(Pedro Rolo Duarte)
O meu filho vai fazer em Outubro 18 anos.
Atinge a palavra mais desejada na juventude: maioridade. Pode votar,
pode decidir por si da sua vida, pode dizer-me que não. Achei sempre que
este momento marcaria um “antes” e um “depois” na vida dos pais e na
nossa relação com ele, mas o António Maria encarregou-se de antecipar
tudo ao decidir, com 16 anos, e o apoio do pai e da mãe, viver fora de
Portugal.
Talvez esta entrada nos 18 seja apenas uma formalidade – mas sinto-a
como bem mais do que uma data e uma alteração legal. Sinto-a como um
momento determinante da vida e relação deste trio que se forma, apesar
do divórcio dos pais, entre nós e o filho.
Talvez por isso, decidi enviar-lhe daqui para a Austrália, onde ele
está, uma carta de recomendações para esta entrada na maioridade. O que
lhe disse? Bom, que aos 18 anos o mundo é maior do que sabemos, mas mais
pequeno do que desejamos. Felizmente, ele já conseguiu perceber quão
grande ele é, e como somos pequenos e insignificantes neste espaço
imenso. Como tudo indica que só vivemos uma vez, sugeri-lhe que
aproveitasse o melhor do mundo e saboreasse cada dia como se fosse o
ultimo. Não é, mas muitas vezes parece.
A maioridade não é de todo a maturidade. A maioridade é apenas uma
forma de dizer: “rapaz, começa a crescer porque em breve só te sustentas
a ti próprio…”. Entre uma palavra e outra, cometem-se toda a espécie de
erros e asneiras que permitem, daqui a muitos anos, distinguir a idade
da tal maturidade (se é que existe, não tenho a certeza). Será tarde,
mas muito a tempo de uma velhice tranquila…
Para ele, a vida começa realmente agora. Escrevi-lhe: “Se olhares com
atenção, há tanto por fazer que parece faltar-nos ar e vida para tudo.
Sugere o teu pai: faz pouco, mas faz bem. Um passo de cada vez. Acredita
que a revolução socialista foi um erro tremendo da humanidade, mas
havia um daqueles pensadores (Lenine, salvo erro…), que teve um momento
feliz quando quis definir a forma de avançar: dois passos em frente, um
atrás. Ganha-se sempre um passo”.
Ao mesmo tempo, e sem querer ser paradoxal, falei-lhe do bocadinho de
loucura que faz da vida algo com sal e pimenta: ousar e arriscar. Não
ter medo – este é o momento em que o medo não faz sentido – e ter a
capacidade de fazer do impossível, o possível. Na infância e na velhice,
o medo é intrínseco e certo, deixemo-los no seu tempo próprio.
De passagem, recordei-lhe um ensinamento que vem da adolescência:
“não te leves demasiado a sério, tem a capacidade de rir de ti próprio”.
Por fim, desafiei-o a decidir a que país quer pertencer. Sobre isso,
escreveu-me há um ano: “Eu não desisti de Portugal. Nem nunca tal
acontecerá. Sei que pode ser difícil perceber, visto que pareço ser um
miúdo de 16 anos que tudo o que quer é sair do seu país e ir fazer surf e
curtir para a Austrália. Mas não é bem assim. Ser português é a maior
honra que pode existir a seguir a ser teu filho. Deste país, ninguém
devia desistir”. Pois bem: aos 18 anos, olhar Portugal à distancia e
saber que se quer continuar português é mais ou menos como dizer “eu não
vou deixar de sonhar”.
O melhor que posso dizer ao meu filho, agora que chega a essa idade
mítica, é apenas isso: que não deixe de sonhar, mesmo quando olha
Portugal e vê pesadelo. Que não deixe de acreditar, mesmo que o débito
seja maior que o crédito. E que acredite que o pai está aqui para apoiar
os sonhos, amparar os acordares mais duros, e de vez em quando
confrontá-lo com a realidade. Às vezes dói, mas a dor começa no parto e
nunca mais acaba.
O resto, é o amor que todos os pais têm pelos seus filhos. E eu pelo meu. Aos 18, como desde sempre. E para sempre.
Fonte: http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt/?skip=10
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