A minha mãe, que depois de dar à luz meia dúzia manteve uma elegância de despertar a inveja, disse-me uma vez e uma vez bastou: uma mulher nunca deve usar nada que se sobreponha a ela própria.
Retive
a lição. Nenhum batom deve ser mais poderoso do que o sorriso, da mesma
forma que é triste se uma sombra nas pálpebras for mais densa e
expressiva do que o olhar que emoldura. Também o verniz das unhas é
excesso se se der o caso de chamar mais a atenção do que as mãos, com as
suas linhas e os seus gestos, impacientes ou ternos. Colar ou
gargantilha que brilhem mais do que a curva do pescoço para os ombros e
as suaves concavidades das clavículas, são um desperdício. Tecido
nenhum, textura nenhuma pode inspirar mais o toque do que a sua própria
pele. As cores e os padrões não podem berrar ao ponto de não se conseguir ouvir o que
ela tem para dizer. E os sapatos não podem ser um objeto de desejo mas
antes despertar o desejo de espreitar os pés. Por fim, o perfume, o
perfume é suicídio se for mais apetecível do que o cheiro natural,
porque muitas usam o mesmo perfume mas o cheiro de um corpo não se
repete nem se esquece.
Lembrei-me disto porque agora se usam tanto
os livros e está na moda apregoá-los, exibi-los, enumerá-los,
fotografá-los, agendá-los com rigores de calendário e comprá-los
compulsivamente como roupa ou bijutaria. Não vale a pena. Não
vale a pena ostentar o livro se não saltar à vista a inteligência.
É tudo uma questão de escolher entre a elegância e o carnaval.
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