por Dani Arrais
David Baker checa email duas vezes por dia, acha extremamente rude manter
uma conversa com alguém que não tira os olhos do celular e só conseguiu
usar o Facebook por um mês (e odiou a experiência). O comportamento frugal em
relação à tecnologia vem da experiência que ele tem na área: há mais de três
décadas ele pensa, escreve, faz consultorias e dá aulas sobre o assunto. Por
anos foi editor-chefe da versão inglesa da revista Wired, a bíblia da
tecnologia, e hoje é professor na The School of Life, a
escola criada por Alain de Botton e Roman Kznaric (“Escola da vida” criada em Londres
planeja versão brasileira + Como encontrar o trabalho da sua vida)
Nos anos
1980, Baker deixou o emprego em um escritório de relações públicas e teve que
aprender duas coisas: como ganhar dinheiro sendo seu próprio empregador e como
lidar com o tempo para tirar o melhor proveito dele. “Acredito muito que
devemos trabalhar o mínimo possível, da maneira mais esperta que der. Acho que
somos capazes de coisas maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos
com que ele dure muito mais que o necessário”, disse ele ao Don’t Touch.
Em uma
época em que o lema era “work hard, play hard”, Baker decidiu não ser um
yuppie. “Tomei uma decisão de trabalhar menos, ganhar menos e gastar menos.
Vivo confortavelmente, não sou um milionário. Entre os meus amigos, provavelmente,
sou o que ganha menos, mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi
bonita.”
Viver com
menos talvez tenha sido o primeiro passo para que Baker começasse a entender
que esse comportamento também poderia ser levado para o mundo digital, que
funciona em uma velocidade e com um volume de dados impossíveis de acompanhar.
“Precisamos reconfigurar nossa relação com a tecnologia. Em vez de usar toda a
tecnologia disponível pra viver nossas vidas, nós temos que viver as nossas
vidas e usar a tecnologia como ferramentas extras para isso. Se nós não
fizermos isso, nos tornaremos escravos”, diz ele.
Conversei
com o David na última terça-feira, ao fim do intensivo que ele deu na versão
brasileira da The School of Life, em São Paulo.
No próximo sábado, às 11h, ele fala sobre “Tecnologia e Humanidade” no sermão
da escola, que acontece no Teatro Augusta. Ainda há ingressos, aproveitem > http://www.theschooloflife.com/shop/david-baker-sobre/
O papo
foi daqueles demorados e deliciosos, em que a gente vai ouvindo cada frase com
total atenção (e com o celular no modo avião, por favor!), aprendendo com a
experiência de quem se dedica ao assunto há muito tempo e pegando dicas para
incorporar na vida atitudes que levam a um comportamento digital mais saudável.
Espero
que vocês gostem! ♥
- Tem um
livro que eu gosto que fala que nós esperamos mais da tecnologia do que uns dos
outros. O que você acha disso?
Meu tema
para este ano, porque eu trabalho para a Wired e porque ensino na School of
Life, é tentar investigar o que acontece quando seres humanos e tecnologia
colidem. A tecnologia está se tornando cada vez melhor mais rapidamente e isso
não vai parar. E isso nos traz problemas. O primeiro é que nós temos
expectativas diante da tecnologia que são despropositadas, temos a ilusão de
que a tecnologia vai resolver todos os nossos problemas. E não é verdade.
Existe um “solucionismo”. Tenho um problema e penso que vai existir uma
tecnologia para resolvê-lo. E não é o caso. Tecnologia é ferramenta. O que nós precisamos
é reconfigurar nossa relação com a tecnologia. Em vez de usá-la para viver
nossas vidas, nós temos que viver as nossas vidas e usá-la como ferramentas
extras para isso. Se nós não fizermos isso, nos tornaremos escravos. Isso
aconteceu na Revolução Industrial. Quando as indústrias de fábricas cresceram,
as vidas de várias pessoas ficaram piores, mesmo com muita gente pensando que
aquilo era sinônimo de progresso. Começamos a descobrir coisas como poluição, o
som constante das máquinas. Aí mudamos essa relação. A nossa relação com a
tecnologia hoje ainda é adolescente e agora estamos começando a nos tornar
adultos.
- Por que
você acha que nós estamos tão viciados em likes e comentários?
Por duas
razões. É realmente excitante quando as pessoas dão like em alguma coisa que
nós postamos. É como ser um ator em um filme, é como se fôssemos famosos. Tem
uma platéia ali, de maioria de pessoas desconhecidas. “Estranhos gostam do que
eu digo? Que bom!”. E nós podemos ter números. Conheço pessoas no Twitter que entram
em competições para ver quem tem mais seguidores. Existe uma idéia de que
podemos ser melhores por causa dos números. E o que ferramentas como Twitter e
Instagram fazem é o que os psicólogos chamam de reforço intermitente. É como um
jogo de azar. Vencer é o like, que vem de maneira randômica. Continuo jogando
roleta porque a próxima rodada pode me fazer ganhar. Continuo postando pra ver
se vem um prêmio. Pessoas que não podem deixar seus telefones de lado têm um
problema psicológico.
- Há
estudos que dizem que esse vício é químico também. Quando checamos email e tem
uma mensagem nova, o cérebro libera dopamina. Ficamos animados e queremos de
novo.
Nós temos
que entender onde está a dopamina em outras áreas da nossa vida. Não é certo
sentir prazer em checar email. É ridículo. Email é uma coisa prática para
comunicação. Nós precisamos pensar: por que estou procurando meu prazer aqui,
se poderia fazer isso de uma maneira que me preenchesse mais? Eu checo emails
duas vezes por dia, geralmente. E minha vida é ok, não é um desastre. No resto
do tempo eu espero encontrar prazer em outros lugares.
- E como
você chegou a essa dinâmica de checar email duas vezes por dia?
Quando me
tornei o editor-chefe da Wired em Londres, comecei a receber centenas de
emails. Eu passava o dia lendo emails, e os projetos que eu precisava fazer,
como criar uma edição digital, não iam pra frente, pois eu não tinha tempo. Daí
decidi reduzir essa exposição. Sou velho o suficiente para lembrar que a
comunicação era feita por correios. Quando comecei a trabalhar, a comunicação
vinha duas vezes por dia. Recebíamos alguma coisa, pensávamos na resposta,
escrevíamos, enviávamos. E o trabalho funcionava do mesmo jeito. Decidi checar
email às 11h, depois às 16h. Também desliguei o voicemail do meu telefone, para
que as pessoas não pudessem deixar mensagens. Desliguei as notificações do
Outlook. Isso mudou a minha vida completamente.
- Queria
conseguir fazer isso.
O que
falamos aqui na School of Life é de ir experimentando. Tente por um dia, veja o
que acontece. Depois por dois e assim por diante.
- See
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- Estamos
sempre conectados, mas frequentemente nos sentimos sozinhos. Isso é um paradoxo
ou é um sentimento que está se tornando real para cada vez mais pessoas? Qual é
a importância de saber ficar sozinho?
É
irônico, né? Quanto mais conectados, mais nos sentimos sozinhos. O que acontece
é a Fomo (fear of missing out), o medo de perder as coisas é um sentimento
muito profundo, principalmente para quem vive em grandes cidades. O que
acontece é que na internet vivemos em “megalópolis”. Não consigo lembrar
quantos membros o Facebook tem, mas vivemos numa população de bilhões. O que a
internet promete é conexão e compartilhamento, mas o que entrega é mais uma
sensação do que estamos perdendo. Nós pensávamos que a internet iria aumentar a
diversidade, mas, em vez disso, as pessoas tendem a se comunicar com quem já
conhecem, a criar pequenos grupos. E também não existe fronteira de tempo.
Preciso estar conectado. A idéia de estar sempre conectado é ainda mais jovem
que a internet, veio com a conexão banda larga. Nós olhamos como um direito que
sempre existiu, mas em 1990, 1992, você tinha que ligar para um número, se
conectar na internet, fazer seus negócios, se desconectar. Tínhamos uma atitude
diferente: vou me conectar, falar com as pessoas, me desconectar. Mas o “always
on” nos dá a ilusão de que temos que estar conectados o tempo todo, o que é um
problema, porque, quando a conexão cai, a gente enlouquece.
- E qual
é a importância de saber ficar sozinho?
Nós
geralmente estamos sozinhos e é importante que a gente entenda que isso vem com
coisas boas e ruins. No Brasil a palavra é uma só: solidão. Na Inglaterra,
temos duas: loneliness e solitude. A primeira é ruim, a segunda é boa. Uma
investigação que podemos fazer é como tornamos o sentimento de nos sentirmos
solitários em solidão. Ficar sozinho não precisa ser uma coisa ruim. Porque a
internet é baseada em conexão, quanto menos você tem parece que é pior. Mas
esses momentos quando estamos sozinhos de uma maneira boa são momentos de
pensamentos profundos que podem nos levar a descobertas maravilhosas sobre o
que somos capazes de fazer. E pra mim estamos aqui na Terra para descobrir o
potencial dentro da gente e crescer e aproveitar para fazer as coisas nas quais
somos bons, que nos deixam animados e felizes. Algumas vezes a gente precisa
ficar sozinho para descobrir isso. E o que acontece com a internet é que ela
está sempre lá, nos chamando.
