domingo, 18 de novembro de 2012

Tempos de transição


 
Há coisas e situações que parecem permanecer invariavelmente iguais. Quer um exemplo? Transição de gestão de prefeituras. O discurso de quem sai facilita o de quem entra. E fica tudo igual. A grande maioria que vai sair deixa a cidade exatamente como achou. Desorganizada, suja, desgovernada. Com esta postura abre espaço para facilitar o discurso e as práticas dos  que entram. É aquela conversa do crédito de 100 dias que acabam durando praticamente 70% da temporada dos quatro anos de gestão.

Os primeiros meses de gestão são sempre dedicados à queixas sobre o estado das prefeituras seguidos do argumento “arrumar a casa”. Aliás, diga-se de passagem, estas casas nunca se arrumam porque ninguém consegue arrumá-las com a qualidade de seus ocupantes niveladas pelo mesmo critério. Muito arranjo político e pouca competência técnica para fazer algo diferente.

Há também que compreender que o clientelismo não é coisa fácil de administrar.  Além da quantidade exagerada de funcionários efetivos que constam nos quadros  publicados pelo Transparência Brasil ainda restam os apaniguados para agradar. E eles não são poucos. Uns exigem, outros aguardam, outros insinuam mas estão sempre ungidos pelo mesmo princípio “ é dando que se recebe”.

Tomando como exemplo a relação de funcionários da prefeitura de IP registrados na lista do Transparência Brasil é possível entender porque tem gente que não trabalha: tanta gente não cabe nas dependências da prefeitura considerando, naturalmente, o prédio sede e os demais espaços que dispõe. A não ser que, de repente, seja  revogado o enunciado da famosa Lei de Newton:  "Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo".

Imagino as dificuldades de um leigo em gestão pública ao administrar esse cataclismo no setor de recursos humanos. Adicionemos aos efetivos, os clientes de cada gestão e estamos diante de um dilúvio. E se considerarmos a pretensa autonomia das  pequenas autoridades  nomeadas com base em critérios eleitoreiros, aí já é o apocalipse.

O intervalo entre a saída de um prefeito e a entrada do outro caracteriza um calvário municipal onde todas as estações têm seu funcionamento comprometido.

Para o prefeito que sai e o que entra,  este período representa um purgatório por diferentes razões que eles conhecem de perto. Quem sai geralmente carrega um estado emocional desfavorável, um percurso de traições políticas, erros que poderiam ter sido evitados, desvarios de última hora, orgulho ferido  e o julgamento público do seu trabalho. Não é fácil atravessá-lo. Quem entra, mesmo embalado pela vitória,  enfrenta um outro purgatório habitado pelos morcegos chupadores ansiosos por cargos, favorecimentos e toda sorte de demandas carinhosamente cultivadas no caldo das promessas eleitorais. Desse grupo, saem  os novos opositores que juntam-se ao grupo dos perdedores e recomeçam a novela que invariavelmente assistimos a cada quatro anos.

Acredito que uma prefeitura deve valer a pena. E como! Se assim não fosse, a encenação já teria acabado há muito tempo e os indivíduos, quem sabe,  aprenderiam  como é bom ser livre.
ML

Um comentário:

Erivando Nunes disse...

Belo texto ML, você explicitou muito bem a realidade da politica partidária! :D