sexta-feira, 25 de abril de 2014

Da Liberdade

por Rui Herbon,

É saudável pensar no valor da liberdade todos os dias. Quando se fala pouco ou de passagem das liberdades individuais corremos o risco de esquecê-las e submetermo-nos aos arbítrios de poucos, ou de muitos, tanto faz, que querem a uniformidade do pensamento e da acção. A sociedade é plural por natureza. Querer encaixar todos num partido – uso o termo em sentido lato – é um abuso contra a dignidade das pessoas.
 
Vou reproduzir três textos sobre a liberdade extraídos de leituras antigas.

O primeiro é de Stefan Zweig no seu ensaio sobre Montaigne. Diz Zweig que «o único erro, o único crime é querer encerrar a diversidade do mundo em doutrinas e sistemas, afastar os outros homens do seu livre arbítrio, do que realmente querem, e obrigá-los a querer algo que não está neles. Assim actuam os que não respeitam a liberdade, e Montaigne abominava o frenesi dos ditadores do espírito que, com arrogância e vaidade, queriam impor ao mundo as suas novidades e para quem o sangue de centenas de milhares de homens nada importava, desde que saíssem victoriosos».

A outra citação é de José Antonio Marina, que em Os sonhos da razão escreve que «quando em Maio de 1793 a Convenção aprovou as perseguições revolucionárias, Marat explicou o sentido da medida: a liberdade, disse, deve estabelecer-se mediante a violência. Chegou o momento de organizar momentaneamente o despotismo da liberdade para destroçar o despotismo dos reis. Isso já o havia dito Rousseau quando afirmou que há que obrigar as pessoas a serem livres».

A terceira referência escreveu-a George Steiner em The New Yorker falando do perigo da tirania. Disse que «sabemos – e deveríamos saber desde as fantasias utópicas de Platão – que os ideais de igualdade, de racionalidade colectiva, de austeridade abnegada, somente se podem impor por um custo totalmente inaceitável. O egoísmo humano, o impulso competitivo, a ânsia de esbanjamento e ostentação só podem ser afogados por uma violência tirânica. E, por sua vez, aqueles que exercem semelhante violência desintegram-se eles próprios na corrupção. De maneira inelutável, os ideais colectivistas-socialistas parecem conduzir a uma forma ou outra de Gulag».

Fim de citações.
Fonte: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/
 

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