiro Congresso Operário Mexicano. Em dezembro, embarca para Cuba.
1877 Regressa ao México e se instala na Guatemala onde é nomeado catedrático de filosofia na Escola Normal Central da Guatemala. Em dezembro, viaja ao México para contrair matrimônio com Carmen Zayas.
1878 Publica o folheto Guatemala. Regressa à sua cátedra na Guatemala; mas renuncia após poucos meses e viaja para Cuba. É negada sua solicitação de exercer a advocacia. Nasce seu filho, José Francisco, em Havana.
1879 Discursos políticos em Cuba. Nova deportação para a Espanha. Em dezembro, viaja para a França.
1880 Chega a Nova York. Inicia sua colaboração com os periódicos The Hour e The Sun.
1881 Viaja para a Venezuela. Funda a Revista Venezuelana. Regressa a Nova York. Inicia sua colaboração com A Opinião Nacional, de Caracas.
1882 Publica seu primeiro livro de Versos: Ismaelillo. Escreve seus Versos livres. É nomeado correspondente do La Nación, de Buenos Aires.
1883 Direção da revista La América em Nova York. Publica várias traduções, entre outras a de Noções Lógicas, de Stanley Jevons; e sua famosa “Carta” sobre a morte de Marx.
1884 Entrevista com Máximo Gómez e Antonio Maceo em Nova York. Analista dos movimentos sociais nos Estados Unidos.
1885 Publicação de numerosas crônicas e estudos sobre a vida social, política, científica e cultural nos Estados Unidos.
1886 Correspondente do La Nación, de Buenos Aires; do El Partido Liberal, do México; do La República, de Honduras; e do La Opinión Pública, de Montevidéu.
1887 Morte do pai em Havana. Novamente é nomeado Cônsul do Uruguai. Prossegue sua intensa atividade jornalística.
1888 Representante da Associação de Imprensa de Buenos Aires no Canadá e Estados Unidos. É nomeado sócio-correspondente da Academia de Ciências e Belas Artes de São Salvador.
1889 Publica o folheto Cuba e os Estados Unidos, e edita o primeiro número de sua revista dedicada às crianças da América: A Idade de Ouro.
1890 É nomeado Cônsul da Argentina e do Paraguai em Nova York; e representante do Uruguai na Comissão Monetária Internacional Americana em Washington.
1891 Renuncia a seus cargos diplomáticos para dedicar-se à causa da independência de Cuba com toda a liberdade. Publica seus Versos Simples e o ensaio Nuestra América. Pronuncia seus famosos discursos: Com todos e para o bem de todos e Os pinos nuevos.
1892 Funda o Partido Revolucionário Cubano e edita o primeiro número de seu jornal Pátria. Viagens e discursos pelos Estados Unidos, Haiti, Jamaica e Santo Domingo.
1893 Continua suas viagens e sua atividade em favor da independência de Cuba.
1894 Entrevista com Máximo Gómez em Nova York e Filadélfia. Viagens pela América Central e pelo Caribe, organizando a guerra de independência. Entrevista com Porfirio Díaz no México. Regressa aos Estados Unidos.
1895 Viagem a Montecristo, onde redige o Manifesto de Montecristo e sua carta-testamento política a Federico Henríquez y Carvajal; sua carta-testamento literária a Gonzalo de Quesada y Aróstegui; e sua carta não-concluída a Manuel Mercado. A 15 de abril, o Generalíssimo Máximo Gómez o nomeia Major-General. A 19 de maio, cai mortalmente ferido numa ação de guerra em Dois Rios. Seu cadáver é transferido para Santiago de Cuba. É enterrado em 27 de maio.
Síntese de seu pensamento:
-- Antiimperialista e verdadeiro paladino da unificação da América Latina e do Caribe. Na sua condição de delegado do Partido Revolucionário Cubano, pôs em prática sua concepção de política exterior que, baseada no latino-americanismo e no antiimperialismo, não limitava seu desempenho ao estabelecimento de nexos com os governos e a estendia aos povos. Em dezembro de 1889, Martí pronunciou um discurso conhecido como “Mãe América”, que constitui todo um projeto de política exterior, onde fixa os princípios que deviam reger as relações interamericanas e a unidade de nossos povos, como força imprescindível para frear e enfrentar a conquista da América Latina pelos Estados Unidos.
─ Identifica a revolução com as profundas mudanças ansiadas por essa massa não resgatada que reflete em sua mísera situação todos os horrores da grande exploração colonial. Dirá “Com os pobres da terra quero minha sorte lançar.”
─ Entende que a verdadeira revolução há de nascer da massa indígena, porque é nela onde a dignidade americana tem sido vilmente ultrajada e onde estão contidas, portanto, as exigências mais radicais para a reivindicação de uma nova vida.
─ Pensa que a independência sozinha não é a solução para as novas repúblicas. Para ele, a independência, se não vai acompanhada de um profundo projeto libertário orientado a erradicar todas as deformações criadas pela dominação estrangeira – tanto econômicas como políticas e culturais – não será mais do que uma simples troca de formas. Por isso, advertiu: “O problema da independência não era a troca de formas, mas sim a troca de espírito.”


