sábado, 9 de junho de 2012

Massacre humilhante do Dia dos Namorados (I)



(Xico Sá)
Do livro "Tudo o que Você Não Queria Saber sobre Sexo", de Adão Iturrusgarai e Mirian Goldenberg

“Começou o massacre, a humilhação, a ditadura do casalzinho”, vociferou uma loiraça gigante, como aquelas mulheres desenhadas pelo Robert Crumb. “Ê maldito dia dos Namorados”, completou a amiga, morena, mais compacta, mignonzinha, gênero sapeca, tremi, quase deixei cair o prato quente na fila.

Mulheres que comem com gosto, elas se lambuzavam, devorando com as mãos um marreco no restaurante do Parque Malwee, em Jaraguá do Sul (SC), onde esteve para a Feira do Livro este gutenberguiano caixeiro viajante que vos escreve.

Não se trata de etiqueta selvagem de macho-jurubeba, amiga. É o modo recomendável, aqui ou no mais fresco bistrô parisiense, de se comer um prato com aves.

E como é lindo uma mulher que come com gosto. As catarinas do interior são incríveis neste momento sagrado. Este assunto, porém, mais do que gasto aqui por este repetitivo cronista, fica para depois. Volto a ele, sempre.

O que interessa agora é o massacre da data dos pombinhos. Um saco mesmo, galega. Querem humilhar aqueles que atualmente chupam o frio chicabom da solidão. Querem desafiar também aqueles que preferem, lindamente, estar sozinhos.

É, galega do vale, a solidão não vende celulares, ipads, roupas de grifes, joias, cuecas, gravatas, calcinhas, promoções em motéis e outros badulaques.

 Taí uma grande vantagem da solidão. A solidão é cinematográfica, mas não é revendedora. Até as porções e embalagens de supermercados ainda são 95% dirigidos ao casalzinho ou à família.

Que massacre. Celulares, planos para falar cem anos com a pessoa amada!

Como se elas não fossem embora, galega do marreco!

 E, repare, ainda tem miserável que cobra o presente de volta –se tiver algum valor- quando o romance acaba.

 Melhor não passar por esse vexame, como lembrava também a loiraça lindamente revoltada.

Macaco, jornal, tobogã, dia dos Namorados, como dizia dizia Raul Seixas, no clássico “Ouro de Tolo”, eu acho tudo isso um saco.

 Como falou a amiga olindense Catarina de Jah, autora de “Mulher tira-gosto”, entre outras páginas rebeldes do nosso cancioneiro, “eu chuto pombinhos nessa data fofinha e querida!

Não que o amor não seja lindo. Nada disso. “Te amo porra”, bem sabes. Aqui já imito o Peréio. Não é disso que estamos tratando.

É obvio que vivemos grandes momentos envenenados por Cupido e suas maçãs encarameladas do Parque de Exposição de Animais do Crato ou do Cordeiro (Recife).

 Tratamos aqui de uma outra história. De não se deixar adoecer pela data. A solidão não vende celulares, a solidão está à prova dos truques publicitários, a solidão é revolucionária, a solidão é chique no último, classe!

 Não se deixe intimidar, amiga, pelos coraçõezinhos de vento que agora tomam conta do horário nobre.

 Lembre-se das falsas promessas, dos chifres, das decepções, dos amores fdp´s, das falhas de caráter, daquele campeonato atrás do outro, da sogra infernal, das ilusões perdidas…

Solitários e solitárias, som na caixa Mombojó: esse é o reino da alegria, tudo pode acontecer, não temam.

E se não acontecer nem tão breve, dane-se de qualquer jeito a nobre data, bote Rolling Stones bem alto, a auto-ajuda rock´n´roll que funciona, peça um uísque duplo e mate com força todas as bolas do pano verde da existência.
 
Viver é uma sinuca. Sempre.

Vi no setecandeeiroscaja.blogspot.com

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