O equilíbrio é instável, não esqueça esse paradoxo. Qualquer dúvida, sonhe com Aristóteles. Não se aborreça com os incômodos. É melhor que as apatias. Ruim é desconsiderar os afetos e achar que um café expresso transforma a tarde numa deliciosa aventura. O fio estendido sobre o tempo balança, anunciando que ninguém está livre de quedas. Aproveite o texto e faça das palavras um leito. Sacuda qualquer poeira. Contagie-se com a alegria anônina. Programar as diversões é continuar o estresse, viver cada dia como se fosse uma segunda-feira.
No quadro geral da sabedoria, desconfie de quem se sente soberano. Não estamos livres das idealizações. O real é cru e azedo.Portanto, não se arme de exclusividades. Aprecie os contrapontos, o jazz de Miles Davis ou os romances de Paul Auster. Crie-se no tempo, como uma invenção e não como uma obra acabada, procurando um museu de sepulturas monumentais. Não estranhe o que Baudrilard afirma: O signo que preside a separação das coisas é o mesmo que as reúne. Pois o que divide é, ao mesmo tempo, o que separa e o que se troca. Dos lados da separação, as coisas permanecem, no entanto, inseparáveis, e o que mais diverge, contudo, se reencontra.
A confusão é compatível com a mistura. O mundo é de improvisações lúdicas. Existem religiões e ciências, tolices e genialidades. O importante é olhar o espelho, distraidamente, sem observar as rugas ou a cor do batom. Acorde no meio da noite, conte até mil e adivinhe o nome de quem mais ama. Pense em cristais, na cena final d’ O último em Paris e no tamanho do político que se envolveu com a corrupção menos escandalosa. Distancie-se de todas as agonias. Dilua-se na fórmula do feitiço de Branca de Neve.
Os amores não pedem velocidade, mas sossego. Estão longe de qualquer sociedade que poupa tostões. Ame o que você profetiza, a formiguinha que se afogou no doce de calda. Lembre-se dos dinossauros, flutuando no cosmo como estrelas. Imagine. Vá além das arquiteturas moduladas, desfie as verdades, faça a leitura de um conto de Borges. Desacredite em que não gosta de mentiras e desligue a televisão no meio da corrida de fórmula 1. Tudo vem da troca impossível. A incerteza do mundo é que ele não tem equivalente em parte alguma e que ele não se troca com coisa alguma (Baudrillard).
Antonio Rezende
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