terça-feira, 25 de novembro de 2008

Escalas do tempo



Pouca gente tem consciência de que a Estação Espacial Internacional é o embrião da primeira cidade humana no espaço. E poucos se atentaram que, em 20 de novembro, ela completou dez anos. Uma década em que governos mudaram, líderes políticos ascenderam e caíram, impérios desmoronaram e guerras modificaram o mundo.

Daí... É irresistível recorrer a "Mundo Imaginados", livro do físico Freeman Dyson no qual ele brinca com sete escalas do tempo: dez anos, cem anos, mil anos, 10 mil anos, 100 mil anos, 1 milhão de anos e o infinito. No livro, o velho cientista prevê que no próximo século plantas e animais alterados por engenharia genética já estejam adaptados para assentamentos humanos na Lua e em alguns asteróides por perto. E talvez em Marte.

De volta ao Brasil terráqueo, também em 20 de novembro. A Câmara de Deputados aprovou em Brasília o projeto que reserva 50% das vagas nas universidades federais para alunos vindos de escolas públicas. Metade dessas vagas será distribuída de acordo com critérios "raciais" e a outra metade, de acordo com a renda familiar per capita. Por quê? Porque a maioria dos alunos nas universidades públicas estudou em escolas particulares. Então, há quem diga: não pode haver universitários privilegiados!

Não é bem assim. Eles estudaram muito e passaram por mérito. Grande parte desses "privilegiados" se origina de famílias simples que pagaram a formação escolar de seus filhos porque a puseram acima de tudo. Não são os responsáveis pelo alto índice de reprovação no vestibular dos alunos vítimas da má qualidade de escolas públicas de ensino médio. Aí sim, uma injustiça social por incompetência política de governos. E de deputados.

Por que não criam um projeto viável que obrigue o governo a priorizar e injetar com urgência mais dinheiro na educação básica? Que exija emergência de melhores escolas com professores capacitados e bem remunerados? Hoje o investimento do país em educação chega a 4% do PIB. Gente, por que não dobrar esse investimento? Aí sim, valeria uma "operação de guerra" para tirar um pouquinho de cada orçamento a fim de instituir um ensino fundamental, médio e universitário de excelente qualidade para todos.

Nada contra cotas sociais provisórias, desde que não haja risco de retrocesso no ensino das universidades públicas. Concordo que quem parte de um patamar mais elevado, de famílias cultas com formação superior, obviamente leva vantagem nos estudos. Mas usar da busca por justiça e equilíbrio como desculpa para não olhar para frente, para as cobranças futuras, pode gerar prejuízos para todos, principalmente para aqueles que mais precisam de ajuda. Ações afirmativas são realmente afirmativas se sabemos como avaliar seus resultados. Em termos de educação, temos de usar a escala de tempo correta. Dez anos? Cem anos?

Enviado por Ateneia Feijó

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