quinta-feira, 26 de maio de 2011



Icó O que era para ser um trabalho feito por operários, é improvisado por crianças e adolescentes em troca de esmola. Os menores de idade permanecem por boa parte do tempo colocando pás de terra nos buracos do asfalto ao longo do trecho de 120km da BR-116, entre a cidade de Jaguaribe e o triângulo de acesso à Ipaumirim.
Nesta semana, próximo ao acesso para a cidade de Umari, na região Centro-Sul do Estado, três crianças estavam no período da tarde colocando terra em buracos da BR-116 na esperança de que os motoristas agradecessem e jogassem moedas.
A casa deles fica próxima. "Pela manhã, a gente vai para a escola, mas a tarde a gente vem pra cá para ganhar algum dinheiro", disse um dos meninos. Segundo o trio, os pais sabem e fornecem até as pás e enxadas. Em média, os adolescentes conseguem R$ 10,00 por uma tarde de trabalho.
O trio parece não acreditar em risco de acidentes. "Não é perigoso porque quando os carros passam, a gente fica na beira do asfalto", justifica outro adolescente. O acostamento é o ponto de retirada da terra para cobrir os buracos e o espaço de possível proteção para os trabalhadores infantis.
Apesar dos buracos, alguns veículos passaram em alta velocidade e a necessidade de desviar das verdadeiras crateras faz com que os carros trafeguem em ziguezague. Em alguns pontos, os motoristas invadem o acostamento.

"Não tem fiscalização e a empresa responsável faz um serviço mal feito", disse o motorista de carreta, Eduardo Guerreiro. "No Ceará e no Sul do Piauí, as estradas estão muito ruins".
O bancário Luís Gustavo Almeida considera a situação deprimente. Não concorda em dar dinheiro para os adolescentes.
O promotor de Justiça, Leydomar Nunes Pereira, observou que os pais dessas crianças e adolescentes podem ser responsabilizados por crime de abandono material. "Antes de tudo, é constrangedor", disse. "É uma questão social e econômica e, apesar dos avanços e dos programas sociais, ainda há muito miséria no campo, nas margens das rodovias".
Leydomar Pereira defende uma ação conjunta entre as Secretarias de Ação Social dos Municípios por onde passam as rodovias, do próprio Ministério Público e do Conselho Tutelar, a quem caberia fiscalizar e proibir a permanência das crianças e adolescentes na rodovia.
O promotor de Justiça observou que a maioria das crianças na zona rural está incluída no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). "Se essas crianças não estiveram assistidas pelo Peti devem ser cadastradas e isso é um trabalho que deve ser feito pela Secretaria de Ação Social e pelo Conselho Tutelar de cada Município", observou.
A assessoria de Comunicação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em Brasília, informou que o "período chuvoso compromete a regular execução da manutenção rodoviária e assim que as chuvas cessarem a manutenção da rodovia será iniciada, com serviço de tapa-buracos e intervenções nos trechos mais estragados".

MAIS INFORMAÇÕES:
Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes Dnit -
Escritório em Brasília
Telefone: (61) 3315. 4161
Honório Barbosa
Repórter

Diário do Nordeste

VI NO ICÓ É NOTÍCIA

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