por João André, em 09.12.14
No moderno mundo profissional vemos
constantemente os conselhos para progredir na carreira. Desde os "7
hábitos de pessoas muito bem sucedidas"; aos conselhos sobre o que dizer
ou perguntar e como agir em entrevistas; passando pelos inevitáveis
apelos a empreendedorismo, iniciativa, destaque no meio da multidão,
formas de discernir quais os maus chefes ou se estamos entalados numa
determinada posição.
Não sou alguém que se aborreça com
conselhos, bem pelo contrário, aceito-os de bom grado, mas pergunto-me
onde neste mundo há espaço para as pessoas que não têm ambições
especiais. Não falo daqueles que vão atingindo o seu tecto, que por
força de idade, capacidades ou qualificações não se conseguem
desenvolver mais. Falo apenas daqueles que, sendo capaz de se destacar,
preferem não o fazer. Falo dos milhões de profissionais que gostam de
facto das suas funções e não as trocariam por uma carreira de sucesso
pela simples razão que... já são bem sucedidos ao serem pagos por fazer
aquilo que lhes dá prazer.
Este é apenas mais um reflexo da cultura
moderna ocidental que leoniza os profissionais muitíssimo bem sucedidos
e os dá como exemplos para toda a gente. É uma cultura que também acaba
por menorizar os outros, que não se desenvolveram mais simplesmente
porque não era possível, não é possível a todos serem gestores. É ainda a
cultura que promove encontros de antigos colegas de escola e
universidade que promove confissões quando alguém é felicitado por ser
um gestor sénior: «Sim, sou o gestor sénior de mim mesmo». Ou
quando as boas e velhas secretárias (que continuam a ser as figuras mais
influentes em muitas organizações) são promovidas a "assistentes de
gestão". Não estaremos longe do momento em que o nome "Gestor de
resíduos processuais administrativos" será entregue a quem despeja o
cesto dos papéis.
Peço que não me vejam como um velho do
restelo. Não quero o regresso aos tempos em que ser um manga de alpaca
era o sonho promovido pelo governo ou mundo empresarial. Há no entanto
um momento em que o marketing na área das carreiras deixa de ser
vantajoso: esse momento chega quando deixamos de chamar os bois pelos
nomes e temos que lhes dar o título de "gestores de motricidade de
transportes não motorizados".
Fonte:http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/
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