- Tem um
outro livro, “The Information Diet”, que diz que nós estamos ficando obesos não
apenas nos nossos corpos, mas em nossos cérebros, devido ao lixo de informação
que consumimos. O que você acha disso?
Informação
hoje na internet tem que gritar para ser ouvida. Acho que a quantidade de dados
que trafega na internet em um mês é de 40 exabyte.
- Eu nem
sei o que é um exabyte.
Exatamente.
O interessante é que 5 exabytes é número total de palavras ditas pelos seres
humanos em toda a história. Oito vezes isso circula na internet todo mês. É
astronômico. Para ser ouvido, as coisas precisam gritar. Não é diferente do
mundo, onde tem milhões de pessoas que nunca vamos conhecer. O cérebro funciona
como uma banda larga doméstica. Não temos como lidar com todos esses dados.
Popularizam-se coisas como vídeos de gatos, que são brilhantes. Parece que tudo
é muito efêmero. Como eu cultivo solidão na minha vida? A internet é incapaz de
responder isso. A velocidade da internet nos desencoraja a pensar mais
lentamente. Agora o relógio nos faz pensar em resultados instantâneos. O Google
nos dá resultados em frações de segundos. Nós somos encorajados a consumir os
dados ruins, mas também a não pausar e resistir e ir procurar outro tipo.
- Me
parece que estamos preguiçosos, vivemos numa época em que parece que tudo é o
Buzzfeed. Amo o Buzzfeed, mas ninguém lê um texto grande na internet.
Quando
lançamos a Wired em Londres, uma publicação impressa, decidimos escrever textos
longos, com 4 mil palavras. Eu achava que não ia dar certo, mas se tornou muito
popular. A gente queria que as pessoas parassem por 20, 30 minutos e
contemplassem, aprendessem alguma coisa. A velocidade também nos deixa
preguiçosos para a especulação. Conhecimento vem da especulação, da conversa.
Se eu falo pra você que o Azerbaijão é maior que o Cazaquistão, e você diz que
não, temos uma conversa. Hoje vamos ao Google e resolvemos a questão muito
rapidamente. Paramos de trocar as informações que tínhamos. Podemos até não
chegar na resposta, mas na jornada para a resposta, aumentamos nosso
conhecimento. Com o Google a gente tem a resposta, mas vamos esquecer no outro
dia ou não vamos ter aumentado nosso conhecimento. Sinto falta disso. Quero ser
um evangelista da especulação. Quero que as pessoas deixem o Google de lado e
investiguem o que têm em suas cabeças.
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- Como
nós podemos tirar o máximo da internet, de uma boa maneira? Quais são os sites
que você costuma checar diariamente?
Não tem
nada que eu veja todo dia. O Google eu uso todo dia. Adoro todas as ferramentas
deles. Fico muito feliz em dar todos os meus dados para eles em troca dessas
ferramentas gratuitas. GDocs, Gmail são coisas incríveis. Eles me ajudaram a
pensar melhor, a me organizar, a lidar com colegas. Obrigada, Google! Além
disso, amo o Gawker, leio por entretenimento. Amo a Wikipédia, acredito muito
nela. O que tento fazer é usar a internet sem usar a internet. Gosto de tirar
tempo fora dela, me desconectar. De repente tenho esse tempo incrível em que
leio um livro ou uso um pedaço de papel e lápis para colocar meus pensamentos.
São sempre tempos melhores.
- Você
está no Facebook?
Não. Eu
tentei por um mês e detestei. Em princípio não tenho nada contra. Mas velhas
informações ficavam aparecendo pra mim, demandando minha atenção. Tenho muitos
amigos que eu vejo no mundo real e essas conexões com eles, falando no
telefone, indo na casa ou recebendo na minha, são conexões melhores. Eu fazia
log in e ficava aterrorizado. Preferi me desconectar, ir pra fora, investigar
algo nos meus termos. A ironia é que não fechei minha conta, um pouco tempo
depois tive que escrever para um site que estava em beta e eu precisava logar
pelo Facebook. Fiz uma página e hoje tenho 0 amigos. Eu sou o loser do Facebook
e sou muito feliz com isso.
- Será
que temos que criar momentos específicos para usar a internet? Está em tempo de
seguirmos uma etiqueta virtual?
Eu odeio
quando as pessoas estão olhando para o telefone enquanto estão tendo uma
conversa comigo. Eu realmente odeio isso. Parece não apenas rude, mas também
meio idiota. Acho que uma das coisas mais bonitas que você pode fazer na vida é
dar sua atenção completa a um ser humano, é um ato de amor. E é o que faz a
conversa cara a cara tão melhor do que a pelo Skype. Quando estamos na presença
de outra pessoa, podemos dar toda a nossa atenção a ela, e eles nos dão de
volta. E nós chegamos a um lugar tão mais profundo, que nos preenche, do que
quando temos conversas no mundo digital. O que prejudica isso é quando as
pessoas são distraídas pelos seus telefones. Um amigo meu lançou uma acampanha
em Tel Aviv para deixar os telefones virados pra baixo. Isso está começando a
ficar popular por lá. É muito legal pensar: onde está meu telefone agora? O meu
está no bolso. E prefiro que as pessoas deixem no bolso ou virado pra baixo, no
silencioso. Se não a mensagem fica apitando e você vê os olhos da pessoa
procurando. É rude. Sei que pareço um homem velho, mas acho que é rude pra todo
mundo, inclusive para um menino de 14 anos. Quando estamos com outra pessoa
essa é a pessoa mais importante, não as que estão online.
- Como
você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito
muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da maneira mais esperta que der.
Acho que somos capazes de coisas maravilhosas, mas, especialmente no trabalho,
fazemos com que ele dure muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por
hora, dia, mês. Elas não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim
devagar. Eu trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma
vantagem se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais
coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar menos,
ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um milionário.
Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos, mas sou o que tem
mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como resultado, quando trabalho,
faço isso de maneira esperta e satisfatória para mim e para as outras pessoas.
Em casa,
meu ritmo. Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às
22h30, acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama,
passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma coisa.
Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como resultado, a maioria
das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h. Gosto de, todo dia, estar em
um lugar analógico. Gosto de nadar em água fria num lugar aberto. Pego minha
bicicleta. Tem água, floresta, pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E
gosto de passar tempo nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails
e o dia chega ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser
escravos. Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho.
Eu não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
- Quem
são suas inspirações?
Eu me
inspirei em mim mesmo. Trabalhei para duas empresas de relações públicas em
Londres, nos anos 1980, numa época yuppie, de “work hard, play hard”. Saí da
empresa, tive que entender como funcionava a vida de alguém que se emprega. E
me dei conta de que o meu tempo era muito importante. Fiz um trabalho com uma
consultoria sobre gerenciamento de tempo. Comecei a pensar em qual é o ponto de
estarmos no mundo. E sempre fui atraído por pessoas que vivem de um jeito mais
simples, que têm um propósito. Mais do que as pessoas que ostentam. Por
necessidade, sem dinheiro, entendi que precisava fazer alguma coisa boa com o
meu tempo. E depois se mostrou um valor viver assim. Sou religioso, judeu, tem
um profeta que diz: você pergunta o que é ser bom. E eu digo: você deve
procurar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com o seu Deus.
Gosto de andar humildemente.
- Você
tem um mantra de vida?
Nunca
deixe de ser curioso. Existem coisas maravilhosas lá fora prontas para serem
descobertas.
Fonte: : http://donttouchmymoleskine.com
- Como nós podemos tirar o máximo da internet, de uma boa maneira? Quais são os sites que você costuma checar diariamente?
Não tem nada que eu veja todo dia. O Google eu uso todo
dia. Adoro todas as ferramentas deles. Fico muito feliz em dar todos os
meus dados para eles em troca dessas ferramentas gratuitas. GDocs, Gmail
são coisas incríveis. Eles me ajudaram a pensar melhor, a me organizar,
a lidar com colegas. Obrigada, Google! Além disso, amo o Gawker, leio
por entretenimento. Amo a Wikipédia, acredito muito nela. O que tento
fazer é usar a internet sem usar a internet. Gosto de tirar tempo fora
dela, me desconectar. De repente tenho esse tempo incrível em que leio
um livro ou uso um pedaço de papel e lápis para colocar meus
pensamentos. São sempre tempos melhores.
- Você está no Facebook?
Não. Eu tentei por um mês e detestei. Em princípio não
tenho nada contra. Mas velhas informações ficavam aparecendo pra mim,
demandando minha atenção. Tenho muitos amigos que eu vejo no mundo real e
essas conexões com eles, falando no telefone, indo na casa ou recebendo
na minha, são conexões melhores. Eu fazia log in e ficava aterrorizado.
