quarta-feira, 28 de maio de 2008

E Ipaumirim? Como está? A população precisa saber.


Escolas públicas reprovadas


Pesquisa foi realizada pela Seduc com 146 mil alunos de cinco mil escolas públicas estaduais e municipais do CearáO resultado do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará, o Spaece-Alfa 2007, revela um quadro assustador na alfabetização de crianças matriculadas em escolas públicas do Estado e cursando o 2º ano do Ensino Fundamental, equivalente à antiga 1ª série. De acordo com os dados, quase metade dos estudantes de até sete anos de idade – o que corresponde a 47,4% - não são alfabetizados. Eles estão dentro da sala de aula e mal conhecem as letras que formam o próprio nome.

Em pior condição estão os alunos de Senador Sá, Baixio e Abaiara que são incapazes até disso. A maior parte dos municípios, no total de 93, está na escala de intermediário, com escores entre 100 e 125. Entre eles, Fortaleza, Maracanaú, Iguatu, Juazeiro do Norte, Aquiraz e Eusébio. Nesses locais, os estudantes já conhecem padrões silábicos mais complexos e compreendem textos muito simples.


Reprovação


Dos 184 municípios do Estado, apenas 14 conseguiram escores acima de 150 pontos e estão na faixa de nível desejável na alfabetização de crianças. Dos que estão nesse nível, apenas Sobral, com 188 pontos, possui 70% dos alunos capazes de ler com fluência, escrever sem dificuldades, entender e produzir novas informações que não estão explícitas no texto.A escala de proficiência da avaliação é constituía por cinco níveis: até 75 pontos – alunos não alfabetizados; de 75 a 100 – alfabetização incompleta; de 100 a 125 – intermediário; e 125 a 150 – suficiente e acima de 150 – desejável. A média do Estado é de 118,9, ou intermediária, em que os alunos apresentam condições mínimas de alfabetização.

O Spaece-Alfa 2007 foi aplicado em dezembro do ano passado para 146 mil alunos de cinco mil escolas públicas estaduais e municipais dos 184 municípios cearenses. A avaliação teve como objetivo a produção de informações sobre a proficiência dos alunos desta série em leitura. O resultado foi divulgado na manhã de ontem, no Centro de Convenções, pelo governador Cid Gomes, e a titular da Secretaria de Educação Básica do Estado, Izolda Cela, com a presença de prefeitos e secretários de Educação.

Cid Gomes brincou durante o evento, quando entregou os boletins dos 14 melhores municípios como se fosse um ‘oscar’ e arrancou aplausos dos presentes. O resultado do Spaece, diz, é desafiador. “Não adianta culpar ninguém e sim arregaçar as mangas e trabalhar em prol dessas crianças”, afirmou. Ele preferiu não citar os municípios em pior condição, mas se limitou a dizer que é necessário firmar parcerias.


MUNICÍPIOS

Resultado da pesquisa deve servir de reflexão


O presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Ceará (Undime/CE), Flávio Araújo Barbosa, ressaltou a importância da avaliação e elogiou a condição hoje alcançada pelo Ceará. “Já estivemos pior”, ressaltou. Barbosa convocou os prefeitos com escores muito baixos a não esconderem os resultados por ser ano eleitoral.

O presidente da Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece), João Dilmar da Silva, disse o que resultado do Spaece 2007 não deve trazer lamúrias para quem não alcançou escores acima da média e sim de reflexão. “O importante é que todos os municípios estão conscientes do esforço que têm que fazer para avançarmos ainda mais nos índices da educação”.

Abaiara é um dos dez municípios que apresentaram os maiores índices de analfabetismo entre os alunos do 2º ano do ensino Fundamental do Estado. O município obteve uma pontuação de 71,1 pontos na escala de proficiência de leitura na avaliação, que vai de zero até 75 pontos no nível dos alunos não alfabetizados. Por telefone, a secretária de Educação de Abaiara, Maria Ivonete Bezerra Moreira, disse que estava “surpresa“ com os baixos resultados da avaliação da Seduc. Admite, no entanto, que uma pesquisa realizada no ano passado constatou que “há falhas na educação dos alunos do pré-infantil das escolas locais”.

