quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

QUARTA VIA: Ciência

E chegam as células 3i
Alysson Muotri
Recentemente participei de um congresso científico sobre o desenvolvimento embrionário de diversas espécies na simpática cidade de Nara, no Japão. A idéia era juntar especialistas em diferentes aspectos do desenvolvimento animal com o intuito de descobrir vias bioquímicas comuns que levam o zigoto (o óvulo fecundado) a se desenvolver num organismo adulto.

Um ponto interessante nesse congresso foi que os palestrantes tiveram de se apresentar dentro de um típico teatro Noh e, como manda a tradição, sem os sapatos. Por incrível que pareça, esse simples ato ajudou a limpar o ego de muitos palestrantes, prevalecendo um clima de amizade e companheirismo científico que havia tempo eu não presenciava.

As etapas iniciais do desenvolvimento são extremamente complicadas: uma única célula tem de ser capaz de se dividir e se especializar em todas as células do organismo, formando tecidos organizados e interligados, incluindo órgãos complexos como o cérebro. Na minha visão, o que muitos chamam de “milagre” não passa de uma série de reações físico-químicas que podem ser compreendidas, da mesma forma que entendemos como diversas partes formam um computador com rápida capacidade de processamento.

Obviamente as células-tronco embrionárias são uma das melhores ferramentas para o estudo de estágios iniciais do desenvolvimento. De fato, desde 1998, quando a primeira linhagem de célula-tronco embrionária humana foi isolada, o número de trabalhos científicos na área tem crescido de forma exponencial. Esse reconhecimento é devido ao fato de que, a partir delas, podemos estudar os fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade de elas se especializarem em outras células. Por isso mesmo, esse estado “imortal” em que as células-tronco embrionárias são mantidas é chamado de estado pluripotente.

Não foi fácil conseguir definir as condições de cultura para que as células se mantivessem nesse estado pluripotente. Atualmente, usa-se uma série de fatores derivados de animais, como o soro bovino e a presença de células-suporte derivadas de camundongos. E é por isso mesmo que as células-tronco humanas embrionárias estão, até hoje, contaminadas por produtos animais e não são aconselháveis para ensaios clínicos em humanos (ver “Células-tronco, células ainda contaminadas…”).

Mas nesse congresso um grupo de pesquisadores da Inglaterra apresentou resultados extremamente importantes, mostrando que é possível manter as células no estado pluripotente utilizando apenas três compostos sintéticos. Melhor ainda, são compostos que podem ser adquiridos por qualquer grupo de pesquisa no mundo. Na presença dessas drogas, as células conseguem propagar-se indefinidamente e permanecer pluripotentes, sem nenhum outro auxílio externo. Pôde-se inclusive derivar novas células-tronco embrionárias na ausência de qualquer produto animal. Essas novas células foram batizadas de células 3i (no inglês, “3i cells”). O “i” se refere à natureza química dos compostos - são três inibidores.

Para chegar a esse coquetel de inibidores, o grupo partiu de uma triagem racional de uma biblioteca de compostos químicos. Sem entrar em detalhes muito técnicos, já se sabia que as células-tronco embrionárias usavam seus receptores para captar fatores do ambiente que poderiam induzir sua especialização. Então é óbvio que um desses inibidores esteja atuando nesses receptores (mais precisamente, receptores conhecidos como FGF). Os outros dois compostos atuam em proteínas encarregadas de controlar a divisão celular.

Toda célula precisa duplicar seu DNA antes de se dividir, mantendo sua imortalidade. Algumas proteínas internas da célula auxiliam nessa tarefa e, ao mesmo tempo, monitoram a integridade do novo DNA sintetizado. Durante esse controle de qualidade do DNA, a célula toma a decisão de se especializar, continuar se dividindo ou morrer. Esses dois inibidores enganam as células, fazendo com que elas pulem a parte do ciclo no qual tinham a chance de optar por se especializar. Ou seja, ou elas continuam a se dividir ou morrem. Logicamente, nessas condições, apenas as células-tronco embrionárias serão selecionadas em cultura. Esses compostos são conhecidos como inibidores de MAPK e de Erk, duas proteínas que compartilham vias bioquímicas comuns durante a divisão das células-tronco embrionárias.

