sábado, 17 de novembro de 2007

DOMINGO MEMORIOSO

IPAUMIRINENSES – UNINDO FORÇAS, DIVIDINDO RESPONSABILIDADES
(Fátima Dore)

Gostaria de comentar um fato que aconteceu em Ipaumirim extremamente triste e lamentável, mas que, todavia, serviu para ressaltar o valor do povo da nossa humilde terra. Não me prendo muito as datas ou décadas, talvez seja um grande defeito, uma falha imperdoável, todavia o desenrolar dos acontecimentos, basta fechar os olhos e cada detalhe me vem a tona com se fosse um vídeo tape gravado em meu cérebro.
Refiro-me a um grande incêndio que marcou época e nossa história – o da Beneficiadora de Algodão da Família Fernandes.
A Família Fernandes instalou-se em Ipaumirim e trouxe consigo a implantação da de Usina Algodoeira. Esta veio acirrar o crescimento de nossa cidade, ao tornar-se fonte geradora de emprego e renda, haja visto que, na época, a infra-estrutura da nossa região centrava-se principalmente no chamando “Ouro Branco” – o algodão.
Tudo ia de vento em popa e a cada dia a referida empresa melhor se estruturava e mais empregos, gerava, até que certa madrugada, a sua “sirena”, que só apitava para marcar o revezamento dos funcionários, nos despertou com seu grito assustador – Sabíamos que algo errado estava acontecendo.
Toda cidade, pouco a pouco, foi saindo às ruas e percebeu-se então que um clarão muito forte oriundo da usina enchia nosso espaço enquanto o cheiro e gosto de fumaça sufocava nossos pulmões – Uma falha no circuito elétrico da algodoeira havia deixado escapar uma fagulha de fogo abrindo palco para o maior incêndio que já se havia visto dentro da cidade – Até parecia as queimadas da roça quando o agricultor preparava a terra para o plantio esperando a chuva tão sonhada.
Como era de se esperar, nossa gente guerreira, ao invés de empreender fuga e buscar abrigo e segurança longe do fogo, todos arregaçaram as mangas, se desarmaram e abraçaram a causa. E um chover de braços, latas, baldes etc. começou a integrar-se ao cenário. O fogo rebelde ameaçava tudo destruir, todavia, homens, mulheres e até crianças corriam em busca de água para aplacar a fúria vermelha. O vento soprava forte e tudo parecia perdido, sem jeito, mas não para nossa gente que sem nenhum planejamento ou liderança organizou-se de uma forma tal que só mesmo tendo Deus à frente daquele pelotão de soldados da paz que só crescia a cada segundo.
Assim unido forças e dividindo responsabilidades – nossos guerreiros combatiam bravamente aquele fogo voraz e renitente – Uns traziam a água, outros repassavam para quem estava mais perto do fogo, enquanto outro grupo tratava de resfriar e remover para longe os fardos de algodão que estavam nos cômodos ainda não atingidos.
Foi quase um dia inteiro de luta, onde os atores daquele episódio, ainda que cansados, famintos e afetados pela poluição causada, por nenhum instante deram o braço a torcer e finalmente o inimigo foi vencido com a ajuda do criador que em sua infinita bondade, mandou uma suave neblina que veio suavizar o clima e a tensão existente. O monstro devorador finalmente transformou-se em cinzas, mas deixou em sua passagem a destruição e o lamento daqueles que o viram levar consigo o emprego com o qual sustentava o seu lar.
Como tudo na vida nesta vida, os problemas causados pela tragédia, pouco a pouco foram contornados, todavia, aqueles momentos de aflição, de luta e de medo, o tempo, jamais conseguirá demolir da lembrança de cada ipaumirinense que o sentiu na pele e na carne, nem daqueles que ouviram de terceiros de forma bem detalhada a narração do triste episódio, que com certeza é parte integrante da nossa história dando ênfase ao desempenho do povo bravio da nossa amada Alagoinha.


Oi Fátima

Lembro do incêndio, o sino da igreja tocando, a cidade em alvoroço. Mas não lembro se foi apenas um ou se alguns. A memória da Souza Fernandes precisa ser resgatada porque ela traz em si importantes elementos para a história da economia do município que já foi um grande produtor de algodão de fibra longa. Posteriormente, a venda para Carlos Alexandre e finalmente a venda das máquinas para o Paraguay representou o fim de um período que conta a pujança das safras, a importância do emprego temporário numa região pobre, as relações de trabalho no campo que sustentavam o abastecimento da usina com o algodão em caroço. Na verdade, precisaríamos também voltar a um período anterior, no tempo da bolandeiras e dos locomóveis de que fala Zé Macedo. Incluir nesse contexto também a Usina de J. Sarmento. Lembro claro dos fardos de algodão de Souza Fernandes distribuídos na volta da fábrica, cobertos de lona nas calçadas, da dinamização do pequeno comércio local, das festas, das roupas novas que ganhávamos quando a safra era promissora. Os caminhões passando carregados, os estivadores no incansável trabalho de carga e descarga e tanta coisa mais que se cada um contasse o seu pedaço teríamos contado a vida de todos. Nazaré Sampaio que trabalhou muitos anos na Souza Fernandes , com certeza, vai contar-nos parte dessa história e ajudar-nos a compor a memória coletiva da nossa cidade. Obrigada pela sua colaboração. Continue participando.

LEMBRANDO A TODOS QUE O TEMA COLETIVO DE DEZEMBRO É "CINEMA EM IPAUMIRIM " E QUALQUER UM PODE PARTICIPAR CONTANDO ALGUMA COISA. ALÉM DESTE TEMA , PODEM ENVIAR OUTRAS LEMBRANÇAS E COISAS QUE VOCÊ ACHAR INTERESSANTES. BASTA ESCREVER UM E-MAIL PARA luiza_ipaumirim@yahoo.com.br ou luizanobrega@hotlink.com.br

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