Preferi me desconectar, ir pra fora, investigar algo nos meus termos. A
ironia é que não fechei minha conta, um pouco tempo depois tive que
escrever para um site que estava em beta e eu precisava logar pelo
Facebook. Fiz uma página e hoje tenho 0 amigos. Eu sou o loser do
Facebook e sou muito feliz com isso.
- Será que temos que criar momentos específicos para usar a internet? Está em tempo de seguirmos uma etiqueta virtual?
Eu odeio quando as pessoas estão olhando para o telefone
enquanto estão tendo uma conversa comigo. Eu realmente odeio isso.
Parece não apenas rude, mas também meio idiota. Acho que uma das coisas
mais bonitas que você pode fazer na vida é dar sua atenção completa a um
ser humano, é um ato de amor. E é o que faz a conversa cara a cara tão
melhor do que a pelo Skype. Quando estamos na presença de outra pessoa,
podemos dar toda a nossa atenção a ela, e eles nos dão de volta. E nós
chegamos a um lugar tão mais profundo, que nos preenche, do que quando
temos conversas no mundo digital. O que prejudica isso é quando as
pessoas são distraídas pelos seus telefones. Um amigo meu lançou uma
acampanha em Tel Aviv para deixar os telefones virados pra baixo. Isso
está começando a ficar popular por lá. É muito legal pensar: onde está
meu telefone agora? O meu está no bolso. E prefiro que as pessoas deixem
no bolso ou virado pra baixo, no silencioso. Se não a mensagem fica
apitando e você vê os olhos da pessoa procurando. É rude. Sei que pareço
um homem velho, mas acho que é rude pra todo mundo, inclusive para um
menino de 14 anos. Quando estamos com outra pessoa essa é a pessoa mais
importante, não as que estão online.
- Como você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da
maneira mais esperta que der. Acho que somos capazes de coisas
maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos com que ele dure
muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por hora, dia, mês. Elas
não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim devagar. Eu
trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma vantagem
se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais
coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar
menos, ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um
milionário. Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos,
mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como
resultado, quando trabalho, faço isso de maneira esperta e satisfatória
para mim e para as outras pessoas.
Em casa, meu ritmo.
Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às 22h30,
acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama,
passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma
coisa. Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como
resultado, a maioria das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h.
Gosto de, todo dia, estar em um lugar analógico. Gosto de nadar em água
fria num lugar aberto. Pego minha bicicleta. Tem água, floresta,
pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E gosto de passar tempo
nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails e o dia chega
ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser escravos.
Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho. Eu
não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
- Quem são suas inspirações?
Eu me inspirei em mim mesmo. Trabalhei para duas empresas
de relações públicas em Londres, nos anos 1980, numa época yuppie, de
“work hard, play hard”. Saí da empresa, tive que entender como
funcionava a vida de alguém que se emprega. E me dei conta de que o meu
tempo era muito importante. Fiz um trabalho com uma consultoria sobre
gerenciamento de tempo. Comecei a pensar em qual é o ponto de estarmos
no mundo. E sempre fui atraído por pessoas que vivem de um jeito mais
simples, que têm um propósito. Mais do que as pessoas que ostentam. Por
necessidade, sem dinheiro, entendi que precisava fazer alguma coisa boa
com o meu tempo. E depois se mostrou um valor viver assim. Sou
religioso, judeu, tem um profeta que diz: você pergunta o que é ser bom.
E eu digo: você deve procurar a justiça, amar a misericórdia e andar
humildemente com o seu Deus. Gosto de andar humildemente.
- Você tem um mantra de vida?
Nunca deixe de ser curioso. Existem coisas maravilhosas lá fora prontas para serem descobertas.
- See more at: http://donttouchmymoleskine.com/#sthash.YjOzlbSA.dpuf
- Como nós podemos tirar o máximo da internet, de uma boa maneira? Quais são os sites que você costuma checar diariamente?
Não tem nada que eu veja todo dia. O Google eu uso todo
dia. Adoro todas as ferramentas deles. Fico muito feliz em dar todos os
meus dados para eles em troca dessas ferramentas gratuitas. GDocs, Gmail
são coisas incríveis. Eles me ajudaram a pensar melhor, a me organizar,
a lidar com colegas. Obrigada, Google! Além disso, amo o Gawker, leio
por entretenimento. Amo a Wikipédia, acredito muito nela. O que tento
fazer é usar a internet sem usar a internet. Gosto de tirar tempo fora
dela, me desconectar. De repente tenho esse tempo incrível em que leio
um livro ou uso um pedaço de papel e lápis para colocar meus
pensamentos. São sempre tempos melhores.
- Você está no Facebook?
Não. Eu tentei por um mês e detestei. Em princípio não
tenho nada contra. Mas velhas informações ficavam aparecendo pra mim,
demandando minha atenção. Tenho muitos amigos que eu vejo no mundo real e
essas conexões com eles, falando no telefone, indo na casa ou recebendo
na minha, são conexões melhores. Eu fazia log in e ficava aterrorizado.
Preferi me desconectar, ir pra fora, investigar algo nos meus termos. A
ironia é que não fechei minha conta, um pouco tempo depois tive que
escrever para um site que estava em beta e eu precisava logar pelo
Facebook. Fiz uma página e hoje tenho 0 amigos. Eu sou o loser do
Facebook e sou muito feliz com isso.
- Será que temos que criar momentos específicos para usar a internet? Está em tempo de seguirmos uma etiqueta virtual?
Eu odeio quando as pessoas estão olhando para o telefone
enquanto estão tendo uma conversa comigo. Eu realmente odeio isso.
Parece não apenas rude, mas também meio idiota. Acho que uma das coisas
mais bonitas que você pode fazer na vida é dar sua atenção completa a um
ser humano, é um ato de amor. E é o que faz a conversa cara a cara tão
melhor do que a pelo Skype. Quando estamos na presença de outra pessoa,
podemos dar toda a nossa atenção a ela, e eles nos dão de volta. E nós
chegamos a um lugar tão mais profundo, que nos preenche, do que quando
temos conversas no mundo digital. O que prejudica isso é quando as
pessoas são distraídas pelos seus telefones. Um amigo meu lançou uma
acampanha em Tel Aviv para deixar os telefones virados pra baixo. Isso
está começando a ficar popular por lá. É muito legal pensar: onde está
meu telefone agora? O meu está no bolso. E prefiro que as pessoas deixem
no bolso ou virado pra baixo, no silencioso. Se não a mensagem fica
apitando e você vê os olhos da pessoa procurando. É rude. Sei que pareço
um homem velho, mas acho que é rude pra todo mundo, inclusive para um
menino de 14 anos. Quando estamos com outra pessoa essa é a pessoa mais
importante, não as que estão online.
- Como você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da
maneira mais esperta que der. Acho que somos capazes de coisas
maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos com que ele dure
muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por hora, dia, mês. Elas
não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim devagar. Eu
trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma vantagem
se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais
coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar
menos, ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um
milionário. Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos,
mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como
resultado, quando trabalho, faço isso de maneira esperta e satisfatória
para mim e para as outras pessoas.
Em casa, meu ritmo.
Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às 22h30,
acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama,
passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma
coisa. Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como
resultado, a maioria das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h.
Gosto de, todo dia, estar em um lugar analógico. Gosto de nadar em água
fria num lugar aberto. Pego minha bicicleta. Tem água, floresta,
pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E gosto de passar tempo
nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails e o dia chega
ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser escravos.
Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho. Eu
não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
- Quem são suas inspirações?
Eu me inspirei em mim mesmo. Trabalhei para duas empresas
de relações públicas em Londres, nos anos 1980, numa época yuppie, de
“work hard, play hard”. Saí da empresa, tive que entender como
funcionava a vida de alguém que se emprega. E me dei conta de que o meu
tempo era muito importante. Fiz um trabalho com uma consultoria sobre
gerenciamento de tempo. Comecei a pensar em qual é o ponto de estarmos
no mundo. E sempre fui atraído por pessoas que vivem de um jeito mais
simples, que têm um propósito. Mais do que as pessoas que ostentam. Por
necessidade, sem dinheiro, entendi que precisava fazer alguma coisa boa
com o meu tempo. E depois se mostrou um valor viver assim. Sou
religioso, judeu, tem um profeta que diz: você pergunta o que é ser bom.
E eu digo: você deve procurar a justiça, amar a misericórdia e andar
humildemente com o seu Deus. Gosto de andar humildemente.
- Você tem um mantra de vida?
Nunca deixe de ser curioso. Existem coisas maravilhosas lá fora prontas para serem descobertas.
- See more at: http://donttouchmymoleskine.com/#sthash.YjOzlbSA.dpuf
- Como nós podemos tirar o máximo da internet, de uma boa maneira? Quais são os sites que você costuma checar diariamente?
