terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Juventude: A utopia da onipotência


(Flávio Gikovati)

- Para derrotar o medo, alguns jovens acreditam ser imunes a qualquer perigo. Vestem a couraça da onipotência e põem em risco seu futuro e sua vida. Até que um dia descobrem porque não são “imortais”.

A adolescência é uma fase extremamente difícil da vida. Talvez a mais difícil. Temos que nos comportar como adultos sem dispor de cacife para isso. Temos que ser fortes e independentes quando ainda nos sentimos inseguros e sem autonomia de vôo. Temos que mostrar autoconfiança sexual, mesmo sendo totalmente inexperientes. Temos que formar um juízo a nosso respeito – se possível positivo –, mas nos falta a vivência para aprofundar o autoconhecimento. Enfim, temos que ser ousados e corajosos, embora a cada passo surja o medo para nos inibir.

O que fazer? Frente a tantas incertezas, acabamos seguindo os modelos sugeridos pela própria cultura. Passamos a imitar nossos heróis, “travestindo-nos” de super-homens e de mulheres maravilha. Assim, encobrimos nossas dúvidas e inseguranças. Elas que sejam reprimidas e enviadas para o porão do inconsciente. Nós seremos os fortes e destemidos, para nós nada de errado ou ruim irá acontecer. Construímos uma imagem de perfeição, de criaturas especiais, particularmente abençoadas pelos deuses. Resultado: nos sentimos onipotentes e, a partir daí, não há coisa no mundo que possa nos aterrorizar, uma vez que estamos revestidos de proteções extraordinárias.

Este “estado de graça” irá perdurar por um tempo variável. É um período bastante complicado para as pessoas que convivem com o jovem, pois ele sabe tudo, faz tudo melhor, acha todo o mundo “alienado” e “burro”. Só ele é competente e sábio. No entanto, para o próprio jovem, a frase parece muito positiva. Ele, finalmente, se sente bem, forte, seguro e não tem medo de experimentar situações novas. Pode montar o cavalo mais selvagem com a certeza absoluta de que não cairá em hipótese alguma. Mais tarde, quando não for mais tão ousado e confiante, se lembrará dessa época da vida como a mais feliz. Afinal de contas, a sensação de euforia é sempre inesquecível.

Na verdade, ninguém teria nada contra a onipotência, se ela correspondesse à realidade. Porém, não é isso que os fatos nos ensinam. Sabemos que, entre os jovens, são exatamente os mais confiantes aqueles que se envolvem em todo tipo de acidentes graves, quando não fatais. São estes jovens que dirigem seus carros na estrada, durante a madrugada, com o “pé na tábua”. Não sentem medo porque “é óbvio que os pneus não irão estourar” e “é lógico que não irão adormecer ao volante”. São estes jovens que saem de uma festa e, alcoolizados, vão a toda a velocidade para a praia. Sua “imortalidade” só é desmentida por um acidente fatal. Aliás, para ser sincero, parece incrível que não ocorra um maior número de acidentes.
Alguns jovens, onipotentes e filhos diletos dos deuses, andam de motocicleta sem capacete. Desafiam a chuva e o asfalto molhado, depois de usar tóxicos ou ingerir álcool. Fazem curvas superperigosas. Não se intimidam porque “para eles nada de mal irá acontecer”. E morrem ou ficam paralíticos, interrompendo vidas que poderiam ser ricas e fascinantes. Estes mesmos jovens utilizam drogas em doses elevadas, porque se julgam imunes aos riscos da overdose e suas graves conseqüências. Chegam a compartilhar seringas, ao injetar tóxicos na veia, pois “é claro que não terão AIDS”. E, pela mesma razão, continuam a ter relações sexuais com parceiros desconhecidos, sem sequer tomar o cuidado de usar camisinha.

