"Opinião Pública" x referendo
(Luiz Nassif)
Vamos entender um pouco melhor o momento político atual na América Latina, as mudanças ocorridas na Venezuela de Hugo Chávez, e o alarido em torno da suposta emenda da eleição eterna.
É um tema que dará muito pano para manga para nossos cientistas políticos.
Os anos 80 marcaram a falência dos modelos autoritários no continente, especialmente após a crise das Malvinas e a crise econômica brasileira depois do segundo choque do petróleo. Há um movimento que trouxe a a redemocratização, mas não a assimilação completa do espírito democrático. A luta pelo poder transferiu-se dos quartéis para outras instâncias.
Numa primeira rodada, assumem os partidos de oposição e o que se convencionou chamar de “sociedade civil organizada”. Há os exageros e abusos de todo processo inicial de redemocratização.
Na rodada seguinte, o poder de fato passa a ser exercido por um ente fluido chamado “opinião pública”, que tem na mídia convencional seu principal agente.
Mantém-se a velha postura golpista, mas dentro das novas regras democráticas – esse é o dado curioso e diretamente inspirado no episódio Watergate. Na Venezuela, derruba Carlos Andrés Perez, um neoliberal; no Brasil, Fernando Collor, outro neoliberal (para usar uma qualificação de uso corrente). E, ao longo dos anos 90, torna-se fator freqüente de instabilidade, seja contra governos “neoliberais”, como o de Fernando Henrique Cardoso; ou de “esquerdas” como o de Lula. Na Venezuela, consegue, inclusive, derrubar por alguns dias o presidente eleito Hugo Chávez - aliás, um dado que deve ser bem pesado quando se analisam os episódios recentes na Venezuela.
O modelo de atuação é simples e já foi utilizado em outros momentos da história. Cria-se um alarido, em plena consonância com o chamado mercado, uma seqüência de denúncias, uma aliança pontual com a oposição – antes, PT; agora, PSDB e DEM - , um movimento da opinião pública midiática que influencia o Congresso e permite o julgamento político que leva ao “impeachment”.
Tudo de acordo com a Constituição. É a neo-democracia golpista do continente.
Não se pense em movimentos golpistas articulados – a não ser no caso da Venezuela -, com conspiradores acertando como será a queda. Trata-se de um processo gradativo de deturpação do papel da mídia, uma maneira torta de fazer jornalismo que passa a se confundir imperceptivelmente com a vontade de usurpar o poder político. E se funda em alguns pontos muito nítidos.
O primeiro, é a parceria com o chamado “mercado”, estratégia que passa pela desmoralização do poder político – com a notável contribuição dos políticos, saliente-se. Quando começou esse novo jornalismo, um dos pratos prediletos era fotografar o plenarinho da Câmara (sessão sem importância, onde deputados aproveitam para mandar recados para suas bases), vazio, e apresentar como prova de que os políticos são vagabundos.
O segundo, é demonizar qualquer forma de gasto que não seja com juros, especialmente gastos sociais. O terceiro, é o vício permanente em pretender exercitar os músculos derrubando presidentes.
Como se contrapor a esse poder avassalador da mídia, de sua capacidade de produzir escândalos sobre fatos reais ou fictícios e ter a reveberação no mercado?
É nesse cenário que se passa a questionar a legitimidade da chamada “opinião pública”. Se o Congresso é ilegítimo para representar os eleitores, porque a chamada “opinião pública midiática” seria a legítima representante dos anseios da maioria? Se é para ascultar a maioria, abaixo os intermediários, abaixo as supostas pesquisas de opinião e venham os referendos populares.
Foi o que conceituados cientistas políticos, como Fábio Wanderley dos Reis e Wanderlei Guilherme dos Santos escreveram ultimamente, ironizando os que pretendiam falar em nome da maioria.
Só que, com os plebiscitos, substitui-se uma ditadura da minoria – representada pela opinião pública midiática – pela ditadura da maioria. Continua ditadura.
