quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quem sabe faz a hora

BREJO SANTO INAUGURA CINEMA



O cinema foi inaugurado com a exibição da produção nacional "Cinco X Favela, Agora por Nós Mesmos"

Brejo Santo. Um grupo de moradores locais, integrantes da Associação dos "Amigos da Cultura", inaugurou o "Cine Art Alvorada", em homenagem ao último cinema da cidade, que tinha o nome de Cine Alvorada, inaugurado na década de 60, com a apresentação do filme americano "O Filho Pródigo".

O cinema terminou arrastado pela avalanche de progresso que acabou todas as casas cinematográficas do Cariri. É o primeiro cinema da região a ser resgatado dos escombros que transformaram o interior num cemitério de cinemas.

"É sempre triste quando fecha uma sala de cinema. Para mim é a mesma coisa que fechar uma escola", diz a professora Lenira Macedo, lembrando que o cinema é um lugar de educação, cultura, meditação, prazer, refúgio, onde se vive grandes emoções, boas ou más.

"Ao fechar as portas, é parte de nossa vida que vai com ela", complementa a professora. "O Cine Alvorada nasceu na época do ufanismo que embalou os sonhos de Juscelino Kubitschek e foi enterrado nos escombros do pragmatismo consumista", analisa a professora Lenira.

O cinema vai funcionar dentro de um novo contexto político, religioso e social. Não existe mais clima para a ternura de mãos se encontrando, ou para o beijo escondido no escurinho do cinema. O Cine Arte Avenida, segundo Lenira, será um ponto de cultura, onde os amantes de sétima arte terão oportunidade de promover debates, tendo em vista preservar memórias e histórias, além de estimular ações voltadas para a cultura de raiz e para o fortalecimento das manifestações.

O cinema foi inaugurado com a exibição da produção nacional "Cinco X Favela, Agora por Nós Mesmos", um filme sobre moradores das favelas que são assaltados por jovens ricos da zona sul do Rio. Um filme em que a alegria e o lirismo sobrepõem-se, mas não escondem a violência. Os moradores são vítimas, mas também responsáveis pela violência. O projeto apresenta cinco filmes de ficção, de cerca de 20 minutos cada um, sobre diferentes aspectos da vida em suas comunidades.

"Cinco X Favela, Agora por Nós Mesmos" reuniu jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro, treinados e capacitados a partir de oficinas profissionalizantes de audiovisual, ministradas por grandes nomes do cinema brasileiro. O objetivo do grupo, que está à frente do movimento cultural, é estimular a produção de vídeos entre os jovens de Brejo Santo.

"O cinema é considerado uma importante forma de arte, uma fonte de entretenimento popular e um método poderoso para educar, ou doutrinar os cidadãos. Os elementos visuais dão aos filmes um poder de comunicação universal". Ao fazer este comentário, a professora Leda Vasconcelos explica que a reativação do cinema não é uma volta ao passado.

É um compromisso com o presente de uma cidade que precisa valorizar mais a sua cultura. "O Cine Art Alvorada proporcionará entretenimento aos habitantes/espectadores e trará informações, nova visão de mundo, novos horizontes, mais cultura artística, mais reflexão, maior contribuição para a sua formação crítico-cidadã", diz ela.

Seresteiro

O movimento pretende também congregar outros valores artísticos que não estão sendo prestigiados pelo poder público. O administrador de empresa Gisleno Leite Quental, que foi convidado para participar do setor musical do grupo, destaca a necessidade de resgatar a memória do que ele classifica de "verdadeira cultura que são as músicas tradicionais". Conhecido na cidade como "trovador da serra", Gisleno critica veementemente os forrós eletrônicos que proliferam na região em detrimento da música sertaneja.

Com esta percepção, o "seresteiro da serra" pretende abrir espaço para o saudosismo, o lirismo e o apelo ecológico da Serra do Araripe, onde ele mora. O grupo entende que o Município precisa divulgar o seu patrimônio cultural como a Pedra de Urubu que, de longe, parece à imagem de Cristo e os sítios de árvores fossilizadas.

O novo cinema funcionará numa das salas do edifício Neco Matias, que foi adaptada para projeção de filmes e encontros culturais. A instalação foi financiada pela própria população, sob a coordenação dos "Amigos da Cultura", uma entidade sem fins lucrativos, constituída por Maria Leda Santana, Maria, Lenira de Macedo, Maria Sampaio, Maria Lucena, Marineusa Santana (in memorian), Francisco Alves (Valmir), Ronaldo de Miranda, Geraldo Araújo e Manuel Bezerra Neto.

Visão

"O local vai servir como entretenimento aos habitantes e espectadores, trazendo novo contexto"

Lenira Macedo
Professora e coordenadora do projeto do Cine Art Alvorada


MAIS INFORMAÇÕES
Coordenação do projeto de cinema de Brejo Santo
Rua Manoel Antônio Cabral
Telefone: (88) 3531.1170
ANTÔNIO VICELMO
REPÓRTER

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=934301

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