Patrícia Aranha
Estado de Minas
Os vereadores estão na berlinda. O brasileiro acredita que a corrupção, um dos grandes problemas do país, está mais presente nas 5.552 câmaras municipais. Depois delas, no ranking dos ambientes mais corruptos estão a Câmara dos Deputados, as prefeituras e o Senado. Apesar dos escândalos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a Presidência da República vem em oitavo lugar, atrás também das pessoas mais ricas, dos governos estaduais e dos empresários.
Os dados são da pesquisa encomendada pelo Centro de Referência do Interesse Público (CRIP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ao instituto Vox Populi e que será discutida em 4 de setembro num seminário onde também será lançado o dicionário A corrupção: ensaios e críticas, patrocinado pela Fundação Konrad-Adenauer, com artigos de 61 pesquisadores e mais de 400 páginas.
Proximidade
No levantamento, feito com recursos da Fundação Ford, foram ouvidas, em maio, 2.421 pessoas, em 139 municípios, desde localidades pequenas como Novo Horizonte do Oeste (RO), com 9,6 mil habitantes, até o berço do sindicalismo, São Bernardo do Campo (SP), com 780 mil habitantes, além das capitais. Um dos coordenadores do CRIP, o cientista político Leonardo Avritzer, acredita que as câmaras e prefeituras foram identificadas como ambientes mais corruptos porque estão mais próximas da população. “Não quer dizer que as outras instituições são menos corruptas, mas que a percepção é maior no nível local”, avalia.
Reflexos dos escândalos
A pesquisa revela como o brasileiro se comporta em relação ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de 77% considerarem a corrupção como um problema muito grave e mais da metade (54%) avaliar que ela aumentou muito nos últimos anos, quando perguntados se a elevação está relacionada ao governo Lula, apenas 17% respondem que sim. Três quartos dos entrevistados (75%) repetem o bordão do governo, de que o que houve não foi elevação da corrupção, mas maior apuração dos casos escondidos. Apesar da aparente incoerência, as respostas se relacionam com outras sondagens de opinião pública, feitas durante os maiores escândalos do primeiro e segundo mandatos de Lula, que mostravam o chamado “efeito teflon”, ou seja, que nenhuma denúncia colava na imagem do presidente.A pesquisa constata o reflexo de uma maior exposição dos escândalos na mídia. O caso do ex-presidente do Senado Renan Calheiros, que entre outras denúncias foi acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista e de usar laranjas na compra de duas emissoras de rádio em Alagoas, é mais lembrado pela população do que o do metrô de São Paulo, que envolve propina e mortes, mas ocupou menos páginas de jornais. “O caso Renan é grave, mas não levou a mortos, nem teve um volume de recursos supostamente desviado como o do metrô paulistano”, lembra o cientista político Leonardo Avritzer. O brasileiro avaliza o papel da mídia: 87% dizem que ela está atenta aos casos de corrupção e 60% acham que ela age de forma imparcial.Gravidade
O levantamento UFMG/Vox Populi revela que o brasileiro percebe a corrupção como algo mais grave quando praticada por alguém eleito para defender os seus direitos ou que recebe salários pagos pelo governo. Quase a metade (45%) dos entrevistados acha que o ato que prejudica o Estado é mais corrupto quanto feito por funcionário público ou político. A imagem do alto escalão do governo é ruim perante a população. Nada menos que 48% dos entrevistados acreditam que a maioria dos que ocupam altos cargos no governo aceitariam entrar num esquema de desvio de verbas públicas se fossem convidados, enquanto outros responderam que a metade se corromperia. Apenas 14% disseram que uma minoria seria seduzida.
O brasileiro tende a ser mais tolerante com os desvios feitos pelos que são iguais a ele. Um policial que usa seu poder para tirar vantagem ou dinheiro de alguém é mais malvisto do que alguém que paga um funcionário público para agilizar a papelada numa repartição.
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