As eleições municipais - principalmente em
municípios pequenos - têm um exacerbado componente subjetivo que imprime sua
marca na definição do voto. O fato de todo mundo se conhecer acaba favorecendo
posturas apaixonadas e pouco racionais. Nas grandes cidades, o eleitor prioriza
também outras variáveis que favorecem escolhas mais racionais. Eu diria que eleições
numa cidade grande têm todos os vícios das pequenas cidades, mas tem qualidades
que as pequenas cidades estão longe de alcançar.
Os reduzidos colégios eleitorais das cidades
interioranas e as suas relações com o processo eleitoral são motivadas na sua
maioria por duas variáveis: o interesse individual que quase sempre pode ser
traduzido pela esperteza tola – por exemplo, venda do voto - e/ou por relações
de afetividade. Eu voto para ganhar individualmente alguma vantagem, voto para
pagar favores e voto por motivações afetivas. Portanto, se você é primo do
amigo do primo do compadre do tio do afilhado do dono do cachorro que mordeu o
gato da minha casa, provavelmente, não receberá meu voto.
A proximidade com os candidatos favorece o
conhecimento do seu perfil, do seu passado, competência, iniciativa,
sensibilidade, decência, entre outras qualidades que poderiam orientar o
eleitor a decidir. Mas o contexto que se
desenha é bastante curioso. A lógica da escolha é perversa. Desperdiça todas as
possibilidades de civilizar o processo. Impregnados dos mesmos ranços que
pautaram as eleições do tempo dos coronéis, esquecemos que estamos em pleno
século XXI. Reproduzimos as mesmas pautas e por elas somos guiados na hora de
votar. Como se pode dizer popularmente, “deixamos
o mato, mas o mato não nos deixou”.
Uma coisa é absolutamente certa. Em IP,
ninguém vota enganado. Pra começo de conversa, conhecemos as duas correntes
políticas que disputam o poder num ping-pong que se eterniza a cada campanha
eleitoral. Partido político é abrigo ocasional. As pessoas se conhecem, brigam
entre si. Depois se juntam de novo. Na política é assim. Como disse Ciro Gomes,
“em política não há ressentimentos”. Se houvessem, as chapas não eram tão
bizarras. Ou será que alguém esqueceu que os candidatos a prefeito e vice das duas
chapas há bem pouco tempo eram desafetos inconciliáveis? O fato de se unirem
não os desabona como cidadãos mas não se pode esconder que a impressão que foi
plantada é que entre eles sempre haveriam mais diferenças que semelhanças.
A pergunta é simples e direta: O que une estas
pessoas? Ninguém muda de um dia para o outro e nem de uma eleição para outra
quando as posições são orientadas por princípios e métodos diferenciados.
Se não há condições de escolher por questões
ideológicas, por princípios e métodos, como vamos escolher? Pelo plano de
governo? Pelamordedeus. Escolher baseado
nos planos de governo apresentados é a mesma coisa que acreditar em horóscopo.
No decorrer da campanha, os próprios
candidatos vão-se autodevorando e esgotando as possibilidades de
marcar um estilo próprio. Sucumbem literalmente à sanha exploradora do eleitor
e danam-se a gastar dinheiro, energia e tempo fazendo as mesmas coisas. Acabam
tão parecidos que dá até para tentar entender as alianças bizarras.
Mesmo diante deste cenário de nulidades e
intenções que já nascem abortadas ainda nos resta um elemento que pode definir
o voto sensato.
Considerando que os dois grupos se revezam no
poder há muitos e muitos anos, podemos pensar como fizeram uso dele para melhor
atender as necessidades da população. Basta observar e relacionar duas
variáveis: o tempo que passaram na gestão do município e o que efetivamente
realizaram. O que prometeram e o que fizeram?
E se lá passaram e nada fizeram por que fariam
agora?
ML
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