Citações importantes:

Sobre Nossa América:“Na América, há dois povos e não mais que dois, de alma muito distinta pelas origens, antecedentes e costumes e só semelhantes na identidade fundamental humana. De um lado, está nossa América e todos seus povos que são de uma natureza e de berço parecido ou igual e igual mistura imperante; da outra parte, está a América que não é nossa . . .”

Sobre a unidade:“É a hora do reencontro e da marcha unida e temos de andar em quadro apertado, como a prata nas raízes dos Andes . . .

Sobre a cultura nacional: “A universidade européia há de ceder à universidade americana. A história da América, dos incas até aqui, há de ser ensinada de cor, ainda que não ensine a das arcas da Grécia. Nossa Grécia é preferível à Grécia que não é nossa. É, para nós, mais necessária. Os políticos nacionais hão de substituir os políticos exóticos. Enxerte-se o mundo em nossas repúblicas, mas o tronco tem de ser o de nossas repúblicas. E cale-se o pedante vencido, pois não há pátria em que o homem possa ter mais orgulho do que nas nossas dolorosas repúblicas americanas.”
Sobre os jovens na América:“Os jovens da América arregaçam a camisa, metem as mãos na massa e a fazem crescer com a levedura de seu suor. Entendem que se imita demasiadamente e que a salvação está em criar. Criar é a senha desta geração. “O vinho, de banana; e se ficar azedo, é nosso vinho !”
Sobre a luta ideológica:“Trincheira de idéias valem mais do que trincheiras de pedra... Uma idéia enérgica, flamada a tempo ante o mundo, detém, como a bandeira mística do juízo final, um esquadrão de encouraçados.”
Sobre a autocrítica:“Estratégia é política. Os povos hão de viver criticando-se, porque a crítica é a saúde; mas, com um só peito e uma só mente. Abaixar-se até os infelizes e erguê-los nos braços. Com o fogo do coração descongelar a América coagulada!”


