terça-feira, 4 de novembro de 2008

Saiba quais são os interesses do Brasil em jogo nas eleições dos EUA

McCain e Obama


McCain e Obama querem ser o 44º presidente dos Estados Unidos
A escolha de um novo presidente nos Estados Unidos tem profundo impacto não só na vida dos americanos, mas também em outros países.

Dependendo da linha política e econômica adotada pelo novo presidente, o mundo terá uma reação diferente. Algumas questões, que aparentemente dizem respeito apenas aos Estados Unidos, são de interesse também da América Latina, incluindo o Brasil.
A BBC Brasil mostra quais são os principais interesses do Brasil em jogo nas eleições americanas.

Comércio Exterior

Os Estados Unidos são o maior comprador de produtos brasileiros, representando 14% das exportações. Para o governo brasileiro, esse número poderia ser maior caso os Estados Unidos diminuíssem a ajuda financeira que concedem aos produtores locais, na forma de subsídios.
Uma das grandes expectativas de países exportadores, como o Brasil, é quanto à estratégia comercial que será adotada pelo novo presidente. Em outras palavras, se a nova gestão será favorável ao comércio livre ou adepta do protecionismo.
Uma postura mais favorável ao livre comércio beneficia o Brasil por dois motivos. Primeiro, porque abre o mercado americano a uma maior quantidade de produtos brasileiros.
Em segundo lugar, cria condições para que as barreiras comerciais sejam diminuídas em âmbito mundial.
Isso porque as negociações na esfera da Organização Mundial do Comércio (OMC) dependem fortemente da liderança de países ricos. Se os Estados Unidos adotarem uma política mais liberal, a chance de outros países fazerem o mesmo é grande, podendo, inclusive, salvar a Rodada Doha.

Etanol

Esse é um dos principais pontos de discórdia entre os dois países na esfera comercial.
Os EUA cobram uma sobretaxa de US$ 0,54 o barril sobre o etanol brasileiro, com a justificativa de que precisam proteger o produtor americano.
O candidato republicano, John McCain, demonstrou, durante a campanha, ser contrário à taxação do etanol brasileiro.
Mesmo assim, segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Carlos Pio, não há indicações de que uma política mais liberal seja adotada.
“O governo americano pode incentivar investimentos em etanol na Califórnia ou ainda produzir em outros países. O Brasil não é a única alternativa”, diz Pio.
O Estado de Iowa, uma das bases eleitorais do candidato Obama, é um dos maiores produtores de milho do país, outra grande fonte de produção de etanol e que compete com o produto brasileiro.

Liderança na América Latina

Outro ponto importante da agenda do novo presidente diz respeito à sua postura com relação aos governos de esquerda na região.
Existe a preocupação de que uma atitude de enfrentamento contra esses governos possa aumentar a instabilidade na região e gerar conflitos próximos às fronteiras com o Brasil.
Uma das principais dúvidas diz respeito à relação dos EUA com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O candidato Barack Obama já sinalizou que pretende conversar com Chávez, dentro de sua política de negociar com líderes antiamericanos.
Já McCain tenderia a manter a atual política de isolamento contra Chávez e seus seguidores, entre eles os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa.
Segundo a maioria dos especialistas, a aliança estratégica dos Estados Unidos com o governo colombiano deve continuar no caso de vitória de McCain e poderá sofrer abalos caso Obama seja eleito.
O cientista político José Augusto Guilhon, da Universidade São Marcos, tem uma visão um pouco mais cética em relação à política externa de McCain.
“Como senador, McCain mostrou-se mais atento às questões da América Latina. No entanto, houve um certo recuo durante a campanha, que focou em questões internas dos Estados Unidos”, diz o professor.

Crise financeira

Com o agravamento da crise, o tema passou a ser obrigatório nos últimos dias de campanha.
Ao futuro presidente caberá, entre outras missões, liderar um movimento para reformulação do sistema financeiro internacional.
Os países emergentes, entre eles o Brasil, estarão na disputa para participar ativamente desse processo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito que um novo sistema só será “justo” se construído em parceria, incluindo países ricos e em desenvolvimento.
Além disso, há grande expectativa em relação às medidas que o novo presidente irá tomar para salvar a economia americana da recessão.
Teme-se que a saída adotada tenha um cunho protecionista, dificultando a entrada de produtos estrangeiros no mercado americano.

Conselho de segurança da ONU

Uma das principais bandeiras do governo brasileiro tem sido a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, com um assento permanente para o Brasil.
A gestão de George W Bush, porém, não tem se empenhado na reforma da instituição.
Nenhum dos dois candidatos americanos se posicionou abertamente sobre o assunto. No entanto, Obama tem uma postura mais favorável à reforma e ao fortalecimento da ONU.
McCain propôs a criação de uma “liga das democracias”, espécie de ONU excluindo países autoritários. Mas essa se provou uma idéia polêmica e sem respaldo da diplomacia brasileira.

Imigração

Um dos principais temas de interesse para latinos é quanto à política que será adotada pelo novo presidente em relação aos imigrantes.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estima que mais de 1,2 milhão de cidadãos brasileiros vivam nos EUA, sendo 450 mil ilegais.
Os dois candidatos defendem que os imigrantes aprendam inglês e que tenham uma vida mais digna em território americano. O modo como isso será feito é que preocupa os latinos que vivem nos Estados Unidos.
As propostas dos dois lados incluem, por exemplo, maior segurança nas fronteiras e mecanismos que permitam aos empregadores descobrir se seus funcionários têm realmente visto de permanência no país.
Pio diz que a implementação de qualquer reforma com relação à imigração depende mais do Congresso do que propriamente da vontade do presidente.
“É preciso sempre ter em mente que o Congresso estará preocupado com a crise financeira e isso pode adiar a discussão sobre os imigrantes”, diz o professor.

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