Não tem nada que eu veja todo dia. O Google eu uso todo
dia. Adoro todas as ferramentas deles. Fico muito feliz em dar todos os
meus dados para eles em troca dessas ferramentas gratuitas. GDocs, Gmail
são coisas incríveis. Eles me ajudaram a pensar melhor, a me organizar,
a lidar com colegas. Obrigada, Google! Além disso, amo o Gawker, leio
por entretenimento. Amo a Wikipédia, acredito muito nela. O que tento
fazer é usar a internet sem usar a internet. Gosto de tirar tempo fora
dela, me desconectar. De repente tenho esse tempo incrível em que leio
um livro ou uso um pedaço de papel e lápis para colocar meus
pensamentos. São sempre tempos melhores.
- Você está no Facebook?
Não. Eu tentei por um mês e detestei. Em princípio não
tenho nada contra. Mas velhas informações ficavam aparecendo pra mim,
demandando minha atenção. Tenho muitos amigos que eu vejo no mundo real e
essas conexões com eles, falando no telefone, indo na casa ou recebendo
na minha, são conexões melhores. Eu fazia log in e ficava aterrorizado.
Preferi me desconectar, ir pra fora, investigar algo nos meus termos. A
ironia é que não fechei minha conta, um pouco tempo depois tive que
escrever para um site que estava em beta e eu precisava logar pelo
Facebook. Fiz uma página e hoje tenho 0 amigos. Eu sou o loser do
Facebook e sou muito feliz com isso.
- Será que temos que criar momentos específicos para usar a internet? Está em tempo de seguirmos uma etiqueta virtual?
Eu odeio quando as pessoas estão olhando para o telefone
enquanto estão tendo uma conversa comigo. Eu realmente odeio isso.
Parece não apenas rude, mas também meio idiota. Acho que uma das coisas
mais bonitas que você pode fazer na vida é dar sua atenção completa a um
ser humano, é um ato de amor. E é o que faz a conversa cara a cara tão
melhor do que a pelo Skype. Quando estamos na presença de outra pessoa,
podemos dar toda a nossa atenção a ela, e eles nos dão de volta. E nós
chegamos a um lugar tão mais profundo, que nos preenche, do que quando
temos conversas no mundo digital. O que prejudica isso é quando as
pessoas são distraídas pelos seus telefones. Um amigo meu lançou uma
acampanha em Tel Aviv para deixar os telefones virados pra baixo. Isso
está começando a ficar popular por lá. É muito legal pensar: onde está
meu telefone agora? O meu está no bolso. E prefiro que as pessoas deixem
no bolso ou virado pra baixo, no silencioso. Se não a mensagem fica
apitando e você vê os olhos da pessoa procurando. É rude. Sei que pareço
um homem velho, mas acho que é rude pra todo mundo, inclusive para um
menino de 14 anos. Quando estamos com outra pessoa essa é a pessoa mais
importante, não as que estão online.
- Como você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da
maneira mais esperta que der. Acho que somos capazes de coisas
maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos com que ele dure
muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por hora, dia, mês. Elas
não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim devagar. Eu
trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma vantagem
se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais
coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar
menos, ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um
milionário. Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos,
mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como
resultado, quando trabalho, faço isso de maneira esperta e satisfatória
para mim e para as outras pessoas.
Em casa, meu ritmo.
Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às 22h30,
acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama,
passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma
coisa. Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como
resultado, a maioria das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h.
Gosto de, todo dia, estar em um lugar analógico. Gosto de nadar em água
fria num lugar aberto. Pego minha bicicleta. Tem água, floresta,
pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E gosto de passar tempo
nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails e o dia chega
ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser escravos.
Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho. Eu
não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
- Quem são suas inspirações?
Eu me inspirei em mim mesmo. Trabalhei para duas empresas
de relações públicas em Londres, nos anos 1980, numa época yuppie, de
“work hard, play hard”. Saí da empresa, tive que entender como
funcionava a vida de alguém que se emprega. E me dei conta de que o meu
tempo era muito importante. Fiz um trabalho com uma consultoria sobre
gerenciamento de tempo. Comecei a pensar em qual é o ponto de estarmos
no mundo. E sempre fui atraído por pessoas que vivem de um jeito mais
simples, que têm um propósito. Mais do que as pessoas que ostentam. Por
necessidade, sem dinheiro, entendi que precisava fazer alguma coisa boa
com o meu tempo. E depois se mostrou um valor viver assim. Sou
religioso, judeu, tem um profeta que diz: você pergunta o que é ser bom.
E eu digo: você deve procurar a justiça, amar a misericórdia e andar
humildemente com o seu Deus. Gosto de andar humildemente.
- Você tem um mantra de vida?
Nunca deixe de ser curioso. Existem coisas maravilhosas lá fora prontas para serem descobertas.
- See more at: http://donttouchmymoleskine.com/#sthash.YjOzlbSA.dpuf
- Como nós podemos tirar o máximo da internet, de uma boa maneira? Quais são os sites que você costuma checar diariamente?
Não tem nada que eu veja todo dia. O Google eu uso todo
dia. Adoro todas as ferramentas deles. Fico muito feliz em dar todos os
meus dados para eles em troca dessas ferramentas gratuitas. GDocs, Gmail
são coisas incríveis. Eles me ajudaram a pensar melhor, a me organizar,
a lidar com colegas. Obrigada, Google! Além disso, amo o Gawker, leio
por entretenimento. Amo a Wikipédia, acredito muito nela. O que tento
fazer é usar a internet sem usar a internet. Gosto de tirar tempo fora
dela, me desconectar. De repente tenho esse tempo incrível em que leio
um livro ou uso um pedaço de papel e lápis para colocar meus
pensamentos. São sempre tempos melhores.
- Você está no Facebook?
Não. Eu tentei por um mês e detestei. Em princípio não
tenho nada contra. Mas velhas informações ficavam aparecendo pra mim,
demandando minha atenção. Tenho muitos amigos que eu vejo no mundo real e
essas conexões com eles, falando no telefone, indo na casa ou recebendo
na minha, são conexões melhores. Eu fazia log in e ficava aterrorizado.
Preferi me desconectar, ir pra fora, investigar algo nos meus termos. A
ironia é que não fechei minha conta, um pouco tempo depois tive que
escrever para um site que estava em beta e eu precisava logar pelo
Facebook. Fiz uma página e hoje tenho 0 amigos. Eu sou o loser do
Facebook e sou muito feliz com isso.
- Será que temos que criar momentos específicos para usar a internet? Está em tempo de seguirmos uma etiqueta virtual?
Eu odeio quando as pessoas estão olhando para o telefone
enquanto estão tendo uma conversa comigo. Eu realmente odeio isso.
Parece não apenas rude, mas também meio idiota. Acho que uma das coisas
mais bonitas que você pode fazer na vida é dar sua atenção completa a um
ser humano, é um ato de amor. E é o que faz a conversa cara a cara tão
melhor do que a pelo Skype. Quando estamos na presença de outra pessoa,
podemos dar toda a nossa atenção a ela, e eles nos dão de volta. E nós
chegamos a um lugar tão mais profundo, que nos preenche, do que quando
temos conversas no mundo digital. O que prejudica isso é quando as
pessoas são distraídas pelos seus telefones. Um amigo meu lançou uma
acampanha em Tel Aviv para deixar os telefones virados pra baixo. Isso
está começando a ficar popular por lá. É muito legal pensar: onde está
meu telefone agora? O meu está no bolso. E prefiro que as pessoas deixem
no bolso ou virado pra baixo, no silencioso. Se não a mensagem fica
apitando e você vê os olhos da pessoa procurando. É rude. Sei que pareço
um homem velho, mas acho que é rude pra todo mundo, inclusive para um
menino de 14 anos. Quando estamos com outra pessoa essa é a pessoa mais
importante, não as que estão online.
- Como você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da
maneira mais esperta que der. Acho que somos capazes de coisas
maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos com que ele dure
muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por hora, dia, mês. Elas
não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim devagar. Eu
trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma vantagem
se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais
coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar
menos, ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um
milionário. Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos,
mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como
resultado, quando trabalho, faço isso de maneira esperta e satisfatória
para mim e para as outras pessoas.
Em casa, meu ritmo.
Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às 22h30,
acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama,
passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma
coisa. Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como
resultado, a maioria das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h.
Gosto de, todo dia, estar em um lugar analógico. Gosto de nadar em água
fria num lugar aberto. Pego minha bicicleta. Tem água, floresta,
pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E gosto de passar tempo
nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails e o dia chega
ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser escravos.
Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho. Eu
não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
- Quem são suas inspirações?
Eu me inspirei em mim mesmo. Trabalhei para duas empresas
de relações públicas em Londres, nos anos 1980, numa época yuppie, de
“work hard, play hard”. Saí da empresa, tive que entender como
funcionava a vida de alguém que se emprega. E me dei conta de que o meu
tempo era muito importante. Fiz um trabalho com uma consultoria sobre
gerenciamento de tempo. Comecei a pensar em qual é o ponto de estarmos
no mundo. E sempre fui atraído por pessoas que vivem de um jeito mais
simples, que têm um propósito. Mais do que as pessoas que ostentam. Por
necessidade, sem dinheiro, entendi que precisava fazer alguma coisa boa
com o meu tempo. E depois se mostrou um valor viver assim. Sou
religioso, judeu, tem um profeta que diz: você pergunta o que é ser bom.
