domingo, 7 de outubro de 2007

DOMINGO MEMORIOSO

(PEDINDO DESCULPAS PELO ATRASO NA POSTAGEM. DEU PANE NA REDE DO EDIFÍCIO.)


Há algum tempo, eu me entusiasmei com a Fundação da Associação Cultural e Recreativa de Ipaumirim (ACRI). Fui uma das suas primeiras associadas e uma ferrenha defensora de sua criação. A ACRI começou a partir do 1° ou 2° Encontro dos Filhos e Amigos de Ipaumirim uma importante iniciativa de Zenira, a quem chamamos carinhosamente Zê, e Socorro Olímpio. Lembro que na reunião da fundação estavam presentes: Zé, Socorro Olímpio, Bosco Macedo, Flávio Lúcio, Anchieta, Crispim e eu. Estruturamos uma diretoria praticamente formada por ipaumirinenses que viviam fora justamente para excluir a iniciativa do ranço politiqueiro que divide as pessoas, desagrega, envergonha e empobrece o município. Animada com o resultado das festas e com a alegria da primeira diretoria, imaginei a possibilidade de abrir um site para a ACRI. O nome do site era Mais Ipaumirim. Cheguei a estruturar o projeto do site, falei com Adriano, do ipaumirim.com, que foi muito solícito. Felizmente ou infelizmente, o site não vingou por mil razões que não vem ao caso mas durante esse período, eu cheguei a coletar informações interessantes que, aos poucos, estou publicando no blog ALAGOINHA.IPAUMIRIM. Na ocasião, pedi a Cairo Arruda, hóspede de Blandina, minha vizinha, alguns dados pessoais e alguns registros sobre Ipaumirim. O texto que ora publicamos foi produzido pelo próprio Cairo e gentilmente me foi enviado.

(Cairo Arruda e Miriam)

Sou, de fato, natural de Tururú, município da Zona Norte do Ceará, mas, oficialmente, filho do Barro, na região Sul do Estado; nascido em 1938.
O terceiro filho da prole de oito do casal Miguel Vasconcelos de Arruda e Francisca Ferreira Arruda.
Transferi-me dali, muito pequeno, pois o meu estado de saúde exigia um meio maior, no caso, Fortaleza, para ser convenientemente tratado; o que levou meu pai a desfazer-se de um complexo comercial composto de farmácia, armazém de cereais e fábrica de tear. Na capital cearense, estabeleceu-se com mercearia, no Bairro do Alagadiço, e depois, com o comércio de peles de animais, na Rua Castro e Silva.
Por motivo de falta de saúde, o início dos meus primeiros estudos foi retardado.
De Fortaleza, eu já com a saúde restabelecida, a minha família, em 1946, esteve por algum tempo Alagoinha (Ipaumirim), levada que foi pelo tio Chico Arruda, industrial na Região. Daí, para o Barro, onde cursei o primário, no Educandário Santo Antonio, dirigido pelo meu genitor.

