sábado, 18 de abril de 2009

MEMORIA: NELSON GONÇALVES

Há precisos 11 anos, nesta data, partia o grande cantor-compositor Nelson Gonçalves (nascido Antônio Gonçalves Sobral, em 1 de junho de 1919, em Santana do Livramento, RS), um dia coroado o Rei do Rádio e alçado ao patamar dos maiores artistas do Brasil. Para traduzir sua popularidade, depois de Roberto Carlos, até hoje ele pontifica como o cantor que mais vendeu discos no País: 78 milhões de cópias. Antes de incursionar - e fulgurar tanto - na cena musical, o gaúcho atuou como jornaleiro, mecânico, polidor, tamanqueiro, engraxate, garçon e boxeador. Até curtir delícias & delírios da glória e enveredar pelo inferno sedutor-enganador da cocaína. Dono de tão múltiplas facetas -alegres e tristes- poderia inclusive servir de roteiro para diversos livros, peças e filmes. Cantor desde baixinho, soltava a voz em cima de um caixote, no bairro italiano do Brás, em Sampa, enquanto o pai, o português Seu Manoel, batia um violão por “uns trocados”, fingindo-se, por vezes, de cego para comover aqueles sempre prontos a distribuir moedinhas. Anos melancólicos! Pela voz excepcional e também por gaguejar, Nelson Gonçalves possuía dois codinomes: Carusinho (em alusão a Caruso) e Metralha (por falar cuspindo as palavras). Aí já nascia o sonho de profissionalizar-se cantor. E, para tanto, estudou canto acadêmico durante 6 anos. Até que, ao interpretar Chora Cavaquinho, de Dunga, foi contratado pela PRA-5. Mas com a recessão imposta pela Guerra, perde o emprego. Depois, tenta a carreira no RJ, é reprovado em testes e leva o notável Ary Barroso a cometer a gafe histórica de não gostar da voz do jovem, aconselhando-o a reassumir o papel de garçon em SP. Arrasado, regressa à paulicéia mas não se despede do objeto do desejo. Até que, em 1941, de volta ao Rio, grava seu disco de estréia pela RCA Victor, selo que jamais deixaria, e debuta na Rádio Mayrink Veiga, conduzido pelo cantor Carlos Galhardo. Chegou então a crooner do cassino do Copacabana Palace.Tempos de puro glamour! As décadas de 40 e 50 lhe sorriram bastante. Para ele, Adelino Moreira compôs mais de 370 músicas, algumas em parceria com o próprio Nelson, tipo Fica comigo esta noite. Nos hits que comoviam corações e acendiam tantas paixões nos fãs, fluíam histórias de amores perdidos e imortais. Trágicos também. Naqueles tempos, amar em toda sua plenitude era um dos daqueles imperativos categóricos. Com a fama, Nelson se exibe em vários países, inclusive nos EUA - na mítica Radio City Hall, na Big Apple. E, em tais dias de "wine & roses" e embriagadora glória, experimenta o pó e, em seguida, a decadência na condição de “hóspede da Casa de Detenção”, acusado de traficar drogas, o que lhe resulta em desgraça perante à opinião pública - hiper conservadora - e o ostracismo. Pós-purgação, sacode a poeira e retoma carreira, restaurando sua imagem à custa de uma mega tenacidade. Era a Volta do Boêmio. E a obtenção de um recorde: gravar mais de 2 mil canções. Hoje, ele vive entre fiéis admiradores, curtidores de points à moda antiga, na memória musical do país e impregna o bar que a filha, Lilian Gonçalves, montou na cap paulista, reverenciando a lembrança do pai. De suas músicas, adoro Escultura (parceria com Adelino Moreira), em que ele, feito um Pigmalião, esculpe uma mulher com encantos e virtudes de celebridades históricas - Gioconda, Du Barry, Madame Pompadour ... e até Maria. No desfecho, os versinhos imortais: “...E assim/ de retalho em retalho/ terminei o meu trabalho/ o meu sonho de escultor/ e quando cheguei ao fim/ tinha diante de mim/ você, só você... meu amor...”
Fonte: jornal O Povo
Enviado por Flávio Lúcio