sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sábado em queda livre


ALAGOINHA, ENCHENTE, COCADA E EDUCAÇÃO.
Rubens Dário

Gosto muito do Big Dog, a quem chamo carinhosamente de “El Big” e reconheço sua batalha ao lado de Cléia, sua esposa, no conquistar da vida. Os dois são guerreiros natos. Mas não posso furtar-me o direito de questionar sua tese contrária aos estudos ou talvez contra o senhor Breno Castro Alves, correspondente da UOL, pois como sabemos jornalistas escrevem o que querem.

Big Dog afirmou textualmente, conforme está escrito, no texto da UOL: “Esse povo vai se matar de estudar química, física, pra quê?" A impressão que fica é que não há necessidade de se estudar para trabalhar e conseqüentemente ganhar dinheiro. Eu diria, meu caro Big, que a falta de estudos de muitos em Alagoinha está fazendo com que você não tenha progredido mais ainda como empresário.

Como? É simples: a maioria dos moradores do município não estudou a fundo a Geografia e dentro dela a Hidrografia além de não ter quase nenhuma noção de Ecologia. Assim, grandes áreas de terras foram desmatadas, margens e cursos naturais de água, como o Riacho Pendência, foram invadidos sem o menor pudor. Escrevendo aqui no Blog Zé Ribeiro foi preciso e incisivo quando relatou construções residenciais e industriais ilegais ao longo do Riacho. Tudo isso, ou seja, a falta de estudo ou conhecimento lhe deu prejuízo, entende El Big?

A grande maioria dos agropecuaristas de Alagoinha não estudou o suficiente e não sabe nem de longe o que significa Agricultura sustentável com manejo racional de pastagem. Essa falta de conhecimento encarece o preço do leite que você usa, aproximadamente 800 litros, não é mesmo? Já pensou se fosse mais barato R$ 0,20 por litro? Economia: R$ 160,00/mês, isso inclusive ajudaria na recuperação dos 5 mil reais que teve de prejuízo na enchente. Ah, Big, esses cálculos é Matemática pura, pouco estudada também. Continua compreendendo o que a falta de educação pode ocasionar, amigo Big?

Outra questão ligada à importância do estudo está relacionada à Engenharia. Em Alagoinha é muito raro uma construção ter o aval do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA). Possivelmente, Big, você poderia até ter construído dentro do Pendência se cálculos de engenharia tivessem sido feitos, e certamente, a água não teria chegado às suas cocadas. Consegue vislumbrar mais uma vez a importância do estudo?

O cientista italiano Galileu Galilei admitiu que o papel da força é o de alterar o estado do movimento ou de produzir aquilo que, em nossos dias, chamaríamos de aceleração. Assim Big, a força da água que invadiu sua fábrica é ação da ciência Física, aquela que você disse que ia endoidar os estudantes. Mas eu quero derrubar essa sua tese.

Que eu saiba tem um laboratório de Física no Centro de Ensino Tecnológico (CVT) de Alagoinha todo empoeirado. Portanto, não se estuda Física tanto assim a ponto de deixar maluco. Outra questão relevante: a Pedagoga Josefa Edneide coordenadora da área pedagógica da Escola Estadual Dom Francisco de Assis Pires me confidenciou esses dias que o laboratório de Física e Química da escola praticamente não é utilizado. Minha cunhada Amayanne Campos, hoje acadêmica de Economia (URCA) e Matemática (CEFET) disse-me que na sua época de estudante no Dom Francisco soube que os reagentes químicos do Laboratório perderam o prazo de validade. Em verdade Big, estuda-se pouco, muito pouco em Alagoinha. Não se preocupe, nesse ritmo ninguém endoidará por estudar demais física, química, matemática, ou qualquer outra ciência.

Aproveito aqui par reforçar o que lhe disse e prometi outro dia. Sempre acreditei que seria um sucesso a venda do Romeu e Julieta (goiabada com queijo) já pronto e que falei isso a um amigo Químico. Ele disse-me que estudaria uma fórmula para unir as duas coisas. Se ele conseguir eu a darei a você de presente. Talvez isso leve tempo, porque é preciso estudar a Química. Ah, a receita que você aprendeu da cocada é fruto da Química. Hum, então você andou estudando a ciência, hein!?

Acredito que já provei a importância do estudo. Queria dizer também que já provei da sua cocada, ela é de excelente qualidade. Continue trabalhando e dizendo ACORDA ALAGOINHA, e assim você ajudará a transformar nossa terra num lugar mais doce.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Maria,

Acho que essas coisas não expiram e ainda está em tempo responder isso, não?

Certo, fui eu que escrevi o texto que você critica. Permita-me refutar alguns posicionamentos seus.

"A impressão que fica é que não há necessidade de se estudar para trabalhar e conseqüentemente ganhar dinheiro". Sua impressão está correta, fico feliz por ela condizer com a minha visão de mundo, no caso dessa realidade específica de Ipaumirim. Uma pena é você ter interpretado de forma enviesada o que escrevi.

Ora, veja, não sou contra a educação, por Deus. Justamente ao contrário, creio que qualquer mudança efetiva nas estruturas sociais tem a educação como ponto de partida fundamental. Percebi outro dia que entrei em minha segunda década de estudos ininterruptos, desde a pré escola. E não poderia, de forma alguma, exercer minha profissão ou mesmo discutir com você se não tivesse estudado. E estudado muito, não só na escola, pq saber que b com a faz ba te torna um técnico em letrinhas, não um alfabeto, agora conseguir usar essa ferramenta para algo além de assinar seu nome exige uma vivência que as escolas brasileiras - principalmente as das regiões pobres e rurais, como é o caso - não oferecem.

E é esse justamente o ponto, a qualidade do que é ensinado. Retomo seu "A impressão que fica é que não há necessidade de se estudar para trabalhar e conseqüentemente ganhar dinheiro". Ora, está absolutamente correto, é claro que não há! Estudar física? Para que diabos serve horas e mais horas de ótica, calcular a trajetória da luz é importante para quem? E números irracionais? Química orgânica? Gramática de excessão? A lista é enorme, posso continuar citando disperdicios educacionais até o fim dos bits da internet..

Por uma lógica fria e objetiva, estudar é tempo perdido, investimento jogado fora. No que isso vai ajudar o cidadão a conseguir os empregos aos quais ele tem acesso? De fato, ele perde dinheiro quando estuda, pelo tempo que deixa de trabalhar.

Os exemplos que você coloca sobre a importancia da educacao no dia-a-dia são referentes à educação superior, ou se ensina agricultura sustentável com manejo racional de pastagem nas aulas de geografia do ensino médio na rede pública do ceará? E aí eu te pergunto, qual é a exigência de trabalho de nível superior em Ipaumirim? Qual é a possibilidade real de um trabalhador da cidade, ou da fábrica de big, caso queira, ingressar numa universidade? A resposta pra ambas é a mesma: mínima em relação ao tamanho da população. Infelizmente é assim nossa realidade.

As crianças tem que estudar? Que estudem xadrez no lugar de matemática, lógica no lugar de física, poesia no lugar de gramática. Isso é formar um indivíduo, um cidadão. O que temos hoje é um modelo que forma técnicos para passar no vestibular. E se o aluno nao quer passar no vestibular, bau bau, depois de ler e escrever e fazer as contas básicas acabou-se pra ele a escola.

O que vc acha? Meu blog é o www.mochileiroimpreciso.wordpress.com, podemos continuar o debate.

beijo

Anônimo disse...

Pera.. Maria Luiza ou Rubens Dário?

De qualquer forma, o convite está feito!