domingo, 30 de outubro de 2011

SONHOS! QUEM AINDA OS TEM?


A realidade tempo é uma só: o presente! O passado já veio e se foi, logo, não existe mais. O futuro ainda não veio, logo não existe ainda. Mas... faz mal sonhar com ele? Eu, particularmente, considero-me um sonhador. Desde criança, tenho sonhos mirabolantes para o futuro. Com fértil imaginação, faço planos e crio enredos rocambolescos, às vezes eróticos, dos quais sou sempre o protagonista. Luther King dise que tinha um sonho. Eu tive vários.

Meu primeiro sonho foi o de ser bailarino. Aos dez anos assisti, no cinema de meu pai, a um filme onde um cara dançou o Bolero de Ravel. Encantei-me. Minha mãe colocava na vitrola, um disco daqueles de 78 rotações que tocava uma música chamada “Num mercado persa” e eu começava a voltear, achando que era bailarino. Acho que eu estava mais para odalisca. Tinha também a suite de “O quebra nozes” e eu saia pela sala, volteando-me nas pontinhas dos pés, achando que era o Baryshinikov. Minha mãe, para quem todos os filhos eram gênios precoces, sempre que chegava alguma visita, punha para tocar o tal disco e fazia-me dançar, o que foi motivo de muita gozação de meus colegas na escola. Meu pai, como sempre sábio, fez-me desistir de tal sonho, mostrando-me que certas discrepâncias anatômicas, tais como pernas curtas e barriga avantajada, não se coadunavam com a artwe terpsicoreana. Desisti da dança e comecei a pensar em ser inventor. Na escola a professora tinha falado no Santos Dumont, mas quando eu soube que ele se suicidara, desisti logo.

Aos doze anos, achei lá nas estantes, alguns livros de Collete no original, herança de meu avô. Chéri foi o que gostei mais. Imaginando a vida daqueles parisienses descritos por Collete, comecei logo a sonhar em ser gigolô, mas outra vez, prevaleceu a sabedoria de meu pai, ainda com as tais discrepâncias anatômicas. Disse-me ele que haviam problemas dimensionais: excesso de centimetros na circunferência abdominal e falta dos mesmos nas partes íntimas. Disse-me ele que eu sofria de “ribeirismo”, peculiar caracterisica genética dos homens de nossa família. Desisti.

Já nos “teen”, fazendo o curso secundário em Uberaba, depois de ver Mário Lanza em o “Grande Caruzo” e Howard Keel em “Rosemary”, cismei de ser cantor lírico. Fui matricular-me no conservatório musical. Sonhozinho chocho este de ser cantor. Durou pouco. Assim que o professor ouviu minhas primeiras notas, fez-me desistir, dizendo que minha voz não servia nem para xingar juiz no futebol. Pensei também em ser autor e ator de sucesso, mas faltou talento. Cheguei a fazer certos papéis em algumas peças, quando pertenci a um grupo de teatro amador em Uberaba, mas surgiram outra vez aqueles probleminhas anatômicos. Meus colegas diziam que os papéis ideais para mim seriam Ricardo III ou Quasimodo.

Entre o penúltimo e o último ano meu na faculdade, quando vim passar as férias com os meus, tive sonhos fantásticos, fantasiosos e até libidinosos, que aconteceram comigo dormindo ou acordado. Nessa época, meus autores prediletos eram Pittigrilli e Zola. Anais Nin, andei lendo também. Quando cheguei, para as férias, notei que a casa em frente à nossa, estava ocupada por gente que eu não conhecia. Fiquei sabendo que era um professor de matemática novo, casado e com um filho ainda nenem. Uma tarde, estando eu sentado na cadeira do alpendre, senti ferir minhas narinas o adocicado aroma de sabonete. Olhei para a casa em frente, à uns 12 metros de distância e vi a mulher do homem, rindo e fazendo carinhos no bebê. Virgem santa! Que visão! Ela tinha acabado de sair do banho, ainda tinha os cabelos molhados, negros, sobre uma pele alva e lisa, uma sílfide!

Todos os dias, à mesma hora, ela repetia aquele ritual e eu lá, sentado com um livro na mão, fingindo ler e imaginando coisas. Foram dois meses de sonhos torpes, pecaminosos e dado às circunstâncias, impossíveis. Dormindo ou acordado eu imaginava aventuras e situações libidinosas que quase me enlouqueciam. Finalmente, acabaram-se as férias, voltei para Uberaba e desisti de tais anelos. Se desejar a mulher do próximo for realmente pecado, o inferno me aguarda Nunca tive os tais sonhos de consumo. Sendo adepto do existencialismo sartriano, valorizo mais o ser do que o ter, sempre considero propriedades e bens materiais, desnecessários. Mas bem que eu gostaria de ter um iate, uma cobertura na Vieira Souto, um castelo na Riviera Francesa. Meu maior sonho, ainda vive e tenho convicção que um dia vou realizá-lo: reger uma orquestra sinfônica! Mesmo sem nem saber onde se assina a clave de Sol ou o que é um bemol.

Euripedes Ribeiro de Sousa
Fonte: http://blogln.ning.com/profile/EuripedesRibeirodeSousa

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