sexta-feira, 18 de abril de 2008

Sábado em queda livre

Enchentes em Ip.
foto capturada do orkut, não lembro de quem.



A inundação foi grande, a miséria é maior


Assim como quem nada quer, saí dando minhas voltas pela internet. Primeiro, encontro um rapaz de Ip que vive no sudeste (post ao lado) remetendo a uma reportagem de um enviado especial do UOL sobre as inundações do mês de abril no interior do ceará e enfocando diretamente Ipaumirim. Saí no rastro da fonte e encontro a tal reportagem. Descontando a capacidade da mídia em novelizar as tragédias, muita coisa fica para reflexão.
A fúria das águas quebra a expectativa dos que estão acostumados a ver o sertão pelo olhar da mídia e não estão interessados em analisar contradições nem em realizar um trabalho de jornalismo investigativo que seria muito útil a todos.

A reportagem é fantasiosa? Não. Ela mostra o que foi buscar, o fato jornalístico, o inusitado, a cheia e, de quebra, surfa sobre a atualidade que interessa.

Estamos atravessando um evento climático que traz muitos problemas mas o nosso grande drama é a tragédia da realidade cotidiana que transcende estações e atravessa séculos.

A mídia e a política extraem elementos aqui e ali e fazem a composição que lhes interessa. A mídia quer audiência. A política quer verbas. Tudo será igual ao de sempre entre os extremos das eventuais grandes secas e das raras inundações.

Há algum tempo atrás, 15.03, neste mesmo blog, o articulista Zé Ribeiro perguntava para que serviam as Secretarias de Agricultura, Recursos Hídricos e Meio Ambiente, e de Infra-estrutura Urbana e Desenvolvimento Industrial?

“(d) Por que as Secretarias de Agricultura Recursos Hídricos e Meio Ambiente, e de Infra-estrutura Urbana e Desenvolvimento Industrial permitiram a ocupação de área de mananciais – imediações do Riacho 23 – por moradias familiares e edificações industriais, não só colocando em risco a integridade física e patrimonial dos ocupantes, quanto disparando o tiro de misericórdia no leito daquele saudoso duto aqüífero?”
A inundação deu uma resposta inquestionável. A cidade não tem Plano Diretor (ou tem e ninguém sabe?), não tem um projeto de ocupação do solo urbano, não tem programas de preservação de meio ambiente, não tem planejamento estratégico nem de médio nem de longo prazo.

Isso é de agora? Não, desde sempre!!! Agora está pior porque vai piorando. E será pior ainda porque com a mentalidade política que assola está difícil acreditar num horizonte possível que aponte para a qualidade de vida dos mais humildes.

Foto do UOL

A fotografia da garota defronte a sua casa - que ilustra a reportagem do UOL - é similar a uma outra que Luiz Antonio tem no seu orkut. E não tinha inundação coisa nenhuma no tempo da foto do orkut do Luiz.

Popular defronte a sua casa

Zona rural de Ip

- do orkut de Luiz Antonio -

"Palavras são palavras nada mais que palavras", dizia Walfrido Canavieira, personagem de Chico Anísio, prefeito de Chico City que vivia se defendendo das acusações sobre suas estripolias no poder. Era esse refrão a marca do seu estilo de governar tripudiando sobre a miséria do povo.
Em Ip, entra prefeito e sai prefeito e o que fica? Discurso vazio, fuxico, descaso, politicagem mórbida e perversa que deixou o município como está.

A reportagem tem momentos de ingenuidade para quem conhece as malhas da política local mas deve fazer a festa da turma do preconceito, da fantasia do castigo de Deus e da farsa piegas da politicagem que se aproveita do momento para prestar favores e cobrar em votos.

O que destrói Ipaumirim não são as secas nem as inundações, o que mata Ipaumirim é a mentalidade, a mais cruel entre as pragas que alimenta a miséria, cultiva a ignorância e
arremata um passado envergonhado com a perspectiva de um futuro sombrio.
ACORDA ALAGOINHA!!!
MLuiza
Recife - PE

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