sábado, 13 de setembro de 2008

Sábado em queda livre


IMPOTÊNCIA, eu não tenho a força
Roberto Gold

Conheci um sujeito que repetidamente me dizia em tom solene e fatalista: “se algum dia eu brochar aponto uma metralhadora pro peito e dou no gatilho.”
Nunca entendi por que arma escolhida era a metralhadora, mas desconfio que era a outra face de sua mania de grandeza.
A impotência sexual apavora os homens em geral e ao que tudo indica está se tornando epidêmica, em suas várias formas.
O que me parece interessante colocar na mesa desse tema são as correntes que mesmo indiretamente podem estar contribuindo para essa “tragédia do macho moderno.”
Primeiro uma visão meia boca psicanalítica: o pênis erecto tem uma relação arquetípica com a lança, a espada, o cajado, o bastão, a rocha etc. Esses instrumentos de guerra fálicos, servem exatamente para isso guerrear, submeter o adversário, e representar simbolicamente a supremacia do guerreiro, leia-se macho.
Mas guerra contra quem? Novamente recorro a minha tosca teoria psicanalítica: guerra contra as mulheres, que de acordo com o mesmo modelo seria a “tribo inimiga a ser submetida”. Esse é um modelo biológico primordial.
Vejam como o galo copula com a galinha, o leão com a leoa e outros bichos. O macho vai por cima morde o cangote da fêmea a subjuga apara então copular.
O nosso paleo-cérebro aprendeu direitinho a lição dos animais, e por isso estamos aqui.
Da mesma forma que o sujeito que só possui um martelo tende a ver o mundo em forma de prego, o macho primitivo tende a ver o mundo em forma de vagina! Vaginas selvagens esperando para serem conquistadas, e domesticadas (assim como os cavalos). Mas a tribo “inimiga” está se rebelando (pelo menos no Ocidente). Fuma, dirige o seu próprio carro, trabalha, ganha dinheiro, e pasmem senhores guerreiros: além de quer ficar por cima na hora do bem bão, ainda quer, exige, ter o seu próprio orgasmo!
Mas não é só isso que abala a firmeza dos nossos guerreiros. O mundo moderno também é brochante! Perdemos rapidamente a estabilidade no trabalho, nos assombra as balas perdidas, as calotas polares estão derretendo e com elas derrete a nossa rocha de potência.
O mundo está assustador mas nem todos acabam brochando na arena sexual. Alguns reagem de forma extremada e numa ilusão delirante de poder agridem a tribo “inimiga” a socos e pontapés na crença vã de que recuperam assim a sua potência.
Ora sentindo-se acuados, ora identificando equivocadamente seus inimigos, ora reagindo ou pro agindo, a impotência veio para ficar. Não adianta chamar mamãe, nem empunhar a metralhadora, o bicho feio se esconde no mais profundo da nossa cabeça. A nossa cultura da potência dos motores de fórmula 1, dos foguetes, magnum calibre 50, nos vendeu uma quimera. Perdemos o costume saudável de deitar na grama a noite e olhar o céu estrelado. Perdemos a dimensão da nossa pequenez. Para sustentar o blefe, enchemos a cara de álcool, drogas e rock’n roll, ou (alguns poucos) acumulamos e sentamos no trono dos milhões.
Mas a hora da verdade sempre chega, e quando chega, pimba, se a cabeça não estiver calibrada , brocha-se, rolam ladeira abaixo as ilusões.
E aí parodiando o Poeta digo: “e agora José, sem metralhadora, sem viagra, sem prótese peniana, você está só, e agora José”?

Fonte: http://blogln.ning.com/forum/topic/show?id=2189391%3ATopic%3A21777

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