A descoberta ainda inédita, assim que passar pelo crivo da crítica dos revisores e for publicada, promete dar uma chacoalhada no meio científico. Não só porque nos livra de uma xenocontaminação (ou seja, contaminação por outras espécies) indesejada, mas também porque elimina o conceito de diferenciação por “default”. Eu explico. Muitos pesquisadores acreditam que as células-tronco embrionárias tendem a se especializar sozinhas, de forma espontânea. Na verdade, ignoram que fatores secretados por elas mesmas são os responsáveis pela saída do estado pluripotente. O que o grupo inglês mostrou com as células 3i é que o “default”, ou seja, o estado “normal”, é justamente o estado pluripotente.

Depois da reprogramação de células somáticas e origem das células iPS (“induced Pluripotent Stem”, ou “células-tronco pluripotentes induzidas”) pelo grupo japonês de Shinya Yamanaka, faltava justamente saber como manter essas células indefinidamente no estado pluripotente. A união dessas duas ferramentas promete alavancar as pesquisas, tornando o sonho de uma eventual terapia celular um pouco mais real.

Infelizmente, as descobertas revolucionárias na área das células-tronco embrionárias continuam saindo dos mesmos países: EUA, Japão e Inglaterra. Erra quem acha que isso só acontece por causa das verbas destinadas à pesquisa. Conversando com líderes japoneses, descobri que a maioria dos grupos tem um orçamento parecido com o de grupos brasileiros. Também descobri que eles sofrem com taxas de importação de material científico caríssimas, além do óbvio problema com a língua inglesa. Mas o que eles têm de forte é muita determinação, longas horas de trabalho pesado no laboratório, um planejamento ousado, vontade política de atrair seus jovens pesquisadores que saíram para o exterior e visão de futuro, principalmente em áreas tecnológicas de ponta. Tirei os sapatos e o chapéu.
Fonte:http://colunas.g1.com.br/espiral/

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Estudo britânico questiona eficácia de antidepressivos
Pesquisadores questionaram efeito do Prozac

Um estudo conduzido na Grã-Bretanha concluiu que a última geração de antidepressivos é pouco eficaz no tratamento da maioria dos pacientes.

Os pesquisadores, da Universidade de Hull, argumentam que os medicamentos “ajudam apenas um pequeno grupo de pessoas que sofrem de depressão severa”.

A equipe de especialistas, cujo estudo foi publicado na revista especializada PloS Medicine, revisou os dados de 47 testes clínicos.

Os cientistas se concentraram nos medicamentos conhecidos como Inibidores Seletivos da Recaptura de Serotonina (ISRS), que atuam aumentando o nível da serotonina no cérebro, um hormônio que controla o humor.

Entre os remédios examinados estavam o Prozac, Seroxat e Efexor, todos eles amplamente receitados na Grã-Bretanha.

Os pesquisadores descobriram que os efeitos positivos das drogas em pacientes com depressão profunda foram “relativamente pequenos”.

O coordenador da pesquisa, Irving Kirsch, afirmou que a diferença entre os pacientes que tomaram placebo e os que tomaram remédios para combater o mal “não foi muito grande”. “Isso significa que pessoas com depressão podem melhorar sem tratamentos químicos”, disse o pesquisador.


Controvérsia


Para os pesquisadores, a maioria dos pacientes parece acreditar que os remédios funcionam, e isso se explica pelo chamado efeito placebo - as pessoas se sentem melhor pelo simples fato de acreditarem que estão tomando um remédio que os ajudará.


“Diante desses resultados, parece haver poucas razões para se receitar antidepressivos a menos que tratamentos alternativos tenham falhado.”

A pesquisa gerou controvérsias no meio farmacêutico. A Eli Lilly, que fabrica o Prozac, disse que “extensas pesquisas médicas e científicas demonstraram que o medicamento é um antidepressivo muito eficaz”.

E um porta-voz da GlaxoSmithKline, que produz o Sexorat, argumentou que o estudo britânico se concentrou em “uma pequena amostra do total de dados disponíveis”.

Fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/02/080226_antidepressivoseficacia.shtml

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