quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Quando pobre assume o discurso do rico

 

“Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”. (Paulo Freire)

Esse blogueiro, especialista em nada, pode listar de bate e pronto, alguns momentos recentes, onde a imprensa agiu incutindo um factóide à favor da elite, e a massa comprou como sua causa.

Foi assim na votação da CPMF, na “crise” dos aeroportos, na vinda dos médicos estrangeiros e mais recentemente com o aumento do IPTU em S. Paulo.

Porque isso acontece?

São nesses momentos que a gente percebe como a falta de educação e cultura, gera uma miopia tamanha, que o oprimido assume a defesa do opressor.

Numa outra frase, Paulo Freire, dizia: “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”. E isso, todos os dias, podemos comprovar na prática.

No RJ, recentemente, tivemos um caso marcante, onde os professores municipais em greve, tiveram seu movimento utilizado pelos Black Blocs, e imediatamente deram declarações bombásticas, dizendo que aqueles vândalos que quebraram tudo o que encontraram pela frente, estavam apoiando o movimento grevista. Observem que estamos falando de professores, portanto, pessoas dotadas de senso crítico e discernimento.

Sobre a derrubada da CPMF, em 2007 – o que estava por trás?

A CPMF foi criada durante o governo FHC, com o argumento fortíssimo de que seria destinada para a saúde. No início, de fato ela teve esse destino, porém ela não foi agregada àquela pasta, como um complemento, mas como uma “substituição” simples das verbas anteriormente destinadas para o setor.

Cabe aqui, uma observação importante, que o argumento de destinação da CPMF para a saúde envolveu inclusive apoios da oposição à FHC, na época. Setores do PT, o PC do B e diversos outros parlamentares oposicionistas votaram a favor do novo tributo.

Aqui, o motivo da queda

O imposto era cobrado diretamente na movimentação financeira, emissão de cheques, ou transações eletrônicas na conta corrente, era o tributo mais seguro que existia, pois através deste controle inédito, e direto, impedia a sonegação. A grita era geral pelo seu fim, pois ela cruzava dados da cobrança da CPMF, com as declarações de receitas, e ali eram detectadas todas as sonegações e fraudes.

E foi aí, que a FIESP - (raposa criada), deu o bote inteligente, com um discurso que apontava a CPMF, como o “maior tributo” dentro do espectro de impostos no Brasil, sendo que PIS e Cofins representam, na prática, um custo que significava pelo menos 3 vezes mais que aquele imposto. A população, comprou a ideia, e pessoas que nunca tiveram sequer um talão de cheques, e eram os maiores beneficiários daquele imposto, protestou, e junto com imprensa e empresários engrossou o coro, e derrubaram o imposto no Congresso Nacional.

Fazendo justiça aos comentários, com o tempo, a CPMF foi sendo cada vez mais desvinculada da saúde, inclusive com a DRU (Desvinculação de Receitas da União), que permite ao Governo Federal destinar livremente 20% das verbas do orçamento, também criação do governo FHC e largamente utilizada por ele, não foi diferente quando Lula assumiu o governo em 2002. A gestão petista não teve sensibilidade estratégica de mudar essa forma de tratar o dinheiro da saúde, e sofreu sua maior derrota no Congresso, pois quando acordaram, o bonde já havia passado e a CPMF caiu.

Sobre o “caos aéreo 2010” e os movimentos de julho(2013)

"Veja como os passageiros devem se defender do caos aéreo” - foi somente uma entre milhões de matérias veiculadas sobre o tema, e não era incomum, ouvir dentro de ônibus, metrôs e trens, gente na labuta diária, que nunca pisaram num aeroporto, indignadas com a situação nos aeroportos. Tudo isso, fazendo eco, a uma campanha sistemática, onde toda a imprensa, bombardeava a cabeça da população com esse assunto, 24hs por dia.

Vinda dos médicos estrangeiros (que a imprensa chamava de "médicos cubanos")

Sim, médicos estrangeiros - AQUI -, pois a proposta previa a vinda de médicos portugueses, espanhóis, italianos, argentinos, e cubanos, no início parecia o Apocalipse, dando conta de que, o fim do mundo, já tinha dia e hora para acontecer. E sorrateiramente toda a imprensa, orquestrada em um samba de uma nota só, dizia em todas as matérias, tratar-se da vida de “médicos cubanos”. Porque será? Qual era a intenção por trás desta campanha? Nessa, eles perderam, pois a necessidade do povão falou mais forte, e as próprias entidades médicas, reconheceram que erraram na mão.

Reajuste no IPTU em S. Paulo

Desde Luíza Erundina (1989 - 1993), quando ocupou a cadeira de prefeita da cidade, o tema IPTU é tema controverso. Foi assim com Marta Suplicy (2000 - 2004), e agora com Fernando Haddad, não foi diferente. Mas observem que a polêmica sobre o tributo, só aparece quando o governo é petista. Administradores anteriores, chegaram a aumentar a PGV (Planta Genérica de Valores), em até, 600% em algumas regiões da cidade, sem serem molestados. Leia -AQUI- o que fez Kassab em 2009.

A direita e outros setores conservadores, descobriram após o processo do mensalão petista, que já que não temos uma base aliada consistente, e os partidos que sobraram não sabem fazer oposição, o caminho agora é a dobradinha que parece ter resultados práticos, que é, judiciário&imprensa. E foi assim, que os 20% de aumento médio no IPTU, proposto por Haddad, - AQUI - e assinado após idas e vindas, e nesta segunda feira, (4), foi barrado na justiça, pelo juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública, que concedeu liminar, impedindo o projeto, e nem se deu ao trabalho de comunicar a prefeitura, dando mostras de desrespeito, ao executivo, puxando a faca e chamando o prefeito para a briga.

Toda a imprensa, martelou que o reajuste do IPTU, impingido aos bairros mais nobres, e detrimento aos mais pobres, era um “castigo” aos paulistanos que não votaram no PT, visto que justamente naqueles bairros que o aumento foi maior, é exatamente onde o eleitor votou em José Serra. Ou seja, uma conclusão, no mínimo ridícula, pois são bairros nobres, onde os imóveis são valorizados e possuem no mínimo 400m2 de área construída.

Descobriram o caminho das pedras

E assim, esses fatos recentes, demonstram como imprensa&judiciário, dão a “opinião publicada”, como opinião pública, num simulacro incestuoso, onde aquele que critica durante o dia, divide a mesma cama durante à noite. E o povo, na maioria das vezes, acredita piamente - AQUI - que Veja, Globo, Folha de S. Paulo, Estadão e tantos outros pelo país à fora, estão falando a mais pura verdade, e defendendo seus interesses.
 
Fonte: http://bogdopaulinho.blogspot.com.br/2013/11/quando-pobre-assume-o-discurso-do-rico.html

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