Portador do curso primário, em 1951, fui estudar na Escola Agro-Técnica Vidal de Negreiros, em Bananeiras – PB, cursando ali dois anos de Iniciação Agrícola, o equivalente às primeira e segunda séries ginasiais. De lá, em 1954, os meus pais já residindo em São Pedro, Distrito de Milagres (hoje, município de Abaiara), continuei os meus estudos no Liceu do Ceará, em Fortaleza, morando em casa de tios. Por toda a década de 50, conclui o ginasial e secundário. Durante esse período, já residindo na Casa de Estudante, tudo conseguido através dos tios Chico e Raimundo Arruda, fui funcionário do Departamento do Serviço de Pessoal – DSP (órgão estadual) e da Cooperativa de Crédito de Fortaleza (pequeno banco).
No começo dos anos 60, estabeleci-me com farmácia em Baixio, em sociedade com João Bosco Leite Tavares (de saudosa memória), permanecendo por quase dois anos.
Em 1962, aportei em Ipaumirim, com um único objetivo: negociar e ajudar na educação dos meus irmãos mais novos. O nosso comércio (meu e do meu pai), de início, restringiu-se à farmácia, ampliando-se depois, para o de eletrodomésticos e outros artigos, tendo como ponto de apoio – a Farmácia e Magazine Arruda; e após o casamento, em 1966, com Mirian Barbosa, à frente da farmácia Barbosa Lima, quando se deu a fusão das duas firmas: Miriam B. Lima e Arruda Filho & Cia. Ltda.
Enquanto residi em Ipaumirim, exercitei o jornalismo, como correspondente dos jornais Correio do Ceará, Unitário e Diário do Nordeste, de Fortaleza, e como cronista das Rádios Difusora e Alto-Piranhas, de Cajazeiras – PB, na qualidade de integrante da Associação Cearense de Imprensa – ACI e da Associação Cearense de Jornalistas do Interior – ACEJI.
Em 1968, como os meus irmãos mais moços já haviam concluído o ginasial em Ipaumirim e precisavam continuar seus estudos, e como eu era mais conhecido nos meios cajazeirenses, o meu pai me convenceu a abrir, em sociedade com ele, uma filial da farmácia, Cajazeiras, recebendo a denominação de Farmácia arruda, funcionando na Rua Tenente Sabino, onde permaneci dois anos, tendo ele me substituído.
Depois, voltei a dirigir a Farmácia Barbosa Lima, em Ipaumirim, passando, por insistência do tio Chico Arruda, a figurar na política local, como vereador, e, em 1972, candidatando-me com êxito, também a seu pedido, ao cargo de prefeito, para o período de 1973-1977, sem abandonar as atividades farmacêuticas.
No segundo semestre de 1977, transferi-me para Fortaleza a fim de assumir a função de Diretor Administrativo do Serviço de Processamento de dados do Estado do ceará – SERPROCE, por nomeação do então Governador Adauto Bezerra; deixando a família em Ipaumirim, em virtude dos estudos das filhas Cairami e Kátia, e da necessidade da esposa, Mirian, ter que ajudar a sua mãe, Joaninha, nos negócios da farmácia, como também concluir o seu mandato de Diretora da Escola Estadual Dom Francisco de Assis Pires.
Permaneci no SERPROCE até 1991, quando me aposentei. Nesse interregno, exerci, temporariamente, a sua presidência. Aposentado, voltei ao ramo de farmácia, transferindo para a capital cearense, a empresa Mirian B. Lima, de Ipaumirim, e estabelecendo-me no Bairro Edson Queiroz, onde funcionei até 1999 quando ela encerrou definitivamente as suas atividades.

