Por Sanzio
Não sei se no jornal impresso a Folha detalha mais os dados da pesquisa sobre a popularidade do presidente Lula, com gráficos e tudo o mais que sempre utiliza. Na edição eletrônica esses dados são escassos, mas permitem algumas observações sobre a maneira de apresentá-los.
1- A começar pela manchete da capa "Aprovação a Lula bate recorde histórico" que induz o leitor a achar que esta é a 1ª vez que o presidente obtém a aprovação da maioria absoluta da população. A pegadinha está no texto, que explica que “Lula também acaba de obter, pela primeira vez, a aprovação da maioria absoluta da população brasileira em todos os segmentos sociais, econômicos e geográficos do país.”
2- Lula nunca teve, que eu me lembre, aprovação menor que 50%. Logo, desde que assumiu, há 6 anos, sempre obteve a aprovação da maioria absoluta da população.
3- Os 64% de aprovação referem-se aos que consideram Lula ótimo ou bom. Portanto, 36% o consideram regular, ruim ou péssimo. Mas quais os percentuais de cada um?
4- Seguindo, diz que o resultado anterior, 55% apurados em março, já o colocava à frente de todos os presidentes eleitos após a redemocratização. E a comparação com FHC, tão cara ao jornal quando se trata de notícias desfavoráveis a Lula?
5- De 55% para 64% significa um crescimento de 18%. Esse crescimento é muito alto para ser explicitado pelo jornal?
6- Entre os mais ricos houve um salto de 14 pontos percentuais entre as duas pesquisas, aparecendo agora com 57%. Temos que fazer contas novamente: na pesquisa anterior Lula tinha 57 menos 14 = 43%. Um crescimento de espantosos 32,5%, mas não o suficiente para ser explicitado mais uma vez. O mesmo vale para os mais pobres (lá no último parágrafo da matéria): 65 menos 8 = 57, crescimento de 14%. Esta é a grande novidade, com o crescimento do apoio entre os mais ricos de mais que o dobro entre os mais pobres, ambos os segmentos se aproximam em apoio ao presidente Lula.
7- Fazendo as mesmas continhas, Lula teve um crescimento de 21% no sudeste e de 17% entre os que têm curro superior. Não dá para saber o crescimento nas metrópoles, apenas somos informados que antes só tinha a seu lado a maioria no interior, e hoje obtém 57% nas regiões metropolitanas.
8- O mais grave, a meu ver, vem agora: o jornal diz que os resultados coincidem com a divulgação do PIB, anteontem, de 6% no 1º semestre. A pesquisa foi efetuada entre 8 e 11 se setembro, e os resultados do PIB foram divulgados somente na noite do dia 10, portanto dos 4 dias de pesquisa, apenas um dia, 11, coincide com os dias da pesquisa, podendo ter alguma influência na mesma.
9- Da mesma forma, diz que “coincidem” com a queda da inflação, com a participação pessoal ou do nome do presidente nas campanhas eleitorais municipais, com a grande exposição do presidente por conta da divulgação do petróleo do pré-sal
10- No final, diz que Lula ampliou o reforço à sua popularidade entre os que já o apoiavam. Jogo semântico sutil, já que, se houve um crescimento à aprovação do presidente, este se deu com a conversão de quem não o apoiava anteriormente, e não “entre os que já o apoiavam”.
11- “No Nordeste, por exemplo, região que sempre deu os melhores índices de popularidade a Lula, sua avaliação subiu mais sete pontos. Hoje, 3 entre cada 4 nordestinos o apóiam.” Ou seja, hoje são 75% contra 68% em março, um crescimento de 10%. Mas não pega bem falar de percentuais tão elevados assim, certo? Melhor falar “3 entre 4” e deixar ao leitor o trabalho de calcular os percentuais da pesquisa de hoje, da anterior e do crescimento entre uma e outra.
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