A reportagem do Diário do Nordeste tentou entrevistar, por telefone, as secretárias de Educação dos municípios de Senador Sá, Regina Helena Magalhães, e de Baixio, Maria Adília de Menezes. Em todas as tentativas, as chamadas telefônicas não foram atendidas.




O QUE ELES PENSAM

Cidades com melhores médias


O resultado da pesquisa da Secretaria de Educação do Estado apresentando Sobral como o município cearense com maior índice de alunos alfabetizados demonstra que ainda temos um longo caminho a seguir. Lógico que alcançar o primeiro lugar é muito bom, mas não podemos nos acomodar. Os índices são um desafio a mais para a nossa administração. É um trabalho que não posso comemorar sozinho, porque peguei o caminho já trilhado pela ex-Secretária de Educação de Sobral e atual titular da Seduc. O nosso objetivo agora é atingir o índice de 93% dos estudantes alfabetizados.

José Leônidas Cristino

Prefeito de Sobral

Não existe receita para esse sucesso. Mucambo alcançou esse índice graças ao esforço de todos que fazem a educação no Município. O nosso primeiro passo para alfabetizar as nossas crianças e adolescentes foi fazer um diagnóstico da situação da educação. Depois, começamos a investir pesado na formação dos professores, no seu aperfeiçoamento. Investimos também em equipamentos para as escolas. Esse trabalho de aperfeiçoamento vem sendo desenvolvido há oito anos. A motivação dos que fazem a educação do Município é a responsável pelos resultados alcançados no dia-a-dia.

Vilebaldo Aguiar

Prefeito de Mucambo




ENTREVISTA


"Não se pode fazer de conta que está tudo caminhando para melhor"

IZOLDA CELA
Secretária de Educação do Estado


Qual a sua avaliação com relação ao resultado da Spaece-Alfa 2007?
A pesquisa revela um quadro desafiador para o Estado, onde apenas 52 municípios alcançaram a escala de proficiência suficiente. É preciso mais comprometimento por parte dos gestores em investir na educação. Ainda estamos em uma situação desconfortável e precisamos avançar um longo caminho que exige decisão política.


Onde estão os problemas mais graves?
Existem duas categorias que interferem na qualidade da educação: o extra-escola e o intra-escola. A primeira, encontra-se nas condições socioeconômicas adversas da maioria das famílias. O intra, aquele que podemos intervir, está na falta de responsabilidade de prestar contas acerca dos resultados da educação, falta de seleção baseada em capacidade.


O que é preciso fazer para reverter o quadro?
Não se pode fazer de conta que está tudo caminhando para melhor. É preciso compromisso político, a garantia de capacitar professores, técnicos, e não somente inaugurar salas de aulas. Tem muita gente comprometida, mas com ações sem foco, sem conseqüências práticas.


ARTIGO

Desafio de alfabetizar
RUI RODRIGUES AGUIAR
Oficial de Projetos do Unicef


A educação brasileira iniciou o século XXI com desafios pendentes do século passado. O mais dramático é o de conseguir alfabetizar todas as crianças antes dos oito anos de idade na rede pública. Segundo dados divulgados pelo governo do Ceará, de cada 100 crianças matriculadas no segundo ano do ensino Fundamental, 48 não conseguem alcançar os níveis mínimos de escrita, compreensão e leitura de um texto adequado à série e à idade.

O índice de analfabetismo na escola corresponde à taxa de mortalidade infantil na saúde. Em 1987, o Ceará iniciou o enfrentamento do problema da mortalidade infantil: de cada mil crianças nascidas naquele ano, 106 não conseguiam comemorar o seu primeiro aniversário. Passados 21 anos, o Estado reduziu este indicador para menos de 20 crianças mortas por 1000 nascidas vivas. A vitória conseguida na área da saúde deve inspirar o esforço que hoje é feito na alfabetização de crianças. Os caminhos são semelhantes: a) chegar a cada criança a partir de pessoas da própria comunidade: as professoras alfabetizadoras podem melhorar o seu desempenho e o dos seus alunos se receberem a formação e incentivos necessários; b) monitorar os resultados localmente; c) ampliar a cobertura e a qualidade do atendimento de educação infantil; d) ampliar o uso da literatura infantil no letramento e alfabetização de crianças: o Ceará é um dos maiores centros brasileiros de criação e produção de literatura infantil.


LÊDA GONÇALVES
Repórter

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