segunda-feira, 13 de abril de 2009

Na contramão dos sentimentos


Rosana Braga

Outro dia, conversando com uma amiga, ela me contava sobre o término de seu relacionamento. Falava sobre o quanto estava triste, o quanto havia ficado angustiada e decepcionada com a conversa que tiveram quando ele decidiu romper o namoro.
Como é de costume, percebi que aquele desabafo servia para que ela se sentisse um pouco melhor, afinal, num momento como esse, tudo o que desejamos é um pouco de amparo e acolhimento daqueles que gostamos e em quem confiamos.
Tentei fazer isso. Mostrar o lado bom da situação. Ponderar sobre o que estava acontecendo há algum tempo entre eles e que não vinha fazendo bem a nenhum dos dois e tal. Nossa conversa seguia muito bem até que ela fez um comentário - infelizmente, não tão raro quanto eu acredito que deveria ser. Como a maioria das pessoas faz após uma briga ou um rompimento, ela também se queixou de um comportamento que teve diante dele, enquanto a delicada e dolorosa decisão era tomada.
Disse que de tudo o que acontecera, do que mais se arrependia era de ter chorado, de ter demonstrado o quanto gostava dele e o quanto seria difícil esquecê-lo. Lamentou-se por ter sido tão “fraca” e por ter deixado que ele “saísse por cima” da situação.
Por alguns instantes fiquei pensando se deveria manifestar a minha opinião - tão contrária à dela - naquele momento, ou se deveria deixar para um momento menos emocional. Mas concluí que, justamente por estar tão mobilizada, talvez fosse aquela a hora de perceber o quanto a transparência e a manifestação do coração eram importantes e humanas.
Comecei questionando por que será que a maioria das pessoas acredita que demonstrar um sentimento verdadeiro, expor o coração e especialmente chorar diante do outro é ser fraco, é ser um perdedor, é ficar por baixo, inferiorizado e diminuído? Não seria exactamente o contrário?Será que inverter as aparências é realmente um sinal de fortaleza ou de superioridade? Será que erguer os escudos e apontar as armas ao outro é realmente a melhor maneira de nos sentirmos bem, aliviados e satisfeitos diante de uma circunstância onde, na verdade, o coração está sangrando, doendo, sofrendo?
Até entendo que temos medo de sermos “atacados” no momento em que baixamos nossas armas, mas não é isso o que tenho visto, nem em minhas experiências pessoais e nem nas experiências que tão atentamente procuro observar.
O que descubro, cada dia mais, é que um coração - diante de outro - se rende quase que inevitavelmente, desarmado pela sutileza de sua grandeza, de sua verdade. Ou seja, quase sempre que demonstramos o que realmente estamos sentindo, seja este sentimento recíproco ou não, o outro não se atreve a nos machucar mais.
Muitos de nós somos dotados de uma inteligência afetiva que nos faz reconhecer a coragem de alguém que, apesar de seu medo, se despe de seu orgulho, de sua arrogância, deste desejo mesquinho de querer parecer “o vencedor”, e simplesmente é gente, com todas as limitações que esta condição lhe confere.
Porque quando baixamos o tom de voz, embargada por uma dor que é intransferível, quando não nos escondemos atrás de frases-feitas, de acusações incessantes e de uma postura medíocre e artificial, o que fica à mostra é uma alma que segue seu destino com humildade e dignidade, e um coração que se recusa a andar na contramão!