E eu digo: você deve procurar a justiça, amar a misericórdia e andar
humildemente com o seu Deus. Gosto de andar humildemente.
- Você tem um mantra de vida?
Nunca deixe de ser curioso. Existem coisas maravilhosas lá fora prontas para serem descobertas.
- See more at: http://donttouchmymoleskine.com/#sthash.YjOzlbSA.dpuf
por Dani Arrais / 21/11/2013 / 16:30
David
Baker checa email duas vezes por dia, acha extremamente rude manter
uma conversa com alguém que não tira os olhos do celular e só conseguiu
usar o Facebook por um mês (e odiou a experiência). O comportamento frugal em
relação à tecnologia vem da experiência que ele tem na área: há mais de três
décadas ele pensa, escreve, faz consultorias e dá aulas sobre o assunto. Por
anos foi editor-chefe da versão inglesa da revista Wired, a bíblia da
tecnologia, e hoje é professor na The School of Life, a
escola criada por Alain de Botton e Roman Kznaric (“Escola da vida” criada em Londres
planeja versão brasileira + Como encontrar o trabalho da sua vida)
Nos anos
1980, Baker deixou o emprego em um escritório de relações públicas e teve que
aprender duas coisas: como ganhar dinheiro sendo seu próprio empregador e como
lidar com o tempo para tirar o melhor proveito dele. “Acredito muito que
devemos trabalhar o mínimo possível, da maneira mais esperta que der. Acho que
somos capazes de coisas maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos
com que ele dure muito mais que o necessário”, disse ele ao Don’t Touch.
Em uma
época em que o lema era “work hard, play hard”, Baker decidiu não ser um
yuppie. “Tomei uma decisão de trabalhar menos, ganhar menos e gastar menos.
Vivo confortavelmente, não sou um milionário. Entre os meus amigos, provavelmente,
sou o que ganha menos, mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi
bonita.”
Viver com
menos talvez tenha sido o primeiro passo para que Baker começasse a entender
que esse comportamento também poderia ser levado para o mundo digital, que
funciona em uma velocidade e com um volume de dados impossíveis de acompanhar.
“Precisamos reconfigurar nossa relação com a tecnologia. Em vez de usar toda a
tecnologia disponível pra viver nossas vidas, nós temos que viver as nossas
vidas e usar a tecnologia como ferramentas extras para isso. Se nós não
fizermos isso, nos tornaremos escravos”, diz ele.
Conversei
com o David na última terça-feira, ao fim do intensivo que ele deu na versão
brasileira da The School of Life, em São Paulo.
No próximo sábado, às 11h, ele fala sobre “Tecnologia e Humanidade” no sermão
da escola, que acontece no Teatro Augusta. Ainda há ingressos, aproveitem > http://www.theschooloflife.com/shop/david-baker-sobre/
O papo
foi daqueles demorados e deliciosos, em que a gente vai ouvindo cada frase com
total atenção (e com o celular no modo avião, por favor!), aprendendo com a
experiência de quem se dedica ao assunto há muito tempo e pegando dicas para
incorporar na vida atitudes que levam a um comportamento digital mais saudável.
Espero
que vocês gostem! ♥
- Tem um
livro que eu gosto que fala que nós esperamos mais da tecnologia do que uns dos
outros. O que você acha disso?
Meu tema
para este ano, porque eu trabalho para a Wired e porque ensino na School of
Life, é tentar investigar o que acontece quando seres humanos e tecnologia
colidem. A tecnologia está se tornando cada vez melhor mais rapidamente e isso
não vai parar. E isso nos traz problemas. O primeiro é que nós temos
expectativas diante da tecnologia que são despropositadas, temos a ilusão de
que a tecnologia vai resolver todos os nossos problemas. E não é verdade.
Existe um “solucionismo”. Tenho um problema e penso que vai existir uma
tecnologia para resolvê-lo. E não é o caso. Tecnologia é ferramenta. O que nós precisamos
é reconfigurar nossa relação com a tecnologia. Em vez de usá-la para viver
nossas vidas, nós temos que viver as nossas vidas e usá-la como ferramentas
extras para isso. Se nós não fizermos isso, nos tornaremos escravos. Isso
aconteceu na Revolução Industrial. Quando as indústrias de fábricas cresceram,
as vidas de várias pessoas ficaram piores, mesmo com muita gente pensando que
aquilo era sinônimo de progresso. Começamos a descobrir coisas como poluição, o
som constante das máquinas. Aí mudamos essa relação. A nossa relação com a
tecnologia hoje ainda é adolescente e agora estamos começando a nos tornar
adultos.
- Por que
você acha que nós estamos tão viciados em likes e comentários?
Por duas
razões. É realmente excitante quando as pessoas dão like em alguma coisa que
nós postamos. É como ser um ator em um filme, é como se fôssemos famosos. Tem
uma platéia ali, de maioria de pessoas desconhecidas. “Estranhos gostam do que
eu digo? Que bom!”. E nós podemos ter números. Conheço pessoas no Twitter que entram
em competições para ver quem tem mais seguidores. Existe uma idéia de que
podemos ser melhores por causa dos números. E o que ferramentas como Twitter e
Instagram fazem é o que os psicólogos chamam de reforço intermitente. É como um
jogo de azar. Vencer é o like, que vem de maneira randômica. Continuo jogando
roleta porque a próxima rodada pode me fazer ganhar. Continuo postando pra ver
se vem um prêmio. Pessoas que não podem deixar seus telefones de lado têm um
problema psicológico.
- Há
estudos que dizem que esse vício é químico também. Quando checamos email e tem
uma mensagem nova, o cérebro libera dopamina. Ficamos animados e queremos de
novo.
Nós temos
que entender onde está a dopamina em outras áreas da nossa vida. Não é certo
sentir prazer em checar email. É ridículo. Email é uma coisa prática para
comunicação. Nós precisamos pensar: por que estou procurando meu prazer aqui,
se poderia fazer isso de uma maneira que me preenchesse mais? Eu checo emails
duas vezes por dia, geralmente. E minha vida é ok, não é um desastre. No resto
do tempo eu espero encontrar prazer em outros lugares.
- E como
você chegou a essa dinâmica de checar email duas vezes por dia?
Quando me
tornei o editor-chefe da Wired em Londres, comecei a receber centenas de
emails. Eu passava o dia lendo emails, e os projetos que eu precisava fazer,
como criar uma edição digital, não iam pra frente, pois eu não tinha tempo. Daí
decidi reduzir essa exposição. Sou velho o suficiente para lembrar que a
comunicação era feita por correios. Quando comecei a trabalhar, a comunicação
vinha duas vezes por dia. Recebíamos alguma coisa, pensávamos na resposta,
escrevíamos, enviávamos. E o trabalho funcionava do mesmo jeito. Decidi checar
email às 11h, depois às 16h. Também desliguei o voicemail do meu telefone, para
que as pessoas não pudessem deixar mensagens. Desliguei as notificações do
Outlook. Isso mudou a minha vida completamente.
- Queria
conseguir fazer isso.
O que
falamos aqui na School of Life é de ir experimentando. Tente por um dia, veja o
que acontece. Depois por dois e assim por diante.
- See
more at: http://donttouchmymoleskine.com/#sthash.YjOzlbSA.dpuf
- Estamos
sempre conectados, mas frequentemente nos sentimos sozinhos. Isso é um paradoxo
ou é um sentimento que está se tornando real para cada vez mais pessoas? Qual é
a importância de saber ficar sozinho?
É
irônico, né? Quanto mais conectados, mais nos sentimos sozinhos. O que acontece
é a Fomo (fear of missing out), o medo de perder as coisas é um sentimento
muito profundo, principalmente para quem vive em grandes cidades. O que
acontece é que na internet vivemos em “megalópolis”. Não consigo lembrar
quantos membros o Facebook tem, mas vivemos numa população de bilhões. O que a
internet promete é conexão e compartilhamento, mas o que entrega é mais uma
sensação do que estamos perdendo. Nós pensávamos que a internet iria aumentar a
diversidade, mas, em vez disso, as pessoas tendem a se comunicar com quem já
conhecem, a criar pequenos grupos. E também não existe fronteira de tempo.
Preciso estar conectado. A idéia de estar sempre conectado é ainda mais jovem
que a internet, veio com a conexão banda larga. Nós olhamos como um direito que
sempre existiu, mas em 1990, 1992, você tinha que ligar para um número, se
conectar na internet, fazer seus negócios, se desconectar. Tínhamos uma atitude
diferente: vou me conectar, falar com as pessoas, me desconectar. Mas o “always
on” nos dá a ilusão de que temos que estar conectados o tempo todo, o que é um
problema, porque, quando a conexão cai, a gente enlouquece.
- E qual
é a importância de saber ficar sozinho?
