O ano 2014 foi um ano de muita
turbulência para os brasileiros e, de certa forma, para o mundo inteiro. As
novas tecnologias a serviço de uma mídia servil trouxeram para dentro das
nossas vidas as misérias do mundo registradas por olhos pouco confiáveis. No
fim, a gente entra como saiu. Distribuídos em manadas de manipulados,
descrentes, fanáticos, espertos, desapontados, ingênuos e seja lá o que mais for, cada um no seu quadrado
e todos juntos, financiamos direta e/ou indiretamente tudo o que nos
mostraram. No mundo, os coadjuvantes são
tão responsáveis quanto os protagonistas embora não sejam tão estrelas.
No Brasil, começou antes da Copa
do Mundo com todas as desgraças previstas e não acontecidas. O evento teve de
tudo: espetáculo, nossa pisa histórica de 7 x 1 , prisão, polícia (existe
alguma coisa nesse pais onde a policia não se faça presente?), um show de
abertura deprimente e um término surpreendente com Ivete Sangalo fantasiada de alface,
conforme disseram as más línguas na ocasião.
O show não terminou. Começa
definitivamente o período eleitoral que já vinha sendo tricotado há bastante
tempo pela classe política mas agora
passa a assumir descaradamente o seu posto de estrela disputando espaço com a
policia e a justiça no circo da mídia. E aí teve de tudo que nem a mente mais
fértil poderia imaginar. A imprensa de entretenimento acreditando-se séria
deitou e rolou e o telespectador passou a assistir concomitantemente a
propaganda politica e a minissérie Petrobras que acabou virando novela e atualmente
continua como seriado. A mídia impressa
deu suporte atuando no melhor estilo revista Contigo. Com um mix de
ingredientes de realismo fantástico, ficção seriada e outros gêneros que
suportam as intrigas e tramas mais inverossímeis num enredo onde se envolvem política, morte, avião
sem dono, justiça, policia,
empresariado, funcionários públicos e figurantes aspirantes a estrela construiu-se um seriado que ousou ser tragédia mas que se
encaminha para uma comédia com a probabilidade
de se esgotar por falta de público. Pode até não dar em nada mas com certeza vai
inspirar divertidas fantasias carnavalescas a desfilarem por Olinda em 2015.
Que deu assunto, isso deu. A eleição chegou, cada um
votou conforme seu credo político e sua ignorância. O seriado segue mas a vida é soberana e continua seu curso. Nem tão boa quanto se gostaria nem
tão trágica como anuncia a mídia. Os programas jornalísticos continuam a
funcionar espelhados nos mesmos apelos dos
criticados programas policiais. Quem
gosta, assiste. Quem está de saco cheio não falta o que fazer neste verão tão
quente.
Enfim, o natal. A maioria desliga
um pouco da sua correria e tenta resgatar o que ainda há de humano em nós. Ainda que infectado pelo puro consumismo, o
natal não deixa de ser um tempo para lembrar-se dos amigos, da família e não há
uma boa briga que uma ceia de natal não atenue, pelo menos na hora do amigo
secreto.
Estar perto é melhor mas nem
sempre isso pode acontecer, o importante é aproveitar o espírito de natal e
resgatar o lado bom da união e da solidariedade maltratadas durante todo o ano
pela ternura esquecida, pelo afeto desleixado e pelo egoísmo indiferente.
Respirar ares saudáveis para entrar o ano positivamente.
Eu passei o natal longe de todos
que gostaria de estar junto mas passei-o alegremente acolhida numa festa linda
e animada. E assim, dividida entre o Recife, as lembranças dos antigos e
simples natais vividos em Ipaumirim, o
pensamento no Crato e o coração no leste da Europa, eu não me senti
esquartejada e triste. Muito pelo contrário, senti-me uma mulher globalizada e
feliz por ter uma alma que habita o mundo.
Que 2015 seja um excelente ano para todos nós.
ML
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