sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Cuide-se


"Há jeitos de estar doente, de acordo com os jeitos da doença...
Algumas doenças são visitas: chegam sem avisar, perturbam a paz da casa e se
vão. É o caso de uma perna quebrada, de uma apendicite, de um sarampo. Passado o
tempo certo, a doença arruma a mala e diz adeus. E tudo volta a ser como sempre foi.
Outras doenças vêm para ficar. E é inútil reclamar. Se vem para ficar, é preciso
fazer com elas o que a gente faria caso alguém se mudasse definitivamente para a nossa casa: arrumar as coisas da melhor maneira possível para que a convivência não seja dolorosa. Quem sabe até tirar algum proveito da situação?
A doença é a possibilidade da perda, uma emissária da morte. Sob seu toque, tudo
fica fluido, evanescente, efêmero. As pessoas amadas, os filhos – todos ganham a beleza das bolhas de sabão.
Os atingidos pela possibilidade de perda acordam da sua letargia. Objetos banais,
ignorados, ficam repentinamente luminosos. Se soubéssemos que vamos ficar cegos, que cenários veríamos num simples grão de areia!
Quem sente gozo na simples maravilha cotidiana que é não sentir dor?
A saúde embrutece os sentidos.
A doença faz os sentidos ressuscitarem."
– Rubem Alves

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