Nós
geralmente estamos sozinhos e é importante que a gente entenda que isso vem com
coisas boas e ruins. No Brasil a palavra é uma só: solidão. Na Inglaterra,
temos duas: loneliness e solitude. A primeira é ruim, a segunda é boa. Uma
investigação que podemos fazer é como tornamos o sentimento de nos sentirmos
solitários em solidão. Ficar sozinho não precisa ser uma coisa ruim. Porque a
internet é baseada em conexão, quanto menos você tem parece que é pior. Mas
esses momentos quando estamos sozinhos de uma maneira boa são momentos de
pensamentos profundos que podem nos levar a descobertas maravilhosas sobre o
que somos capazes de fazer. E pra mim estamos aqui na Terra para descobrir o
potencial dentro da gente e crescer e aproveitar para fazer as coisas nas quais
somos bons, que nos deixam animados e felizes. Algumas vezes a gente precisa
ficar sozinho para descobrir isso. E o que acontece com a internet é que ela
está sempre lá, nos chamando.
- Tem um
outro livro, “The Information Diet”, que diz que nós estamos ficando obesos não
apenas nos nossos corpos, mas em nossos cérebros, devido ao lixo de informação
que consumimos. O que você acha disso?
Informação
hoje na internet tem que gritar para ser ouvida. Acho que a quantidade de dados
que trafega na internet em um mês é de 40 exabyte.
- Eu nem
sei o que é um exabyte.
Exatamente.
O interessante é que 5 exabytes é número total de palavras ditas pelos seres
humanos em toda a história. Oito vezes isso circula na internet todo mês. É
astronômico. Para ser ouvido, as coisas precisam gritar. Não é diferente do
mundo, onde tem milhões de pessoas que nunca vamos conhecer. O cérebro funciona
como uma banda larga doméstica. Não temos como lidar com todos esses dados.
Popularizam-se coisas como vídeos de gatos, que são brilhantes. Parece que tudo
é muito efêmero. Como eu cultivo solidão na minha vida? A internet é incapaz de
responder isso. A velocidade da internet nos desencoraja a pensar mais
lentamente. Agora o relógio nos faz pensar em resultados instantâneos. O Google
nos dá resultados em frações de segundos. Nós somos encorajados a consumir os
dados ruins, mas também a não pausar e resistir e ir procurar outro tipo.
- Me
parece que estamos preguiçosos, vivemos numa época em que parece que tudo é o
Buzzfeed. Amo o Buzzfeed, mas ninguém lê um texto grande na internet.
Quando
lançamos a Wired em Londres, uma publicação impressa, decidimos escrever textos
longos, com 4 mil palavras. Eu achava que não ia dar certo, mas se tornou muito
popular. A gente queria que as pessoas parassem por 20, 30 minutos e
contemplassem, aprendessem alguma coisa. A velocidade também nos deixa
preguiçosos para a especulação. Conhecimento vem da especulação, da conversa.
Se eu falo pra você que o Azerbaijão é maior que o Cazaquistão, e você diz que
não, temos uma conversa. Hoje vamos ao Google e resolvemos a questão muito
rapidamente. Paramos de trocar as informações que tínhamos. Podemos até não
chegar na resposta, mas na jornada para a resposta, aumentamos nosso
conhecimento. Com o Google a gente tem a resposta, mas vamos esquecer no outro
dia ou não vamos ter aumentado nosso conhecimento. Sinto falta disso. Quero ser
um evangelista da especulação. Quero que as pessoas deixem o Google de lado e
investiguem o que têm em suas cabeças.
- See more at: http://donttouchmymoleskine.com/#sthash.YjOzlbSA.dpuf
- Como
nós podemos tirar o máximo da internet, de uma boa maneira? Quais são os sites
que você costuma checar diariamente?
Não tem
nada que eu veja todo dia. O Google eu uso todo dia. Adoro todas as ferramentas
deles. Fico muito feliz em dar todos os meus dados para eles em troca dessas
ferramentas gratuitas. GDocs, Gmail são coisas incríveis. Eles me ajudaram a
pensar melhor, a me organizar, a lidar com colegas. Obrigada, Google! Além
disso, amo o Gawker, leio por entretenimento. Amo a Wikipédia, acredito muito
nela. O que tento fazer é usar a internet sem usar a internet. Gosto de tirar
tempo fora dela, me desconectar. De repente tenho esse tempo incrível em que
leio um livro ou uso um pedaço de papel e lápis para colocar meus pensamentos.
São sempre tempos melhores.
- Você
está no Facebook?
Não. Eu
tentei por um mês e detestei. Em princípio não tenho nada contra. Mas velhas
informações ficavam aparecendo pra mim, demandando minha atenção. Tenho muitos
amigos que eu vejo no mundo real e essas conexões com eles, falando no
telefone, indo na casa ou recebendo na minha, são conexões melhores. Eu fazia
log in e ficava aterrorizado. Preferi me desconectar, ir pra fora, investigar
algo nos meus termos. A ironia é que não fechei minha conta, um pouco tempo
depois tive que escrever para um site que estava em beta e eu precisava logar
pelo Facebook. Fiz uma página e hoje tenho 0 amigos. Eu sou o loser do Facebook
e sou muito feliz com isso.
- Será
que temos que criar momentos específicos para usar a internet? Está em tempo de
seguirmos uma etiqueta virtual?
Eu odeio
quando as pessoas estão olhando para o telefone enquanto estão tendo uma
conversa comigo. Eu realmente odeio isso. Parece não apenas rude, mas também
meio idiota. Acho que uma das coisas mais bonitas que você pode fazer na vida é
dar sua atenção completa a um ser humano, é um ato de amor. E é o que faz a
conversa cara a cara tão melhor do que a pelo Skype. Quando estamos na presença
de outra pessoa, podemos dar toda a nossa atenção a ela, e eles nos dão de
volta. E nós chegamos a um lugar tão mais profundo, que nos preenche, do que
quando temos conversas no mundo digital. O que prejudica isso é quando as
pessoas são distraídas pelos seus telefones. Um amigo meu lançou uma acampanha
em Tel Aviv para deixar os telefones virados pra baixo. Isso está começando a
ficar popular por lá. É muito legal pensar: onde está meu telefone agora? O meu
está no bolso. E prefiro que as pessoas deixem no bolso ou virado pra baixo, no
silencioso. Se não a mensagem fica apitando e você vê os olhos da pessoa
procurando. É rude. Sei que pareço um homem velho, mas acho que é rude pra todo
mundo, inclusive para um menino de 14 anos. Quando estamos com outra pessoa
essa é a pessoa mais importante, não as que estão online.
- Como
você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito
muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da maneira mais esperta que der.
Acho que somos capazes de coisas maravilhosas, mas, especialmente no trabalho,
fazemos com que ele dure muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por
hora, dia, mês. Elas não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim
devagar. Eu trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma
vantagem se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais
coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar menos,
ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um milionário.
Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos, mas sou o que tem
mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como resultado, quando trabalho,
faço isso de maneira esperta e satisfatória para mim e para as outras pessoas.
Em casa,
meu ritmo. Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às
22h30, acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama,
passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma coisa.
Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como resultado, a maioria
das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h. Gosto de, todo dia, estar em
um lugar analógico. Gosto de nadar em água fria num lugar aberto. Pego minha
bicicleta. Tem água, floresta, pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E
gosto de passar tempo nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails
e o dia chega ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser
escravos. Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho.
Eu não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
- Quem
são suas inspirações?
Eu me
inspirei em mim mesmo. Trabalhei para duas empresas de relações públicas em
Londres, nos anos 1980, numa época yuppie, de “work hard, play hard”. Saí da
empresa, tive que entender como funcionava a vida de alguém que se emprega. E
me dei conta de que o meu tempo era muito importante. Fiz um trabalho com uma
consultoria sobre gerenciamento de tempo. Comecei a pensar em qual é o ponto de
estarmos no mundo. E sempre fui atraído por pessoas que vivem de um jeito mais
simples, que têm um propósito. Mais do que as pessoas que ostentam. Por
necessidade, sem dinheiro, entendi que precisava fazer alguma coisa boa com o
meu tempo. E depois se mostrou um valor viver assim. Sou religioso, judeu, tem
um profeta que diz: você pergunta o que é ser bom. E eu digo: você deve
procurar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com o seu Deus.
Gosto de andar humildemente.
- Você
tem um mantra de vida?
Nunca
deixe de ser curioso. Existem coisas maravilhosas lá fora prontas para serem
descobertas.
