quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Marketing de carreiras

 
 
 por João André, em 09.12.14
 
 No moderno mundo profissional vemos constantemente os conselhos para progredir na carreira. Desde os "7 hábitos de pessoas muito bem sucedidas"; aos conselhos sobre o que dizer ou perguntar e como agir em entrevistas; passando pelos inevitáveis apelos a empreendedorismo, iniciativa, destaque no meio da multidão, formas de discernir quais os maus chefes ou se estamos entalados numa determinada posição.

Não sou alguém que se aborreça com conselhos, bem pelo contrário, aceito-os de bom grado, mas pergunto-me onde neste mundo há espaço para as pessoas que não têm ambições especiais. Não falo daqueles que vão atingindo o seu tecto, que por força de idade, capacidades ou qualificações não se conseguem desenvolver mais. Falo apenas daqueles que, sendo capaz de se destacar, preferem não o fazer. Falo dos milhões de profissionais que gostam de facto das suas funções e não as trocariam por uma carreira de sucesso pela simples razão que... já são bem sucedidos ao serem pagos por fazer aquilo que lhes dá prazer.

Este é apenas mais um reflexo da cultura moderna ocidental que leoniza os profissionais muitíssimo bem sucedidos e os dá como exemplos para toda a gente. É uma cultura que também acaba por menorizar os outros, que não se desenvolveram mais simplesmente porque não era possível, não é possível a todos serem gestores. É ainda a cultura que promove encontros de antigos colegas de escola e universidade que promove confissões quando alguém é felicitado por ser um gestor sénior: «Sim, sou o gestor sénior de mim mesmo». Ou quando as boas e velhas secretárias (que continuam a ser as figuras mais influentes em muitas organizações) são promovidas a "assistentes de gestão". Não estaremos longe do momento em que o nome "Gestor de resíduos processuais administrativos" será entregue a quem despeja o cesto dos papéis.

Peço que não me vejam como um velho do restelo. Não quero o regresso aos tempos em que ser um manga de alpaca era o sonho promovido pelo governo ou mundo empresarial. Há no entanto um momento em que o marketing na área das carreiras deixa de ser vantajoso: esse momento chega quando deixamos de chamar os bois pelos nomes e temos que lhes dar o título de "gestores de motricidade de transportes não motorizados".

Fonte:http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/

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