terça-feira, 12 de agosto de 2008

Terça poética

AUTOPSICOGRAFIA
(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
°°°
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
°°°
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
############
DOR-DE-COTOVELO
(Flora Figueiredo)

Deve ser tratada com dignidade.
Não é virose,
epidemia ou artrose,
nem mesmo falha de envelhecimento.
Independe da idade.
°°
Costuma dar a sensação de um escuro profundo,
onde a luz não chega,
onde a esperança é cega
e nossa estima é o rodapé do mundo.
°°°
Não acredite !
Como esse mal não transmite
nenhum perigo fatal,
poder ser prazeroso o colo de um amigo,
um abraço forte, como abrigo,
uma palavra doce,um cafuné.
°°°

Acima de tudo, que se mantenha a fé.
Muito pior do que passar por isso
é sonegar emoção,
evitar o risco e o compromisso,
esconder-se atrás das grades da razão.
°°°
Quem hoje por amor está sofrendo,
Só por amar, já merece estar vivendo.

#######

Nenhum comentário: