segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

(Jorge Furtado)

Aruanda é um documentário que se utiliza de processos narrativos ficcionais, com personagens reais que aceitam interpretar os seus próprios papéis. O filme se passa em 1960, ano de sua realização, mas fala de acontecimentos de meados do século XIX, embaralhando cronologias e dramatizando a terrível desigualdade brasileira, cristalizada em séculos de imobilidade social: pouca ou nenhuma diferença entre os escravos foragidos dos tempos do Império e os deserdados da miséria do Brasil moderno.

Aruanda conta a história ex-escravo e madeireiro Zé Bento, que partiu com a família à procura de terra e fundou o Quilombo do Olho d'Água da Serra do Talhado, em Santana do Sabugi (PB). Brilhantemente roteirizado, encenado, fotografado e decupado, Aruanda é um valioso registro etnográfico, filme precursor de uma estética cinematográfica brasileira que iria originar o Cinema Novo.


Conheci Linduarte num Festival de Brasília, era uma figura admirável, de grande sabedoria, inteligência e humor, ótima conversa. Ele me mostrou o roteiro de “Aruanda”, um roteiro de documentário escrito e decupado em detalhes, uma lição e tanto para estes tempos digitais, onde muitos pensam que fazer documentário é sair por aí filmando e depois construir o filme na montagem.


Para conhecer as misérias do Brasil – e também o poder transformador do seu melhor cinema - assista “Aruanda”, de Linduarte Noronha (1930-2012).


Fonte: http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/linduarte-noronha

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