sexta-feira, 11 de abril de 2008

Passaram por IP

Chove chuva.......

Fonte: Diário do Nordeste

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Valiomar Rolim, médico cajazeirense já falecido conta um "causo" bem humorado sobre um sujeito esperto que inclusive aprontou em Ipaumirim.



AS AVENTURAS DE PEDRO MANOELZINHO
(OU JOÃO MALAZARTE?)


João de Manoelzinho, homem simples, semi-analfabeto, provido de toda brutalidade, esperteza, valentia, criatividade e até delicadeza que a universidade da vida pode dotar, marcou presença como um Pedro Malazarte da Cajazeiras dos anos sessenta e setenta. Enfrentando a lâmina tênue da vida como um verdadeiro sobrevivente da pobreza, da fome e da violência, fez de sua vida um verdadeiro desafio, uma provocação ao otimismo, um brinde à perseverança, ocupou-se sempre em “empreendimentos” marcantes, nunca sobrou tempo para lamentações.

Nas proximidades da praça Camilo de Holanda, onde seria construída a igreja de São João Bosco, aproveitava a saída dos fieis da missa campal que se celebrava nas tardes de Domingo, num circo mambembe, anunciou a sensacional “mulher que vira peixe”, casa lotada. A jovem artista, que nas horas de trabalho fazia ponto na palha , ao ver tamanho público, não teve coragem de apresentar-se e forçou João de pedir a Zefa dos Peitão um soutien e uma calcinha emprestados para fazer, ele mesmo, a apresentação.

A entrada da figura no picadeiro já provocou uma gargalhada geral, maior ainda quando o baixinho Zé Baleia, o assistente, entrou empurrando um carrinho com os objetos de cena. A platéia estava totalmente entregue à risada quando a “artista”, tirou do carrinho uma frigideira com um peixe dentro e balançou-a com movimentos em que o peixe virava de um lado para outro. A assistência foi à loucura. Homens, mulheres, meninos e até o padre, que saíra da missa direto para o circo, faziam do ambiente a maior balbúrdia, mas a “mulher” estava virando o peixe e foi o prometido. Restou da história a saída de todos, rindo ou reclamando, e a descrença no circo do J. Manoelzinho.

Não havia de ser nada, o circo foi a Jatobá, cidade a 30 quilômetros de Cajazeiras, lá a atração foi o homem que entrava em quatro garrafas. Casa cheia, depois que João, à hora da atração máxima, disse que só um louco acreditaria naquilo e , para cumprir o prometido, colocou um dedo em cada uma das quatro garrafas, a turba destruiu o circo.

Sem circo e sem dinheiro, João foi a Ipaumirim – CE, alugou o cinema local e anunciou o show da noite: o homem que desaparece. Casa cheia e público impaciente, passadas duas ou três horas sem que começasse o espetáculo, alguém da platéia foi à bilheteria informar-se sobre o início da função, soube-se então: o homem desaparecera.

De saco cheio do mundo dos espetáculos, fundou um clube que ficou famoso, pelo episódio de um pai, que perguntando se sua filha moça ali estaria.

-Moça? Aqui não tem, pode até entrar, mas não sai moça.

Voltou-se para o futebol, foi a Juazeiro do Norte - CE e acertou um jogo entre a seleção da cidade e o Botafogo de Cajazeiras, que estava na liderança do campeonato matutão na Paraíba. No acerto, comprometeu-se em levar a filha do prefeito de Cajazeiras para dar o pontapé inicial. Levou seu velho time, o Íbis, como se fora o Botafogo, e uma das meninas da palha para posar de filha do prefeito.

Aos dois minutos do primeiro tempo o “Botafogo” fez um gol, foi só isso. O jogo terminou com o placar de 9x1, para o time da casa. Não deu outra, saiu do estádio debaixo da maior chuva. Copos, garrafas, chupas de laranja, tudo que se podia jogar. Foi preciso proteção policial para a equipe sair do estádio. Ficou barato, João recebera o pagamento antecipado.

Quando Chico Rolim assumiu pela primeira vez a prefeitura da cidade, pressionado pela falta do produto, aumentou o preço da carne e provocou a maior grita na cidade. As difusoras fizeram o maior estardalhaço, a população não falava em outra coisa e a oposição, ainda não refeita da derrota recente, aproveitou a deixa para começar a campanha seguinte. A cidade fervia, tudo o que acontecesse era creditado (ou debitado?) ao aumento da carne.

O prefeito, para diminuir o estrago, negociou com os açougueiros, beneficiários da medida, a doação de toda a carne com osso à população carente. Foi uma festa, era pirão com cachaça por tudo que era lugar.

Junto com alegria da pinga veio a idéia de sair com escola de samba fora de época.

João, apesar de não beber nem fumar, assumiu seu papel de líder da escola. A cidade toda, mal saiu a escola, conheceu o “samba enredo” criado para saudar o aumento da carne. Até o prefeito postou-se num lugar onde não podia ser visto para também conhecer o samba.
O chefe da edilidade ainda hoje se lembra com desconforto do estribilho.
A carne quando assa tem um gosto diferente.
O rico fica alegre e o pobre fica contente.
Oi neguinho! O que é que pobre come?
Pobre só rói os ossos.




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Quem lembra de Pe. Arraes?

