Na cidade de Ipaumirim, distante 425 km de Fortaleza, todos os anos, no mês de janeiro, milhares de fiéis participam dos festejos em louvor a São Sebastião. O santo não é o padroeiro do Município, mas a devoção popular, a fé e a crença na obtenção de milagres têm atraído fiéis de vários municípios e Estados vizinhos. Ipaumirim nessa época do ano é um centro de romaria. Os festejos em louvor a São Sebastião começaram por volta de 1919. Reza a tradição que Maria Lúcia, moradora do Sítio Serrote, devota do santo, fazia caminhada diária para uma pedra, localizada num alto, próximo à cidade. Ali, um certo dia, colocou uma imagem do santo no morro, em devoção e agradecimento por uma graça alcançada. Caçadores encontraram a imagem e levaram-na para a capela, na antiga Vila Alagoinha, que mais tarde seria elevada à categoria de cidade, com o nome de Ipaumirim. Sem que ninguém percebesse, Maria José reconduziu novamente a imagem para o alto da pedra. Conta os mais idosos que esse ato se repetiu por várias vezes. Em face do vai-e-vem da imagem do santo, alguns católicos da localidade atribuíram ao fato, um milagre. Em 1920, o coronel João Augusto Lima instalou uma enorme cruz de madeira no alto da pedra. A partir dessa data foram abertas trilhas e começou a romaria dos fiéis. Trinta e sete anos depois, foi inaugurada a capela de São Sebastião no local, que se tornou um centro de romeiros. Diante do crescimento do número de romeiros e de fiéis, em 2000, a Prefeitura de Ipaumirim fez uma reforma na área e instalou uma escadaria com 204 degraus, em alvenaria, com corrimão. Anualmente, milhares de fiéis pagam promessas subindo a escada de pés de descalços e até de joelhos. É um sacrifício em nome da fé. Maria de Jesus Cavalcante cumpriu a promessa e subiu de joelhos a escadaria para agradecer a São Sebastião por uma graça alcançada. Ela veio da cidade de Cajazeiras, no vizinho Estado da Paraíba. "Estava com um cisto no ovário e fiquei boa", disse ela. "Encontrei na fé força para subir a escada". Há pessoas idosas e jovens que seguem o caminho da crença e fazem o percurso em direção ao Santuário de São Sebastião no alto da pedra.
Entrevista com o Pe. José Ranilson Belém de Souza
(Por Caio Josué)
1-) Qual a sua visão sobre as festas de São Sebastião?
Padre - Eu acredito que é um grande momento espiritual, não só para a comunidade de Ipaumirim, mas também para muitos cristãos católicos, devotos de São Sebastião que vêm muitas vezes de longe expressar sua fé simples, mas tocante, agradecendo algumas graças recebidas e muitas vezes fazendo apelo ao santo para que ele interceda junto a Jesus seu amigo, por mais graças.
2-) Como é a participação da sociedade durante as festas religiosas de São Sebastião? Vem pessoas de outros lugares?
Padre - Percebemos que a comunidade de Ipaumirim aos poucos tem participado mais das festas de São Sebastião, expressando a sua fé religiosa. Porém muitos ainda se aproveitam da memória do santo para se promover, e até crescer economicamente. Seria necessário um maior acolhimento por parte da sociedade local, aos romeiros que vem de outras cidades. Que as vendas aos romeiros não visassem simplesmente o lucro, mas que fosse como um meio de prestação de serviço, ou seja facilitar o acesso do romeiro a festa religiosa. Decidimos logo que cheguei a paróquia que deveria ser chamada de Romaria de São Sebastião, para distinguir das festas dançantes que usam o nome do santo, e também pelo caráter religioso – Romaria é um evento religioso que os fieis se deslocam de uma cidade para outra fazendo uma caminhada de penitência, de agradecimento e de súplicas ao santo de devoção.
3-) Já foi feito algum trabalho de pesquisa para saber quantas pessoas (aproximadamente) vêm a Ipaumirirm durante as festas de São Sebastião?
Padre - Por parte da igreja acredito que ainda não foi feito um trabalho sistemático de contagem dos romeiros. Já participei de cinco romarias de São Sebastião, e tenho percebido que a cada ano o número de romeiros tem crescido. No ano de 2006, por exemplo, o delegado da Polícia Militar de Ipaumirim fez uma estimativa de aproximadamente de cinco mil pessoas que visitaram a Pedra de São Sebastião durante o dia todo. Distinguimos no meio da multidão pessoas que informam que vieram de São Paulo, Brasília, Fortaleza, São Luiz e muitas cidades da Paraíba que ficam próximas a Ipaumirim.
4-) Há algum registro de milagres atribuídos a São Sebastião em Ipaumirim?
Padre - No conceito próprio de milagre não há nenhum registro por escrito ou conhecido por nós, mas lá na Pedra de São Sebastião existem fotografias e objetos que ilustram concretamente que muitas pessoas obtiveram graças. Tais graças se não forem milagres podemos considerar como curas ou algum prodígio alcançado por meio da fé ao santo.
5-) Como é o ritual da festa de São Sebastião em nossa cidade?
Padre - Quando cheguei a Ipaumirim tratei de fortalecer ainda mais o novenário de São Sebastião com orações próprias, a reza da ladainha e cantos litúrgicos adequados. Foi, implementado, no dia 18 de janeiro de 2003, a primeira festa de Encontro dos Filhos e Amigos de Ipaumirim residentes em outras cidades. O novenário de São Sebastião tem início no dia 11 de janeiro com a procissão dos fieis saindo da capela da Pedra de São Sebastião até a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e se estende até o dia 19 com o texto da novena e Santa Missa. No dia 20 de janeiro, é celebrada a missa as 6:00h na Pedra de São Sebastião para atender aos romeiros que chegam antes das 5:00h. As 10:00h celebramos a missa solene de São Sebastião na Igreja Matriz, às 16:00h costumamos nos organizar em frente a igreja para a grande procissão da imagem de São Sebastião pelas ruas da cidade que é encerrada pela benção do Santíssimo Sacramento. No dia 21 de janeiro tradicionalmente conduzimos de volta para a Pedra de São Sebastião a imagem que chegou na igreja matriz no dia 11.
São Sebastião
(Rainer Maria Rilke)
Como alguém que jazesse, está de pé,
sustentado por sua grande fé.
Como mãe que amamenta, a tudo alheia,
grinalda que a si mesma se cerceia.
E as setas chegam: de espaço em espaço,
como se de seu corpo desferidas,
tremendo em suas pontas soltas de aço.
Mas ele ri, incólume, às feridas.
Num só passo a tristeza sobrevém
e em seus olhos desnudos se detém,
até que a neguem, como bagatela,
e como se poupassem com desdém
os destrutores de uma coisa bela.
(Tradução: Augusto de Campos)
(Rainer Maria Rilke nasceu em Praga em 4 de dezembro de 1875. É considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, por sua obra inovadora e seu incomparável estilo lírico.)
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