RETALHOS DO PASSADO

Os anos 60 lembram-me alguns eventos – uns, menos, outros, mais importantes mas que merecem destaque e devem ser revelados: A injusta cassação, pela Revolução de 64, do mandato de Deputado estadual do tio Chico Arruda, representante de Ipaumirim na Assembléia Legislativa do Estado e uma de suas maiores lideranças políticas, fato este, que causou indignação e revolta a seus familiares e amigos.
A volta de Ademar Barbosa à chefia da Municipalidade, em 1966, com o apoio dos industriais locais e devido à neutralidade do tio Chico Arruda quanto àquela eleição municipal. A astúcia do meu irmão, Arruda Sobrinho, que, aos 15 anos, em pleno período revolucionário de 64, nas suas experiências na área de eletrônica, instalou um rádio transmissor, chegando a atingir um raio de ação de aproximadamente 30 km, e que foi motivo de admiração de ouvintes ipaumirinenses e da circunvizinhança, e também de denúncia por parte de quem tinha interesses contrariados, cujo parelho foi lacrado pelo Agente Postal Telegráfico local, por determinação superior; (Mas, ele, persistindo em busca do seu ideal, chegou a concretizá-lo anos depois, ou seja, em 1979, com a instalação da Rádio Vale do Salgado Ltda., em Lavras da Mangabeira, que, diga-se de passagem, não foi instalada em Ipaumirim porque o município não fazia parte do Plano Nacional de Radiodifusão).
A demolição do antigo prédio do Colégio XI de Agosto, pelos dirigentes da CNEC, por sinal, contestada por nós (membros da família Arruda), por intermédio do serviço de alto-falantes do Magazine Arruda, sob a alegativa de que o imóvel devia ser preservado por se tratar de um patrimônio histórico da cidade.
Da década de 70, trago algumas boas recordações.
Recordo-me bem do trabalho desinteressado do Lions Clube, como um dos seus fundadores e ex-presidentes, destacando-se uma das suas principais promoções, àquela época – o Festival da cerveja – cuja renda era destinada, principalmente, ao Natal das crianças pobres, e uma festa popular de muito agrado da sociedade ipaumirinense.
Relembro também a luta titânica dos companheiros leões para construir a sede própria do clube, no bairro Alto Bandeirantes, em terreno doado pelo saudoso Cel. Mano Ferreira, cuja obra e eletrificação, por mim conseguida no segundo Governo do Cel. Virgílio Távora, através do CL Aécio de Borba (seu super-secretário), contribuíram largamente para a maior urbanização daquele bairro. Dessa brava luta, participaram, dentre outros, CLs Vicente Taveira Sobrinho (o popular Castro Alves, de saudosa memória), Raimundo Ferreira de Sousa, Donato Crispim de Menezes, Antonio Ribeiro Cisalpino, Antonio Airton de lima e a minha pessoa.
Quando prefeito, vem-me à lembrança, a batalha que empreendi para equipar com recursos próprios da Prefeitura, (o Governador de então não deu uma pequena ajuda), o Hospital Maternidade Maria José dos Santos, denominação esta em homenagem a mais antiga mulher ipaumirinense (Dona Piquili, na intimidade); e a minha alegria e admiração de considerável parte da população quando ali foram realizadas as primeiras cirurgias de médio porte a cargo do cirurgião Manuel Arruda, de Sousa – PB, ora prestando seus serviços médicos àquele estabelecimento, tendo como pacientes o popular carreteiro Louro Piauí, operado de apendicite, e um membro da Família Felismino, do Sítio Umburana, de quem não recordo o nome, que sofreu uma facada no tórax, tendo ambos sidos bem sucedidos.
Vem à minha mente, também, a fundação, em 1975, da Sociedade Beneficente de Ipaumirim, uma espécie de substituta da operosa Associação Rural de Alagoinha (que foi dignamente presidida pelo saudoso José Macedo e que teve em sua tesouraria, a não menos digna figura de Vicente Gomes de Morais). A Sociedade Beneficente de Ipaumirim, dentre outros benefícios prestados á comunidade ipaumirinense, é mantenedora da Casa Doutor Arruda e do memorial do ex-deputado Francisco Vasconcelos de Arruda, os quais conservam a maior parte do acervo deixado por aquele homem público e, modéstia à parte, o grande emancipador de Ipaumirim.
A nota triste dos anos 70 foi, sem dúvida, a morte prematura, aos 62 anos, do tio Chico Arruda, ocorrida em 23.10.1972, em Fortaleza.
Recordo-me por fim, do soneto de Mirian, minha mulher, feito por ocasião do 3° aniversário de emancipação político-administrativa deste município, intitulado "Ipaumirim".
(Miguel Cairo Arruda)


IPAUMIRIM
(Mirian Barbosa)

Três décadas de vida independente
Marcam tua história, querida terra minha.
Relembro com saudades, no presente,
O teu passado, antiga “Alagoinha”.

Do esforço audaz, intrépido, valente
De um certo jovem que como ideal tinha
Te ver cidade liberta, imponente,
Desabrochaste tu “pequenininha”.

E agora estás adulta, transformada.
Em teu perfil, uma saudade imensa
Há de sempre marcar tua caminhada.

Dentro de ti há algo que não muda:
A gratidão que dás em recompensa
Ao grande benfeitor “Doutor Arruda”







Um comentário:

zezinho maciel disse...

Fiquei maravilhado ao ver este blog, principalmente quando vi as fotos de muita gente conhecida. Pelas fotos da cidade notei que muita coisa continua como antes, e isto me troxe um momento de alegria e nostalgia. Agradeço a Bosco por se lembrar da familia Maciel. Enviei o endereço deste blog para meus irmãos aguardem noticias nossas.zezinho maciel.