Há
coisas e situações que parecem permanecer invariavelmente iguais. Quer um exemplo? Transição
de gestão de prefeituras. O discurso de quem sai facilita o de quem entra. E
fica tudo igual. A grande maioria que vai sair deixa a cidade exatamente como
achou. Desorganizada, suja, desgovernada. Com esta postura abre espaço para
facilitar o discurso e as práticas dos que entram. É aquela conversa do crédito de
100 dias que acabam durando praticamente 70% da temporada dos quatro anos de
gestão.
Os
primeiros meses de gestão são sempre dedicados à queixas sobre o estado das
prefeituras seguidos do argumento “arrumar a casa”. Aliás, diga-se de passagem,
estas casas nunca se arrumam porque ninguém consegue arrumá-las com a qualidade
de seus ocupantes niveladas pelo mesmo critério. Muito arranjo político e pouca
competência técnica para fazer algo diferente.
Há também
que compreender que o clientelismo não é coisa fácil de administrar. Além da quantidade exagerada de funcionários efetivos
que constam nos quadros publicados
pelo Transparência Brasil ainda restam os apaniguados para agradar. E eles não
são poucos. Uns exigem, outros aguardam, outros insinuam mas estão sempre ungidos
pelo mesmo princípio “ é dando que se recebe”.
Tomando
como exemplo a relação de funcionários da prefeitura de IP registrados na lista
do Transparência Brasil é possível entender porque tem gente que não trabalha:
tanta gente não cabe nas dependências da
prefeitura considerando, naturalmente, o prédio sede e os demais espaços que
dispõe. A não ser que, de repente, seja revogado o enunciado da famosa Lei de Newton: "Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no
espaço ao mesmo tempo".
Imagino
as dificuldades de um leigo em gestão pública ao administrar esse cataclismo no
setor de recursos humanos. Adicionemos aos efetivos, os clientes de cada gestão e
estamos diante de um dilúvio. E se considerarmos a pretensa autonomia das pequenas autoridades nomeadas com base em critérios eleitoreiros,
aí já é o apocalipse.
O
intervalo entre a saída de um prefeito e a entrada do outro caracteriza um
calvário municipal onde todas as estações têm seu funcionamento comprometido.
Para
o prefeito que sai e o que entra, este
período representa um purgatório por diferentes razões que eles conhecem de
perto. Quem sai geralmente carrega um estado emocional desfavorável, um
percurso de traições políticas, erros que poderiam ter sido evitados, desvarios
de última hora, orgulho ferido e o
julgamento público do seu trabalho. Não é fácil atravessá-lo. Quem entra, mesmo
embalado pela vitória, enfrenta um outro
purgatório habitado pelos morcegos chupadores ansiosos por cargos,
favorecimentos e toda sorte de demandas carinhosamente cultivadas no caldo das
promessas eleitorais. Desse grupo, saem os novos opositores que juntam-se ao
grupo dos perdedores e recomeçam a novela que invariavelmente assistimos a cada
quatro anos.
Acredito
que uma prefeitura deve valer a pena. E como! Se assim não fosse, a encenação
já teria acabado há muito tempo e os indivíduos, quem sabe, aprenderiam como é bom ser livre.
ML
Um comentário:
Belo texto ML, você explicitou muito bem a realidade da politica partidária! :D
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