segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Seleção de versos - Tereza Halliday

Cecília Meireles

A seleção de versos abaixo publicada tenho guardada há algum anos. Uma amiga me enviou e eu gostei tanto que agora compartilho com vocês.

CELEBRANDO O CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE CECÍLIA MEIRELES NO DIA 7 DE NOVEMBRO 2001, EIS UMA SELEÇÃO DE ALGUNS DE SEUS VERSOS MEMORÁVEIS:

1) Ambição gera injustiça / Injustiça, covardia. (Romanceiro da Inconfidência).

2) Mas o canto, mas o sonho / de que modo encontrarão / o que não é vão? ("Praia do Fim do Mundo", in Poemas Escritos na India).

3) ... Vivemos do que perdura, / não do que fomos. ("Quinto Motivo da Rosa", in Mar Absoluto).

4)... Aprendi com as primaveras / a deixar-me cortar e voltar sempre inteira. ("Desenho" in Mar Absoluto).

5) Quem pode ser verdadeiro / sem que desagrade? (Romanceiro da Inconfidência).

6)Tenho vergonha dos meus sonhos de beleza. ("Transeunte"in Mar Absoluto).

7) Cada palavra um folha no lugar certo. (41, in Metal Rosicler).

8) Desarmados de corpo e alma / vivendo do que a dor consente. (36, in Metal Rosicler).

9) Como exígua lançadeira / vou sendo o melhor que posso / de novo e antigo. (Onze, in O Aeronauta).

10) Por mais que seja querida / há menos felicidade / na volta do que na ida. (Oito, in O Aeronauta).

11) Liberdade - essa palavra / que o sonho humano alimenta / que não há ninguém que explique / e ninguém há que não entenda!. (Romanceiro da Inconfidência).

12) Com a ternura humilde e o remorso / dos meus desacertos humanos. ("Elegia a uma pequena borboleta"in Retrato Natural).

13) ... Libertar-me / das paredes, de tudo que aprisiona: / atravessar demoras, vencer tempos / pululantes de enredos e tropeços. ( in Solombra)

14) Como as palavras se torcem / conforme o interesse e o tempo!. (Romanceiro da Inconfidência).

15) Não faças de ti / um sonho a realizar / Vai. (XXIII, in Cânticos).

16) Nada foi projetado e tudo acontecido. ( in Solombra).

17) Não digas que és dono / Sempre que disseres / Roubas-te a ti mesmo.../ Inutiliza o gesto possuidor das mãos. (XX, in Cânticos).

18) Não marques limites ao teu caminho./ A Eternidade é muito longa. / E dentro dela, tu te moves, eterno. (XV, in Cânticos).

19) A sede de ouro é sem cura / e por ela, subjugados, / os homens matam-se e morrem, / ficam mortos mas não fartos. (Romanceiro da Inconfidência).

20) Sede assim - qualquer coisa / serena, isenta, fiel. ("Sugestão", in Mar Absoluto).

21) Tenho fases de ser tua / Tenho outras de ser sozinha. ("Lua Adversa", in Vaga Música).

22) Humildade de amar só por amar, sem prêmio / que não seja o de dar cada dia o seu dia. (Solombra).

23) Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido / a sombra é que vai devagar. ("Inscrição", in Mar Absoluto).

24) Porque a vida, a vida, a vida / A vida só é possível / reinventada. ("Reinvenção", in Vaga Música).

25) Construirás os labirintos impermanentes / que sucessivamente habitarás. ("Desenho", in O Estudante Empírico).

26) ... Não sou esta apenas / mas a de cada instante humano / em todos os tempos que passaram. ("Via Appia", in Poemas Italianos).

27) Somos sempre um pouco menos do que pensávamos. / Raramente, um pouco mais. ("Desenho", in O Estudante Empírico).

28) O pensamento é triste, o amor, insuficiente / e eu quero sempre mais do que vem nos milagres. ("Explicação", in Vaga Música).

29) Fala-se com os homens, com os santos / consigo, com Deus... e ninguém / entende o que se está contando / e a quem. ("Amém", in Vaga Música).

30) Só é puro / o silêncio - e exato e claro. / Sempre uma sombra estremece / entre os pensamentos ditos. (Nove, in O Aeronauta).

31) Como hei de acusar ou perdoar? / Nada sei. / Contemplo. ("Contemplação", in Mar Absoluto).

32) Tão pouco somos - e tanto causamos, / com tão longos ecos!. ("Contemplação", in Mar Absoluto).

33) Terra e sol, lua e estrelas / giram de tal maneira bem / que a alma desanima de queixas. ("Amem", in Vaga Música).

34) Eu quero a memória acesa / depois da angústia apagada. ("Desejo de regresso", in Mar Absoluto).

35) Até sem barco navega / quem para o mar foi fadada. / Deus te proteja, Cecília / que tudo é mar e mais nada. ("Beira Mar", in Mar Absoluto).

36) Mando-te um som de vida / em meus rios de espanto. (Solombra).

37) Deus consente que os homens venham / a esta intimidade de amigos / somente por mostrar que se amam / que estão no mundo, que estão vivos. ("Família Hindu", in Poemas escritos na India).

38) Dize-me tu, se é muito tarde / se a vida é longa e a dor é perto / e é tudo feito de acabar-se. ("Serenata", in Retrato Natural).

39) Acordamos despojados, divididos, dolentes / e, exaustos, começamos a recompor / aquilo que, sem nenhuma certeza / supomos no entanto, ser, em alma e esperança. ("Todos acordamos tristes", in Indéditos).

40) Faze a tua palavra perfeita. / Dize somente coisas eternas. (Cânticos).

Em homenagem ao Centenário de nascimento de Cecília Meireles (1901-1964), esta seleção de "versos memoráveis" foi organizada por mim e é compartilhada com aqueles que têm "sede de beleza" e possam encontrar num verso, uma janela para si mesmos e para o mundo. Ela atribuíu esse potencial à poesia, em sua última palestra proferida na Associação Brasileira de Imprensa, em 1963.
Tereza Halliday.

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