Esse é o dilema que irá sacudir o continente nos próximos anos, nesse confronto cada vez mais feroz entre modelo político e modelo midiático.
É um tema que dará muito pano para manga para nossos cientistas políticos.
Os anos 80 marcaram a falência dos modelos autoritários no continente, especialmente após a crise das Malvinas e a crise econômica brasileira depois do segundo choque do petróleo. Há um movimento que trouxe a a redemocratização, mas não a assimilação completa do espírito democrático. A luta pelo poder transferiu-se dos quartéis para outras instâncias.
Numa primeira rodada, assumem os partidos de oposição e o que se convencionou chamar de “sociedade civil organizada”. Há os exageros e abusos de todo processo inicial de redemocratização.
Na rodada seguinte, o poder de fato passa a ser exercido por um ente fluido chamado “opinião pública”, que tem na mídia convencional seu principal agente.
Mantém-se a velha postura golpista, mas dentro das novas regras democráticas – esse é o dado curioso e diretamente inspirado no episódio Watergate. Na Venezuela, derruba Carlos Andrés Perez, um neoliberal; no Brasil, Fernando Collor, outro neoliberal (para usar uma qualificação de uso corrente). E, ao longo dos anos 90, torna-se fator freqüente de instabilidade, seja contra governos “neoliberais”, como o de Fernando Henrique Cardoso; ou de “esquerdas” como o de Lula. Na Venezuela, consegue, inclusive, derrubar por alguns dias o presidente eleito Hugo Chávez - aliás, um dado que deve ser bem pesado quando se analisam os episódios recentes na Venezuela.
O modelo de atuação é simples e já foi utilizado em outros momentos da história. Cria-se um alarido, em plena consonância com o chamado mercado, uma seqüência de denúncias, uma aliança pontual com a oposição – antes, PT; agora, PSDB e DEM - , um movimento da opinião pública midiática que influencia o Congresso e permite o julgamento político que leva ao “impeachment”.
Tudo de acordo com a Constituição. É a neo-democracia golpista do continente.
Não se pense em movimentos golpistas articulados – a não ser no caso da Venezuela -, com conspiradores acertando como será a queda. Trata-se de um processo gradativo de deturpação do papel da mídia, uma maneira torta de fazer jornalismo que passa a se confundir imperceptivelmente com a vontade de usurpar o poder político. E se funda em alguns pontos muito nítidos.
O primeiro, é a parceria com o chamado “mercado”, estratégia que passa pela desmoralização do poder político – com a notável contribuição dos políticos, saliente-se. Quando começou esse novo jornalismo, um dos pratos prediletos era fotografar o plenarinho da Câmara (sessão sem importância, onde deputados aproveitam para mandar recados para suas bases), vazio, e apresentar como prova de que os políticos são vagabundos.
O segundo, é demonizar qualquer forma de gasto que não seja com juros, especialmente gastos sociais. O terceiro, é o vício permanente em pretender exercitar os músculos derrubando presidentes.
Como se contrapor a esse poder avassalador da mídia, de sua capacidade de produzir escândalos sobre fatos reais ou fictícios e ter a reveberação no mercado?
É nesse cenário que se passa a questionar a legitimidade da chamada “opinião pública”. Se o Congresso é ilegítimo para representar os eleitores, porque a chamada “opinião pública midiática” seria a legítima representante dos anseios da maioria? Se é para ascultar a maioria, abaixo os intermediários, abaixo as supostas pesquisas de opinião e venham os referendos populares.
Foi o que conceituados cientistas políticos, como Fábio Wanderley dos Reis e Wanderlei Guilherme dos Santos escreveram ultimamente, ironizando os que pretendiam falar em nome da maioria.
Só que, com os plebiscitos, substitui-se uma ditadura da minoria – representada pela opinião pública midiática – pela ditadura da maioria. Continua ditadura.
Esse é o dilema que irá sacudir o continente nos próximos anos, nesse confronto cada vez mais feroz entre modelo político e modelo midiático.
Fonte: http://www.projetobr.com.br/
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