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Imagem: Montagem de Washington Luiz Peixoto Vieira |
A Rua Larga do Icó, para as gerações atuais,
nitidamente da última década, tem se transformado ou se transfigurado na “Praça
do Forricó”. Um sacrilégio a um dos mais antigos logradouros históricos do
Ceará. E embora com novas utilidades na cotidianidade perde a sua memória como
a estrada geral do Jaguaribe ou a estrada nova das boiadas, como era conhecida
no século XVII ao XIX, quando aos poucos vai sendo apropriada pelas habitações
e novas utilidades, tais como o mercado público, depois transferido para o
local onde encontra no centro comercial e hoje tomada pela grande Igreja de São
José e de todas as festividades de grande monta.
Ela
também não pode ser designada de "Largo do Théberge ". Ora, quando o
famoso médico Pedro Théberge em Icó viveu no século XIX, aquele espaço
já existia há duzentos anos, embora Théberge tenha manadado erguer o
Teatro e administrado os melhoramentos da Casa de Câmara e Cadeia.
É
certo que os tempos são outros e dos velhos tempos do Gado Bovino,
quando era por aquele corredor que havia pouso para os vaqueiros,
tropeiros e viajantes, com seus comboios. “Das antigas estradas do
Ceará colonial, três são de fundamental importância para a compreensão
do papel da pecuária na efetiva ocupação do território cearense: a
estrada geral do Jaguaribe, a estrada nova das boiadas e a estrada das
boiadas. A primeira seguia todo o rio Jaguaribe, do Icó à Aracati. A
segunda partia do Rio Grande do Norte, alcançava o rio Jaguaribe e
seguia o Anabuiú”. “Chegando em Quixeramobim. Daí partia em duas
direções, uma para o lado de Crateús e a outra para o lado Sobral. A
terceira alcançava o médio Parnaíba cruzando o sertão cearense. Partia
de Icó, passava por Iguatú, Saboeiro, Tauá até o Piauí”. ²
Foi
ao longo dessas estradas que de forma geral seguem as margens dos rios
(Jaguaribe, Salgado, Acaraú, etc.) foram se estabelecendo as famílias
dos colonizadores primitivos do Ceará (à exemplo do Rio São Francisco) e
ao longo dos séculos fixaram a sua moradia, vindos de todos os cantos
no Nordeste, de Pernambuco ou da Bahia e mesmo de Portugal. Gente que
corajosamente embrenhou-se território adentro diante de todas as
intempéries das caatingas e de quantas dificuldades advieram. "Aqueles
que se aventuraram na empresa do Ceará eram ao mesmo tempo
conquistadores, povoadores e colonizadores. Alguns, aventureiros apenas,
mas, a maior parte, indivíduos com uma meta, uma vontade de engrandecer
a pátria portuguesa e reviver os heroísmos dos primeiros penetradores
do solo brasileiro. Carregavam no sangue a herança dos velhos troncos
avoengos, a par de uma fé ardente, tanto no fervor da prática religiosa
como na crença de que estavam dando um testemunho de tenacidade e
firmeza". ³
Nesses
territórios desenvolveu-se a cultura do gado e posteriormente a do
algodão, que deram bases econômicas ao Ceará, e forneceram à Europa e
Estados usidos algumas matérias primas para a sustentação da revolução
industrial.
Nesse
contexto foi “a cidade do Icó, elevada à condição de vila em 1738,
nasceu onde situava-se o arraial da família Monte com uma função
eminentemente ligada ao comércio, pois ocupava uma posição estratégica
na trama da atividade criatória. Situa-se a meio caminho entre as
pastagens do Piauí, no vale do Parnaíba e o porto do Recife, no
cruzamento das duas principais estradas das boiadas do Ceará colonial - a
estrada geral do Jaguaribe e a estrada das boiadas – o que acentuou a
sua importância na rede urbana em formação. Icó segue a lógica das
cidades medievais que surgiram com o incremento do comércio e
encontravam-se estrategicamente localizadas no cruzamento de dois
caminhos. A função comercial de Icó, relacionada em sua origem à
atividade criatória, persistiu até à sua estagnação econômica no século
XIX. Mesmo com o declínio da economia pastoril em decorrência do
surgimento das novas pastagens no sudeste brasileiro, em decorrência das
secas de 1777-1778, 1790-1793 e posteriormente, no século XIX, com o
aumento da produção algodoeira no vale do Jaguaribe; Icó manteve esta
importância”. ²
Desta
forma entendo que a Rua Larga merece um resgate de sua memória original
talvez se criando ali um memorial ao Vaqueiro, ao gado e ao colonizador
primitivo e não se eternizando como a "Praça do Forricó".
REFERÊNCIAS:
1. STUDART FILHO, Carlos. Vias de communicação do Ceará colonial IN : Revista do Instituto do Ceará. TOMO
LI / ANNO LI. Ramos & Pouchain. Fortaleza . Ceará. 1937, citado na obra de Jucá Neto
2. JUCÁ NETO, Clovis Ramiro. No Rumo do Boi - As vilas do Ceará colonial ligadas à pecuária.
3. http://www.angelfire.com/linux/genealogiacearense/index_povoadores.html
LI / ANNO LI. Ramos & Pouchain. Fortaleza . Ceará. 1937, citado na obra de Jucá Neto
2. JUCÁ NETO, Clovis Ramiro. No Rumo do Boi - As vilas do Ceará colonial ligadas à pecuária.
3. http://www.angelfire.com/linux/genealogiacearense/index_povoadores.html
Imagem: Montagem de Washington Luiz Peixoto Vieira
Fonte: http://iconacional.blogspot.com.br/2012/04/memoria-rua-larga-do-ico-ensaio.html
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