Esse ano decidi um carnaval mais light. Minhas crises de diverticulite não seguram o encanto que tenho pelo carnaval mas me obrigam a não fazer estripolias. É possível brincar carnaval sem beber? Posssíiiiiiiiiiivel até que é mas que faz falta, isso faz. E muita! Pra mim, carnaval sem cerveja é feito comida sem sal. Tá gostosa, tá nos trinques, tá saudável mas está sem sal. Desculpem o exagero, mas cerveja, pra mim, tem marca e elas nunca são vendidas no meio do carnaval. Na folia só aparecem Skol, Brahma e Antártica. Vale o sacrifício, vou na mais gelada, é o jeito. As que eu chamo de genéricas sem controle de qualidade, nem pensar. Detalhe dois: nada de comida de rua. Fechou. Pronto. Ontem, no Galo, eu brinquei literalmente na base do mamão e água. Isso pooooooooooode? Pode, sim. Dá para brincar legal mas definitivamente não é a mesma coisa.
Na sexta-feira, comecei indo pra Feijoada do rei, Reginaldo Rossi. Fazia anos que eu não ia a um carnaval de clube. Pensei: só vai dar véio por aqui, vai ser a pura marchinha do tempo do a-la-la-ô puxada a carnaval da saudade. Credo! Que nada. Tinha gente de todas as idades, tudo muito animado. A orquestra foi a Super Oara e a batucada do Patusco. Patusco foi dez mil vezes melhor que a Super Oara. Ver a animação da terceira idade junto com a meninada cantando e dançando Ai se eu te pego foi imperdível. Festa lotada, a tranqüilidade de um clube, gente animada, música de primeira, cerveja gelada (arrisquei umas duazinhas e só). Fiquei com pena porque o Clube Internacional do Recife está acabado. Valeu.
Ontem, foi Galo da Madrugada. Fui para um camarote no melhor estilo. Café da manhã, bebida, feijoada, visão para as duas passagens do Galo, pela rua Imperial e pela Av. Sul e, de quebra, numa esquina, o que dava mais ventilação e visibilidade. Definitivamente não sou vip. Camarote tem muitas vantagens: apoio, comida, bebida gelada, gente selecionada, banheiros exclusivos, frutas mas quem já viu brincar carnaval confinado? Você vê as coisas razoavelmente confortável. Mas carnaval nunca foi conforto. Teve uma hora que caí fora do confinamento e fui pra rua. A vantagem de um camarote é ser um ponto de apoio. Depois o calor e a chuva me botaram pra dentro de novo.
O Galo da Madrugada é realmente impressionante. Indescritível. Vale a pena ir, pelo menos, uma vez. O estilo grande produção não conseguiu a atrapalhar a alegria. Os carros estavam bem bonitos mas o bonito mesmo é o povo. Com ou sem fantasia. Bêbado ou sóbrio. Pense numa super arca de Noé, diversidade total. Uma explosão de ritmos diferentes confirma a multiculturalidade do carnaval do Recife. No local em que eu estava, o trio que mais arrastou foliões foi o Calypso. Joelma puxa a multidão com sua barriga super lisa e hiperlipoaspirada. Desculpem a maldade, mas Elba Ramalho tinha tanto pancake no rosto que dava pena, parecia uma boneca de pano. Os joelhos de Elba viraram comentário geral. Minissaia é um presente da juventude. Tem tempo de validade. O tempo passa. Tinha uns carros de apoio aos trios que só faziam alongar o desfile e fazer a propaganda dos patrocinadores. Já no fim, os últimos trios são repetitivos. Sabe o que é encher lingüiça pra estirar a festa? Eu, sinceramente, percebi assim. Os primeiros carros oficiais do Galo passavam seguidos no cortejo. Depois começou a demorar entre um carro e outro. É muito chato porque dá uma quebrada na animação e, sem cerveja, pior. As fantasias populares e a performance de alguns foliões compensam um pouco esses brancos no desfile. A mulherada que estava na rua começou a improvisar banheiro com as sombrinhas que levaram por conta da chuva. Agora pense na doidice de você sair daquele lugar. Tudo molhado, poça d’água pra todo lado e muita mas muuuuuuuuuuuuuuuuuita gente. Acabei vendo tudo porque saí pelo outro lado da rua e vi os carros que ainda não tinham passado. Quando chegamos na Praça Sérgio Loreto, os primeiros carros do galo estavam dispersando porque já tinham feito a volta.
Pelo menos, no local em que fiquei, a segurança nas ruas estava muito eficiente, tanto nos postos fixos quanto na circulação. Tinha bombeiros, equipamentos de emergência, polícia a pé e motorizada, postos de saúde, ambulâncias, tudo estrategicamente posicionados. Excelente.
A única coisa estranha que vi por lá foi o deputado federal Raul Jungmann (PPS) caminhando sozinho pela rua Imperial. Fiquei me perguntando se ele estava fantasiado dele mesmo ou se na tribuna da Câmara ele usa a mesma fantasia do carnaval. Ow cara chato!
ML
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