A notícia da morte de Steve Jobs deixou de luto um mundo que seria muito diferente sem a sua existência. Não foi só a tecnologia que mudou o mundo e o modo como vivemos e nos relacionamos: foi quem nos mostrou que tínhamos de ter um iPod para ouvir música, um iPhone para telefonar, twittar e facebookar, um Mac para trabalhar, um iPad para ler e ver televisão. Se estivéssemos em 1996, sem fazer ideia do que o esperava nem, naturalmente, das suas próprias invenções, o próprio Steve Jobs concordaria com a ideia. Foi ele, aliás, que a teve. Numa entrevista à Wired, um ano antes de regressar à empresa que fundou nos finais da década de 70, a Apple, Jobs afirmava que a tecnologia não mudava a vida das pessoas: era o nascimento dos filhos que nos mostrava a nossa mortalidade. A certeza seria repetida no célebre discurso que fez na Universidade de Stanford, em 2005, quando anunciou que estava doente, na frase que lemos agora um pouco por todo o lado: «A morte é muito provavelmente a melhor invenção da vida». É a certeza de que vamos morrer que nos obriga a fazer escolhas para vivermos bem o tempo de vida que não sabemos ter. E viver bem, segundo o CEO da Apple que discursava perante uma plateia de alunos esperançosos, era «seguir o coração e a intuição» e não se deixar invadir pelo «ruído das opiniões dos outros» sobre escolhas que não lhes pertenciam. Steve Jobs não foi um criador de gadgets. Foi alguém que antecipou as necessidades dos consumidores antes mesmo de fazermos ideia de que as tínhamos. Nós não sabíamos que precisávamos de um Mac, mas não vivemos da mesma maneira desde que o temos. Sobre o Mac OS X, Jobs disse à Fortune, em 2000, que as aplicações no ecrã eram tão giras que dava vontade de as lamber. Não é a internet, nem as redes sociais, nem sequer a maravilha mágica que é o YouTube. É o iPhone. Sobre esta criação única, Jobs disse, em 2007, que de vez em quando aparece um produto revolucionário que muda tudo. Por esta invenção em particular, pela Pixar que fundou, e pela Apple que nos deixa, muito obrigada.
Carla Hilário
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