Padre José Arraes


Filho de Abelardo e Carmelita Arraes, o padre José Valdênio de Andrade Arraes nasceu em Caririaçu, no Ceará. No dia 12 de julho de 2006, aos 59 anos, o Pe. Arraes, como é conhecido em sua comunidade, completou o jubileu de prata na vida sacerdotal. Há 16 anos, é pároco na paróquia Santo Inácio de Loyola, no Conjunto Riviera. Sua marca é a dedicação aos mais necessitados. Nesta entrevista, ele fala sobre a opção pelo sacerdócio, sobre a violência no Brasil e sobre o papel da Igreja no atual contexto.

Vicom: Descreva a emoção por completar 25 anos de vida sacerdotal.
Pe. Arraes: Foi uma grande festa com a presença de três bispos, dez padres e a comunidade, que também participou de forma bastante expressiva. Na situação em que vivemos atualmente, completar 25 anos de sacerdócio é um sinal de perseverança, de resistência. Não me encontro cansado, estou cada dia mais forte para continuar lutando e considero tudo isto um ponto de partida. A missa que celebro hoje ainda considero como se fosse a primeira.

Vicom: Como foi a sua trajetória até o ingresso no sacerdócio?
Pe. Arraes: Fui comerciário desde a adolescência até os 26 anos, quando decidi ingressar no sacerdócio, em 12 de julho de 1973. Então, após oito anos de estudo, no dia 12 de julho de 1981, fui ordenado padre. Na Diocese de Crato, em Ceará, fui pároco em Farias Brito, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Também fui pároco na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Ipaumirim, no Ceará e, há 16 anos, sou pároco na paróquia Santo Inácio de Loyola.

Vicom: O que foi mais marcante durante todo o seu exercício sacerdotal?
Pe. Arraes: A identificação com os pobres é o que mais me marca no meu sacerdócio. E ao mesmo tempo, conceber que isso é um sinal de contradição para os poderosos.

Vicom: Cada vez mais temos notícias de violência, conflitos armados, mortes e corrupção. Os noticiários reportam que o mundo está em crise, o que o senhor pensa a respeito desta situação?
Pe. Arraes: O sentimento que nos vem, ao falar deste instante que parece querer eternizar-se ao longo do tempo na história da humanidade, é o de tristeza, descrédito e sofrimento. No entanto, a origem da palavra "crise", vem de crista. Assim, como cada onda traz na sua crista o ponto mais alto da sua formação, a humanidade tem em suas crises a oportunidade de "olhar de cima", para a formação da sua própria onda. A moda e as tendências nos vêm como ondas, e nós estamos diante de uma crise, ou de uma onda... Onda de egoísmo e do egocentrismo do homem. Estes acontecimentos que pintam de sangue a tela de nossos televisores todas as noites, que fazem uma criança, antes de completar os dez anos de idade, ter assistido milhares de mortes, acabam por educar os futuros líderes, políticos e pais de que a vida do próximo não vale tanto assim. Os mesmos aparelhos educadores que nos informam diariamente também trazem mensagens apelativas e impulsionam o consumo impensado e compulsivo, na busca da satisfação sempre pessoal e privada. Estamos inseridos nesse contexto.

Vicom: O que a sociedade deve fazer para contornar esta situação?
Pe. Arraes: No alto está a segurança! Em Deus há esperança. As ações de ataques cruéis do PCC e contra-ataques, não menos impiedosos e desordenados da polícia, traduzem o verdadeiro desprezo pela vida em detrimento de qualquer objetivo menor e temporal. No âmbito internacional a situação não é diferente, nem menos arrasadora. Os males dessa "onda" têm a mesma proporção de um Tsunami. Como as vítimas da onda gigante, os homens correm desesperados na busca de um lugar mais seguro, que necessariamente seria um local mais alto e no alto está Deus, a salvação. O homem procura, ainda que sem a plena consciência, pela eternidade, pelo intemporal, pelo perene; mesmo que seja na incansável luta pela eterna juventude.

Vicom: E o que a Igreja pode fazer para ajudar os homens nesta perspectiva?
Pe. Arraes: Acredito que o papel da Igreja é o mesmo do Cristo, mostrar a todo homem a perspectiva do homem todo, a noção de totalidade, a realidade de corpo e membros, na qual estamos inseridos. O cerne o centro da crise é o agente e a vítima da própria crise, o homem. Na Eco 92, foi dito que "pensar globalmente é agir localmente!". Creio ser este o ponto de partida para a atuação da Igreja, de cada igreja que é cada homem, criação divina, imagem e semelhança de Deus, templos do seu Santo Espírito. No homem está a confiança de Deus.

Vicom: Quais são seus objetivos de vida sacerdotal?
Pe. Arraes: Meu objetivo é, e sempre será, fazer com que o pequeno acredite no pequeno, e que não deposite suas esperanças nos poderosos. E a minha perspectiva de vida é viver o momento!
Vicom: O que gosta de fazer nas horas vagas?
Pe. Arraes: Gosto de viajar até às comunidades menos favorecidas, conhecer e estar próximo a estas pessoas. Gosto muito de ler e tenho grande interesse por teologia da libertação. Por isso leio muito os livros de Leonardo Boff, J. B. Libânio e Frei Betto, grandes pensadores deste tema. .

Fonte: http://www.arquidiocesedegoiania.org.br/entrevista_pe_jose_arraes.htm

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