- See more at: http://donttouchmymoleskine.com/#sthash.YjOzlbSA.dpuf
por Dani Arrais / 21/11/2013 / 16:30
David
Baker checa email duas vezes por dia, acha extremamente rude manter
uma conversa com alguém que não tira os olhos do celular e só conseguiu
usar o Facebook por um mês (e odiou a experiência). O comportamento frugal em
relação à tecnologia vem da experiência que ele tem na área: há mais de três
décadas ele pensa, escreve, faz consultorias e dá aulas sobre o assunto. Por
anos foi editor-chefe da versão inglesa da revista Wired, a bíblia da
tecnologia, e hoje é professor na The School of Life, a
escola criada por Alain de Botton e Roman Kznaric (“Escola da vida” criada em Londres
planeja versão brasileira + Como encontrar o trabalho da sua vida)
Nos anos
1980, Baker deixou o emprego em um escritório de relações públicas e teve que
aprender duas coisas: como ganhar dinheiro sendo seu próprio empregador e como
lidar com o tempo para tirar o melhor proveito dele. “Acredito muito que
devemos trabalhar o mínimo possível, da maneira mais esperta que der. Acho que
somos capazes de coisas maravilhosas, mas, especialmente no trabalho, fazemos
com que ele dure muito mais que o necessário”, disse ele ao Don’t Touch.
Em uma
época em que o lema era “work hard, play hard”, Baker decidiu não ser um
yuppie. “Tomei uma decisão de trabalhar menos, ganhar menos e gastar menos.
Vivo confortavelmente, não sou um milionário. Entre os meus amigos, provavelmente,
sou o que ganha menos, mas sou o que tem mais tempo. E pra mim essa troca foi
bonita.”
Viver com
menos talvez tenha sido o primeiro passo para que Baker começasse a entender
que esse comportamento também poderia ser levado para o mundo digital, que
funciona em uma velocidade e com um volume de dados impossíveis de acompanhar.
“Precisamos reconfigurar nossa relação com a tecnologia. Em vez de usar toda a
tecnologia disponível pra viver nossas vidas, nós temos que viver as nossas
vidas e usar a tecnologia como ferramentas extras para isso. Se nós não
fizermos isso, nos tornaremos escravos”, diz ele.
Conversei
com o David na última terça-feira, ao fim do intensivo que ele deu na versão
brasileira da The School of Life, em São Paulo.
No próximo sábado, às 11h, ele fala sobre “Tecnologia e Humanidade” no sermão
da escola, que acontece no Teatro Augusta. Ainda há ingressos, aproveitem > http://www.theschooloflife.com/shop/david-baker-sobre/
O papo
foi daqueles demorados e deliciosos, em que a gente vai ouvindo cada frase com
total atenção (e com o celular no modo avião, por favor!), aprendendo com a
experiência de quem se dedica ao assunto há muito tempo e pegando dicas para
incorporar na vida atitudes que levam a um comportamento digital mais saudável.
Espero
que vocês gostem! ♥
- Tem um
livro que eu gosto que fala que nós esperamos mais da tecnologia do que uns dos
outros. O que você acha disso?
Meu tema
para este ano, porque eu trabalho para a Wired e porque ensino na School of
Life, é tentar investigar o que acontece quando seres humanos e tecnologia
colidem. A tecnologia está se tornando cada vez melhor mais rapidamente e isso
não vai parar. E isso nos traz problemas. O primeiro é que nós temos
expectativas diante da tecnologia que são despropositadas, temos a ilusão de
que a tecnologia vai resolver todos os nossos problemas. E não é verdade.
Existe um “solucionismo”. Tenho um problema e penso que vai existir uma
tecnologia para resolvê-lo. E não é o caso. Tecnologia é ferramenta. O que nós precisamos
é reconfigurar nossa relação com a tecnologia. Em vez de usá-la para viver
nossas vidas, nós temos que viver as nossas vidas e usá-la como ferramentas
extras para isso. Se nós não fizermos isso, nos tornaremos escravos. Isso
aconteceu na Revolução Industrial. Quando as indústrias de fábricas cresceram,
as vidas de várias pessoas ficaram piores, mesmo com muita gente pensando que
aquilo era sinônimo de progresso. Começamos a descobrir coisas como poluição, o
som constante das máquinas. Aí mudamos essa relação. A nossa relação com a
tecnologia hoje ainda é adolescente e agora estamos começando a nos tornar
adultos.
- Por que
você acha que nós estamos tão viciados em likes e comentários?
Por duas
razões. É realmente excitante quando as pessoas dão like em alguma coisa que
nós postamos. É como ser um ator em um filme, é como se fôssemos famosos. Tem
uma platéia ali, de maioria de pessoas desconhecidas. “Estranhos gostam do que
eu digo? Que bom!”. E nós podemos ter números. Conheço pessoas no Twitter que entram
em competições para ver quem tem mais seguidores. Existe uma idéia de que
podemos ser melhores por causa dos números. E o que ferramentas como Twitter e
Instagram fazem é o que os psicólogos chamam de reforço intermitente. É como um
jogo de azar. Vencer é o like, que vem de maneira randômica. Continuo jogando
roleta porque a próxima rodada pode me fazer ganhar. Continuo postando pra ver
se vem um prêmio. Pessoas que não podem deixar seus telefones de lado têm um
problema psicológico.
- Há
estudos que dizem que esse vício é químico também. Quando checamos email e tem
uma mensagem nova, o cérebro libera dopamina. Ficamos animados e queremos de
novo.
Nós temos
que entender onde está a dopamina em outras áreas da nossa vida. Não é certo
sentir prazer em checar email. É ridículo. Email é uma coisa prática para
comunicação. Nós precisamos pensar: por que estou procurando meu prazer aqui,
se poderia fazer isso de uma maneira que me preenchesse mais? Eu checo emails
duas vezes por dia, geralmente. E minha vida é ok, não é um desastre. No resto
do tempo eu espero encontrar prazer em outros lugares.
- E como
você chegou a essa dinâmica de checar email duas vezes por dia?
Quando me
tornei o editor-chefe da Wired em Londres, comecei a receber centenas de
emails. Eu passava o dia lendo emails, e os projetos que eu precisava fazer,
como criar uma edição digital, não iam pra frente, pois eu não tinha tempo. Daí
decidi reduzir essa exposição. Sou velho o suficiente para lembrar que a
comunicação era feita por correios. Quando comecei a trabalhar, a comunicação
vinha duas vezes por dia. Recebíamos alguma coisa, pensávamos na resposta,
escrevíamos, enviávamos. E o trabalho funcionava do mesmo jeito. Decidi checar
email às 11h, depois às 16h. Também desliguei o voicemail do meu telefone, para
que as pessoas não pudessem deixar mensagens. Desliguei as notificações do
Outlook. Isso mudou a minha vida completamente.
- Queria
conseguir fazer isso.
O que
falamos aqui na School of Life é de ir experimentando. Tente por um dia, veja o
que acontece. Depois por dois e assim por diante.
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- Estamos
sempre conectados, mas frequentemente nos sentimos sozinhos. Isso é um paradoxo
ou é um sentimento que está se tornando real para cada vez mais pessoas? Qual é
a importância de saber ficar sozinho?
É
irônico, né? Quanto mais conectados, mais nos sentimos sozinhos. O que acontece
é a Fomo (fear of missing out), o medo de perder as coisas é um sentimento
muito profundo, principalmente para quem vive em grandes cidades. O que
acontece é que na internet vivemos em “megalópolis”. Não consigo lembrar
quantos membros o Facebook tem, mas vivemos numa população de bilhões. O que a
internet promete é conexão e compartilhamento, mas o que entrega é mais uma
sensação do que estamos perdendo. Nós pensávamos que a internet iria aumentar a
diversidade, mas, em vez disso, as pessoas tendem a se comunicar com quem já
conhecem, a criar pequenos grupos. E também não existe fronteira de tempo.
Preciso estar conectado. A idéia de estar sempre conectado é ainda mais jovem
que a internet, veio com a conexão banda larga. Nós olhamos como um direito que
sempre existiu, mas em 1990, 1992, você tinha que ligar para um número, se
conectar na internet, fazer seus negócios, se desconectar. Tínhamos uma atitude
diferente: vou me conectar, falar com as pessoas, me desconectar. Mas o “always
on” nos dá a ilusão de que temos que estar conectados o tempo todo, o que é um
problema, porque, quando a conexão cai, a gente enlouquece.
- E qual
é a importância de saber ficar sozinho?
Nós
geralmente estamos sozinhos e é importante que a gente entenda que isso vem com
coisas boas e ruins. No Brasil a palavra é uma só: solidão. Na Inglaterra,
temos duas: loneliness e solitude. A primeira é ruim, a segunda é boa. Uma
investigação que podemos fazer é como tornamos o sentimento de nos sentirmos
solitários em solidão. Ficar sozinho não precisa ser uma coisa ruim. Porque a
internet é baseada em conexão, quanto menos você tem parece que é pior. Mas
esses momentos quando estamos sozinhos de uma maneira boa são momentos de
pensamentos profundos que podem nos levar a descobertas maravilhosas sobre o
que somos capazes de fazer. E pra mim estamos aqui na Terra para descobrir o
potencial dentro da gente e crescer e aproveitar para fazer as coisas nas quais
somos bons, que nos deixam animados e felizes. Algumas vezes a gente precisa
ficar sozinho para descobrir isso. E o que acontece com a internet é que ela
está sempre lá, nos chamando.