Aqueles que não morrem ou não ficam gravemente doentes, um dia acordam desse sonho em que flutuavam em “estado de graça”. Acordam porque lhes aconteceu algo: aquele acidente considerado impossível. Caíram do cavalo. Eles também são mortais! Então, tomam consciência de toda a insegurança e de toda a fragilidade que os levaram a construir a falsa armadura da onipotência. Ao se tornarem criaturas normais, sentem-se fracos. Antes era muito melhor. Sim, mas era tudo mentira. Agora, o mundo perdeu as cores vibrantes da fantasia. Vestiu os meios-tons da realidade. Eles não conseguiram domar o cavalo selvagem e foram derrubados no chão. Terão de aprender a cair e se levantar. Terão de aprender a respeitar mais os cavalos! Terão de saber que todas as doenças, todos os acidentes, todas as faltas de sorte poderão persegui-los. E – o que é mais importante – terão de enfrentar com serenidade a plena consciência de que são vulneráveis. Este é um dos ingredientes da maturidade: ter serenidade na viagem da vida, mesmo sabendo que tudo pode nos acontecer

Fonte: http://www.flaviogikovate.com.br/artigos/texto/juventude_a_utopia_da_onipotencia.htm

Lembra-me uma frase que um dia eu li e que de uma outra maneira meu pai sempre me ensinou mas que só a maturidade foi mostrando-me que a sabedoria longe está da arrogância e do medo de reconhecer limites..

"Desterra dos teus estudos a arrogância, não tenhas presun­ção pelo que sabes, que tudo quanto sabe o mais sábio homem do inundo é nada em comparação ao que lhe falta saber." (Juan Luis Vives)

Juan Luis Vives ( 1492-1540) - Humanista e filósofo espanhol de expressão latina nascido em Valência, considerado o pai da moderna psicologia e chamado de o cristianizador do Renascimento. Oriundo da tradicional família Vives, estudou humanidades no Estudo Geral de Valência e, aos 17 anos, entrou para a Universidade de Paris, onde freqüentou os cursos de dialética com Gaspar Lax de Sariñena e Jean Dilaert. Após defender o doutorado, viajou através da Flandres, desenvolvendo diversas atividades e, finalmente, estabelecendo-se em Bruges (1512), como convidado da família valenciana Valladaura. Nomeado (1520) professor da Universidade de Lovaina, estabeleceu uma amizade com Erasmo, iniciando-se como literato e desenvolvendo sua brilhante carreira de humanista e sua fé católica. A pedido de Erasmo, procedeu (1521) a revisão de De civitate Dei de Santo Agostinho, restabelecendo o respectivo texto e efetuando um comentário que viria a ser publicado em Basiléia (1522). Convidado por Tomás More, foi para a corte inglesa, como preceptor da princesa Maria. Também foi leitor da rainha Catarina de Aragão, mulher de Henrique VIII, e ensinou no Corpus Christi de Oxford. Tendo melhorado a sua situação econômica, casou (1524), em Bruges, com Margarida Valldaura, mas, em virtude de ter recusado a apoiar Henrique VIII por ocasião de seu divórcio de Catarina, perdeu a pensão real (1527). Ainda ficou três anos em Inglaterra, até que uma detenção de seis meses o persuadiu a regressar a Bruges, onde retornou ao ensino e defender livremente sua fé católica. Começou a sofrer de ataques de gota (1533) e, no final da sua vida, ficou paralítico vítima de artrite dolorosa, o que não o impediu de escrever até à sua morte, em Bruges. Suas últimas cartas formaram uma espécie de testamento espiritual que, recolhidas por sua fiel Margarida, foram reunidas em De veritate fidei christianae (1543). Entre as obras de caráter social escreveu o magnífico tratado De subventione pauperum, dedicado ao burgomestre do Senado de Bruges (1526), de Da Instrução (1531), dedicada a D. João III, obra que induziu o rei a fundar a Universidade de Coimbra, e A Alma e a Vida (1538), que muitos consideram a sua melhor obra e que o levou a ser considerado o pai da moderna psicologia. Outras obras importantes foram Declamationes Sullanae (1520), De institutione foeminae christianae (1523), De reatione studii puerilis (1523), Satellitium animae (1524), Introduction ad sapientiam (1524), De dissidiis Europae et bello Turcico (1526), De conditione vitae christianorum sub Turca (1526), De officio mariti (1528), De tradentis disciplinis (1531), De artibus (1531), De communione rerum (1535), Censura de Aristotelis operibus (1538) e os Exercícios de Língua Latina (1538).
Fonte:http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JuanVive.html

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