(Clóvis Rossi)
O acadêmico Arnaldo Niskier resgatou a seguinte frase, como "talvez a mais forte" do presidente Lula em seu encontro da semana passada com intelectuais: "Quero, ao final do meu mandato, que o povo brasileiro tenha o direito de comer mais e melhor".
Se é só isso, presidente, dever cumprido. É óbvio que, ao final de seu mandato, o brasileiro estará comendo mais e melhor (já está, aliás). Mais: o brasileiro estará também vivendo melhor (já está, aliás), salvo uma inenarrável catástrofe, que não está à vista.
Parabéns, portanto. Basta? Nem remotamente. No mesmo dia em que a Fundação Getúlio Vargas mostrava que a pobreza diminuiu e que a classe média engordou, a ONU informava que o Brasil não cumprirá as metas de expansão da rede de esgoto.
No dia seguinte, o Ministério da Educação informava que nenhum curso universitário pago alcançou o nível de excelência. O que tem uma coisa a ver com a outra?
Tudo. Subir na vida não é só uma questão de ter mais renda ou de comer mais. É também uma questão de ter acesso a bens primários (esgoto) ou de qualidade (ensino superior).
Como todo mundo sabe, o pobre ou a nova classe média são obrigados a buscar o ensino universitário privado porque a escola pública em que fazem os cursos básicos não lhes dá formação suficiente para derrotarem nos vestibulares da escola pública os competidores da classe média tradicional.
É aí que entra a insatisfação dos entusiastas de políticas públicas, mesmo lulistas de sempre, como Frei Betto, que insistem em que os programas sociais do governo foram incapazes de provocar uma mudança estrutural no país.
Mudança estrutural significaria, como é óbvio, saneamento básico, ensino, saúde e toda a conhecida lista de etcs. Resta saber se Lula terá tempo e energias para, nos 2,5 anos que lhe restam, ir além de mais comida. Faça a sua aposta.
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