- Tem um
outro livro, “The Information Diet”, que diz que nós estamos ficando obesos não
apenas nos nossos corpos, mas em nossos cérebros, devido ao lixo de informação
que consumimos. O que você acha disso?
Informação
hoje na internet tem que gritar para ser ouvida. Acho que a quantidade de dados
que trafega na internet em um mês é de 40 exabyte.
- Eu nem
sei o que é um exabyte.
Exatamente.
O interessante é que 5 exabytes é número total de palavras ditas pelos seres
humanos em toda a história. Oito vezes isso circula na internet todo mês. É
astronômico. Para ser ouvido, as coisas precisam gritar. Não é diferente do
mundo, onde tem milhões de pessoas que nunca vamos conhecer. O cérebro funciona
como uma banda larga doméstica. Não temos como lidar com todos esses dados.
Popularizam-se coisas como vídeos de gatos, que são brilhantes. Parece que tudo
é muito efêmero. Como eu cultivo solidão na minha vida? A internet é incapaz de
responder isso. A velocidade da internet nos desencoraja a pensar mais
lentamente. Agora o relógio nos faz pensar em resultados instantâneos. O Google
nos dá resultados em frações de segundos. Nós somos encorajados a consumir os
dados ruins, mas também a não pausar e resistir e ir procurar outro tipo.
- Me
parece que estamos preguiçosos, vivemos numa época em que parece que tudo é o
Buzzfeed. Amo o Buzzfeed, mas ninguém lê um texto grande na internet.
Quando
lançamos a Wired em Londres, uma publicação impressa, decidimos escrever textos
longos, com 4 mil palavras. Eu achava que não ia dar certo, mas se tornou muito
popular. A gente queria que as pessoas parassem por 20, 30 minutos e
contemplassem, aprendessem alguma coisa. A velocidade também nos deixa
preguiçosos para a especulação. Conhecimento vem da especulação, da conversa.
Se eu falo pra você que o Azerbaijão é maior que o Cazaquistão, e você diz que
não, temos uma conversa. Hoje vamos ao Google e resolvemos a questão muito
rapidamente. Paramos de trocar as informações que tínhamos. Podemos até não
chegar na resposta, mas na jornada para a resposta, aumentamos nosso
conhecimento. Com o Google a gente tem a resposta, mas vamos esquecer no outro
dia ou não vamos ter aumentado nosso conhecimento. Sinto falta disso. Quero ser
um evangelista da especulação. Quero que as pessoas deixem o Google de lado e
investiguem o que têm em suas cabeças.
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- Como
nós podemos tirar o máximo da internet, de uma boa maneira? Quais são os sites
que você costuma checar diariamente?
Não tem
nada que eu veja todo dia. O Google eu uso todo dia. Adoro todas as ferramentas
deles. Fico muito feliz em dar todos os meus dados para eles em troca dessas
ferramentas gratuitas. GDocs, Gmail são coisas incríveis. Eles me ajudaram a
pensar melhor, a me organizar, a lidar com colegas. Obrigada, Google! Além
disso, amo o Gawker, leio por entretenimento. Amo a Wikipédia, acredito muito
nela. O que tento fazer é usar a internet sem usar a internet. Gosto de tirar
tempo fora dela, me desconectar. De repente tenho esse tempo incrível em que
leio um livro ou uso um pedaço de papel e lápis para colocar meus pensamentos.
São sempre tempos melhores.
- Você
está no Facebook?
Não. Eu
tentei por um mês e detestei. Em princípio não tenho nada contra. Mas velhas
informações ficavam aparecendo pra mim, demandando minha atenção. Tenho muitos
amigos que eu vejo no mundo real e essas conexões com eles, falando no
telefone, indo na casa ou recebendo na minha, são conexões melhores. Eu fazia
log in e ficava aterrorizado. Preferi me desconectar, ir pra fora, investigar
algo nos meus termos. A ironia é que não fechei minha conta, um pouco tempo
depois tive que escrever para um site que estava em beta e eu precisava logar
pelo Facebook. Fiz uma página e hoje tenho 0 amigos. Eu sou o loser do Facebook
e sou muito feliz com isso.
- Será
que temos que criar momentos específicos para usar a internet? Está em tempo de
seguirmos uma etiqueta virtual?
Eu odeio
quando as pessoas estão olhando para o telefone enquanto estão tendo uma
conversa comigo. Eu realmente odeio isso. Parece não apenas rude, mas também
meio idiota. Acho que uma das coisas mais bonitas que você pode fazer na vida é
dar sua atenção completa a um ser humano, é um ato de amor. E é o que faz a
conversa cara a cara tão melhor do que a pelo Skype. Quando estamos na presença
de outra pessoa, podemos dar toda a nossa atenção a ela, e eles nos dão de
volta. E nós chegamos a um lugar tão mais profundo, que nos preenche, do que
quando temos conversas no mundo digital. O que prejudica isso é quando as
pessoas são distraídas pelos seus telefones. Um amigo meu lançou uma acampanha
em Tel Aviv para deixar os telefones virados pra baixo. Isso está começando a
ficar popular por lá. É muito legal pensar: onde está meu telefone agora? O meu
está no bolso. E prefiro que as pessoas deixem no bolso ou virado pra baixo, no
silencioso. Se não a mensagem fica apitando e você vê os olhos da pessoa
procurando. É rude. Sei que pareço um homem velho, mas acho que é rude pra todo
mundo, inclusive para um menino de 14 anos. Quando estamos com outra pessoa
essa é a pessoa mais importante, não as que estão online.
- Como
você organiza sua rotina para dar conta de fazer tudo?
Acredito
muito que devemos trabalhar o mínimo possível, da maneira mais esperta que der.
Acho que somos capazes de coisas maravilhosas, mas, especialmente no trabalho,
fazemos com que ele dure muito mais. É o sistema. Nós pagamos as pessoas por
hora, dia, mês. Elas não são encorajadas a trabalhar com rapidez, mas sim
devagar. Eu trabalho pra mim. Se alguém me pede pra fazer uma coisa, é uma
vantagem se eu fizer rapidamente. Quanto mais espaço você tem na sua vida, mais
coisas boas acontecem. Eu tomei uma decisão há alguns anos de trabalhar menos,
ganhar menos e gastar menos. Vivo confortavelmente, não sou um milionário.
Entre os meus amigos, provavelmente, sou o que ganha menos, mas sou o que tem
mais tempo. E pra mim essa troca foi bonita. Como resultado, quando trabalho,
faço isso de maneira esperta e satisfatória para mim e para as outras pessoas.
Em casa,
meu ritmo. Descobri recentemente que gosto de acodar cedo. Vou para cama às
22h30, acordo às 7h. Sou inglês, preparo um chá, levo meu laptop pra cama,
passo umas duas horas, faço o primeiro turno de emails. Escrevo alguma coisa.
Está tudo calmo lá fora, não tem ninguém por perto. Como resultado, a maioria
das coisas que preciso fazer estão acabadas às 9h. Gosto de, todo dia, estar em
um lugar analógico. Gosto de nadar em água fria num lugar aberto. Pego minha
bicicleta. Tem água, floresta, pássaros, é o oposto da internet, é analógico. E
gosto de passar tempo nesse mundo. Quando volto, faço o segundo turno de emails
e o dia chega ao fim. Em escritórios nós perdemos tempo. Não precisamos ser
escravos. Especialmente pessoas que todos os dias ficam até tarde no trabalho.
Eu não acredito que elas tenham tanto para fazer todos os dias.
- Quem
são suas inspirações?
Eu me
inspirei em mim mesmo. Trabalhei para duas empresas de relações públicas em
Londres, nos anos 1980, numa época yuppie, de “work hard, play hard”. Saí da
empresa, tive que entender como funcionava a vida de alguém que se emprega. E
me dei conta de que o meu tempo era muito importante. Fiz um trabalho com uma
consultoria sobre gerenciamento de tempo. Comecei a pensar em qual é o ponto de
estarmos no mundo. E sempre fui atraído por pessoas que vivem de um jeito mais
simples, que têm um propósito. Mais do que as pessoas que ostentam. Por
necessidade, sem dinheiro, entendi que precisava fazer alguma coisa boa com o
meu tempo. E depois se mostrou um valor viver assim. Sou religioso, judeu, tem
um profeta que diz: você pergunta o que é ser bom. E eu digo: você deve
procurar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com o seu Deus.
Gosto de andar humildemente.
- Você
tem um mantra de vida?
Nunca
deixe de ser curioso. Existem coisas maravilhosas lá fora prontas para serem
descobertas.
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Agradecimentos especiais a Cris Naumovs, Carol Almeida, Júlia Veras, Raquel Ferraz e Luiza Voll! ♥
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Créditos das imagens: 1) The School of Life; 2) do Pinterest; 3) Julien Mauve; 4) Daniela Arrais; 5) Tim Barber.
Agradecimentos especiais a Cris Naumovs, Carol Almeida, Júlia Veras, Raquel Ferraz e Luiza Voll! ♥
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