O legado filosófico de José Martí



Não tememos as palavras e podemos concordar com aqueles que afirmam que entramos em uma era pós-moderna e, a esta altura da história, só há duas formas de conceber um tempo posterior à idade moderna: uma seria o caos presente na dramática realidade de hoje que ameaça destruir a civilização que chamaram de ocidental e inclusive toda a humanidade. Outra consiste em coroar a idade da razão com princípios éticos e iniciar a verdadeira história do homem. Tudo o que foi anteriormente criado ficará sendo pré-história. É a única forma racional de assumir uma época que suceda à modernidade e ao capitalismo.
Não há mais alternativa do que enfocar problemas de caráter filosófico, deixando para trás terminologias de origem européia que estabelecem uma cerca com as massas e ir diretamente ao pensamento dos maiores filósofos do velho continente nos dois últimos séculos.
Na história da humanidade, não houve nenhuma mudança importante que não estivesse precedida por uma elaboração intelectual. Não há império romano sem direito romano e a cultura que se acumulou no Mediterrâneo; não teria existido ascensão do capitalismo no trânsito entre a idade média e a moderna, sem o Renascimento; tampouco, teriam existido revoluções burguesas e ascensão do capitalismo europeu, nos finais dos séculos XVIII e XIX, sem a ilustração e os enciclopedistas; não haveria, tampouco, movimento emancipador da nossa América, sem a enorme cultura representada por Bolívar, Martí e os próceres e pensadores de nossas pátrias. Os exemplos podem ser muitos outros.
A necessidade de uma reflexão filosófica e cultural profunda nos está imposta pelos tempos de mudança em que vivemos. Em que consistiria? Como enfrentar, na prática, os problemas teóricos fundamentais de nossa época para abrir caminho à ação eficaz?
Para encontrar o caminho de um novo pensamento filosófico latino-americano, devemos partir de seus antecedentes e identificar quais são os problemas concretos de hoje.
Em 1887, nosso Herói Nacional, ao analisar com visão premonitória os perigos que se gestavam a partir dos Estados Unidos, assinalou : Vão-se levantando no espaço, como imensos e lentos fantasmas, os problemas vitais da América: – os tempos pedem algo mais do que fábricas da imaginação e urdimento de beleza. Podem-se ver – em todos os rostos e em todos os países, como símbolos da época – a vacilação e a angústia. O Mundo inteiro é hoje uma imensa pergunta.
Passaram-se mais de cem anos destas palavras e elas mantêm uma vigência renovada. Como responder a esta pergunta no século XXI quando o desafio se apresenta de uma maneira mais dramática e universal? Os cubanos contam com o arsenal de idéias filosóficas presentes no pensamento de José Martí. Assinalemos as seguintes :
– As concepções acerca do que ele chamou de “a ciência do espírito”.
– As idéias expressas com beleza poética nos versos do poema Yugo y estrella.
– Os enfoques de grande valor no campo da pedagogia, em relação aos vínculos entre a maldade e a estupidez e entre a bondade e a inteligência.
– O conceito de que todo homem leva dentro dele uma fera adormecida, porém, ao mesmo tempo, somos seres admiráveis capazes de colocar rédeas na fera.
– A aspiração a uma filosofia com a essência do conceito de universo, quer dizer, uno no diverso.
– A idéia acerca de uma filosofia das relações.
– Os critérios acerca da importância da educação e da cultura na libertação humana.
– As idéias éticas e estéticas e a relação entre elas: Verso: ou nos condenam juntos / ou nos salvamos os dois.
– O princípio que estabelece: Enxerte-se o mundo em nossas repúblicas; porém, o tronco tem de ser o de nossas repúblicas.
– As concepções sobre o equilíbrio do mundo, analisadas tanto no individual como no social, assim como em sua dimensão universal.
Estas idéias martianas e muitas outras, mais vistas em sua relação com o melhor do pensamento filosófico universal de todas as épocas, desde a mais remota antiguidade até a atualidade, manifestam uma carga de ciência e utopia, de realidade e sonho por um mundo melhor.
Em Martí, fazem síntese: o imenso saber da modernidade européia; a mais pura tradição ética de raízes cristãs, que em Cuba nunca se situou em antagonismo com as ciências; a influência despreconceituosa das idéias da maçonaria, em seu sentido mais universal e de solidariedade humana; a tradição bolivariana e latino-americana, que Martí enriqueceu com sua vida no México, América Central e Venezuela; e as idéias e sentimentos antiimperialistas surgidos a partir das próprias entranhas do império ianque, onde ele viveu durante mais de quinze anos, mais que um terço de sua vida, e completou ali seu pensamento político, social e filosófico, a partir da óptica dos interesses latino-americanos. Foi, sem dúvida, o analista mais profundo sobre a realidade norte-americana da última metade do século XIX.
Antônio Gramsci afirmou que toda grande filosofia começava por verdades do senso comum. Vejamos a primeira: todo homem precisa comer, vestir-se, ter um teto, antes de fazer filosofia, religião e cultura. Derivemos dela a segunda: não há homem, no sentido universal que nós todos conhecemos, sem a cultura.
Que ensinamento extraem os cubanos hoje, destas idéias e de suas conseqüências ulteriores? A primeira e mais importante lição está em que o déficit principal do que se chamou esquerda nos últimos cem anos foi ter divorciado as lutas sociais e de classes da melhor tradição cultural latino-americana. Isto não sucedeu dessa forma em Cuba. Aqui, durante o século XX, articulou-se o legado patriótico e antiimperialista do século XIX com as idéias socialistas.
José Martí representa o símbolo supremo de dois séculos de história cubana e americana. Uma cultura que, desde sua gestação e nascimento, está dedicada à ação e, portanto, vinculada aos problemas imediatos de nossa atualidade.
Amar e pensar, eis aí a mensagem martiana que devemos assumir frente aos desafios que a humanidade tem diante de si.
Por Armando Hart Dávalos
Fonte: http://www.comitebolivarianosp.org/america/view.asp?id=46
Da série: América índia e latina e seus libertadores