quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

No Recife com o coração no mundo





O ano 2014 foi um ano de muita turbulência para os brasileiros e, de certa forma, para o mundo inteiro. As novas tecnologias a serviço de uma mídia servil trouxeram para dentro das nossas vidas as misérias do mundo registradas por olhos pouco confiáveis. No fim, a gente entra como saiu. Distribuídos em manadas de manipulados, descrentes, fanáticos, espertos, desapontados, ingênuos  e seja lá o que mais for, cada um no seu quadrado e todos juntos, financiamos direta e/ou indiretamente tudo o que nos mostraram.  No mundo, os coadjuvantes são tão responsáveis quanto os protagonistas embora não sejam tão estrelas. 

No Brasil, começou antes da Copa do Mundo com todas as desgraças previstas e não acontecidas. O evento teve de tudo: espetáculo, nossa pisa histórica de 7 x 1 , prisão, polícia (existe alguma coisa nesse pais onde a policia não se faça presente?), um show de abertura deprimente e um término surpreendente  com Ivete Sangalo fantasiada de alface, conforme disseram as más línguas na ocasião.

O show não terminou. Começa definitivamente o período eleitoral que já vinha sendo tricotado há bastante tempo pela classe política mas  agora passa a assumir descaradamente o seu posto de estrela disputando espaço com a policia e a justiça no circo da mídia. E aí teve de tudo que nem a mente mais fértil poderia imaginar. A imprensa de entretenimento acreditando-se séria deitou e rolou e o telespectador passou a assistir concomitantemente a propaganda politica e a minissérie Petrobras que acabou virando novela e atualmente continua como seriado.  A mídia impressa deu suporte atuando no melhor estilo revista Contigo. Com um mix de ingredientes de realismo fantástico, ficção seriada e outros gêneros que suportam as intrigas e tramas mais inverossímeis  num enredo onde se envolvem política, morte, avião sem dono,  justiça, policia, empresariado, funcionários públicos e figurantes  aspirantes a estrela construiu-se um  seriado que ousou ser tragédia mas que se encaminha para uma comédia  com a probabilidade de se esgotar  por falta de público.  Pode até não dar em nada mas com certeza vai inspirar divertidas fantasias carnavalescas a desfilarem por Olinda em 2015.

Que deu  assunto, isso deu. A eleição chegou, cada um votou conforme seu credo político e sua ignorância. O seriado segue  mas a vida é soberana e continua  seu curso. Nem tão boa quanto se gostaria nem tão trágica como anuncia a mídia. Os programas jornalísticos continuam a funcionar espelhados nos  mesmos apelos dos criticados  programas policiais. Quem gosta, assiste. Quem está de saco cheio não falta o que fazer neste verão tão quente.

Enfim, o natal. A maioria desliga um pouco da sua correria e tenta resgatar o que ainda há de humano em nós.  Ainda que infectado pelo puro consumismo, o natal não deixa de ser um tempo para lembrar-se dos amigos, da família e não há uma boa briga que uma ceia de natal não atenue, pelo menos na hora do amigo secreto.

Estar perto é melhor mas nem sempre isso pode acontecer, o importante é aproveitar o espírito de natal e resgatar o lado bom da união e da solidariedade maltratadas durante todo o ano pela ternura esquecida, pelo  afeto desleixado e pelo egoísmo indiferente. Respirar ares saudáveis para entrar o ano positivamente.

Eu passei o natal longe de todos que gostaria de estar junto mas passei-o alegremente acolhida numa festa linda e animada. E assim, dividida entre o Recife, as lembranças dos antigos e simples natais vividos em Ipaumirim,  o pensamento no Crato e o coração no leste da Europa, eu não me senti esquartejada e triste. Muito pelo contrário, senti-me uma mulher globalizada e feliz por ter uma alma que habita o mundo.

Que 2015 seja um excelente ano para todos nós.
ML

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