quarta-feira, 8 de outubro de 2008

E nós, aonde vamos?



A doença da lucidez
Paulo Santana


Há duas visões predominantes sobre a crise financeira internacional que varre atualmente os mercados do mundo: uma otimista, a outra pessimista.

A otimista nem está ligando para o vendaval que açoita as bolsas de valores e ameaça de quebra bancos do mundo inteiro.

Já a pessimista faz uma avaliação catastrófica para os efeitos desta crise. Mas a exacerbação dessas duas visões fatalmente iria sobrevir.

E os otimistas viraram triunfalistas. Os pessimistas se tornaram catastrofistas.

O presidente Lula, pouquíssimos dias atrás, saiu-se com esta visão sobre a crise: “Nos Estados Unidos, esta crise está sendo um tsunami. Aqui no Brasil, não passa de uma marola”.

Mas agora vamos a um importante membro da visão catastrofista, o Fundo Monetário Internacional, que ontem fez divulgar um relatório seu em que afirma na primeira linha: “O pior da atual crise financeira global ainda está por vir”.

O relatório do FMI estima que as perdas originadas de empréstimos e outros produtos financeiros devam chegar a US$ 1,4 trilhão.

Para o FMI “os mercados emergentes (entre eles o Brasil) estão correndo sérios riscos e países do Leste Europeu também poderão ser seriamente atingidos diante do grande número de empréstimos hipotecários por bancos a pessoas de baixa renda”.

Por fim, o FMI adverte que são necessárias intervenções “decisivas e rápidas” nos mercados para restabelecer a confiança no sistema financeiro, cuja crise “ameaça afundar a economia do planeta”.

Entre a visão cor-de-rosa de Lula e o sinistrismo do FMI, eu, que sou genética e hormonalmente um pessimista, fico com a do FMI. Porque Lula pronunciou o discurso de que a crise atual iria passar longe do Brasil mas em seguida foi arregaçar as mangas, junto com o ministro Guido Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no sentido de tomar medidas profundas para enfrentar os efeitos da crise, que se anunciam devastadores.

Ou seja, Lula diz uma coisa para tranqüilizar os brasileiros, mas pensa outra: ele sabe que a crise é muito séria e contagiante.

E mais ele sabe, se navegou em céu de brigadeiro durante os últimos seis anos, ajudado exatamente pela estabilidade do sistema financeiro internacional, por contrapartida os dois anos finais de seu governo podem ser dramáticos pela ameaça que contém esta derrubada dos mercados e a agora explicitada fragilidade dos bancos de todo o mundo.

No canto do olhar de Lula, de Mantega e de Meirelles, há uma faísca de pânico.

Pelo amor de Deus, se os mercados desabam e as instituições financeiras cambaleiam a ponto de serem ajudadas por pacotes urgentes de auxílios estatais, nos EUA e na Europa, o otimismo nesta hora tem de ser classificado como um delírio de alienação e o catastrofismo como uma doença de lucidez.
(...)

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